quinta-feira, 21 de maio de 2009

A liberdade


A liberdade faz parte dos anseios mais profundos do ser humano. O homem só se humaniza na liberdade porque é um ser vocacionado à liberdade. Sem esta, o humano torna-se vazio e sem sentido. O capítulo IV do livro "O homem, que é ele?", de B. Mondin fala da vontade, da liberdade e do amor. Aqui discorrerei um pouco sobre o que penso a respeito da liberdade em conexão com o pensamento do autor. Mondin incia sua reflexão expressando a dificuldade que há na construção do conceito de liberdade, devido às várias circunstâncias em que a palavra ou o termo liberdade é expresso no cotidiano da vida das pessoas e em suas discussões. Mas, diante de tantas opiniões há o que Mondin chama de "núcleo fundamental" comum, que é a afirmação de que liberdade é sinônimo de "ausência de constrangimento", immunitas a coactione, afirmavam os escolásticos.

Este constrangimento ou coação é oriundo de várias causas. E estas, por sua vez, leva o autor a distinguir alguns tipos de liberdade. A saber:
- liberdade física (ausência de constrangimento físico);
- liberdade moral (ausência de forças relativas à ordem moral);
- liberdade psicológica (ausência de impulsos de outras faculdades humanas para fazê-la agir de determinada forma);
- liberdade política (ausência de determinismos políticos);
- liberdade social (ausência de determinismos sociais).

Mondin se debruça sobre a liberdade psicológica e julga esta como a liberdade plena do sujeito em decidir por si mesmo em sua ação. O homem é livre para agir quando ele decide sobre aquilo que quer e deseja. A ação humana é psicologicamente livre quando o homeme encontra-se na "possibilidade radical de decidir por si mesmo". Aí está a essência da liberdade.

A partir de uma leitura da realidade, citando H. Daudin, Mondin afirma que a Filosofia Grega não deu ênfase ao problema da liberdade. A preocupação dos filósofos antigos estava voltada para a moral, a ética, a orientação da vida humana, o conhecimento sensível, conhecimento do intelecto etc. A liberdade é um tema totalmente ausente na filosofia pagá. No final da antiguidade clássica e durante toda a Idade Média é que a Filosofia mergulha no conhecimeto da liberdade da vontade. A discurssão e o estudo sobre a liberdade aprofundam-se cada vez mais na Idade Moderna, com questionamentos úteis à procura do sentido e da presença da liberdade no homem e em sua ação. Mondin afirma que são três as causas que levaram ao esquecimento ou ausência do tema liberdade na filosofia antiga e pagã:

- porque na filosofia pagã todas "as coisas eram sujeitas ao destino, vontade superior aos homens e aos deuses, que determina consciente ou inconscientemente a ação";
- porque o homem está sujeito à natureza e às leis que a governam e não pode agir diversamente conforme sua vontade;
- "porque o homem é escravo da férrea engrenagem da história, que é concebida pelo pensamento grego como movimento cíclico, no qual tudo se repete regularmente em certo período do tempo".

Foi no pensamento cristão que o tema da liberdade ganhou uma nova dimensão e atraiu interesse. Afirma Santo Agostino: "É o Deus das Escrituras que nos revela que o homem tem livre escolha da vontade". Este pensar constrói a base de uma nova concepção de liberdade. Nesta, o homem é chamado a fazer-se a si próprio sobre a orientação livre de um Deus que é Pai amoroso. Dessa forma, o destino, a história e a natureza não estão mais acima do homem, mas estão a seu serviço. Durante o período patrístico a liberdade foi concebida do ponto de vista teocêntrico, ou seja, a liberdade consistia na relação do homem com Deus. No período moderno, a reflexão sobre a liberdade renuncia o teocentrismo e cede lugar ao antropocentrismo. Agora, a reflexão parte do homem e de sua relação com os demais homens e com o Estado, não mais na relação com Deus. Neste período destam-se os filósofos Descartes, Spinoza, Hume, Freud e aqueles que se debruçaram sobre o estudo das paixões: Marx, Comte, Mill, Croce, Russell, Marcuse e outros. No período contemporânio, com o aparecimento do fenômeno da socialização, a discussão sobre a liberdade ganhou nova forma. A liberdade é avaliada do ponto de vista social. Como se pode ser livre diante de regimes políticos totalitários e de um espírito globalizante ideológico e capitalista manipulador e predador? Os contemporâneos ocupam-se em analisar a liberdade levando em consideração esta rede de relações e complexos sistemas que atuam a partir do homem e sobre o homem.

Depois de conceituar a liberdade de apresentar um breve resgate histórico da discussão da mesma, quero concluir esta breve reflexão imprimindo uma opinião que julgo importante para a reflexão filosófica cristã, a partir da existência de uma filosofia cristã, que o homem é chamado a pensar a liberdade e a partir deste pensar, tornar-se um agente da liberdade no mundo atual. O grande dilema do homem pós-moderno é encontrar-se "amarrado" às correntes de pensamento e sendo alienado não consegue ser feliz. Se a liberdade faz parte da essência do ser humano, fica claro é evidente que sem ela não podemos encontrar a felicidade. Crente de que podemos ser felizes na vivência da liberdade e a partir dela construirmos um mundo melhor para nossa subexistência, é possível alimentarmos nem que seja uma utopia de pensarmos um outro mundo possível.

Tiago de França

Obs.: Texto apresentado à cadeira de Antropologia Filosófica do curso de Filosofia do ITEP.

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