quinta-feira, 30 de abril de 2009

Escuta e confia


Recebi uma partilha breve de uma jovem. Parece inquieta. Alguém fala e ela procura escutar. Então resolvi partilhar uma inspiração que tive logo após a leitura das palavras dela. Partilha com você, caro/a leitor/a, para que você também possa se encontrar ou quem sabe, situar-se melhor.

"Querida jovem,

Colocarmo-nos nas mãos de Deus é uma atitude filial. Deus sabe de todas as coisas e nos revela o que quer de nós. Precisamos estar atentos e atentas à voz que fala em nós. A realidade e as pessoas falam de Deus. Ter os olhos fixos em Jesus significa estarmos em relação com o mundo e com as pessoas. A revela divina é simples e humilde. Vivendo a vida estamos compreendendo o mistério de amor que toma o mundo. Com os olhos da carne e com a razão natural não conseguimos captar a presença e a ação de Deus em nós e no mundo. É algo que só a fé e o exercício do amor pode revelar. Não te perturbes. Espera Naquele que te amou por primeiro. Escuta a Palavra que fala desde o amanhacer até o entardecer de teu dia. Confia sem medo. Entrega-te sem reservas. Se assim procederes, logo descobrirás onde Ele quer que tu estejas. Escuta e espera com paciência, pois Ele está fielmente presente. Na doação fraterna, ele haverá de falar ao teu coração. Ora e escuta.

Abraços,

Tiago de França"

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Construir a paz é compromisso de todos


Há pessoas que pensam que a segurança pública é dever do Estado, através das forças militares. É verdade que o Estado tem o dever de responder pela Segurança Pública. Todos os brasileiros pagam impostos e têm direito à segurança pública. Com a onda de violência a que estamos assistindo nos últimos anos parece que a Justiça não está trabalhando. Afirmar categoricamente que a Justiça não funciona não é justo nem coerente. Afinal, o que está acontecendo?...

A partir do ensinamento de Jesus, a paz não é fruto do mundo, ou seja, o mundo não pode conceber a paz. Jesus foi apresentado pelo profeta Isaías como o Príncipe da Paz. As primeiras palavras de Jesus ao aparecer a seus discípulos após a Ressurreição foram: “A paz esteja convosco” (Jo 20, 19). Jesus sabia do medo dos discípulos diante das ameaças das autoridades dos judeus. Viviam de portas fechadas. Sabendo Jesus que o medo imobiliza a pessoa, ele deseja a paz aos seus. Esta paz reanima-os e os encoraja.

A paz é fruto da justiça (cf. Is 32,17). Jesus sabia e entendia muito bem as palavras do profeta Isaías, pois o mesmo Jesus diz: “Se a vossa justiça não superar a dos doutores da lei e fariseus, não entrareis no Reino do Céu” (Mt 5,16). Jesus sabia que a prática da justiça dos fariseus era falsa. Os fariseus não eram justos, porque julgavam a vida do próximo, aniquilando-a. Toda lei que não promove a vida nem a dignidade da pessoa humana é inválida diante de Deus.

Então, agora sabemos por que o mundo não tem paz. Agora compreendemos que, enquanto o homem não observar a justiça de Deus, o mundo não terá paz. Enquanto as injustiças forem gritantes, a violência se acentuará e não teremos paz. Não adianta apelar para Deus por meio de súplicas e orações, se não se pratica a justiça. Sem justiça não há paz. A tendência atual caminha para pioras, pois a cada dia assistimos injustiças cada vez mais alarmantes. A capacidade destrutiva da ação humana parece infinita. É de levar-nos a uma séria reflexão a atitude autodestrutiva do homem.

Todos somos responsáveis pela paz. Não adianta ficarmos acusando-nos uns aos outros. Cada instância da sociedade: Estado, Família, Igreja entre outras, têm responsabilidade na construção da missão. Quando nos omitimos diante das injustiças estamos contribuindo para a “cultura de morte” que reina entre nós. Não há influência de Deus na onda de genocídio humano a que assistimos. Tudo é fruto da ação humana. O homem inventou sistemas autodestrutivos e Deus não tem nada que ver com isso.

Pode-se afirmar que Deus somente assiste passivamente a desgraça da humanidade? Claro que não! Deus é amor e justiça. Ele está presente e trabalha conosco na libertação cotidiana da humanidade. O Deus e Pai de Jesus, nosso Irmão e Salvador, não é um espectador estático, mas presença operante no meio de nós. Deus quer a vida de seu povo e cada crente é chamado a construir a vida no mundo. Deus não criou o mundo no estado em que se encontra. Tudo o que Deus criou foi bom e muito bom (cf. Gn 1,31).

Não importa o tamanho de nossas ações, por menores e mais insignificantes que pareçam ser, precisamos agir com justiça, pois somente agindo justamente na vida é que poderemos gozar a tão almejada paz de que tanto precisamos para viver dignamente.


Tiago de França

terça-feira, 28 de abril de 2009

Jesus é o pão da vida


"Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede"(Jo 6,35). Estas foram palavras de Jesus dirigidas a uma multidão de pessoas. Antes de ser morto, Jesus partilha o pão com seus discípulos. Depois da Ressurreição, Jesus também partilha o pão com os discípulos para que eles o reconheçam. A partilha do pão era um sinal de reconhecimento da pessoa de Jesus, ou seja, no partir do pão, os discípulos o reconhecem.

Partilhar o pão é participar da vida do outro. Quando sentamos à mesa com alguém e tomamos a refeição, ocorre o encontro e a partilha da vida. Por isso, a Celebração Eucarística é muito significativa para nós, porque nela, reconhecemos Jesus. Reconhecer a presença de Jesus na partilha de seu Corpo e de seu Sangue é participar da vida dos membros da comunidade. Quando nos recusamos em participar da vida do outro, de suas dores e alegrias, então não estamos reconhecendo Jesus no pão.

A nossa participação na Eucaristia se faz na nossa participação na vida do mundo. Nós não recebemos o Pão da vida para nos isolarmos do mundo e nos afastarmos das pessoas. Quem assim agir, estará contradizendo ou tirando o sentido da Eucaristia. Há um hino que diz: "Vamos comungar, vamos comungar; comungar na Igreja e na vida do irmão". Comungar na Igreja é comungar no povo e para o povo, ou seja, a Igreja é o Povo de Deus. Quando comungamos na Igreja, comingamos na vida do Povo de Deus.

A Eucaristia é Jesus. A missão de Jesus não estava em função dele mesmo. Ele veio para este mundo para a nossa salvação. Receber Jesus é recebê-lo para a salvação do mundo. Nossa participação eucarística é a manifestação de que somos continuadores da mensagem de Jesus, que é o amor gratuito. Por isso, Eucaristia é sinal de compromisso. Compromisso porque comungar é participar da vida de Deus e o desejo de Deus é a vida de seu povo. A Eucaristia é fonte de vida, quem a recebe está intimamente ligado ao compromisso com a vida. Quem receber a Eucaristia e se recusar ao compromisso evangélico do amor, estará recebendo indignamente o Corpo do Senhor.

Tiago de França

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Uma prece


Mantenha seus olhos puros para que Jesus possa olhar através deles.
Mantenha sua língua pura para que Jesus possa falar por sua boca.
Mantenha suas mãos puras para que Jesus possa trabalhar com elas.
Mantenha sua mente pura para que Jesus possa pensar seus pensamentos em sua mente.
Mantenha seu coração puro para que Jesus possa amar com seu coração.
Peça a Jesus para viver sua própria vida em você.
Porque ele é a verdade da humildade.
Ele é a luz da caridade.
Ele é a vida da santidade.
Amém.

Madre Teresa de Calcutá

domingo, 26 de abril de 2009

Refletindo a fé


Fui indagado por uma jovem católica a respeito de algumas questões de fé. Ela é da Paróquia de N. Sra. de Nazaré, bairro Montese, Fortaleza - CE. Partilho com vocês as indagações e as respostas dadas:

"Minha prezada Wannie,

Recebi tua mensagem. Tuas perguntas são valiosas e revelam o espírito inquieto de uma jovem que deseja ser uma cristã autêntica na Igreja. Isto é muito bom e agradável a Deus. A Igreja precisa de pessoas esclarecidas e autênticas. A autenticidade faz parte do caminho de Jesus. Autenticidade e coerência são dois valores que fazem parte do caminho de Jesus. Fico feliz pelas suas perguntas. Irei respondê-las, utilizando-me de uma linguagem simples, como fiz na primeira vez que conversamos no Colégio Piamarta.

