quarta-feira, 13 de maio de 2009

Como evangelizar?


Minha mãe é missionária e está ligada à Associação dos Missionários do Campo, em Colônia Leopoldina, Alagoas, minha terra natal. Ela enviou-me uma carta partilhando alguns desafios à evangelização. Partilho aqui o que escrevi para ela. O que escrevi também serve para todo aquele que se dispõe a evangelizar o povo de Deus. Boa leitura!

"Minha querida e preza mamãe,

Recebi sua carta. Foi uma verdadeira partilha fraterna! Fico feliz em ver sua preocupação e empenho missionário junto ao povo de Deus. Diante dos desafios da missão, a senhora me coloca uma questão: “Por que uma situação dessas?” Brevemente, quero partilhar com a senhora sobre a situação do mundo atual à luz da fé e da Palavra de Deus.

Em todas as épocas e lugares, o processo de evangelização sempre foi um desafio ao cristão e à Igreja. Pelo batismo somos chamados a assumir a missão de anunciar Jesus ao mundo e isto não é fácil. É um processo de vitórias e derrotas, alegrias e tristezas, encontros e desencontros. Diante disso, quem aceitar anunciar Jesus como verdade e liberdade para o mundo deve estar sempre preparado para as surpresas da missão. Posso dizer que o maior desafio da missão é ir ao encontro das pessoas e encontrá-las tristes e desmotivadas. A tristeza e a rejeição fazem parte da vida do mundo. A verdadeira alegria está em Deus. Nosso mundo é cheio de confusão. O missionário e a missionária são chamados a entender o que é o mundo e o que é o Evangelho para evangelizar melhor e ser evangelizado.

No caso que a senhora contou na carta se trata da falta de interesse das pessoas em relação às coisas de Deus. Nos estudos teológicos isso se chama relativismo. O que é o relativismo? É o esquecimento de Deus. Quando as pessoas não se importam mais com Deus nem com a fé cristã, chamamos isso de relativismo, ou seja, Deus se tornou relativo. As pessoas só procuram a Deus nas necessidades, depois o esquecem. E há pessoas ainda que nem no sofrimento se recordam de Deus. Mais do que antigamente, o mundo de hoje está cheio de pessoas que se apegam mais a este mundo do que a Deus. Para muitas pessoas, Deus está deixando de ter importância. Querem levar uma vida sem Deus. E nós, que lemos e meditamos o Evangelho de Jesus, sabemos que este caminho está errado, que não é o caminho da salvação, pois a salvação está na busca incessante de Deus. Precisamos buscar a Deus para sermos salvos, pois a salvação está em Deus, não fora dele.

É triste ver pessoas que não se importam com a vida de Igreja mesmo sendo católicas. É contraditório se afirmar católico e não praticar a fé na comunidade cristã. A fé é um dom gratuito de Deus para ser vivido em comunidade. Ninguém tem fé para viver isolado. Somos chamados a formarmos o Povo de Deus, a comunidade dos eleitos, pois esta é a vontade de Deus. Fora da comunidade não há Igreja, só há Igreja se houver comunidade. A nossa missão é despertar o povo de Deus, que sofre do individualismo e materialismo mundanos, e chamá-lo a formar comunidade. Jesus formou a comunidade dos Doze Apóstolos e mulheres junto a si. Jesus viveu o espírito de comunidade.

O que fazer diante da frieza das pessoas? O que fazer diante da falta de fé das pessoas? O que fazer diante da desunião e competição entre as pessoas? O que fazer quando as pessoas não valorizam aquilo que é de Deus? São perguntas necessárias que todo missionário e missionária devem fazer na caminhada. Uma primeira atitude é estarmos unidos a Jesus. A nossa união com Jesus na Eucaristia (partilha do pão) e na oração é muito importante. Só estando unidos a Jesus é que podemos ter coragem para anunciar a Boa Nova a um povo muitas vezes rebelde e descrente. Nosso diálogo com Jesus pela oração diária é que nos fortalece na missão. A vinha do Senhor precisa de operários corajosos, audaciosos, alegres, dispostos! A segunda atitude é escutar o povo. O que o povo diz e sente, o que o povo vive e realiza é importante. Para que o anúncio não seja superficial, precisamos viver a realidade do povo e estarmos atentos aquilo que o povo é em si mesmo. Um missionário e uma missionária que não estão atentos aos acontecimentos da vida não sabem por onde caminhar nem por onde começar no processo de evangelização.

Um terceiro passo é falar ao povo do jeito que Jesus falava, tendo em vista que o povo pobre é o povo de Deus e o povo de Jesus. Os pobres, com todos os pecados e limitações, formam a raça eleita de Deus neste mundo dilacerado de dor. Quando o missionário ou a missionária está diante dos pobres, está diante de Jesus. Muitas vezes, os pobres são ignorantes, são mal educados, são teimosos e até mentirosos, mas isto não é a sua essência. Há muitas causas que levam alguns pobres a serem desse jeito. Nós, que estamos com a Palavra na boca e no coração e prontos para anunciar, precisamos ter sensibilidade para compreender as limitações das pessoas e acolhê-las do jeito que são. Ninguém muda ninguém, só o poder de Deus. Precisamos cada vez mais, pedir a Deus nosso Senhor e Pai, para que nos dê um coração simples, humilde e aberto ao novo e ao diferente, à rejeição e às tristezas que encontramos no caminho, pois na caminhada da vida de missionários, temos muitas alegrias, mas também muitas decepções. Somos compreendidos e aceitos, às vezes, somos incompreendidos e rejeitados.

Para sermos missionários de Jesus neste mundo precisamos estar unidos a Jesus pelo Pão e pela Palavra do próprio Cristo. O que fez Jesus? Como viveu sua missão? Como Jesus morreu e por que foi crucificado? Precisamos meditar sobre isso. As perseguições e o desprezo a que Jesus se submeteu ensina-nos que o mesmo acontece com quem o segue e anuncia. O próprio Jesus disse que todo tipo de desprezo, calúnia, julgamentos, incompreensões e açoites devem ser motivos de alegria para o cristão. Desta forma, já somos felizes e seremos ainda mais se permanecermos fiéis no seguimento e na missão. Pelo que conheço da senhora, creio que não deve ficar preocupada. No serviço aos pobres, que é anúncio vivo da Palavra, a senhora já segue Jesus e o anuncia muito bem. O Senhor bom Deus só nos pede que perseveremos. Lembremo-nos do conceito de seguimento de Jesus ensinado pelo nosso mestre e missionário José Comblin: “Seguir Jesus é colocar-se em seu caminho e perseverar”. Isso já realizamos no dia-a-dia, portanto estamos no caminho certo. Caminhemos...

Rogo ao Espírito que nos recorda o amor e nos ensina a amar que permaneça sempre conosco e nos confirme na fé e na missão. Que a Virgem de Nazaré ajude-nos com sua intercessão junto ao Deus da vida. Que desça sobre nós a força e a bênção do Alto. Receba meu abraço e minha prece.

Seu filho e irmão na fé,


Tiago de França da Silva"

Nenhum comentário: