segunda-feira, 24 de março de 2008

Teologia da Prosperidade (escrito em 31.05.07)

Teologia da Prosperidade

Nestes dias, estive lendo sobre uma corrente teológica que promete a prosperidade financeira, denominada teologia da prosperidade. Essa teologia é divulgada e praticada nas Igrejas Pentecostais, e também por alguns representantes da Igreja Católica. Existe toda uma fundamentação bíblica que busca legitimar a eficácia dessa teologia. Com a presente reflexão não quero responder ao artigo do bispo fundador da Igreja Universal, Edir Macedo, escrito nestes dias sobre este mesmo tema. Desejo apenas apresentar uma visão diferente de teologia, partindo daquilo que Jesus pensou sobre essa prática.
O que é a teologia da prosperidade? É a promessa da prosperidade material e terrena dos fiéis que se voltam a Jesus, através da participação nos cultos e donativos à Igreja. Partindo desse conceito, temos uma promessa. Os pastores que aderem essa teologia prometem ao fiel que ele, participando do culto e pagando o Dízimo, ele terá tudo o que ele quiser nesse mundo: casa, carro, sucesso nos negócios, no amor, enfim, uma vida próspera. Há uma troca de benefícios, uma negociação: eu dou a Deus o Dízimo ou a oferta, e em troca, ele me dá toda sorte de bens. Essa teologia não passa disso. A Igreja que prega e vive essa prática, é um verdadeiro centro de negócios. Eu ingresso no templo com toda pobreza e miserabilidade, e lá dentro, recebo a bênção da prosperidade, e esta me concede uma vida material e espiritualmente rica e abençoada. Nessa teologia, Deus não passa de um dispensador de bens materiais.
O conteúdo dessa teologia resume-se no seguinte: a pessoa não tem os bens e não cresce financeiramente, porque esta possui uma maldição. A pessoa está sendo perseguida pelo demônio. Este tem controlado a vida dessa pessoa. E a pessoa só consegue se libertar depois de passar por uma corrente de oração, um exorcismo que amarra o demônio e liberta essa pessoa. Depois de liberta, a pessoa está convidada a colocar diante do Senhor tudo ou parte do que possui, fazendo com que Deus possa lhe conceder o cêntuplo de tudo. Percebe-se que essa teologia também pode ser chamada de teologia da retribuição, em que eu dou a Deus a oferta, e ele me manda de volta em dobro, isso porque a escritura diz que Deus prometeu, não volta atrás. E se ele prometeu, ele é fiel e cumpre o que promete.
Essa teologia não é nova nem apresenta novidades. Desde o tempo de Jesus, a maioria dos religiosos do tempo de Jesus ensinava a lei de Deus tendo em vista a exploração dos pobres. Naquele tempo a lei do Dízimo sempre obrigava as pessoas a darem dez por cento do que possuía para o Templo. E essa obrigação era tida como vontade de Deus. Sempre foi dito que o Dízimo era para Deus. E que quem negasse a contribuição seria amaldiçoado por Deus e seus representantes. Penso que seja a partir daí que nasce essa teologia. Só o método é que mudou, mas o objetivo é o mesmo: ganhar dinheiro, utilizando-se do anúncio da Palavra de Deus. A finalidade da Palavra é convencer as pessoas de que essa prática está de acordo com a vontade de Deus.
Essa maneira de pensar e viver a fé aliena e escraviza as pessoas. Deus nesse movimento financeiro é a fonte de toda riqueza material. Ele só é invocado para resolver os problemas das pessoas. Ele não tem outra tarefa a não ser libertar as pessoas do poder do diabo para que elas prosperem na vida. Descobre-se que nessas condições a fé é materialista, em que se visa tão somente a posse de bens e poder aquisitivo. O padre teólogo José Comblin, em seu livro O Caminho nos diz que são Igrejas de satisfações dos desejos, em que se atinge a emoção, a sensibilidade das pessoas, atingindo o ponto franco da maioria da população cristã: os pobres, aqueles que nada tem. Estes, por sua vez, são levados a compreender que sua pobreza é coisa do demônio, pois o desejo de Deus é que todos sejam ricos neste mundo.
É verdade que Deus quer a nossa felicidade. Mas, é mentira que a pobreza é coisa do demônio. O demônio é o pai da mentira, não da pobreza. Quem tem essa visão não entende que a realidade de opressão e pobreza de nossa sociedade é conseqüência da falta de partilha e solidariedade entre as pessoas. A fome, a violência, a pobreza e toda espécie de desumanização são conseqüências da falta de amor entre as pessoas. Se as pessoas se amassem de verdade o mundo seria diferente. Se houvesse a prática autêntica do amor fraterno entre as pessoas e os povos, a justiça e a paz se abraçariam... Ser cristão é assumir a luta pela humanização do mundo, é ser co-criador da obra criada, é ser servidor de Deus nas pegadas e no exemplo de Jesus.
Não existe este Jesus rico que nos dá tudo o que precisamos. Se quisermos uma casa, um carro, ou outra coisa, que trabalhemos. O que Deus tem a nos conceder é força, coragem, inteligência, muita capacidade para vencermos na vida. Aliás, Deus já nos criou seres humanos livres e capacitados para vivermos neste mundo. O que sempre houve foi uma “deturpação” da liberdade humana e a prática do individualismo que escravizam as pessoas e as matam em todos os aspectos da vida. O aquecimento global e a degradação do meio ambiente estão sendo mais dois problemas que estão assolando a humanidade em nossos tempos. Será que é correto afirmar que o culpado por estes problemas é o diabo?...
Quando a Igreja Católica na América Latina fez a opção preferencial pelos pobres, e apesar suas limitações busca viver essa opção é porque a Igreja crer que Jesus nasceu pobre, e fez a opção pelos pobres. Negar isso é desacreditar no Evangelho. A pregação de um Jesus desencarnado que não tem ligação com os pobres, é desconhecer o Evangelho. Se tivermos a certeza de que Jesus era pobre, viveu, morreu e ressuscitou entre os pobres, que não tinha onde reclinar a cabeça, por que acreditar que pagando dez por cento daquilo que você tem esse mesmo Jesus pode te conceder bens materiais? Infelizmente muitos cristãos procuram achar e acreditar em um Deus assistencialista, um Deus que concede de tudo o que se pede. A atitude de muitos cristãos é: procuram Deus, têm a impressão de que ele resolveu o problema, e logo após, somem... Só reaparecem quando precisam de novo. Na cabeça dessas pessoas reside um Deus “tapa-buracos”. A pergunta que surge é: onde fica o compromisso cristão de batizados (as) e de filhos (as) de Deus perante os irmãos e a sociedade?...
Eis nossa missão: combater todo cristianismo que aparenta levar as pessoas a uma verdadeira experiência de Deus, mas que na realidade tem como objetivo o enriquecimento ilícito. Enriquecimento que se dá através da “pregação” da Palavra de Deus. Pregação que se fundamenta na busca incessante dos interesses pessoais, no uso indevido do nome de Jesus. A Igreja deve procurar conscientizar cada vez mais seus fiéiss, educando-os e formando-os na fé de Jesus o Pobre de Nazaré, tornando conhecida e vivida a opção q2ue foi feita pelos pobres. Os pobres sempre são os destinatários e as maiores vítimas da teologia da properidade. E o que fundamente a opção que a Igreja fez na América Latina é justamente a libertação dos pobres.


Seminarista Tiago de França.
Província de Fortaleza da Congregação da Missão

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