Depois de ter lido, relido, meditado e rezado suas indagações, enumerei-as e refleti profundamente sobre elas. Assim sendo, você coloca as seguintes questões:

1. Sobre o "dizer-se tocada pelo Espírito Santo em outras Igrejas".
Olha,
Depois de Lutero a fé pode ser vivida em vários tipos de manifestações. A fé é única e são várias as formas de se manifestar esta fé. A fé cristã se dá no seguimento de Jesus e todas as Igrejas são chamadas a professarem esta verdade. As Igrejas de cunho pentecostal, assim como a Renovação Carismática Católica têm esta expressão do toque e da posse dos dons do Espírito Santo. Este Espírito não é propriedade particular de nenhuma das Igrejas Cristãs. O Espírito de Deus é livre e atuante nas pessoas e no mundo em que vivemos. Ninguém pode se apoderar do Espírito de Deus, porque como a Escritura diz, "o Espírito sopra onde quer e quando quer". Quem poderá se apoderar do dom Deus? Deus é livre e age na liberdade. Por isso, é preciso desmascarar esta falsa espiritualidade que assistimos atualmente em nossas Igrejas. O Espírito Santo virou "mercadoria" de comércio. Está havendo uma manipulação da fé e do Espírito. Não podemos negar a ação do Espírito de Deus. Mas ele não age segundo o que vemos na maioria dos casos. É verdade que todas as Igrejas podem ser assistidas pelo Espírito de Deus. O Espírito Santo não é propriedade da Igreja Católica, mas ele está nos cristãos a partir do batismo. Como discernirmos a ação do Espírito de Deus em nós? É simples. O Espírito de Deus nos leva a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. O Espírito nos leva a servir nossos irmãos e irmãs que precisam de nós. É ele que nos capacita, imprindo em nós a graça divina, a amarmos os nossos irmãos. A grande maioria dos milagres, visões, êxtases, revelações que assistimos em nossas Igrejas é MENTIRA. Por quê? Porque o Espírito de Deus age no silêncio, age no fundo do coração das pessoas, age em suas vidas. O Espírito Santo não age isoladamente. Ele age conforme ele quer e não conforme nós queremos. Também não podemos duvidar, que há pessoas que são curadas, que experimentam o poder curativo da fé. Mas é a fé da pessoa em Deus que a faz uma pessoa renovada. O que as Igrejas passam? Elas usam do Espírito de Deus para se autoafirmarem e para glorificar seus pastorais e suas denominações religiosas. A falsidade está justamente aí, na manipulação do Espírito de Deus.

2. Sobre "O Espírito Santo e a unidade dos cristãos".
Olha,
Deus quer ver a unidade das pessoas e dos cristãos. A unidade dos cristãos é uma das metas da evangelização da Igreja. Mas o cristãos não se unem. Há um não-querer para com a unidade. Cada um se julga santo e justo aos olhos do mundo e de Deus e usam o Espírito Santo para legitimar essa desunião. Só que esta realidade é contrária à vontade de Deus. Toda desunião é antievangélica. O Espírito Santo NÃO suscitou a separação dos cristãos. Quem pensar que foi o Espírito que inspirou os protestantes a se separarem da Igreja, está muito enganado! Deus não é de uma religião, mas de todas. Ele é Pai de todos. O problema é que as Igrejas se autoafirmam de Deus. Mas, repito: Deus não criou nenhum sistema religioso neste mundo. Ele age no sistema religioso e pode até confirmá-lo, se o sistema religioso levar o homem a Deus. Religião, vem do latim religare, religar o homem a Deus. Mas todos os sistemas religiosos e doutrinas são obras humanas, que podem ser confirmadas por Deus se elevam o homem a Deus. Essa estória de dizer que o Espírito está aqui e não acolá, é contraditória. O Espírito de Deus está onde Ele quiser. Repito: o homem não pode manipular nem dominar o poder nem o Espírito de Deus.

3. Sobre "o vazio espiritual de muitos que praticam a religião".
Olha,
Muitas são as pessoas que não tem uma fé madura e consciente, mas que só vivem nas Igrejas. Há pessoas que são fiéis à pratica religiosa, mas não entendem sua fé nem a vivem coerentemente. Isto é muito grave. Para resolver tal situação precisamos saber o que Deus quer de nós. Precisamos saber o que Jesus pediu para fazer. É aquilo que eu disse: se a pessoa se apegar à prática religiosa e não VIVER no cotidiano da vida a opção de Jesus, ela se sentirá vazia. Há cristãos escravos da doutrina, cumprem-na fielmente, mas não amam a Deus como a si mesmo nem ao próximo. De que adianta isso? É inválida a prática religiosa que não elevar a pessoa a Deus e ao serviço fraterno. Os doutores da lei e fariseus eram assim. Jesus os acusa de "sepulcro caiados" e "filhos do diabo" (Cap. 8 do Evangeho de João). Por que Jesus os acusa? Porque eles só estavam preocupados com o cumprimento da lei e não com o mandamento do amor. É o amor que preenche o vazio da existência humana. Sem o amor, não há prática religiosa que dê sentido à existência do homem.

4. Sobre o surgimento de minha vocação sacerdotal.
Olha,
Faz muito tempo que desejo ser padre. Desde minha infância penso em ser um presbítero (sacerdote, padre) na Igreja. Sinto que Deus me chama a este serviço específico. Creio que Deus precisa de nós para a edificação de seu Reino entre nós. O sacerdócio ministerial é muito útil para que a Igreja se torne cada vez mais instrimento de salvação na humanidade. A centralidade da vocação ao ministério ordenado está no serviço ao próximo. Sem este serviço, não vale a pena ser padre na Igreja. Quando o padre não serve ao irmão e irmã necessitado/a, ele perde o sentido de seu ministério. Todos já somos sacerdotes pelo batismo. Somos um povo de sacerdotes, como nos ensinou o Apóstolo Pedro; mas na Igreja há a especificidade do sacerdócio. É verdade que a obrigatoriedade do celibato para os ministros ordenados é um pouco difícil de ser aceita, mas esta é uma questão de ordem disciplinar, que ao logo do tempo, a Igreja fará uma revisão. O tempo vai exigindo isso. Para tudo tem seu tempo! Quero ser padre porque me identifiquei com tal vocação e quero contribuir com a construção do Reino de Deus neste mundo dilacerado de dor e sofrimentos.

Espero ter respondido às suas indagações. Que o Deus da vida seja tudo para todos. Rezo ara que o Espírito do Senhor lhe mostre as veredas do caminho de Jesus e que você o siga de verdade e perseverantemente.

Receba meu abraço e a minha oração.

Abraços,

Tiago de França"

Saudação mariana no Tempo Pascal


Em português:

Rainha dos céus, alegrai-vos, aleluia!
Porque aquele que mereceste trazer em vosso seio, aleluia!
Ressuscitou como disse, aleluia!
Rogai a Deus por nós, aleluia!

Alegrai-vos e exultai, ó Virgem Maria, aleluia!
Porque o Senhor ressuscitou, verdadeiramente, aleluia!

Em latim:

Regina caeli laetare, alleluia!
Quia quelli meruisti portare, alleluia!
Ressurrexit, sicut dixit, alleluia!
Ora por nobis Deum, alleluia!

Gaude et laetare, Virgo Maria, alleluia!
Quia surreexit Dominus vere, alleluia!

sábado, 25 de abril de 2009

O olhar


"O olhar de amor dirigido a um ser, atravessando a aparência, atinge o rosto resplandecente do santo que ele deve vir a ser e que já é, em esboço e em potência. Esse olhar de amor encontra-se com o olhar do Criador sobre o ser que amamos.

O olhar do Criador é um olhar criador. Olhar e criar é para Deus um só e mesmo ato. O olhar de Deus não é o de um espectador, ele não se fixa sobre um ser preexistente, mas introduz e situa um ser na existência. O olhar de Deus 'concebe' um homem, um santo único, e eis que esse homem existe. (...)

Pode acontecer que Deus nos comunique o seu olhar sobre um ser; vemos então com extraordinária lucidez o verdadeiro rosto de um filho de Deus, mais ou menos escondido na carne, e o nosso amor vai libertá-lo - como o artista faz surgir do bloco de pedra a estátua. (...)"


Pe. Henri Caffarel, sacerdote francês, fundador das Equipes de Nossa Senhora.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Viver no segredo (setença de um Padre do deserto)


Numa vila, dizia-se que havia um homem que jejuava tanto que era chamado de "o jejuador". Pai Zeno ouviu falar dele e mandou chamá-lo. Ele veio alegremente. Rezaram e se sentaram. O ancião começou a trabalhar em silêncio. Não conseguindo falar com Pai Zeno, o jejuador começou a se aborrecer. Então ele disse a Pai Zeno, "reze por mim, Pai, porque desejo ir." O ancião perguntou, "por que?" O outro retrucou, "porque meu coração está como se estivesse em fogo e eu não sei o que pode ser isso. Pois em verdade, quando eu estava na vila e jejuava até a noite, nada disso me acontecia." O velho homem lhe disse, "na vila você alimentava-se através de seus ouvidos. Mas vá embora e de agora em diante coma pela nona hora e o que quer que faças, faça-o em segredo." Tão logo ele começou a seguir o conselho, o jejuador achou difícil esperar até a nona hora. E aqueles que o conheceram diziam, "o jejuador está possuído pelo diabo." Então ele foi contar isso ao ancião que disse a ele, "este caminho está de acordo com Deus".

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Senhor, tu és amor, paciência e perdão


Jesus,
Nome santo, amável
Ensina-me
A ser amável e santo

Sei que só posso ser santo
Se for amável.
Como ser amável, Senhor?
Ensina-me,
Jesus.

Jesus,
Tu és amor, paciência e perdão.
Ensina-me
A ser amoroso, paciente e misericordioso
Com aqueles que não o são.
Ensina-me,
Jesus.

