quinta-feira, 30 de julho de 2009

O reino dos céus



“O reino dos céus é ainda como uma rede lançada ao mar e que apanha peixes de todo tipo. Quando está cheia, os pescadores puxam a rede para a praia, sentam-se e recolhem os peixes bons em cestos e jogam fora os que não prestam” (Mt 13, 47 – 48). Utilizando-se de mais uma parábola, Jesus ensina a respeito do reino dos céus. Desta vez, a rede lançada ao mar é mais uma tentativa de Jesus em fazer as pessoas compreenderem a necessidade do reino dos céus. Vindo a este mundo para inaugurar o reino dos céus, Jesus leva as pessoas a entenderem este reino e a buscá-lo.

No caminho de Jesus temos vários tipos de pessoas. Todas são diferentes. Ninguém é igual a ninguém. Todas seguem o mesmo Cristo na vivência diária de suas diferenças. Aí está o desafio da rede que “apanha peixes de todo tipo”. No reino dos céus, ensinado por Jesus, não há um só tipo de pessoa, mas vários tipos. A diversidade faz parte do reino dos céus. Quando a vivência da diversidade torna-se impossível, aquilo que é diferente torna-se indiferente. A indiferença entre as pessoas, entre os cristãos, infelizmente é uma realidade. Nós, cristãos, dentro da própria Igreja, às vezes, nos referimos aos outros com desprezo, simplesmente porque os outros pensam e são diferentes de nós. Aí mora nossa visão reduzida de Igreja e de ser humano. Na Igreja e fora dela são inúmeras as pessoas que não conseguem enxergar um palmo além do próprio nariz ou umbigo. Enquanto este número for significativo, não teremos unidade e paz entre nós.

A rotulação de pessoas é um mal humano e eclesial. Sempre caímos na tentação de rotularmos as pessoas, pois pensamos que umas são boas e outras são más. Particularmente, não creio que há pessoas boas, nem más. Creio que há pessoas que podem fazer o bem e o mal. Ninguém está isento da bondade, pois somos imagem e semelhança da Bondade por excelência; assim como não estamos isentos da maldade, pois somos corrompidos pelo pecado desde Adão e Eva. Somente Deus é por natureza bom, nem Jesus quis ser visto e chamado de bom, apesar de sua igualdade para com Deus. Quando pensamos e vemos as pessoas segundo o olhar de Jesus, dificilmente caímos na rotulação. Na verdade, rotular as pessoas é como que uma tendência natural do ser humano ou quase isto. Uma vez que não conhecemos bem a pessoa, julgamo-la na primeira impressão ou segundo sua aparência.

A vida comunitária, como um dos maiores desafios da Igreja de todos os tempos e lugares, sempre foi ameaçada pela indiferença. Quem é indiferente costuma ser também egoísta, uma vez que a vida do outro não me interessa, então procuro viver a minha, isoladamente. A sociedade pós-moderna estimula intensamente a vivência da indiferença por meio do egoísmo e do individualismo. Como resolver o problema da vida comunitária na Igreja? A solução não apresenta receita e nem é fácil, mas não é impossível. Sendo o homem um ser infinitamente complexo e que evolui ao longo do tempo, jamais teremos comunidade perfeita, porque não somos perfeitos. Podemos ter comunidades possíveis, mas perfeitas, nunca! Assim sendo, sabendo que não podemos excluir aquelas pessoas que são tidas como “pessoas más” em nosso mundo, na Igreja e na sociedade, somos chamados a convivermos com elas, suportando-as no amor gratuito de Deus (cf. Ef 4, 2). O Apóstolo, para facilitar o desafio, indica-nos a humildade, a mansidão, a paciência e o amor como valores fundamentais na vivência comunitária.


A humildade é uma das maiores virtudes que o ser humano pode cultivar e viver. A pessoa humilde procura viver o que ela é. Ela não procura ser outra coisa senão viver sua própria personalidade. Por isso, seguramente, a pessoa humilde também é autêntica. Ela encontra dificuldade para viver em meio à prepotência, ao orgulho e à vaidade, porque a humildade é contrária a tudo isso. A humildade é algo tão simples que não podemos envaidecermo-nos ao falar dela. Multiplicar conceitos a respeito dela seria ir contra ao que ela é em si mesma. Na vida comunitária, a pessoa humilde vive a autenticidade e contribui na construção de uma comunidade mais humilde, onde a harmonia se faz presente.

A mansidão tempera o comportamento da pessoa. Ela torna-se terna, atenciosa, prestativa. Mansidão não pode ser sinônimo de ingenuidade, mas de tranqüilidade. Uma pessoa mansa é uma pessoa tranqüila, que age com tranqüilidade. Diante das agitações e alvoroços, dos aperreios e depressões do cotidiano, a mansidão torna a pessoa serena no seu pensar, falar e agir. Numa sociedade que valoriza o discurso, a mansidão confere prudência à pessoa, levando-a a falar oportunamente, no tempo, à pessoa e no lugar certo. A mansidão cultiva a paz de espírito na pessoa e esta termina por contagiar aquelas que se encontram por perto. É algo sublime conviver com uma pessoa mansa!

A paciência ensina-nos a esperar. E esperar é algo quase que impossível a muitas pessoas. Saber esperar o tempo certo para a efetivação das circunstâncias da vida é uma virtude de poucos. A humildade, a mansidão e a paciência são valores interligados. A pessoa precisa ser iniciada nestes valores. Pessoas pacientes são mais sociáveis e pacíficas, pois elas sabem que o momento há de chegar e não se estressam facilmente. Santa Teresinha do Menino Jesus ensinava que a “paciência tudo alcança”. O Espírito de Deus nos torna pacientes e a dura realidade da vida exige-nos paciência.

Finalmente, aparece o amor. Este é o maior valor. É o próprio Deus por excelência. Quem ama está unido a Deus, vive por ele e nele. Na vida comunitária, a doçura e a ternura são frutos do amor, pois externam o amor. Este torna a vida mais leve e mais saudável, humaniza aquele que se encontra desumanizado e nos faz participantes da vida divina. Amar é participar da intimidade e da natureza mesma de Deus. Roguemos, pois ao Amor, que cultive em nós o amor e nos conceda um coração de carne, para que sensibilizados pelo Evangelho possamos agir correta e santamente, conforme a vontade divina que está inscrita em nossos corações. Isto é o reino dos céus!


