quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Natal: tempo de pensar e fazer o bem


Todos os anos os cristãos celebram o Natal de Jesus. Recordar o nascimento de Jesus é um convite a pensarmos na vida. Pensar na vida é uma virtudes de poucas pessoas. Hoje, pensa-se muito pouco na vida. Há pessoas que vivem toda a vida sem pensar no verdadeiro sentido da existência humana. O homem nasceu com a capacidade de pensar sobre si mesmo e sobre o mundo em que vive. O pensar evita a alienação do ser humano. Uma pessoa alienada é um ser que não sabe que é. A alienação é a ausência do pensar sobre si e sobre o mundo. Uma pessoa alienada é uma pessoa cega, que não enxerga a realidade, impossibilitando uma ação crítica diante da vida.

A humanidade atual precisa de transformações emergentes. A realidade é desumanizadora. Impera-se uma crise de humanidade, que torna as pessoas insensíveis e até cruéis diante da vida. As guerras, a fome, as desigualdades sociais e todas as formas de opressão ideológica são provas da existência da crise de humanidade. A crise financeira também é fruto de uma crise de relações. As relações entre pessoas, famílias, povos e nações são injustas, logo desumanas. As relações humanas estão pautadas no interesse e na objetalização das pessoas, ou seja, as pessoas estão sendo reduzidas a objetos de uso e desuso.

A dignidade da pessoa humana é um direito universal. Este direito está sendo cruelmente desrespeitado. Aumenta cada vez mais a distanciamento entre ricos e pobres: são poucos os que se tornam mais ricos e muitos os que se tornam mais pobres. Descobriu-se a tecnologia de produção de alimentos, mas aumentou-se o número dos que passam fome. A preocupação das grandes potências econômicas do planeta não está na erradicação da fome e da miséria do mundo, mas no fortalecimento injusto dos mercados, na procura de lucros cada vez mais altos. Quando a crise aumentou no mercado norte-americano, eles injetaram 700 bilhões de dólares para a contenção; o mesmo fez o Japão na data da publicação deste artigo: injetou uma verba extra de 54 bilhões de dólares para ajudar a economia japonesa a não cair na recessão. Diante disto, pergunto: Por que não utilizar todo esse montante de dinheiro para erradicar a fome na África?...

O que é que o Natal de Jesus tem a ver com isso? Falar do nascimento do Salvador da humanidade é pensar na realidade e buscar transformá-la. A transformação concreta dos problemas sociais é posterior a uma séria reflexão dos sinais dos tempos. Refletir sobre os sinais dos tempos é procurar VER a realidade e tentar entende-la aos olhos da fé cristã. O Natal de Jesus é muito significativo para quem se propõe a JULGAR a vida a partir do projeto de salvação proposto por Jesus. Jesus veio a este mundo com a missão de restaurar o homem e a humanidade. Esta restauração consiste na construção do Reino de Deus. E este Reino é justiça e paz para todos. Toda pessoa que crer que Jesus é o Senhor e Salvador é convidada a AGIR na construção do Reino de Deus. Nenhum cristão pode fugir na missão de ser um agente transformador da realidade na qual está inserido.

É nesta perspectiva que espero ter contribuído para uma reflexão mais profunda de nosso tempo. Não podemos “dormir”, precisamos vigiar. E vigiar significa está atento aos sinais dos tempos e aquilo que o Espírito nos revela. Abrir o coração para compreender e acolher a mensagem de Jesus é tornar-se disponível para a missão. Que o Emanuel, Deus conosco, nos sensibilize, para que possamos ser mais sensíveis às realidades sofridas de tantos irmãos e irmãs que estendem a mão pedindo nossa compreensão e ajuda. Que o amor de Jesus se torne efetivo em nós, tornando-nos mais humanos e mais humildes diante da vida.

FELIZ NATAL!

Tiago de França da Silva

Colônia Leopoldina – AL, 20 de dezembro de 2008.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Mercado da fé


Estive observando a realidade religiosa de Colônia Leopoldina - AL, desde que cheguei, há uma semana. Fortaleza, cidade em que realizo os estudos preparatórios para o sacerdócio, é uma capital onde há uma diversidade religiosa marcante. Colônia Leopoldina está numa situação semelhante, claro que em número muito menor. São dois os pontos que me chamam a atenção diante da pluralidade das ofertas religiosas em ambas as realidades:
1- O alto crescimento de seitas;
2- O grande número de migrações de pessoas nas mesmas.
O surgimento exacerbado de seitas aponta para dois graves problemas:
1 - As pessoas não têm certeza de sua fé nem têm espírito de pertença à sua igreja;
2 - Há uma forte carência espiritual que impulsiona as pessoas a buscarem soluções para seus problemas.
A partir de uma análise teológica da fé e da religião, observa-se um espírito fortíssimo de incerteza nas pessoas e em suas relações com a religião. Cada vez mais cresce na consciência das pessoas a idéia de que professar a fé é frequentar um templo, a fim de que Deus possa resolver os problemas que surgem. As igrejas ou seitas que surgem, têm como objetivo atender às necessidades temporais e espirituais das pessoas. A leitura bíblica que as seitas fazem é puramente deturpadora, ou seja, apresentam Jesus como fonte de solução para todos os problemas. Escutei, certa vez, o bispo Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, dizer: "Quanto mais você investir em Jesus, mais ele agirá em ti e em tua família". A fé, neste sentido, baseia-se numa troca: eu dou a Jesus uma quantidade de dinheiro e ele resolve os meus problemas financeiros e espirituais. Não há dúvidas de que se trata de um verdadeiro mercado religioso. Utiliza-se da boa fé das pessoas e da Palavra de Deus contida na Bíblia, para tirar das pessoas o dinheiro conseguido com muito suor. E no caso dos pobres, tira-se da boca do pobre aquilo que lhe resta para sobreviver. É uma triste realidade que cresce cada vez mais e que não corresponde à vontade de Deus. Pode-se perguntar: Por que esta realidade cresce tanto entre nós? A resposta não é nenhum mistério, porque os interesses são explícitos. Antes, precisamos partir do mandato de Jesus. O que Jesus pediu? Quem ler o Evangelho sabe que Jesus mandou anunciar a Boa Nova da salvação à toda a humanidade. Foi somente isto que Jesus pediu: EVANGELIZAR. É bom que fique claro: Jesus pediu para evangelizar, não para explorar as pessoas. Toda pregação e anúncio que visa pagamentos e retribuições é falso anúncio e exploração. Quem prega o Evangelho visando tirar das pessoas 10% ou mais de sua renda, é falso profeta e mentiroso. E não adianta usar a Bíblia para convencer as mentes daquelas pessoas que nada entendem da Bíblia. Jesus, no capítulo 10, versículo 13 do Evangelho de João chama de MERCENÁRIO todo aquele que engana e tira proveito do rebanho do Senhor. Quem é o rebanho do Senhor? É toda uma sociedade, que perseguida pelo sofrimento, procura em Deus ajuda e Nele deposita sua confiança, mas que encontra centenas e centenas de pastores e pastoras, que ao invés de ajudar, aprovoveitam-se da situação de sofrimento das mesmas. Além de ser um pecado horrível contra Deus, esta é uma realidade que se tornou uma injustiça social. São milhares as pessoas que são enganadas e que vão parar na justiça procurando recuperar as posses perdidas por falsas promessas de bênçãos. A situação se agrava porque percebe-se também uma onda de lavagens cerebrais, que tornam as pessoas convencidas de enriquecimento e curas absurdas. Os pastores e pastoras parecem dominar as forças divinas, realizando curas mentirosas e caluniosas, brincando com a Palavra de Deus. Não há dúvidas de que estamos diante de falsos profetas e falsos evangelizadores, apontados pelos evangelistas Mateus e João, juntamente com o Apóstolo Pedro. É preciso denunciar essa situação injusta e dizer para as pessoas que todo cristão é livre e que Deus condena tal abominação religiosa, que ao invés de libertar, escraviza cada vez mais.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Advento: preparação para o Natal e parusia do Senhor