Paciência,
Saber esperar.
Suportar a dor e a angústia.
Crer no amor.
Esperar...
Ensina-me a esperar com amor,
Jesus.

Perdão,
Perdoar-se primeiro.
Aceitar o verdadeiro eu,
revelar-se.
Confiar na Misericórdia.
Abandonar-se nela.
Ensina-me a perdoar,
Jesus.

Amor,
Fonte inesgotável.
Essência de Deus e sede do homem.
Força transformadora,
Vida.
Jesus,
Dá-me vida, ensina-me a viver
No amor e para o amor.


Tiago de França.
Quixeramobim - CE, 08/04/09, 23h 56

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Subi, mas tive que descer!


Certo dia,
Estando eu na porta da Casa
Daquele que era, que é e que vem,
Disse:
Não suporto mais a Terra,
Quero ficar aqui.

Ele olhou para mim
E rindo de minhas palavras,
Disse:
Aqui não podes ficar,
Pois não foste criado para aqui permanecer.

Pensei comigo mesmo:
Será que é verdade?...
Não é possível!
Todos me diziam que
Eu era morador daqui de cima, não de lá de baixo!...

Meu Deus,
Enganaram-me todos,
Será possível?!...
Voltei os olhos para o Homem
E perguntei:

- De onde sou e para onde devo ir?
Ele respondeu prontamente:
Daqui você não é,
Nem muito menos de lá.
Você pertence a um mundo que terá que construir.

Que mundo será esse?
Onde deve ficar,
Indaguei o Homem.
Ele respondeu rapidamente:
É o Reino, o sonho de Deus.

Reino? Sonho de Deus?
Não entendo nada!
E distanciando-se de mim,
Disse:
Lembra de Jesus? Se souberes o que ele veio fazer na terra, então saberás do que eu falo...

Ah!...entendi!
Voltei das alturas e olhei para o mundo
E pensei:
Meu amigo Jesus, teu Reino parece que está perto...
Parece que está longe... Ele precisa existir... Eu quero construir... Mas onde?

E olhando para as nuvens, de lá escutei a voz:
- É a partir de onde estás!...


Tiago França

terça-feira, 21 de abril de 2009

O poder do Evangelho



Meus irmãos e irmãs,

Todo aquele que escutar a palavra do Evangelho perde a paz que pensa ter. Quem escutar o Evangelho, mesmo que não queira, ele mexerá com as estruturas interiores. Ele inquieta e leva a pessoa a pensar sobre si e sobre o mundo. É um sentimento que brota das entranhas do ouvinte, levando-o a abraçar o caminho de Jesus.

O Evangelho é a Boa Notícia e esta é Jesus. Quem encontrar-se com Jesus no caminho da vida, não mais será o mesmo. Ele é apaixonante e fascinante. Jesus atrai todas as pessoas. A escuta e a meditação de sua Palavra é um movimento espiritual que se faz no coração. Surge uma inquietação, um mover-se para o mundo, um deslocar-se de si mesmo. É algo que as palavras humanas não conseguem explicar.

O Evangelho consegue nos questionar e questionar o mundo. Basta que o escutemos. Ele vai ruminando nossas sombras interiores, levando-nos a nos conhecermos melhor. Ai do ser humano que depois de ter escutado esta Palavra que lava e queima, ter ficado estagnado nas estradas da existência! Isto não é possível. Quer faça pouco, quer faça muito, algo será feito sob o impulso da Palavra.

A Palavra está na vida dos pobres. Está no clamor dos injustiçados. A Palavra grita nos ouvidos dos poderosos pela boca dos profetas. Ela desorganiza o que está sistematizado, ela incomoda os acomodados, anima dos desencorajados. Ela personaliza e encarna o Deus da vida na vida do povo. A Palavra orienta os desorientados.

Os exploradores, donos do poder e inimigos da justiça e do amor odeiam esta Palavra. Alguns até procuram escutá-la, mas não a suportam. Quando o profeta revela a Verdade da Palavra, eles mandam matá-lo imediatamente. A Palavra da vida e da liberdade tira o sono de empresários, latifundiários, usineiros, banqueiros, pistoleiros... Direta ou indiretamente, a Palavra denuncia todas as obras das trevas do erro e da ignorância.

Quando o Espírito batizou os cristãos, o Evangelho entrou de uma vez por todas no mundo. Os cristãos semearam esta Palavra e ela tomou o mundo. É o movimento do Espírito que vai fecundando os corações endurecidos, e sensibilizados os corações a transformação do mundo vai se dando. Não há palavras que expliquem o mistério insondável desta ação divina. Só Deus é assim!

Os pobres foram e são crucificados, mas muitos estão sendo descidos da cruz. A ressurreição está acontecendo, lenta e gradualmente. É algo que ora é sutil, ora é bem visível a nossos olhos da carne. E neste movimento, de subidas e descidas, derrotas e vitórias, alegrias e tristezas, desespero e esperança, que o Reino de Deus vai se dando na história. Sinais são claros: os ricos ficando pobres, inundados no desespero e na desilusão e os pobres renovando suas esperanças no Emanuel, Pai presente na história.

Oremos e vigiemos. O Espírito e a Palavra estão trabalhando. Algo de bom está acontecendo. Renovemos nossa esperança.


Tiago de França

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Quando secar o rio da minha infância


Quando secar o rio de minha infância,
secará toda dor.
Quando os regatos límpidos de meu ser secarem, minh’alma perderá sua força.
Buscarei, então, pastagens distantes
Irei onde o ódio não tem teto para repousar.
Ali, erguerei uma tenda junto aos bosques.

Todas as tardes me deitarei na relva,
e nos dias silenciosos farei minha oração:
Meu eterno canto de amor: expressão pura de minha mais profunda angústia

Nos dias primaveris, colherei flores para
meu jardim da saudade.

Assim, exterminarei a lembrança de um passado sombrio.


Frei Tito de Alencar, OP
Paris, 12 de outubro de 1973

domingo, 19 de abril de 2009

A Teologia da Libertação e a opção preferencial pelos pobres


A reflexão teológica tradicional da Igreja, construída ao longo dos séculos, sempre se esqueceu de levar em consideração a realidade dos pobres. Quando Constantino, na primeira metade do século IV, tornou o Cristianismo religião oficial do Império Romano, a Igreja se desviou da verdade de Jesus e enveredou por outros caminhos. Toda a história da Idade Média e parte da Idade Moderna sabem muito bem contar os desvios da Igreja. Isto não é mais novidade e quase não escandaliza mais ninguém. Durante todo este tempo o caminho de Jesus foi esquecido, salvo raras exceções de homens e mulheres, santos e santas, que tentaram recordar à Igreja o Evangelho de Jesus. Durante este tempo, a Igreja estava preocupada com o poder, o prestígio, a riqueza e o domínio hegemônico do mundo inteiro.

Quando foi eleito, o Cardeal Ângelo Giuseppe Roncalli tornou-se o Papa João XXIII, que ficou conhecido como “o Papa bom”. Era um homem conhecedor da história da Igreja e da importância do diálogo para a construção da justiça e da paz no mundo. Conduzido pelo Espírito de Deus, que sopra e rege a Igreja ao longo de sua história, convocou o Concílio Ecumênico Vaticano II. O Papa João XXIII sabia muito bem que a Igreja conservadora e hipócrita, fechada em si mesma e que bradava condenações no mundo afora, não iria muito longe, desviando-se do mandato de Jesus, que é o anúncio da Boa Notícia da liberdade e da vida para todos. Foi graças ao Concílio Ecumênico Vaticano II que a Igreja procurou refazer a sua história pedindo até perdão pelos graves pecados cometidos. O estado em que se encontrava a Igreja antes do evento Vaticano II era insuportável. Todos reclamavam mudanças!

Atendendo aos apelos de mudanças apontados pelo Concílio, muitos teólogos e teólogas da Igreja e de outras Igrejas resolveram criar um novo método de reflexão teológica que partisse da realidade dos pobres da periferia do mundo. Esta reflexão recebeu de Gustavo Gutiérrez, teólogo peruano, o nome de Teologia da Libertação. Esta Teologia nasceu a partir da experiência oprimida do povo de Deus. Trata-se de uma reflexão que veio recordar mais uma vez à Igreja a existência dos pobres, convidando-a a uma opção preferencial por eles. Uma Igreja, que desde Constantino, esteve apegada ao poder e à riqueza, é convidada a ser pobre e missionária. O clamor dos pobres converte a Igreja ao Evangelho de Jesus Cristo: esta é a grande novidade da Teologia da Libertação. É verdade que a hierarquia da Igreja nunca viu essa teologia com bons olhos. Uma prova disso são as notificações e as sanções impostas a muitos teólogos e religiosos que fizeram a reflexão libertadora do Evangelho acontecer em suas vidas e na vida do povo de Deus. Frei Leonardo Boff, OFM e Pe. Jon Sobrino, SJ foram os teólogos que mais sofreram no tribunal da Congregação para a Doutrina da Fé. O primeiro deixou de ser clérigo e casou-se, mas continua no ofício de teólogo, agora dedicado a ecoteologia.