Tiago de França

terça-feira, 28 de julho de 2009

Por que temer?


Por que temer às sombras interiores
Se temos um bom Pai
Que nos ama e nos assiste todos os dias de nossas vidas?...

Por que temer à morte
Se temos Jesus, um bom amigo,
Que caminha conosco hoje e sempre?...

Por que temer os desafios da vida
Se temos o Espírito de Deus,
Que nos ajuda a vencermos às sombras interiores, à morte e os desafios da vida?...


Tiago de França

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Carta Final do 12º Intereclesial às Comunidades


CARTA ÀS IRMÃS E AOS IRMÃOS DAS CEBs
E A TODO O POVO DE DEUS
"Bem-aventurados os pobres em espírito,
porque deles é o Reino do Céu;
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça,
porque serão saciados..."
(Mt 5, 3.6)


1. Nós, participantes do XII Intereclesial das CEBs, daqui das margens do Rio Madeira, no coração da Amazônia, saudamos com afeto as irmãs e irmãos de todos os cantos do Brasil e dos demais países do continente, que sonham conosco com novos céus e nova terra, num jeito novo de ser igreja, de atuar em sociedade e de cuidar respeitosa e amorosamente de toda a criação!

2. Fomos convocados de 21 a 25 de julho de 2009, pelo Espírito e pela Igreja irmã de Porto Velho/RO, para nos debruçar sobre o tema que nos guiou por toda a preparação do Intereclesial em nossas comunidades e regionais: "CEBs: Ecologia e Missão - Do ventre da terra, o grito que vem da Amazônia". Acolhendo as delegações e celebrando os povos da Amazônia.

3. Encheu-nos de entusiasmo ver chegando, depois de dois, três e até cinco dias de viagem os delegados, em sua maioria de ônibus fretados, ou ainda em barcos e aviões. Em muitos ônibus, vieram acompanhados de seus bispos e encontraram, ao longo do caminho, acolhida festiva e refrigério em paradas nas dioceses de Rondonópolis, Cuiabá e Cáceres no Mato Grosso, Jataí em Goiás, Uberlândia em Minas Gerais e, entrando em Rondônia, nas comunidades de Vilhena, Pimenta Bueno, Cacoal, Presidente Médici, Ji-Paraná, Ouro Preto e Jaru. Apresentamos carinhoso agradecimento pela fraterna e generosa acolhida de todas as delegações pelas famílias, comunidades e paróquias de Porto Velho, o infatigável trabalho e dedicação do Secretariado e das equipes de serviço, em que se destacaram tantos jovens.

4. Somos 3.010 delegados, aos quais se somam convidados, equipes de serviço, imprensa e famílias que acolhem os participantes, ultrapassando cinco mil pessoas envolvidas neste Intereclesial. Dos delegados de quase todas as 272 dioceses do Brasil, 2.174 são leigos, sendo 1.234 mulheres e 940 homens; 197 religiosas, 41 religiosos irmãos, 331 presbíteros e 56 bispos, dentre os quais um da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, além de pastores, pastoras e fiéis dessa Igreja, da Igreja Metodista, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e da Igreja Unida de Cristo do Japão. O caráter pluriétnico, pluricultural e plurilinguístico de nossa Assembléia encontra-se espelhado no rosto das 38 nações indígenas aqui presentes e no de irmãos e irmãs de nove países da América Latina e do Caribe, de cinco da Europa, de um da África, de outro da Ásia e da América do Norte. Queremos ressaltar a presença marcante da juventude de todo o Brasil por meio de suas várias organizações.

5. "Sejam benvindos/as nesta terra de muitos rios, igarapés e de muitas matas, onde está a Arquidiocese de Porto Velho, que se faz hoje a Casa das Comunidades Eclesiais de Base". Assim, fomos recebidos, na celebração de abertura pela equipe da celebração e por Dom Moacyr Grechi, com muita música e canto, ao cair da noite, ao lado dos trilhos da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré que lembra para os trabalhadores, que a construíram e para os indígenas e migrantes nordestinos, o sofrido ciclo da borracha na Amazônia. Foram evocadas ali e, seguidamente nos dias seguintes, as palavras sábias do provérbio africano:
"Gente simples, fazendo coisas pequenas, em lugares pouco importantes,
consegue mudanças extraordinárias".

6. Pelas mãos de representantes dos povos indígenas, dos quilombolas, seringueiros, ribeirinhos, posseiros e de migrantes do campo e da cidade foram plantadas ao lado do altar, três grandes tochas. Nelas, foram acesas milhares de velas dos participantes, cujas luzes se espalharam pelos degraus da esplanada, enquanto ouvíamos o canto do Cristo dos Seringais: "Na densa floresta vai um caminheiro / Cristo seringueiro a seringa a cortar...". Os versos eram entrecortados pelo refrão: "E vem a esperança que surja a bonança, / Não seja explorado o suor na balança"./ "E vem a esperança que surja a mudança / E o homem refaça com Deus a aliança".

7. Com o apito da sirene da Madeira-Mamoré, o trem das CEBs retomou sua caminhada, reunindo-se no dia seguinte, na grande plenária do PORTO, aclamado pela Assembléia, "PORTO DOM HELDER CAMARA", pelo centenário do seu nascimento (1909-2009) e em resgate de sua profética atuação. Iniciamos esse primeiro dia, dedicado ao VER, partindo do grito profético da terra e dos povos da Amazônia, símbolos da humanidade, na sua rica diversidade, deixando-nos guiar na celebração pelo som dos maracás, tambores e flautas e pela dança de louvor a Deus de nossos irmãos e irmãs indígenas. Dali, partimos para os locais dos mini-plenários de 250 participantes, nas paróquias e escolas. Eles levavam os nomes de doze RIOS da bacia amazônica: Madeira, Juruá, Purus, Oiapoque, Guamá, Tocantins, Tapajós, Itacaiunas, Guaporé, Gurupi, Araguaia e Jari.

8. Divididos nos Rios em 12 CANOAS, com duas dezenas de participantes cada uma, partilhamos as experiências, gritos e lutas das comunidades em relação à nossa Casa comum, a partir do bioma amazônico e dos outros biomas do Brasil (cerrado, caatinga, pantanal, pampas,mata atlântica e manguezais da zona costeira), da América Latina e do Caribe. Vimos nossa Casa ameaçada pelo desmatamento, com o avanço da pecuária, das plantações de soja, cana, eucalipto e outras monoculturas, sobre áreas de florestas; pela ação predatória de madeireiras, pelas queimadas, poluição e envenenamento das águas, peixes e humanos pelo mercúrio dos garimpos, pelos rejeitos das mineradoras e pelo lixo nas cidades. Encontra-se ameaçada também pelo crescente tráfico de drogas, de mulheres e crianças e pelo extermínio de jovens provocado pela violência urbana.

9. Somamos nosso grito ao das populações locais, para que a Amazônia não seja tratada como colônia, de onde se retiram suas riquezas e amazonidades, em favor de interesses alheios, mas que seja vista em pé de igualdade, no concerto das grandes regiões irmãs, com sua contribuição específica em favor da vida dos povos, em especial de seus 23 milhões de habitantes, para que tenham o suficiente para viver com dignidade.

10. Fazemos um apelo para que os governantes sejam sensíveis ao grito que brota do ventre da Terra e, pautados por uma ética do cuidado, adotem uma política de contenção de projetos que agridem a Amazônia e seus povos da floresta, quilombolas, ribeirinhos, migrantes do campo e da cidade, numa perspectiva que efetivamente inclua os amazônidas, como colaboradores verdadeiros na definição dos rumos da Amazônia.

11. Tomamos consciência também de nossas responsabilidades em relação ao reto uso da água, da terra, do solo urbano e à superação do consumismo, respondendo ao apelo, para que todos vivamos do necessário, para que ninguém passe necessidade.

12. Constatamos, com alegria, a multiplicação de iniciativas em favor do meio ambiente, como a de humildes catadores de material reciclável, no meio urbano, tornando-se profetas da ecologia e as de economia solidária, agricultura orgânica e ecológica. Saudamos os muitos sinais de uma "Terra sem males", fazendo-nos crescer na esperança de que "outro mundo é possível, necessário e urgente".

13. De tarde, realizamos a Caminhada dos Mártires, em direção ao local onde o rio Madeira foi desviado e em cujo leito seco, ao som dos estampidos das rochas dinamitadas, está sendo concretada a barragem da hidroelétrica. Celebrou-se ali Ato Penitencial por todas as agressões contra a natureza e a vida humana. Defronte às pedreiras que acolhiam as águas das cachoeiras de Santo Antônio, agora totalmente secas, ao lado da primeira capela construída na região, foram proclamadas as Bem-aventuranças evangélicas (Mt 5, 1-12), sinal da teimosa esperança dos pequenos, os preferidos de Deus.

14. No segundo dia, prosseguimos com o VER, com uma pincelada sobre a conjuntura atual na esfera sócio-política e econômica, apresentada por Pedro Ribeiro de Oliveira, na perspectiva das mulheres, por Julieta Amaral da Costa e do ponto de vista ecológico, por Leonardo Boff. Atendendo ao convite de Jesus: "Vinde e vede" (Jo, 1, 39), após a pergunta dos discípulos, "Mestre, onde moras?" (Jo 1, 38), partimos em grupos, em visita às muitas realidades locais: populações indígenas, comunidades afro-descendentes, ribeirinhas, extrativistas, grupos vivendo em assentamentos rurais ou em áreas de ocupação urbana; bairros da periferia; hospitais, prisões, casas de recuperação de pessoas com dependência química e ainda a trabalhos com menores ou pessoas com deficiência. O retorno foi rico na partilha de experiências, nas quais descobrimos sinais de vida nova. Reiteramos que os projetos dos grandes, principalmente as barragens das usinas hidroelétricas,as usinas nucleares geradoras de lixo atômico que põe em risco a população local, são projetos do capital transnacional que não favorecem os pequenos. Apoiados na sabedoria milenar dos povos indígenas, nos animamos a repetir com eles: "Nunca deixaremos de ser o que somos". Nós, como CEBs no meio dos simples e pequenos, reafirmamos nossa teimosa opção pelos pobres e pelos jovens, proclamada há trinta anos em Puebla, resistindo e lutando para superar nossas dificuldades, sustentados pela fé no Deus que se revelou a nós como Trindade, a melhor comunidade.

15. No terceiro dia, as celebrações da manhã aconteceram nos rios, resgatando memórias da espiritualidade dos povos da região e das experiências colhidas no caminho missionário percorrido no dia anterior, nas visitas às muitas realidades eclesiais e sociais de Rondônia. A oração foi alentada pela promessa do Êxodo: "Decidi vos libertar... vos farei subir dessa terra para uma terra fértil e espaçosa, terra, onde corre leite e mel" (Ex. 3, 8). Em cada canoa, os relatos iam revelando uma igreja preocupada com a justiça social e a defesa da vida nos testemunhos de gente simples em todos aqueles lugares visitados. Esses relatos aqueceram nosso coração e nos desafiaram a perseverar na caminhada das CEBs.

