sábado, 15 de novembro de 2008

"Deixai toda esperança, ó vós que entrais" - Dante


São noites de silêncio
Vozes que clamam num espaço infinito
Um silêncio do homem e um silêncio de Deus.
Talvez seja esta a vonz humana de nosso tempo.
Quem o entende?
Como se faz entender?
E quando fala, o que diz?
Senhor, vivestes esta hora junto ao vosso pai amado.
Para que buscastes esta forma de vida?
Por que orastes? Por acaso não sois vós Deus?
Que pedias? Por que não disseste aos teus amigos
teus encontros em noites escuras e de trevas?
Afastado num monte, belo, simples como toda beleza
tu pediste ao teu Pai, a tua paz, o teu sentido
Da tua missão,
Da tua paixão,
Da tua solidão.
Algumas vezes, quando te encontro te vejo só. Incompreendido.
Também abandonado.
Meu pai, meu pai, por que me abandonaste?
Senhor, será que teu Pai te abandonou?
Quanto a mim, estou só. Num mundo; não sei qual mundo.
Talvez da incerteza, mas também da Esperança:
de um dia ver-te face a face.
Como gostaria de ver
e de perguntar apenas:
O que queres de mim?
Por acaso, não me chamaste à vida?
E por que me abandonas?
ou será que meus ouvidos
já estão surdos à tua voz?
Vozes do silêncio,
Vozes das dores,
Voz de um sofrimento mesclado com tua maneira
de ser diante de mim.
Qual é a palavra de teu silêncio?
O meu, tu bem sabes...
Nem mesmo compreendido.
Não retires de mim teu Espírito
Nem se afaste de minha face.
Mas que eu te veja!
Mostrai-me teu rosto, para que seja um acalanto
Um canto de minar da criança que se entrega
inteira
Aos teus braços de consolo e de paz.

Frei Tito de Alencar, OP.
L'Arbresle, 1973 ou 74

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