O objetivo da Teologia da Libertação não foi fundar outra Igreja dentro ou fora da Igreja. Teólogos renomados e comprometidos com o Evangelho não perderiam seu tempo com isso. A reflexão teológica da libertação acredita na conversão da Igreja ao Evangelho. Nos documentos pós-Vaticano II, a Igreja reconhece a necessidade de se converter a Jesus. A Igreja na América Latina fez a opção preferencial pelos pobres em seus documentos, e na prática eclesial se esforça em concretizar tal projeto. O que se pretende é voltar ao espírito de ação da Igreja Primitiva, que fazia referência direta a Jesus. Não é o poder nem a lei o centro da evangelização da Igreja Primitiva, mas o amor e a justiça como prática do Evangelho de Jesus. A Igreja é chamada a ser Serva da Humanidade, numa atitude misericordiosa com os pecadores deste mundo, promovendo a liberdade e a paz por meio do anuncio da Boa Nova. Não se trata de ser conservador ou libertador, mas de ir ao Evangelho e buscar uma fidelidade perseverante a ele. O interesse da Igreja em todo o mundo deve ser o anúncio do Evangelho. Jesus não pediu nada além disso, absolutamente nada. Se anunciarmos o Evangelho com a vida, pelo testemunho vivo e fiel a Jesus, então estaremos cumprindo o seu mandamento.

Tiago de França

sábado, 18 de abril de 2009

Carta Final da XXI Assembléia da CPT

A CPT nos caminhos da terra


Há mais de 30 anos a Comissão Pastoral da Terra percorre os caminhos do campo brasileiro. Nossa missão é a fidelidade ao Deus dos pobres e aos pobres da terra. Como dizia D. Hélder Câmara, “mudamos sempre para sermos sempre os mesmos”.

Diante de todas as crises que se abatem sobre a humanidade e o planeta no qual vivemos, reafirmamos nossa missão. Como em nenhuma outra época é necessário reafirmar o compromisso com a Terra e com aqueles que a cultivam com carinho.

Nessa XXI Assembléia em que assumimos o compromisso interno de nos reavaliarmos com sinceridade e fraternidade, reafirmamos o trabalho de base, pisando onde o povo pisa, bebendo de sua água, comendo de seu pão, comungando suas dores, participando de suas alegrias.

Reafirmamos nossa aliança com todos que lutam para permanecer na terra ou para conquistar a terra que nunca tiveram. A reforma agrária, a limitação da propriedade da terra, a demarcação de territórios indígenas, quilombolas e outras comunidades tradicionais, continuam irrenunciáveis. Essas, juntamente com os sem terra, camponeses, atingidos por barragens, assalariados migrantes, trabalhadores e trabalhadoras em situação análoga à de escravo, formam a multidão agredida pelo agro e hidronegócio, removidos de seus territórios, de seus rios, de suas florestas. Com eles e por eles continuamos existindo. Nesse sentido, rechaçamos toda criminalização dos movimentos sociais, particularmente quando essa tentativa vem de altas autoridades do Judiciário que deveriam garantir o Estado de Direito e os direitos do povo.

No espírito missionário da Conferência de Aparecida, reafirmamos a urgência de cuidar da mãe Terra. Aqueles que agridem os povos do campo são os mesmos que agridem o planeta que vivemos. As empresas do agro e hidronegócio, de mineração, de construção de barragens hidrelétricas derrubam as nossas florestas, destroem nossos rios, apropriam-se da terra, da água, expulsando os povos. Essas empresas e pessoas encontrarão em nós sempre um adversário e um denunciador. Nesse momento de aquecimento global, onde a própria comunidade da vida está em risco, reafirmamos nosso apoio à agroecologia, ao alimento saboroso e saudável, à soberania alimentar de nossos povos, ao uso de energias limpas e à terra partilhada.

Para tirarmos de nosso baú – como dizia Jesus – “coisas novas e velhas”, insistiremos na formação de nossos agentes e também do povo com o qual trabalhamos. O mundo atual exige novos conhecimentos, aliados aos saberes tradicionais, para que o trabalho seja pertinente, fecunde a terra e produza seus frutos.

Concluímos fazendo nossas as palavras do profeta e bispo Pedro Casaldáliga:

“Comprometemo-nos a vivermos uma «ecologia profunda e integral», propiciando uma política agrária-agrícola alternativa à política depredadora do latifúndio, da monocultura, do agrotóxico. Participaremos nas transformações sociais, políticas e econômicas, para uma democracia de «alta intensidade»”.

“Fiquem firmes e de cabeça erguida, a libertação está próxima”, Lc 21,28


Goiânia, 17 de abril de 2009.
13 anos do massacre de Eldorado dos Carajás
Dia Internacional da Luta Camponesa

Fonte: CNBB

Quem é Jesus?


Esta reflexão é dedicada aos jovens, que são convidados a pensar sobre a vida e o Evangelho de Jesus e acolhê-los em suas vidas. A pretensão não é responder à indagação que constitui o tema desta reflexão, mas convidar o jovem a responder por si mesmo, segundo sua fé e sua experiência de vida.

Muitas coisas podem ser ditas a respeito de Jesus. São várias as publicações de teólogos e estudiosos a respeito da vida e da pessoa de Jesus. Há muitas verdades sobre Jesus, mas também muitas mentiras. Acredito que a fonte mais segura sobre Jesus é seu próprio Evangelho. O Espírito prometido por Jesus e enviado pelo Pai também revela-nos Jesus hoje. O mesmo Espírito que guiou Jesus na missão é que também nos revela quem realmente é Jesus de Nazaré. A partir do Evangelho irei fazer algumas afirmações e tecer alguns comentários a respeito de Jesus, mas antes, quero dizer que para conhecer verdadeiramente Jesus é preciso deixar-se conduzir pelo Espírito que leva-nos ao encontro com ele, o missionário do Pai e nosso irmão maior.

Jesus era pobre. É uma verdade muito simples, mas muito significativa. Por que será que Jesus não nasceu no contexto de uma família rica do Império Romano? É algo a se pensar. Enviado pelo Pai, Jesus nasceu, viveu e morreu pobre. Jesus não fez uma opção pelos pobres, mas era um homem pobre. O que nos ensina a pobreza material de Jesus? O fato de Jesus ser pobre, quer dizer que ele era despojado, desprovido de bens. O Evangelho diz que ele não tinha onde reclinar a cabeça. Jesus não tinha e nem tem nada a oferecer a ninguém, a não ser seu amor. Todas as pessoas ricas que Jesus encontrou em seu caminho convidou-as a se converterem. E a conversão delas passou pelo despojamento dos bens. Jesus sabia muito bem que a riqueza é um empecilho para o cumprimento da vontade de Deus, que nos chama a sermos livres.

Jesus viveu o amor e a justiça. Jesus amou os seus até o fim, ensina-nos o Evangelho. Amar até o fim é prova de fidelidade. Jesus foi fiel a Deus Pai quando viveu o mandamento do amor. O maior e mais fiel testemunho vivo de amor ao próximo é o de Jesus. Ninguém neste mundo amou com tanta perfeição. Jesus amou os pecadores e os convidou à conversão. Ele não obrigou ninguém a nada, mas na liberdade ensinou-nos a viver o amor. A vivência do amor deve ser uma decisão da pessoa, mas todos devem saber que o amor é uma exigência evangélica do seguimento de Jesus. Sem o amor não há Evangelho nem seguimento de Jesus. Sem o amor não há justiça nem vida no homem e no mundo. O amor é que nos salva e nos liberta.

Jesus inaugurou o Reino. A centralidade da mensagem de Jesus está no amor que constrói o Reino de Deus. Quem não crer que Jesus inaugurou o Reino, crer simplesmente que Jesus veio a este mundo para nos purificar dos pecados e nos libertar das opressões espirituais. Há pessoas que não fazem uma experiência de Deus, experiência ligada à vida comum, mas simplesmente rezam para Jesus. Jesus nunca pediu que as pessoas ficassem rezando para ele, pedindo incessantemente sua ajuda. Também não estou afirmando que isto seja errado. O que Jesus pediu foi: “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei”, “Sigam-me!” Se amarmos e seguirmos Jesus, então estamos salvos! É simples, mas não é tão fácil. O projeto de Jesus é a vida do mundo e quem professa a fé cristã tem por missão defender e promover a vida por meio do amor e da justiça no mundo. Quem fugir do mundo estará fugindo do Reino de Deus.

“Acreditar em Jesus é colocar-se em seu caminho e perseverar”, ensina-nos o teólogo belga José Comblin. A santidade da vida está na vivência do amor e da justiça. O que nos santifica não é nossa prática religiosa na Igreja, mas a vivência do amor de Deus. Viver a caridade com o próximo é a condição fundamental para a participação no Reino de Deus. Só segue Jesus quem estiver disposto a viver a caridade, do contrário, não há seguimento, mas aparência e mentira.