16. À tarde, fomos tocados por vários testemunhos. Em primeiro lugar, pela sentida oração dos Xerente do Tocantins que celebraram seu ritual pelos mortos, homenageando o amigo e missionário, Pe. Gunter Kroemer. Dom José Maria Pires, arcebispo emérito da Paraíba, retomou em sua história a trajetória dos negros no Brasil, suas dores, resistências e esperanças de um mundo melhor, nos seus Quilombos da liberdade. Marina Silva, senadora pelo Acre e ex-ministra do Meio Ambiente, contou sua eu caminhada de menina analfabeta do seringal para a cidade de Rio Branco e de lá para São Paulo, mas principalmente sua incessante busca, a partir da fé herdada de sua avó, alimentada pela experiência das CEBs, da leitura da Palavra de Deus e pelo exemplo de Chico Mendes, de bem viver e de colocar-se publicamente a serviço, em favor do povo amazônida. Por fim, depois da apresentação de Dom Tomás Balduíno, em que ele ressaltou o papel de Dom Pedro Casaldáliga da Prelazia de São Félix do Araguaia na fundação, junto com outros, do CIMI, da CPT e de Pastorais Sociais, acompanhamos pelo vídeo seu testemunho e nos emocionamos com suas palavras de esperança e confiança em Jesus e na utopia do seu Reinado.

17. Neste dia, ocorreu também o encontro da Pastoral da Juventude de todo o Brasil e outro também muito significativo entre bispos, assessores e Ampliada Nacional das CEBs. Momento fecundo do estreitamento de laços e abertura a novos passos em nossa caminhada, em que foi expressa a alegria e alento trazidos pela presença significativa de tantos bispos. Desse encontro, os bispos presentes resolveram enviar sua palavra às comunidades:

Palavras dos Bispos às CEBs

18. "Os 56 bispos participantes do Intereclesial, reunidos na sexta-feira à noite com os assessores e os membros da Ampliada Nacional das CEBs, avaliaram muito positivamente o Intereclesial, destacando especialmente a seriedade e o empenho dos participantes no debate da temática do encontro, a espiritualidade expressa nas bonitas celebrações diárias nos "rios", o clima sereno e fraterno e o grande envolvimento das comunidades das dioceses do regional Noroeste da CNBB na organização e realização do encontro.
A presença de 331 padres que participam do Intereclesial, levo os bispos a exprimirem o desejo de que, neste ano sacerdotal, todos os padres do Brasil renovem o compromisso de acompanhar as CEBs, empenhadas em testemunhar os valores do Reino, como discípulas e missionárias.
Constatando que, a partir da Conferência de Aparecida, as CEBs ganharam reconhecimento e novo alento em todo o continente, os bispos tiveram também palavras de apoio e incentivo para a continuação da caminhada das comunidades no Brasil, reforçadas pelo presidente da CNBB, Dom Geraldo Lyrio Rocha.
Diante da agressão continuada da Amazônia, juntamente com todos os participantes do encontro, manifestam sua preocupação com a construção da barragem de Santo Antônio e Jirau no Rio Madeira, os projetos de outras barragens no Xingu, Tapajós, Araguaia e noutros rios e a continuada devastação da floresta pelo avanço da pecuária, das plantações de soja e cana, e da extração ilegal de madeira".

Nas diferenças, o mesmo Deus que nos convoca para a Justiça e a Paz

19. Na manhã do último dia, fomos guiados pelo texto do Apocalipse: "O anjo mostrou para mim, um rio de água viva... O rio brotava do trono de Deus e do cordeiro...; de cada lado do rio estão plantadas árvores da vida... suas folhas servem para curar as nações" (Ap 22, 1-2). Bebemos no manancial da fé que nos une a todos e todas, na única família humana, como filhos e filhas da mesma Mãe-Terra, a Pacha-Mama dos povos andinos, a Terra sem Males dos Povos Guarani, na busca, sonho e construção do Reino de Deus anunciado por Jesus.

20. Juntos, representantes das Religiões Indígenas e dos Cultos Afrobrasileiros, de Judeus, Cristãos Ortodoxos, Católicos e Evangélicos, Muçulmanos, de mulheres e homens de boa vontade e de todas as crenças, no diálogo e respeito à diversidade da teia da vida, acolhemos os gritos da Amazônia e de todos os biomas e reafirmamos nossa solidariedade e compromisso com a justiça geradora da paz. ]

21. Caminhamos como povo de Deus que conquista a Terra Prometida e a torna espaço de fartura e fraternura, acolhendo todas as expressões da vida.

22. Comprometemo-nos a fortalecer as lutas dos movimentos sociais populares: as dos povos indígenas, pela demarcação e homologação de suas terras e respeito por suas culturas; as dos afro-descendentes, pelo reconhecimento e demarcação das terras quilombolas; as das mulheres, por sua dignidade e igualdade e avanço em suas articulações locais, nacionais e internacionais; as dos ribeirinhos pela legalização de suas posses; as dos atingidos pelas barragens, pelo direito à terra equivalente, restituição de seus meios de sobrevivência perdidos e indenização por suas benfeitorias; as dos sem terra, apoiando-os em suas ocupações e em sua e nossa luta pela reforma agrária, contra o latifúndio e os grileiros; as dos Movimentos Ecológicos, contra a devastação da natureza, pela defesa das águas e dos animais.

23. Queremos defender e apoiar o movimento FLORESTANIA, no respeito à agrobiodiversidade e aos valores culturais, sociais e ambientais da Amazônia.

24. Assumimos também o compromisso de respaldar modelos econômicos alternativos na agricultura, na produção de energias limpas e ambientalmente amigáveis; de participar na luta sindical, reforçando a ação dos sindicatos do campo e da cidade, com suas associações e cooperativas e sua luta contra o desemprego, com especial atenção à juventude.

25. Convocamos a todos nós para o trabalho político de base, para a militância em movimentos sociais e partidos ligados às lutas populares; para participar nas lutas por políticas públicas ligadas à educação, saúde, moradia, transporte, saneamento básico, emprego, reforma agrária e para tomar parte nos conselhos de cidadania, nas pastorais sociais, no movimento pela não redução da maioridade penal, no Grito dos Excluídos, nas iniciativas do 1º. de Maio e das Semanas Sociais. 25. Comprometemo-nos ainda a fortalecer e multiplicar nossas Comunidades Eclesiais de Base, criando comunidades eclesiais e ecológicas de base nos bairros das cidades e na zona rural, promovendo a educação ambiental em todos os espaços de sua atuação; fortalecendo a formação bíblica; incentivando uma Igreja toda ela ministerial, com ministérios diversificados confiados a leigas e leigos; assumindo seu protagonismo, como sujeitos privilegiados da missão; fortalecendo o diálogo ecumênico e inter-religioso e superando a intolerância religiosa e os preconceitos.

