sábado, 9 de maio de 2009

Falar sobre Deus


Indo são Luís, rei da França, visitar em peregrinação os santuários do mundo, e tendo chegado aos seus ouvidos a fama de santidade do irmão Gil, um dos primeiros companheiros de são Francisco, propôs-se e tomou a firme decisão de visitá-lo [...]. Apresentou-se o porteiro e disse ao irmão Gil que na porta havia um peregrino que perguntava por ele; e lhe foi revelado em espírito tratar-se do rei da França. Imediatamente, com grande fervor, saiu da cela, correu à porta e, sem perguntar e sem nunca se terem visto, ajoelhou-se diante dele com grande devoção, e os dois se abraçaram e se beijaram com suma alegria, como se há tempos tivesse havido entre eles estreita amizade. E isso faziam sem um dirigir a palavra ao outro, abraçados em silêncio entre sinais de amor e caridade. E assim ficando durante algum tempo, sem dizerem nenhuma palavra, separaram-se um do outro [...]. ‘Não lhes devem causar estranheza, irmãos caríssimos – explicou o frei Gil -, que nem ele nem eu pudéssemos nos dizer palavra alguma [...], olhando-nos mutuamente nos corações, conhecemos o que eu queria dizer a ele e o que ele queria me dizer muito melhor e com maior consolação que se tivéssemos falado com a boca, pela limitação da língua humana, que não é capaz de exprimir os mistérios secretos de Deus’.


Dos escritos sobre São Francisco de Assis

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