Tiago França

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Os índios são nossos irmãos


Domingo, dia 19 de abril, é o Dia Panamericano do Índio, e esta data não pode passar despercebida; afinal de contas, eles foram os primeiros habitantes do Brasil. Os índios nos ensinam a cuidar da terra e da natureza. O homem branco provou que não sabe cuidar, pois só pensa em explorar e destruir. Os povos indígenas, infelizmente continuam sendo injustiçados em seus direitos, pois o homem branco continua querendo expulsá-los de suas terras, depois de terem tomado quase todo o território nacional da posse deles. É vergonhoso para o homem branco, que se julga inteligente e civilizado, ter que admitir que o índio, tido como ignorante e "bicho do mato", saiba melhor cuidar da natureza. O poema abaixo é uma homenagem a todos os povos indígenas brasileiros, que lutam pela vida das tribos e aldeias, assim como pela defesa da natureza nossa mãe.

O lamento indígena

Havia felicidade, havia alegria
Todo dia era dia
Caça, pesca e colheita
Havia música tambores e dança.

Éramos livres na terra de ninguém
Éramos felizes pois a terra era de ninguém.

Mas aí sem ninguém perceber
A liberdade se foi
A vida se acabou
A terra sem dono com dono ficou

E em terra de dono branco a infelicidade indígena se instalou
Nos perseguiu, nos feriu, nos refletiu um mundo doente
Um mundo carente, um mundo pobre injusto e imundo.

Na terra de ninguém a natureza era vívida
Na terra de alguém homem branco a tudo poluiu
A tudo destruiu
A tudo poluiu
A tudo desconstruiu.

Insatisfeito com a falta de propriedade capitalizou
Num mundo cheio de liberdade escravizou
E onde morava a paz guerreou e matou e matou. (Robson Coelho)

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Se com ele morremos, com ele viveremos


"Lembra-te de Jesus Cristo, da descendência de Davi, ressuscitado dentre os mortos, segundo meu evangelho. Merece fé esta palavra: se com ele morremos, com ele viveremos" (2Tm 2,8.11).

Lembrar de Jesus ressuscitado. São tantas a dores, sofrimentos e preocupações do cotidiano, que o cristão termina esquecendo que está participando da paixão de Jesus na vida. Esquecer de Jesus é um perigo, porque assim o perdemos como referência. Lembrar de Jesus é estar com ele onde ele estiver. Participar de sua sorte.

Participar da sorte de Jesus é segui-lo de perto, sem medo do caminho. Jesus esvaziou-se a si mesmo para fazer a vontade de seu Pai. Para participar da sorte de Jesus o cristão precisa imitá-lo neste esvaziamento de si. Esvaziamento é um processo lento e doloroso. Lento porque doloroso, doloroso porque lento.

A ressurreição de Jesus é a nossa ressurreição, mas antes precisamos passar pelo "Gólgota", o lugar da caveira. É uma experiência de morte. Para viver, o cristão precisa morrer. Muitas coisas podem morrer em nós para que possamos ressuscitar com Jesus. O desamor precisa passar pela morte, pois a falta de amor é o maior obstáculo à ressurreição. Jesus amou tanto que ressuscitou para continuar amando.

É no amor que participamos da morte e da ressurreição de Jesus. Quem ama, morre e ressuscita aos poucos. O amor é capaz de transformar o corpo e o espírito humano numa nova realidade, num homem e numa mulher nova. A novidade do amor está na libertação do desamor. Quando passamos a amar, mesmo sem querer, despojamo-nos do homem velho. Tornamo-nos novas criaturas! O amor recria e revitaliza todas as coisas.

E este amor não é uma relação homem e Deus, mas homem e homem, porque Deus está no homem. Quando ollhamos para o céu e perguntamos: "Senhor, onde estás?" Ele responde ao coração: "Eu estou em ti e no teu próximo". É tudo muito simples, não há mistério. Amar a Deus é tão simples, que é um mistério! Quando começamos a pensar distante, enquadrando Deus em fórmulas e abstrações, Ele foge de nossa compreensão.

Ele se revela nas pequenas e nas simples coisas da vida do mundo. O amor é aquilo de mais simples há no ser humano, e é por isso que ele se chama Amor. O evangelho diz que DEUS É AMOR justamente para podermos compreender a Deus amando-nos uns aos outros. Só quem ama é quem pode conhecer e experimentar a Deus. Fora do amor não há salvação, não há felicidade e nem há vida no mundo e na eternidade. Diante das forças de morte que se manifestam no mundo atual, precisamos insistir na experiência do amor.

Tiago França

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Ora (direis) ouvir estrelas


Para ouvir e entender as estrelas, vale a pena pensar com as palavras poéticas que seguem:

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto ...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."

Olavo Bilac, jornalista e poeta brasileiro (1865 - 1918).

terça-feira, 14 de abril de 2009

Irmã Adelaide Molinari, FDC - mártir em terras paraenses


Hoje, dia 14 de abril, a Igreja dos Pobres faz a memória do martírio da Irmã Adelaide Molinari, assassinada na rodoviária de Eldorado dos Carajás - PA, depois de ter assumido com ousadia profética a missão de anunciar a Boa Nova da vida e da liberdade aos pobres da Amazônia. Segue um breve resumo de sua vida, para que sua memória não passe despercebida, pois seu testemunho é a prova de que o Evangelho foi e é semeado em nossas terras e o sangue dos mártires fecunda nosso chão eclesial:

Nasceu no dia 2 de fevereiro de 1938, na cidade de Garibaldi, Rio Grande do Sul. Mudou-se, ainda pequena, com sua família, para Palmeira das Missões. Descobriu sua vocação religiosa e com o apoio dos pais foi morar com as Filhas do Amor Divino. Ao se tornar irmã, assumiu o chamado Carisma da Congregação, servindo aos mais necessitados. Ela se dispôs a trabalhar nas Missões no Pará. No dia 8 de abril de 1983 chegou em Eldorado dos Carajás com mais duas irmãs. O delegado do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marabá, Arnaldo Delcidio Ferreira, era alvo de ameaças de vários fazendeiros. No dia 14 de abril de 1985, Arnaldo foi ao encontro de Irmã Adelaide, que havia cumprido sua missão no Pará e estava na rodoviária de Eldorado de partida para Curionópolis, se despedir. Enquanto conversavam, em meio a muita gente, um pistoleiro disparou um tiro contra ele. A bala atravessou o tórax de Arnaldo e atingiu a irmã no pescoço. Adelaide não resistiu e morreu. Arnaldo passou por uma cirurgia e se recuperou. As suspeitas de quem teria dado o tiro caem sobre José Pereira Nóbrega, o “Marinheiro”, e sobre alguns fazendeiros da região que acabaram conseguindo anular as acusações junto à Polícia Federal. Marinheiro foi posto em liberdade por falta de provas de seu envolvimento no caso.

Que a Irmã Adelaide Molinari interceda a Deus pela perseverança dos cristãos no seguimento de Jesus!

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Mensagem Pascal 2009



“O Senhor ressurgiu, aleluia, aleluia!
É o Cordeiro pascal, aleluia, aleluia!
Imolado por nós, aleluia, aleluia!
É o Cristo, Senhor, ele vive e venceu, aleluia!

Prezado/a irmão/ã,

Jesus Ressuscitou! Esta é a grande Boa Notícia que a Igreja dá ao mundo e à humanidade. Jesus, o missionário do Pai, depois de cumprida a vontade divina, regressa ao seio de seu Pai. Vence a morte, dando-nos a vida. Que mistério insondável de amor! Deus não abandona Jesus nas mãos da morte, mas ressuscitando-o dentre os mortos, faz a vida triunfar eternamente. Só Deus é bom!


A Páscoa é a maior festa do Cristianismo. Como ensinou o Apóstolo Paulo: “Cristo ressuscitou dos mortos como primeiro fruto dos que morreram” (1 Cor 15, 20). A Ressurreição de Jesus é a garantia de nossa vida com Deus. Se Jesus não tivesse ressuscitado, não teríamos vida e vã seria a nossa fé e nossa experança. Toda a esperança cristã está fundada na Ressurreição de Jesus. É o marco histórico de nossa fé e do nascimento de uma vida nova, que dura para a eternidade.

A Páscoa de Jesus é a nossa Páscoa. Jesus não ressuscitou em função de si mesmo, mas em função da vida do povo de Deus. O Deus da vida quis a vida de seu povo pela Ressurreição de seu Filho Jesus Cristo. Depois que o homem desobedeceu a Deus e deu ouvidos aos apelos da morte e da destruição, Deus viu a aflição de seu povo e desceu para libertá-lo (cf. Ex 3, 7-8). Deus não aceitou e nem jamais aceitará a miséria de seu povo, porque o projeto de Deus para este mundo é de vida para todos.

Cada pessoa que confessa Jesus como Senhor da vida e Salvador da humanidade, tem uma missão a cumprir neste mundo. A missão é ser testemunha da ressurreição de Jesus, como foram os seus Apóstolos (Atos 10, 41). Apesar das fragilidades que são inerentes ao ser humano, precisamos buscar sempre imitar Jesus Cristo, porque pela sua Ressurreição fomos convidados a permanecer com ele. Permanecer com Jesus significa buscá-lo onde ele está nos dias de hoje. Onde Jesus está? Onde está acontecendo a Ressurreição de Jesus?...

Ser testemunha da Ressurreição de Jesus significa vê-lo ressuscitando no sofrimento de seu povo. Jesus está no meio de nós, ele nos garantiu isso. A partir de seu Evangelho sabemos muito bem onde ele está: na beira do caminho, nas praças públicas, nas praias, nas periferias, nas casas do povo, na montanha, nos pequenos povoados, na sinagoga, e ocasionalmente no Templo de Jerusalém. Jesus quer que fiquemos perto dele, para que no amor e na justiça possamos dar testemunho de nossa fé na Ressurreição. Todos podem acreditar que Jesus ressuscitou, mas somente aqueles que tiverem a coragem de dar testemunho é que poderão fazer parte do Reino de Deus.

Não se pode esquecer que antes da Ressurreição, Jesus passou pela cruz. O cristão precisa estar com Jesus desde o Monte das Oliveiras até o túmulo vazio do primeiro dia da semana. Esta fidelidade permanente é que nos salva. É preciso ser perseverante no árduo caminho de Jesus: estreito, pedregoso, sofrido, difícil... Mas, depois de toda uma ladeira de subida ao Horto, depois de expiradas as últimas forças, depois de ter trabalhado infatigavelmente na construção do Reino de Deus; enfim, receberemos a coroa da vida, reservada àquelas pessoas que se dispuseram lavar suas vestes no sangue do Cordeiro.

Bendito seja Deus, pela Ressurreição de Jesus nosso irmão maior!

Feliz Páscoa!
Tiago de França
Fortaleza – CE, 13 de abril de 2009.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Semana Santa no sertão

Estimado leitor deste espaço de reflexões,

Neste momento estou em Quixeramobim. Resolvi passar a semana santa no sertão central do Ceará. O povo sofrido daqui me faz recordar da paixão de Jesus. A seca e as dificuldades dos pobres sertanejos estão em plena sintonia com o Calvário de Jesus.

Por isso, de hoje até domingo este espaço não será atualizado mas depois da Festa da Páscoa partilharei com você uma Mensagem Pascal que está quase pronta. Peço que neste tempo de deserto, o Espírito de Deus possa fecundar cada vez mais em nós as virtudes da fé, esperança e caridade.

A meditação da paixão e morte de Jesus é muito importante para entendermos sua Ressurreição dentre os mortos, pois nunca podemos esquecer que o Ressucitado é o Crucificado e que a sua vitória renova a nossa esperança.

Meu abraço e minha prece,

Tiago França

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Irmã Dulce, Venerável


A caridade com os pobres fez parte da vida de muitos homens e mulheres, que optando por seguir Jesus neste mundo, transformaram a realidade e ficaram na memória da Igreja e da sociedade. Jesus ensinou que o amor para com os mais pobres e oprimidos é a marca que confere à pessoa o nome de cristão. Somente é cristã aquela pessoa que se identifica e vive o projeto de Jesus, que se traduz no amor incondicional com os pobres e excluídos da sociedade.

A Irmã Dulce, que ficou conhecida como o “Anjo bom da Bahia”, é uma dessas pessoas que se encontrou com Jesus presente nos sofredores e dele não quis mais se separar. Nasceu no dia 26 de maio de 1914 em Salvador – BA. Faleceu na mesma cidade em 13 de março de 1992. Desde pequena demonstrou amor para com os sofredores, acolhendo-os em sua casa; herança que recebeu de seu pai, homem caridoso que amparava os desamparados e jogados da cidade. Em 1934 tornou-se freira da Congregação das Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus. Exerceu várias funções nas obras da Congregação e nas que fundou: enfermeira, porteira, professora, sacristã, responsável pelo raio X no hospital, superiora, etc.

A Irmã Dulce exerceu fielmente o mandamento ensinado por Jesus. Fundou escolas, albergues, hospital, etc. Visitava os presos e recolhia crianças, jovens, adultos e idosos jogados nas ruas, becos e praças de Salvador. Viveu 77 anos de luta incansável pela promoção da dignidade da pessoa humana. Era muito venerada pela Igreja, por políticos, artistas, intelectuais, e pelos pobres – seus irmãos. O que chamava a atenção das pessoas em Irmã Dulce eram a sua capacidade, inteligência, força e coragem de amar e servir os pobres, apesar de sua saúde fragilizada. Não media esforços para ir ao encontro daqueles que estavam em situação de risco.

Finalmente, o Vaticano reconheceu por meio de um decreto a vida de virtude heróica da serva de Deus, Irmã Dulce. Na sexta-feira, dia 3, o Papa Bento XVI assinou um decreto que permite a Irmã Dulce ser chamada de “Venerável Dulce”. O processo de beatificação e canonização segue na Congregação para a Causa dos Santos, órgão do Vaticano responsável em estudar e confirmar aquelas pessoas que morrem com fama de santidade. Não que tal órgão a tornará santa, mas apenas reconhecerá sua santidade, vivida intensamente entre os pobres de Salvador.

A memória dos santos e santas nos ajuda a recordar o convite de Jesus: “Amai-vos uns aos outros” (Jo 13,34). O amor é o caminho que nos leva à verdadeira felicidade e transforma o nosso mundo em uma realidade mais humana e melhor de se viver. A Irmã Dulce mostrou que isto é possível e que Deus se revela àqueles que o amam nas pessoas dos excluídos de nossa sociedade. Que seu exemplo nos motive a sermos pessoas mais humanas, mais fraternas e mais caridosas.

Venerável Dulce, que contemplaste Jesus nos pobres sofredores, intercede por nós junto a Cristo, Servo Sofredor!

Amém!

Tiago de França

Semana Santa, recordação do amor


A Igreja celebra a memória da paixão e morte de Jesus na Semana Santa e em todas as missas que são celebradas em nossas igrejas. O que significa fazer a memória da morte de Jesus? Qual o sentido da morte de Jesus? Por que Jesus morreu na cruz? Buscar saber o sentido da morte de Jesus é importante, porque somente sabendo das causas que levaram a morte de Jesus, é que se descobre o sentido e o valor de seu amor por cada um de nós. Jesus não morreu à toa. Ele deu pleno significado à morte. A morte de Jesus na cruz é o martírio por excelência!

Inicialmente, podemos afirmar que a morte de Jesus é a maior prova de amor que Deus já demonstrou na história de seu povo até os tempos atuais. Quando Deus entrega seu único Filho para ser executado pelos homens, é sinal de que Deus quer alguma coisa de nós. O que será que Deus quis dizer com a morte de seu Filho unigênito? Por que será que a morte de Jesus marcou a humanidade? Jesus veio ao mundo com a missão de inaugurar o Reino de Deus. Em alguns momentos, ele declarou-se ser este Reino presente no meio do povo de Deus.

Se não fizermos referência ao Reino de Deus, a morte de Jesus perde seu sentido. Podemos ainda perguntar: O que Jesus veio fazer neste mundo? Será que ele veio fazer milagres, matar a fome do povo, libertar os cativos, andar sobre as águas, curar os cegos?... Ele fez tudo isso, mas não veio somente para isso; afinal de contas, os patriarcas, profetas e profetisas do Antigo Testamento, já eram homens e mulheres que realizaram prodígios no meio do povo. Jesus não é mais um profeta na história de Israel, mas o Messias, o Ungido de Deus, o Filho amado do Pai, que veio a este mundo para dar sua vida para a edificação do Reino do Pai. Que Reino será esse?...

O Reino de Deus tem alguns valores importantes, e quando estes são vivenciados na comunidade e na humanidade, podemos dizer que é a pura manifestação do Reino de Deus entre nós. O amor, o perdão, a justiça, a paz, a solidariedade, a fraternidade, a partilha entre tantos outros valores humanos e evangélicos são os valores do Reino de Deus e sua edificação contínua entre nós. A quem cabe a construção deste Reino? Toda pessoa humana é chamada ao amor. Quando se ama, se constrói o Reino de Deus. O amor é o maior dos valores do Reino, porque quem ama perdoa, pratica a justiça, é solidário, vive a fraternidade, partilha e promove a vida.

Fazer a memória da paixão e morte de Jesus é recordar do compromisso que trazemos de nossas promessas batismais. Acima de toda e qualquer promessa que podemos fazer a Deus, a resposta ao amor gratuito é a maior exigência. A caridade é uma exigência do Reino de Deus. Quem se recusa ao amor não pode participar do Reino de Deus. Jesus na cruz vem nos lembrar justamente disso. Como diz o refrão de uma música: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse o amanhã”. Jesus mostrou com a vida que o amor é mais forte que a morte. Por que temermos à morte?...

Que nesta santa semana possamos meditar a paixão do Senhor, e nos irmãos e irmãs que sofrem as opressões e aflições desta vida e deste mundo, Jesus nos mostre o verdadeiro caminho que leva à Ressurreição.

Amemo-nos, irmãos e irmãs, amemo-nos, porque não há outro caminho que conduza a Deus, que não seja o amor!