26. Queremos, a partir das CEBs, repensar a pastoral urbana, como um dos grandes desafios eclesiais, assumir o testemunho e a memória dos nossos mártires e empenhar-nos na Missão Continental proposta pela V Conferência do Episcopado Latino-americano e Caribenho, em Aparecida. Rumo ao XIII Intereclesial no Ceará

27. Acompanhados pelas comunidades e famílias que nos receberam e caravanas de todo o Regional, celebramos a Eucaristia, presença sempre viva do Crucificado/Ressuscitado, comprometendo-nos com todos os crucificados de nossa sociedade, com suas lutas por libertação, para construirmos outro mundo possível, como testemunhas da Páscoa do Senhor, acompanhados pela proteção e benção da Mãe de Deus, celebrada no Círio de Nazaré e invocada na região amazônica, com outros tantos nomes; no Brasil, com o título de Aparecida, e na nossa América, com o de Virgem de Guadalupe.

28. Escolhida a Igreja do Crato, que irá acolher, nas terras do Pe. Cícero, o XIII Intereclesial, recolocamos nos trilhos o trem das CEBs, rumo ao Ceará, enviando a vocês, irmãos e irmãs das comunidades, nosso abraço fraterno, e cheio de revigorada esperança. AMÉM! AXÉ! AUERE! ALELUIA!

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Atualização do Blog

Caros/as amigos/as,

Entre os dias 21 a 24 do corrente mês estou realizando algumas visitas pastorais e familiares, e nos dias 25 a 27 estarei a caminhando de Belo Horizonte - MG, onde residirei pela Província Brasileira da Congregação da Missão, dando continuidade aos estudos filosóficos. Neste período de tempo, este Blog não será atualizado, pois não terei tempo. A partir do dia 28 ou 29 deste, com certeza, darei continuidade a atualização do mesmo. Enquanto isto, convido o leitor a refazer a leitura dos vários textos já publicados. Obrigado!

Abraços,

Tiago de França

segunda-feira, 20 de julho de 2009

A amizade


Pode ser que um dia deixemos de nos falar...
Mas, enquanto houver amizade,
Faremos as pazes de novo.

Pode ser que um dia o tempo passe...
Mas, se a amizade permanecer,
Um de outro se há-de lembrar.

Pode ser que um dia nos afastemos...
Mas, se formos amigos de verdade,
A amizade nos reaproximará.

Pode ser que um dia não mais existamos...
Mas, se ainda sobrar amizade,
Nasceremos de novo, um para o outro.

Pode ser que um dia tudo acabe...
Mas, com a amizade construiremos tudo novamente,
Cada vez de forma diferente.
Sendo único e inesquecível cada momento
Que juntos viveremos e nos lembraremos para sempre.

Há duas formas para viver a sua vida:
Uma é acreditar que não existe milagre.
A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre.


Albert Einstein

domingo, 19 de julho de 2009

Jesus, líder da liberdade e da vida


No texto do Evangelho deste 16º Domingo do Tempo Comum (Mc 6, 30 - 34), Jesus recebe os discípulos, que regressam da missão (evangelho do domingo passado). Os discípulos estavam felizes pelo que tinham feito na missão. Agora, partilham com Jesus os resultados da mesma. Marcos cita dois verbos referentes à missão dos discípulos: “tudo o que tinham feito e ensinado”. Isso significa que a missão se dá no fazer e no ensinar. O missionário é aquele que fala (anuncia e denuncia), mas também age conforme a pregação, devendo assim, haver coerência entre o falar e o agir. O ensinar e o agir constituem o testemunho missionário do cristão e da Igreja. Se o missionário só fala e nada realiza, sua missão está incompleta. Se ele somente faz e nada anuncia, pode cair no assistencialismo.

Vendo o cansaço dos discípulos, Jesus convida-os para um lugar deserto, a fim de descansarem um pouco, pois a multidão era tão grande, que eles não tinham tempo nem para comer. Isso mostra que Jesus e seus discípulos trabalhavam bastante. Eram muitas as pessoas que iam ao encontro de Jesus para serem socorridas por ele. Jesus estava diante de um povo faminto, doente e explorado. As realidades social, econômica, política e religiosa do tempo de Jesus eram de exploração. O povo era explorado pelas autoridades políticas e religiosas. Na vida social e na prática religiosa, o povo era vítima da ambição e incompetência de líderes descomprometidos com o bem comum da sociedade. Políticos e religiosos viviam luxuosamente, à custa do suor dos explorados. O povo corria ao encontro de Jesus porque tinha nele a oportunidade de se libertar das doenças corporais e espirituais. Além disso, Jesus anuncia um novo céu e uma nova terra, onde reinará a justiça e a paz, que fará brotar a vida do povo de Deus. Ele reanima a esperança do povo explorado na luta por libertação.

Indo ao deserto, os discípulos são convidados a descansar. O descanso é uma necessidade humana. O excesso de trabalho faz mal ao homem. Reabastecer-se é necessário para dar continuidade à missão. O convite de Jesus ao descanso denuncia o ativismo religioso dos missionários da Igreja. O ativismo religioso é um mal porque deixa o missionário vazio e superficial no exercício da missão. Quem assume o sagrado ofício do anúncio do Evangelho de Jesus precisa descansar, rezar, silenciar, escutar a voz do Espírito que grita no deserto da vida. Jesus rezava e agia, subia a montanha e descia, ia ao deserto e voltava para o meio do povo. É no deserto orante que o missionário intensifica sua comunhão com o Deus que o enviou em missão. O tempo atual exige do missionário profunda comunhão com Deus, porque senão, o mesmo perder-se-á nas encruzilhadas dos caminhos da missão.

O texto diz que quando Jesus e seus discípulos descem do barco, encontram a multidão de pessoas à espera. O evangelista Marcos faz questão de dizer que Jesus “teve compaixão”, compadeceu-se da multidão, “porque pareciam como ovelhas sem pastor”. O povo maltratado e desprezado estava esquecido. Ninguém ligava para os oprimidos da sociedade, a não ser Jesus. É justamente na atenção, no cuidado e no assumir a condição e a dor dos que sofrem que Jesus se diferencia dos líderes políticos e religiosos de seu tempo; e o povo, quando vai ao seu encontro, sente essa diferença e não desiste de segui-lo porque sabe que em Jesus estava a libertação de seus males. É verdade que não podemos reduzir a missão de Jesus às curas realizadas por ele. Jesus não veio a este mundo somente com a missão de curar os doentes, expulsar os demônios e ressuscitar os mortos, mas veio inaugurar o Reino de Deus no mundo. E neste Reino não há lugar para exploração do povo, mas para a liberdade e vida para todos.

O texto de hoje termina afirmando que Jesus “começou a ensinar muitas coisas”. Que coisas são essas? Qual o ensinamento de Jesus. As palavras e os gestos de Jesus nos mostram qual é seu ensinamento. Em outra ocasião, Jesus ensina que o amor resume toda a Lei e os Profetas, logo, o ensinamento de Jesus é o amor. Amor que gera vida e liberdade para todos. O que o Evangelho deste domingo exige de nós, como cristãos e como Igreja? Antes de apontar caminhos, é preciso estarmos certos de que os oprimidos do tempo de Jesus continuam existindo até hoje. É verdade também que existem entre nós e em todo o mundo, os exploradores do povo de Deus, políticos e religiosos. A partir desta constatação, podemos ir ao Evangelho e descobrirmos nossa missão, que se encerra na missão de Jesus: ir ao encontro dos oprimidos e trabalhar na libertação dos mesmos. Não podemos pensar nem nos colocarmos como os libertadores, pois como disse Paulo Freire: “ninguém liberta ninguém, nós nos libertamos juntos”. É na comum-unidade que a libertação acontece.

A mensagem que nós, cristãos, devemos transmitir ao mundo é a mensagem de Jesus, seu Evangelho. Este é o próprio Cristo. Jesus é a nossa mensagem. No texto de hoje, Jesus exige dos líderes civis: políticos, empresários, organizações, etc. e dos líderes religiosos: os de nossas Igrejas Cristãs e de suas instituições; que trabalhem pela dignidade do povo e promoção humana dos oprimidos. Não podemos esconder a exploração realizada pelos políticos corruptos que temos. A crise do Senado Federal denuncia a todos eles! Também não podemos esconder a exploração religiosa de nossa Igreja, assim como das demais Igrejas, principalmente as que surgem com o intuito de enganar e ganhar dinheiro em nome do Evangelho, utilizando-se do mesmo para alienar e escravizar as pessoas. Assim sendo, a Igreja, apesar de suas incoerências, é chamada a assumir a profecia de Jesus, opondo-se aos opressores do povo. Se isto não acontecer, estaremos traindo o Evangelho de Jesus e o anunciando somente com a boca, com nossas lindas liturgias, que sem profecia se mostram sem vida e sem sentido. A nossa Igreja precisa ser povo e o povo precisa ser Igreja. Que o Espírito do Senhor nos ensine a vivermos na liberdade e para a liberdade.


Tiago de França

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Solidão


Viver sozinho na vida
Sem ter com quem partilhar
A solidão de viver
A vida só.

A pessoa mergulhada no vazio
Repleta de sombras e sonhos
Vazios de sombras e de sonhos
Vida preenchida
Solidão.

Coração vazio de vida
Vida vazia sem coração
Experiência irritante de solidão
Vida vazia.

Sozinho não se vive
A vida precisa de sentido
Sozinho se vive perdido
Numa vida vazia sem sentido.

A vida só tem sentido
Se nosso pensar e sentir
Transmitir vida ao viver
Isolando a solidão na ilusão de se viver.


Tiago de França

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Três coisas


De tudo ficaram três coisas...
A certeza de que estamos começando...
A certeza de que é preciso continuar...
A certeza de que podemos ser interrompidos
antes de terminar...
Façamos da interrupção um caminho novo...
Da queda, um passo de dança...
Do medo, uma escada...
Do sonho, uma ponte...
Da procura, um encontro!


Fernando Sabino

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Deus e os pequenos


“Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra,
porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos”.
(Mt 11, 25)

Desde o início da história da salvação, Deus quis revelar-se aos pequeninos. Toda a história do povo de Deus demonstra que Deus escolheu defender e promover os pequenos e indefesos. Este foi o querer de Deus. Quem pode contestar ou se opor ao querer divino?... Quando veio Jesus, Deus continuou optando pelos pequeninos, pois fez Jesus nascer pobre, numa família pobre. Quando assumiu publicamente sua missão, Jesus se colocou do lado dos pequeninos, porque esta era a vontade de Deus. Jesus, na prece do versículo acima, agradece ao Pai, porque este se revelou aos pequeninos. Os sábios e entendidos deste mundo não conhecem nem entendem a Deus.

Para conhecer a Deus é preciso se tornar pequeno. Optar pela pequenez é ter a coragem de assumir a condição de Jesus. Este, aos olhos do mundo, era pequeno, indefeso, destituído de força e de poder. De fato, humanamente Jesus era um fracassado! Jesus se fez pequeno e indefeso para assumir a condição dos pequenos e indefesos. Jesus não era sacerdote nem membro da corte imperial, mas filho de carpinteiro e filho de Belém, cidade insignificante naquela época. No exercício da missão, Jesus obedeceu à vontade do Pai quando esteve entre os pecadores de seu tempo. Até hoje muita gente não entende como é que o Verbo de Deus se encarnou na realidade pecaminosa do mundo, tornando-se igual aos homens, exceto no pecado.

Somente os pequenos entendem a encarnação do Verbo de Deus. E somente na vida dos pequenos e que este Verbo se encarna. Os sábios e entendidos não entendem nem conseguem viver a encarnação do Verbo divino. Os pequenos é que são os privilegiados, porque receberam olhos que enxergam, ouvidos que escutam, tato que sentem, boca que falam e nariz que cheiram... Os sábios têm tudo isso, mas não sondam a sabedoria divina que se revela na humildade e simplicidade do cotidiano daquelas pessoas que caminham nas estradas de Jesus, participando da sorte do Verbo.

