sábado, 14 de junho de 2008

Pe. Cícero de Juazeiro: modelo de obediência à Igreja e fidelidade aos pobres (I)


A Igreja tem reconhecido, ao longo dos séculos, homens e mulheres que morreram com fama de santidade. Antes de qualquer constatação sobre a vida deste grande homem precisamos rever o conceito de santidade. O que é a santidade? Como ela se dá na vida das pessoas? Por que veneramos os santos? Para respondermos com coerência a estas indagações precisamos acolher as palavras de Jesus que diz: "Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito" (Mt 5, 48). Com estas palavras, Ele nos diz que o Pai é perfeito e nos convida a sermos perfeitos como este Pai.

Podemos afirmar que é possível ser santo, porque Jesus nos chama à santidade. Assim sendo, a santidade é a resposta concreta e evangélica ao chamado que o próprio Deus nos faz no cotidiano da vida. Este chamado implica o seguimento a Jesus e a renúncia a nós mesmos. Mas, esta renúncia não pode ser entendida como fuga do mundo, mas vivendo a vida do mundo somos chamados a seguir Jesus na escuta e prática de sua palavra. Somos santos e santas na medida em que buscamos abraçar a cruz de Cristo todos os dias de nossa vida alimentando a viva esperança da ressurreição. Portanto, ser santo é ser neste mundo testemunha da ressurreição de Jesus Cristo.

O padre Cícero Romão Batista nasceu na cidade do Crato (CE), às cinco horas da manhã do dia 24 de março de 1844. Era filho do comerciante Joaquim Romão Batista e Joaquina Vicência Romana, conhecida como "dona Quinô". Aos seis anos de idade, iniciou seus estudos com o professor Rufino de Alcântara Montezuma. Aos doze anos de idade fez voto de castidade, depois de ter feito a leitura da vida de São Francisco de Sales. Em 1860 continua seus estudos em Cajazeiras (PB). Depois de dois anos, teve que regressar à casa paterna, devido a morte de seu pai, vítima de cólera-morbo, doença incurável na época. Depois de ter ajudado no equilíbrio financeiro da família, pois era o único filho homem da casa, com o apoio de seu padrinho de crisma, o coronel Antônio Luiz Alves Pequeno, o jovem Cícero inicia seus estudos no Seminário da Prainha, em Fortaleza (CE). Após longa e exaustiva formação é ordenado sacerdote na Igreja do Seminário da Prainha, no dia 30 de novembro de 1870, pelo então bispo diocesano dom Luiz Antônio dos Santos. Após ser ordenado, enquanto esperava provisão para alguma paróquia, padre Cícero atendeu ao convite do amigo José Teles Marrocos para lecionar em seu pequeno Colégio.

Na solenidade do Natal do Senhor do ano de 1871, a pedido do professor Simeão Correia de Macedo, padre Cícero celebrou pela 1ª vez no povoado Taboleiro Grande, que em 22 de julho de 1911 tornou-se município (Juazeiro do Norte) tendo como primeiro prefeito o próprio padre Cícero. E na Quaresma de 1889, a partir do dia 6 de março, ocorreu o milagre da Hóstia, fato que trouxe grandes e prolongados sofrimentos ao padre Cícero. Todas as vezes que dava a comunhão à beata Maria de Araújo, a hóstia transformava-se em sangue. O povo nordestino começou a ter conhecimento de tal fato e deu-se início às romarias ao Juazeiro.

O bispo de Fortaleza, dom Joaquim José Vieira intimou padre Cícero a comparecer na Cúria para explicar o fato. Ele foi e explicou detalhadamente o acontecido, respondendo ao minucioso interrogatório. Depois, foram enviadas duas comissões de padres a Juazeiro. A 1ª relatou o fato como inexplicável pela ciência e compreensão humana. A 2ª reprovou o fato e o relatório desta foi enviado ao Tribunal do Santo Ofício, em Roma. No dia 6 de agosto de 1892, padre Cícero foi suspenso de ordem, ficou proibido de exercer suas funções sacerdotais.

Em nenhum momento de sua vida, padre Cícero desobedeceu às normas e punições impostas pela Igreja. Foi um servo humilde e obediente. Quando indagado quanto ao seu posicionamento diante dos fatos ocorridos em Juazeiro reponde firmemente: "...é uma grandiosíssima calúnia dizer que tenho revolta contra a Igreja. Nunca tive dúvidas sobre a fé católica; nunca disse nem escrevi, nem em cartas particulares, nem em jornais, nem em qualquer escrito nenhuma falsa, nem herética, nem duvidosa, nem coisa alguma contra o ensino da Igreja".