Tiago de França

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Martin Luther King Jr., mártir da igualdade


Martin Luther King é um dos homens que marcaram a história da humanidade. O centro da espiritualidade e de sua vida é a luta pelos direitos civis dos negros e das mulheres. Foi um homem apaixonado pelo ser humano e que lutou pela igualdade entre as pessoas de seu país. Nasceu nos Estados Unidos em 1929. Foi pastor da Igreja Batista e ativista político. Recebeu o prêmio Nobel da Paz em 1964. Tinha bacharelado em Sociologia e PhD em Teologia Sistemática. No dia 04 de abril de 1968, Martin Luther King foi assassinado por um branco que havia escapado da prisão em Memphis, Tenessee, EUA. Fazendo uma leitura dos vários discursos de Martin L. King encontrei um pensamento e seu discurso mais famoso “Eu tenho um sonho”. Farei um comentário sobre o pensamento e convido o leitor a ler, pensar e repensar seu discurso mais famoso. Este, por sua vez, não precisa de explicação, porque são palavras que brotam das entranhas mais profundas do mártir cristão Martin L. King. O pensamento é:

“Se você não está pronto para morrer por alguma coisa,
você não está pronto para viver”.

Estas palavras são fortes e proféticas. Quando li e meditei estas palavras, vieram-me à mente duas verdades: a de Cristo, quando disse: "Quem quiser salvar sua vida, vai perdê-la; mas quem perde a sua vida por causa de mim e do Evangelho, vai salvá-la" (Mc 8,35). A segunda verdade é a vida dos mártires da Igreja de todos os tempos e lugares. O pastor Martin L. King tinha a plena convicção de que a fé cristã se traduz na luta pela dignidade da pessoa humana. Sua luta incansável pelos direitos humanos é a prova de que é preciso o cristão dar a vida por uma causa. Qual o sentido da religião e da fé cristã se não tivermos uma causa para lutar até as últimas conseqüências?... As palavras de Jesus são claras: “... quem perde sua vida por causa de mim e do Evangelho...” Perder a vida por causa de Jesus é um chamado do próprio Cristo. Ele primeiro o fez para deixar-nos um exemplo. Será que Jesus foi assassinado pelos poderes opressores de seu tempo, só porque estava previsto na Escritura pelos santos e profetas?... Jesus morreu por uma causa. Qual foi a causa de Jesus? A causa de Jesus foi e continua sendo a vida do mundo e a vida do povo de Deus. Dando-se no patíbulo da Cruz, Jesus deu-nos a vida que ninguém pode nos tirar. Martin L. King foi fiel a Jesus quando deu sua vida pela vida de seu povo e de seu país.

Estamos a poucas horas da Semana Santa. Reviveremos com Jesus sua caminhada para a entrega final. A Cruz do Servo Sofredor é a prova cabal e a conseqüência última da opção de Jesus e de sua causa. Quem professa a fé no Servo Sofredor, independentemente da instituição cristã a que faz parte, está convidado por Jesus a encontrar-se com ele no Horto das Oliveiras, vigiar com ele e após sua Ressurreição, continuar sua causa e sua opção. A justiça como testemunho de amor levou Jesus e tantos outros cristãos a entregar suas vidas em resgate de muitos. Os mártires renovam a Aliança de Deus com os homens e o sangue dos mesmos purifica a fé cristã ameaçada neste mundo. No séc. II, Tertuliano, grande teólogo e jurista, professou: “O sangue dos mártires é semente de novos cristãos”. Abaixo transcrevo o discurso “Eu tenho um sonho”, de Martin Luther King e peço-lhe que faça uma profunda reflexão sobre o mesmo. O testemunho dos cristãos no mundo de hoje é urgente, diante de uma humanidade que se desumaniza cada vez mais. O testemunho de Luther King renova nossas esperanças de um mundo mais justo, humano e fraterno. Como disse o presidente dos EUA, o negro Barack Hussein Obama: “Sim, nós podemos!” Realmente, se cremos em Jesus e em nossa capacidade de amarmos o próximo, nós podemos construir um mundo melhor.

Discurso de Martin Luther King Jr. na marcha para Washington, em 1963:

“EU TENHO UM SONHO”
Há cem anos passados, um grande americano, sob cuja simbólica sombra nós nos encontramos, assinava a Proclamação da Emancipação. Esse momentoso decreto foi como um raio de luz de esperança para milhões de escravos negros que tinham sido marcados a ferro nas chamas de vergonhosa injustiça. Veio como uma aurora feliz para terminar a longa noite do cativeiro.

Mas, cem anos mais tarde, devemos enfrentar a realidade trágica de que o Negro ainda não é livre. Cem anos mais tarde, a vida do Negro é ainda lamentavelmente dilacerada pelas algemas da segregação e pelas correntes da discriminação. Cem anos mais tarde, o Negro continua vivendo numa ilha isolada de pobreza, em meio a um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos mais tarde, o Negro ainda definha à margem da sociedade americana, encontrando-se no exílio em sua própria pátria. Assim, encontramo-nos aqui hoje para dramatizarmos tal consternadora condição.

Em certo sentido viemos à capital de nossa nação para descontar um cheque. Quando os arquitetos de nossa república escreveram as palavras majestosas da Constituição e da Declaração de independência, estavam assinando uma nota promissória da qual cada cidadão americano seria herdeiro. Essa nota foi uma promessa de que todos os homens teriam garantidos seus inalienáveis direitos à vida, à liberdade e à busca da felicidade.
É óbvio que ainda hoje a América não pagou tal nota promissória no que diz respeito aos seus cidadãos de cor. Em vez de honrar tal compromisso sagrado, a América deu ao Negro um cheque sem fundos; um cheque que foi devolvido com a seguinte inscrição: “fundos insuficientes”. Nós nos recusamos a aceitar a idéia, porém, de que o banco da justiça está falido. Recusamos acreditar não existirem fundos suficientes nos grandes cofres das oportunidades desta nação. Por isso aqui viemos para cobrar tal cheque – um cheque que nos será pago com as riquezas da liberdade e a segurança da justiça.
Também viemos a este lugar sagrado para lembrar à América da veemente urgência do agora. Este não é o tempo para se dedicar à luxuria da postergação, nem para se tomar a pílula tranquilizante do gradualismo. Agora é o tempo para que se tornem reais as promessas da Democracia. Agora é o tempo para que nos levantemos do vale escuro e desolado da segregação para o iluminado caminho da justiça racial. Agora é o tempo de abrir as portas da oportunidade para todos os filhos de Deus. Agora é o tempo para levantar nossa nação da areia movediça da injustiça racial para a rocha sólida da fraternidade.

Seria fatal para a nação não levar a sério a urgência do momento e subestimar a determinação do Negro. Este sufocante verão do descontentamento legítimo do Negro não passará até que ocorra o revigorante outono da liberdade e igualdade. 1963 não é um fim, mas um começo. Aqueles que crêem que o Negro precisava apenas se desabafar, e que agora ficará contente como está, terão um rude despertar se a Nação retornar à sua vida normal como sempre. Não haverá tranqüilidade nem descanso na América até que o Negro tenha garantido todos os seus direitos de cidadania. Os turbilhões da revolta continuarão a sacudir as fundações de nossa Nação até que desponte o luminoso dia da justiça.

Existe algo, porém, que devo dizer ao meu povo que se encontra no caloroso limiar que conduz ao palácio da justiça. No processo de ganharmos nosso lugar de direito não devemos ser culpáveis de atos irregulares. Não busquemos satisfazer a sede pela liberdade tomando da taça da amargura e do ódio. Devemos conduzir sempre nossa luta no plano elevado da dignidade e disciplina. Não devemos deixar que nosso criativo protesto degenere em violência física. Sempre, e cada vez mais, devemos nos erguer às alturas majestosas de enfrentar a força física com a força da alma. Esta maravilhosamente nova militância que engolfou a comunidade negra não deve nos levar a uma desconfiança de todas as pessoas brancas, pois muitos de nossos irmãos brancos, como evidenciado por sua presença aqui, hoje, estão conscientes de que seus destinos estão ligados ao nosso destino, e que sua liberdade está instrinsecamente unida à nossa liberdade. Não podemos caminhar sozinhos.

À medida que caminhamos, devemos assumir o compromisso de marcharmos avante. Não podemos retroceder. Existem aqueles que estão perguntando aos devotados dos direitos civis: “Quando vocês ficarão satisfeitos?” Não podemos ficar satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos horrores incontáveis da brutalidade policial. Não podemos ficar satisfeitos enquanto os nossos corpos, pesados pela fadiga da viagem, não puderem encontrar um lugar de descanso nos motéis das estradas e nos hotéis das cidades. Não podemos ficar satisfeitos enquanto a nobreza básica do Negro passa de um gueto pequeno para um maior. Não podemos jamais ficar satisfeitos enquanto um Negro no Mississipi não pode votar e um Negro em Nova York crê não existir nada pelo qual votar. Não, não, não estamos satisfeitos, e não ficaremos satisfeitos até que a justiça corra como água e a retidão também, como uma poderosa correnteza.

Não desconheço que alguns de vocês vieram aqui após muitas dificuldades e tribulações. Alguns de vocês recém saíram de diminutas celas de prisão. Alguns de vocês vieram de áreas onde sua busca pela liberdade deixou em vocês marcas das tempestades de perseguição que os fez tremer pelos ventos da brutalidade policial. Vocês são veteranos do sofrimento criativo. Continuem a trabalhar com a fé de que um sofrimento imerecido é redentor.