O Deus da vida está presente na vida. Ele não pode ser entendido nas cadeiras filosóficas e teológicas, pois estas são culturas humanas, criações humanas. Toda a Filosofia e Teologia são um saber elaborado pelo homem que, limitadamente, busca perscrutar o saber divino, mas mais sábio é Deus que se deixa revelar aos pequenos, que não possuem os saberes filosóficos e teológicos. O filósofo e o teólogo que aspira entender e ter acesso à sabedoria divina precisa ter a humildade de reconhecer sua ignorância e abraçar a condição de pequeno, pois é na fraqueza dos pequenos que Deus se revela, e a história da salvação e da revelação já deu plenas provas disto.

Ó Deus, abre nossos olhos e ouvidos, ilumina nossa inteligência, para que possamos compreender tua vontade e conhecer-te cada vez mais. E que este conhecimento de Ti nos conduza à prática do amor gratuito, sincero e verdadeiro.


Tiago de França

terça-feira, 14 de julho de 2009

12º Intereclesial das CEBs


De 21 a 25 do corrente mês ocorrerá em Porto Velho (Rondônia), o 12º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base, que terá como tema “CEBs – Ecologia e Missão”. O objetivo é reunir as lideranças das Comunidades de Base de todo o país para refletir a realidade da Amazônia. As CEBs acompanham as temáticas atuais da Igreja Universal, vivendo assim a tão sonhada comunhão e participação anunciada pelo Concílio Vaticano II. O jeito de ser Igreja das Comunidades de Base possibilita a vivência da comunhão e participação, que ainda é ausente na maioria das vivências eclesiais.

A realidade da Igreja na Amazônia é profundamente profética e missionária. Penso que as Congregações religiosas que têm carisma voltado para a missão devem olhar misericordiosamente para a Amazônia, assumindo as causas que ali se encontram. A CNBB, por meio dos Bispos e suas respectivas dioceses, volta seu olhar para o extenso campo de missão, que é a Amazônia, lugar de vida, mas também de injustiças gritantes , praticadas por grileiros e exploradores do povo de Deus. Anunciamos o caráter essencialmente missionário da Igreja, portanto cabe a todas as Igrejas Particulares, o envio de missionários, leigos e ordenados, para a missão na Amazônia. O governo age de forma muito tímida na proteção da Amazônia, desta forma, a Igreja – instrumento de salvação da humanidade – como coluna da verdade no meio do mundo, é chamada a não deixar morrer o grito profético levantado pela Ir. Dorothy Stang e tantos outros irmãos e irmãs que do seio da Amazônia clamam por justiça.

O Criador do Universo, sumamente bom e misericordioso, se faz presente na luta de pessoas, Igrejas e Organizações que lutam por justiça nas terras amazônicas. A justiça brasileira, absolvendo os devidos culpados pelos crimes que por lá se praticam, já deu plenas provas de que sem a colaboração do povo brasileiro, em breve haveremos de perder a nossa maior riqueza natural. Esta, que por sua vez, é cobiçada por indústrias farmacêuticas internacionais e outros setores de exploração impiedosa da natureza. É urgente um trabalho de evangelização centrado na denúncia aberta e corajosa das práticas absurdas que se acentuam cada vez mais em terras onde a lei está do lado dos poderosos, que a compram descaradamente. O Deus da vida nos constitui autoridades na palavra e no gesto para combatermos este mal aparentemente imbatível, que é a exploração da terra e dos recursos naturais em nosso país, especialmente na Amazônia.

O 12º Intereclesial das CEBs deseja ser um encontro fraterno, onde as lideranças das comunidades irão pensar e rezar a realidade, à luz da fé no Deus da vida e na reflexão do contexto sócio-político de nosso país. As CEBs na Igreja e na sociedade de hoje são uma parcela de cristãos militantes que, na reflexão teológica da fé e da vida, conseguem na prática libertadora do seguimento de Jesus, unir fé e vida numa só celebração pascal. Roguemos a Deus por este Encontro de Irmãos e peçamos ao Espírito de Deus que reacenda em nós a chama da fé comprometida com a causa dos pequenos.


Tiago de França

domingo, 12 de julho de 2009

A missão e o missionário


Obedientes ao mandato de Jesus somos chamados a sermos missionários. O mandato missionário de Jesus é um convite a todo cristão batizado, pois ninguém está excluído da missão. Qual é a missão? Evangelizar. E o que é evangelizar? É anunciar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus e nosso Irmão. No anúncio do Evangelho somos impelidos a denunciar as injustiças, que são forças contrárias à vontade divina e ao projeto de Deus, o seu Reino.

Na primeira leitura da liturgia deste XV Domingo do Tempo Comum encontramo-nos com o profeta Amós, pastor de gado e agricultor (cf. Amós 7, 14). Deus escolhe os pequenos para confundir os grandes. Deus poderia muito bem escolher os sábios das cortes imperiais, mas optou por escolher homens do campo para o exercício da profecia. “Vai profetizar para Israel, meu povo” (Amós 7, 15). Profetizar sempre foi uma vocação divina arriscada, porque o profeta sempre denuncia as injustiças cometidas contra os pobres. Se não há denúncia não há profecia.

O profeta não fala de si para os outros nem fala daquilo que é dele ou daquilo que pensa ser o correto a ser dito, mas fala daquilo que é de Deus. O profeta transmite ao povo a vontade de Deus. Como se dá esta transmissão? O profeta é o homem da palavra e do gesto, portanto a profecia se dá por meio da palavra e do gesto. O profeta não é somente um homem que fala, mas que pratica o que fala. Esta prática é o gesto. Os profetas são reconhecidos pelas palavras duras e insensíveis. O profeta não fala de flores nem de superficialidades, mas fala da vida dura do povo e com profundidade. A palavra profética adentra as realidades visíveis e invisíveis, ou seja, o profeta ver o aparente e o Espírito de Deus o faz enxergar aquilo que não é aparente, invisível a nossos olhos.

