domingo, 23 de novembro de 2008

Onde estão os profetas?



A presente reflexão busca compreender o sentido desta pergunta e procura respondê-la. Antes, é preciso responder a outra pergunta: o que é um profeta? Houve, há e sempre haverá profetas e profetisas, homens e mulheres escolhidos e enviados por Deus para anunciar a Boa Notícia e denunciar as injustiças que acontecem no mundo. A missão do profeta é anunciar e denunciar. Se não há anúncio nem denúncia, não há profetas. Se fizermos uma leitura do Antigo Testamento da Bíblia veremos que havia os profetas da corte e os profetas do povo de Deus. Foi a partir do profeta Elias que temos esta divisão. Os profetas da corte eram funcionários dos reis. Sua função era legitimar o poder dos reis. Para que o povo obedecesse cegamente aos reis, era necessária uma confirmação divina das decisões, e esta vinha por meio dos profetas. Os profetas eram os homens dos oráculos e da vidência (cf. 1Sm 10,10; 19,20 – 24), gozavam de grandes prestígio e credibilidade junto ao povo. Os profetas de Javé formavam um grupo autônomo e clandestino. Eram respeitados e bem aceitos entre o povo pelos sinais que manifestavam, mas a característica principal deles era sua posição diante do poder dos reis. Eles denunciavam as injustiças praticadas pelo poder real. Logo, eles estavam do lado do povo. Eram homens de oração e de vivência. Homens simples e trabalhadores. Os profetas de Javé eram gente do povo. Eles tinham uma forte intimidade com Deus (experiência de Deus) e viviam a realidade dos pobres (experiência da realidade). Eles apontavam três caminhos para se chegar à conversão: o caminho da justiça, o da solidariedade e o da mística. Eles viviam segundo estas três dimensões. Os profetas da corte que defendiam e legitimavam os crimes dos reis são considerados falsos profetas. No Novo Testamento temos Jesus e os Apóstolos como os profetas de Deus. Jesus é o profeta por excelência, e foi reconhecido como tal (cf. Jo 6,14).
Desde suas origens a Igreja teve profetas e profetisas. A Igreja, fundada sobre os fundamentos dos Apóstolos é chamada a ser boca de Deus no mundo. Logo, como coluna da verdade e da unidade do gênero humano, a Igreja é convidada a anunciar Jesus, que é a Boa Notícia, e a denunciar os crimes praticados na humanidade. Está é sua missão profética. Todo aquele que aceita seguir Jesus e é batizado em seu nome é profeta, do contrário, não é cristão. Não é possível separar o ser cristão do ser profeta, pois ser cristão é ser profeta na Igreja e na sociedade. No filme Dom Hélder Câmara, o santo rebelde, diz Leonardo Boff: “O profeta é o homem da palavra e dos gestos. Não pode ter amor ao próprio pescoço”. Esta verdade resume o sentido da vocação profética. Tomando o próprio Dom Hélder como profeta veremos que ele era um homem da palavra e da ação, pois denunciou no Brasil e no mundo, os horrores da ditadura militar (1964 – 1985). Quando ameaçado de morte dizia: “Eu não tenho medo da morte. Estou nas mãos de Deus”. Escutando Dom Hélder Câmara percebe-se que o profeta confia incondicionalmente em Deus. Ele entrega-se nas mãos de Deus e confia na sua Palavra. O profeta é o homem que escuta Deus e convida a humanidade a voltar-se para Deus. É aquele que restabelece e renova a Aliança entre Deus e os homens quebrada pelo pecado. A Ir. Doroth Stang é outro grande exemplo. Abraçou o martírio por amor ao Reino de Deus. O testemunho deste santos e santas jamais podem ser esquecidos, pois já dizia o grande teólogo Tertuliano: “O sangue dos mártires é semente de novos cristãos”. Observando a Igreja atual parece que está havendo uma crise de profetas. Os cristãos, em sua grande maioria, estão caindo na tentação de salvar a própria vida. Esqueceram da palavra do Mestre que disse: “Quem procurar salvar a própria vida vai perdê-la e quem perde a sua vida por causa de mim vai salvá-la” (cf. Mt 10,39). Os cristãos estão se dando demais às orações e shows religiosos. Nosso Senhor não nos pediu isso. O que ele pediu foi a continuidade da construção do Reino de Deus, baseado no amor e na justiça. A grande maioria dos “seguidores de Jesus” se recusa a trabalhar com suor e sangue pelo Reino porque se trata de um caminho estreito, difícil. O cristianismo midiático e festivo é mais fácil, mas este não tem nada que ver com o Evangelho de Jesus. O seguimento de Jesus não está na satisfação dos desejos, mas compromisso evangélico com a realidade gritante deste mundo em crise de humanidade.

Tiago de França da Silva

Um comentário:

Erlan, CM disse...

Olá companheiro...

Quero parabeniza-lo pelo texto e pela convicção...

Precisamos de profetas. Fal-se muito em sucessores dos apóstolos, mas não se fala em sucessores dos profetas... Em tempos de crise eles são os sinais de esperança.

Urge a necessidade de outros Dom "Helbes" da vida...

Força e perseverança!! O Importante é não abandonar a causa..
Erlan