A Igreja reservou um tempo na liturgia para o cristão pensar, rezar e viver uma preparação para a vinda do Cristo e memorizar seu nascimento. Pensar no nascimento de Jesus é situá-lo em seu contexto histórico. Como Jesus veio ao mundo? Esta pergunta nos revela muitas coisas. Primeiro, Jesus não é um ser extraterrestre. Ele não pode ser identificado como uma entidade espiritual. Jesus é uma pessoa. Uma pessoa que tem duas naturezas e forma uma só realidade: ele foi humano e consubstancial ao Pai ao mesmo tempo. Ele se submeteu a tudo e a todos. Não fugiu de sua condição nem de sua realidade. Foi plenamente humano. O teólogo Leonardo Boff certo dia disse que “humano como Jesus só sendo Deus”. Ninguém foi perfeitamente tão humano quanto Jesus, o Nazareno. Não usou de sua igualdade para com Deus para aproveitar-se dos homens, alienando-os e explorando-os. Jesus teve a oportunidade de governar todo o mundo, mas não veio a este mundo com este projeto. O mundo já tem seus governos, ele não precisava tomar o poder de ninguém. Jesus recusou e condenou toda forma de poder que oprime o ser humano. E esta recusa o levou à morte de cruz, porque esta recusa estava acompanhada de denúncias explícitadas. O medo não fazia parte da vida de Jesus. Ele teve medo como todo ser humano tem, mas não se deixou dominar. Foi um homem plenamente corajoso e fiel aos desígnios de Deus. É este o Salvador que celebramos na Solenidade do Natal do Senhor todos os anos. O Advento é o momento litúrgico-espiritual no qual os católicos são convidados a esperar e vigiar.
A figura do profeta João Batista é muito forte no Advento do Senhor. Ele preparou o caminho para Jesus passar. E batizando o Messias no rio Jordão, confirma-o na missão. É a partir do batismo que Jesus inicia sua atividade missionária nos povoados, estradas e vilarejos. João Batista reconhece o Messias prometido pelos profetas. Realmente, Jesus confirma as profecias do Antigo Testamento apresentando-se como o missionário do Pai que veio evangelizar os pobres. Optando pela pobreza radical e pelas vias “impuras” de seu tempo, demonstra claramente de que lado Deus está. Os profetas diziam que Javé está do lado dos oprimidos e contra os opressores, e a ação missionária de Jesus confirma esta opção. Quem não ler e não acreditar em Jesus nesta perspectiva pode não entender Jesus e segui-lo de forma equivocada. O Advento chama-nos para a conversão neste sentido: é preciso revisar a maneira de vermos Jesus, para podermos mudar algumas atitudes antievangélicas.
A realidade do mundo atual exige de cada pessoa um repensar de posturas. A humanidade caminha por estradas que levam a morte. Celebrar a vigilância não é olhar para o céu e esperar que as nuvens se abram e de lá venha o Libertador da humanidade, aquele que resolverá todos os nossos problemas. Os problemas não são de Jesus, mas nossos. Ele caminha conosco e nos auxilia. Por que é que a transformação do mundo demora tanto para acontecer? Porque a grande maioria dos homens e mulheres não está agindo conforme seu credo e sua fé. Se formos analisar os milhões de pessoas que estão voltadas para o sagrado, mas nada fazem pelo bem comum do planeta é de se lamentar!... O homem pós-moderno precisa superar um dos piores males do sistema capitalista: o egoísmo. Um exemplo disso está na maneira como os norte-americanos vêem o mercado internacional e lidam com a crise financeira e moral: eles só se preocupam com o bem-estar deles. Não estão preocupados com as conseqüências do regime capitalista na vida dos países emergentes, que sofrem porque não suportam os impactos dos números milionários. Aí está a verdadeira crise que está por trás da crise financeira: a crise de humanidade. Vigiar significa está atento aos sinais dos tempos e alimentar a esperança de que outro mundo é possível. Que o Advento nos motive e nos reanime na caminhada, nos confirme na fé e nos fortaleça no seguimento de Jesus.


Tiago França