Voltem ao Mississipi, voltem ao Alabama, voltem à Carolina do Sul, voltem à Geórgia, voltem à Louisiana, voltem às favelas e aos guetos de nossas modernas cidades, sabendo que, de alguma forma, esta situação pode e será alterada. Não nos aninhemos no vale do desespero.

Digo-lhes, hoje, meus amigos, que apesar das dificuldades e frustrações do momento, ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.
Tenho um sonho que algum dia esta nação levantar-se-á e viverá o verdadeiro significado de sua crença. “Afirmamos que estas verdades são evidentes; todos os homens foram criados iguais”.

Tenho um sonho que algum dia nas montanhas rubras da Geórgia os filhos de antigos escravos e os filhos de antigos donos de escravos poderão sentar-se à mesa da fraternidade.

Tenho um sonho que algum dia o estado do Mississipi, um estado deserto sufocado pelo calor da injustiça e opressão, será transformado num oásis de liberdade e justiça.
Tenho um sonho que meus quatro pequenos filhos viverão um dia em uma nação onde não serão julgados pela cor de sua pele, mas pelo conteúdo de seu caráter.

Tenho um sonho, hoje.
Tenho um sonho que algum dia o estado de Alabama, cujos lábios do governador atualmente pronunciam palavras de interposição e nulificação, será transformado para uma condição onde pequenos meninos negros, e meninas negras, possam dar-se as mãos com outros pequenos meninos brancos, e meninas brancas, caminhando juntos, lado a lado, como irmãos e irmãs.

Tenho um sonho, hoje.
Tenho um sonho que algum dia todo vale será exaltado, toda montanha e encosta serão niveladas, os lugares ásperos tornar-se-ão lisos e os lugares tortuosos serão direcionados, e a glória do Senhor será revelada, e todos os seres a verão, juntamente.
Esta é nossa esperança. Esta é a fé com a qual regresso ao sul. Com esta fé seremos capazes de tirar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé poderemos transformar as dissonantes discórdias de nossa nação em uma linda sinfonia harmoniosa de fraternidade. Com esta fé poderemos trabalhar juntos, orar, juntos, lutar juntos, ir à prisão juntos, ficarmos juntos em posição de sentido pela liberdade, sabendo que algum dia seremos livres.

Esse será o dia quando todos os filhos de Deus poderão cantar com um novo significado: “Meu país é teu, doce terra de liberdade, de ti eu canto. Terra onde morreram meus pais, terra do orgulho dos peregrinos, de cada rincão e montanha que ressoe a liberdade”.

E se a América for destinada a ser uma grande nação isto deve se tornar realidade.
Que a liberdade ressoe destes prodigiosos planaltos de New Hampshire.
Que a liberdade ressoe destas poderosas montanhas de New York.
Que a liberdade ressoe dos elevados Alleghenies da Pensilvânia!
Que a liberdade ressoe dos nevados cumes das montanhas Rockies do Colorado!
Que a liberdade ressoe dos picos curvos da Califórnia!
Não somente isso; que a liberdade ressoe da Montanha de Pedra da Geórgia!
Que a liberdade ressoe da Montanha Lookout do Tennessee!
Que a liberdade ressoe de cada Montanha e de cada pequena elevação do Mississipi.
De cada rincão e montanha, que a liberdade ressoe.
Quando permitirmos que a liberdade ressoe, quando a deixarmos ressoar de cada vila e cada aldeia, de cada estado e de cada cidade, seremos capazes de apressar o dia quando todos os filhos de Deus, negros e brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, com certeza poderão dar-se as mãos e cantar nas palavras da antiga canção negra: “Liberdade afinal! Liberdade afinal! Louvado seja Deus, todo-misericordioso, estamos livres, finalmente!”

Que o Deus da vida, da liberdade e da igualdade seja bendito pelo testemunho de vida do grande profeta estadunidense Martin Luther King Jr.!

Tiago de França

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Um diálogo com o Senhor


No meio da tarde
O céu azul e o sol ardente,
O vento passa frio, quente...
Não sei para onde ele vai.

Fico pensando comigo:
De onde vem este vento?
Por onde passou?
Para onde vai?...

Assim é Deus.
Os homens o procuram,
Mas ninguém sabe onde ele realmente está.
Uns dizem: “Ele está aqui!” Outros dizem: “Ele está acolá!”...

Deus é livre,
Ninguém pode retê-lo
Ele está aqui e acolá
Está em todo lugar...

Fico pensando como encontrar palavras
Que revele o pensar de Deus.
Sua vontade foi revelada,
Mas quem pode saber de seu pensar?...

O que Deus pensa de mim?...
O que eu penso de Deus?...
Eu penso que ele é amor
Porque ele disser que o é.

Dialogar com o desconhecido
Coisa estranha...
Mas é uma estranheza carinhosamente carinhosa!
Falar com quem não se vê, mas com quem fortemente se sente...

Saber o que é ação divina
É a tarefa da contemplação.
Ver, tocar, ouvir, sentir...
Ser visto, ser tocado, ser ouvido e sentido...

Compreender
Aquilo que está longe estando perto.
Aquele que quer ser entendido
Escondendo-se na simplicidade dos limitados...

Ah, seu eu pudesse plenamente entender
Te mistério de amor,
Senhor!...


Tiago de França

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Dom Hélder e a esperança dos pobres


Nasceu no dia 7 de fevereiro de 1909 em Fortaleza – Ceará. É importante entendermos o Ceará e o cearense para melhor compreendermos quem é Dom Hélder Pessoa Câmara. É no Ceará que encontramos Antônio Conselheiro, Padre José Antônio de Maria Ibiapina e Padre Cícero Romão Batista e Dom Hélder Câmara. Todos cearenses. O que estes homens têm em comum? Poderíamos citar várias qualidades que eles têm em comum, mas o espaço deste artigo é pequeno. Resumo todas as qualidades numa só marca: a caridade para com os pobres. A caridade é a marca indelével do cristão e fez parte da vida destes homens. Sem a caridade, a vida destes homens não teria sentido. Dom Hélder ensinou a Igreja a ser mais humilde e despojada. A Igreja assimilou o ensinamento de Dom Hélder, que era o ensinamento de Jesus?...

Foi seminarista, diácono, padre e bispo da Igreja. Foi um homem da Igreja. Converteu-se aos 56 anos de idade. Não foi uma conversão mágica, mas gradual. Uma conversão que se deu até a morte. A formação do Seminário da Prainha enquadrou Hélder Câmara naquilo que a doutrina tinha de mais conservadora e fechada, pois seus formadores eram fiéis à linha de reflexão tridentina vigente em seu tempo. O padre e o bispo Hélder Câmara aprendeu a ser pastor com os pobres. Foi no contato com os favelados do Rio de Janeiro e com o povo sofrido de Recife e Olinda que ele aprendeu a seguir Jesus. Ele não aprendeu a seguir Jesus com a Filosofia e a Teologia, porque este aprendizado se dá na prática cotidiana da caridade, uma prática perseverante. Com quem os seminaristas e os padres de hoje aprendem a serem pastores?...

Foi discípulo e missionário de Jesus Cristo. Quando Hélder Câmara despertou para a necessidade de reelaborar um novo conceito de Igreja e de ação pastoral junto aos pobres, ele tornou-se discípulo de Jesus. Quando ele, depois de ter refletido melhor suas posições e atitudes como Bispo da Igreja, convertendo-se a Jesus presente nos pobres, ele tornou-se missionário de Jesus. Como missionário, recebeu críticas e foi perseguido. Perseguido pela sociedade opressora e pela ala conservadora da Igreja, ligada ao poder. O “Irmão dos pobres”, conforme saudação do Papa João Paulo II, assumiu a missão de despertar a esperança nos corações dos pobres. Este despertar a esperança é missão profética assumida por poucas pessoas na Igreja. É preciso ter coragem e ousadia para despertar a esperança das minorias abraamicas, ensinava Dom Hélder Câmara. A Igreja de nossos dias está despertando a esperança dos vencidos e oprimidos de nossa sociedade?...

Foi poeta, profeta, escritor e místico. Dom Hélder Câmara foi um homem do silêncio, da palavra e dos gestos. No silêncio da madrugada, cotidianamente desde o tempo do Seminário, ele encontrava-se a sós com o Amado. Deixava-se envolver pelo mistério insondável da presença do Amado no mais profundo do seu ser. Na vida junto ao povo fazia as pessoas descobrirem que Deus estava com elas. Utilizava de todos os meios para despertar e alimentar a esperanças pobres: missas, encontros, palestras, conferências, poesias, conversas, passeatas, visitas etc. Todo seu ministério episcopal estava voltado para a construção de um outro mundo possível. Era um homem comunicativo, esperançoso, afetivo, cheio de ternura nas palavras, homem da escuta atenta às dores de seu povo. Em nossa atual evangelização, a quem estamos evangelizando?...

Recordar é viver. Lembrar de Dom Hélder é buscar reviver os valores evangélicos que ele deixou como legado da esperança, do contrário, todas as nossas homenagens serão puro saudosismo que nada constrói a não ser uma saudade sem sentido. Que o Espírito que impeliu Jesus ao deserto e levou Dom Hélder a ser um autêntico cristão nos leve também a vivermos o amor. Não um amor de palavras, documentos, teoria e aplausos, mas um amor de atos.

Tiago de França