O profeta não é uma extraterrestre, mas um homem simples. O profeta também é pecador, muitas vezes nega-se a profetizar, mas o Espírito torna o homem simples num fiel propagador da Boa Notícia. Esta, por si mesma, já anuncia e denuncia o mal do mundo. O profeta é fiel à Palavra, nada lhe retira nem lhe acrescenta, porque a Palavra por si mesma já diz a vontade de Deus. Transmitir a verdade da Palavra é a missão do profeta, que com coragem liberta o povo da alienação e do mal. Nas atividades cotidianas da vida comum, toda pessoa é chamada a ser profeta. Amós profetizava tangendo o rebanho, não precisou fugir do mundo para profetizar. O abandono do mundo não é coisa de Deus nem atitude de profeta, porque este é chamado a profetizar no meio do mundo e nos lugares mais desumanos do mundo.

São Paulo quando escreve aos efésios na segunda leitura da liturgia de hoje, afirma que nós fomos escolhidos antes da fundação do mundo para sermos santos, que fomos predestinados a sermos filhos adotivos, que somos libertados no sangue de Cristo, que recebemos profusamente a graça de Deus, que Deus nos fez conhecer a sua vontade, que fomos marcados com o selo do Espírito (cf. Ef 1, 3 – 10). Estamos assegurados de que somos escolhidos e temos uma missão a realizar, uma missão que não é nossa, mas de Jesus Cristo. Somos chamados a participarmos da missão de Jesus Cristo. A escolha e o convite são para todos, mas nem todos têm consciência disso.

O texto do Evangelho de hoje é Mc 6, 7 – 13. Jesus envia os discípulos em missão com algumas recomendações. A primeira recomendação é de que não levassem nada para o caminho. Esta recomendação apela para o despojamento do missionário. Um missionário despojado está mais livre para a missão, porque não carrega riquezas consigo, pois estas geram apego e cuidado. Esta recomendação ensina aos pastores da Igreja são chamados a serem homens humildes e simples, despojados na missão. Nos dias de hoje, ser despojado é um grande desafio, pois os bens materiais continuam sendo a meta de muitos, o ter e o poder ditam as relações e delineiam a vida de muitas pessoas e até de muitos de nossos pastores, que centrados na busca do ter, terminam por se esquecer da missão apostólica.

A segunda recomendação é: “Quando entrardes numa casa, ficai ali até vossa partida”. O missionário deve sentir-se acolhido por quem recebê-lo e acolher aquilo que lhe for oferecido. Esta segunda recomendação proíbe exigências, ou seja, o missionário não pode exigir conforto, boa alimentação ou recompensas. A missão se dá na gratuidade. Nesta segunda recomendação encontramos a rejeição aos missionários. Se estes forem rejeitados, se não forem escutados, Jesus recomenda “sacudi a poeira dos pés como testemunho contra eles!”, ou seja, o missionário não vai obrigar as pessoas a acolherem a Palavra de Deus nem estão obrigados a suportar quem os rejeita. Esta segunda recomendação denuncia os pastores da Igreja que exigem “boa vida” à custa do povo, que pautam sua missão no financeiro, usando da Palavra de Deus para ganhar dinheiro.

Jesus confere poder aos discípulos sobre os espíritos impuros. O texto termina dizendo que os discípulos “expulsavam muitos demônios e curavam numerosos doentes, ungindo-os com óleo”. Todo missionário, pela fé em Jesus Cristo, recebe o poder para anunciar a Palavra e para curar os doentes em nome de Deus. O poder não é do missionário, pois este por si mesmo não pode nada, mas auxiliado pelo poder de Deus, pode todas as coisas. São inúmeros os santos e santas da Igreja que curaram, expulsaram demônios, ressuscitaram mortos e que realizaram muitos outros prodígios diante de Deus e dos homens. Foram milagres realizados com discrição, humildade, simplicidade, fé e espírito de santidade.

A Igreja de nossos dias carece de pastores constituídos de profunda espiritualidade cristã, centrados na Palavra de Deus e na confiança plena em Deus. O nosso tempo exige da Igreja pastores santos e sábios, que livres no meio do mundo, realizem as maravilhas de Deus. Isto não é impossível. A história da Igreja mostra muito bem a vida de muitas mulheres e homens, dedicados à vontade divina na caridade fraterna. Também hoje temos grandes homens e mulheres, leigos e ordenados, que são verdadeiros ícones da caridade na Igreja e no mundo. Que o Espírito de Deus abra a nossa inteligência para compreendermos a sabedoria do Evangelho e nos impulsione a vivê-lo santamente.


Tiago de França

sábado, 11 de julho de 2009

Viver a esperança


Apesar dos pesares da vida é preciso acreditar que a esperança existe e que alimenta a utopia de um mundo melhor para viver, pois o nosso viver precisa ser renovado por uma esperança viva que nos impulsione a caminhar por caminhos incertos na certeza de que venceremos os obstáculos que se nos apresentam. Quem assim pensa, mesmo diante de todo o sofrimento, já goza de certa felicidade, que apesar de longínqua, tornar-se-á realidade se houver crença e luta pela transformação da vida impossível por uma realidade possível. Apostar no futuro incerto é uma necessidade que se apresenta às pessoas que têm coragem de se lançar no desconhecido. Viver a esperança é uma aventura intrigante a todo ser humano que aspira viver melhor.


Tiago de França

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Arriscar-se em nome da fé


Estive pensando na vivência cristã em nossos dias e cheguei à conclusão de que está se tornando cada vez mais arriscado ter fé. Tendo a fé como adesão a Jesus e ao seu testamento de amor, realmente é muito arriscado corresponder à vida de Jesus. Jesus foi fiel a Deus na sua missão neste mundo e morreu crucificado. Os seguidores imediatos de Jesus, que se tornaram apóstolos, todos foram mortos por causa do nome de Jesus. Todos se submeteram ao risco do seguimento. A verdade de Jesus continua a incomodar até os dias de hoje, e com certeza, continuará incomodando. A mentira, que vai contra a verdade, continua a dominar muitas das relações humanas.

Falar a verdade é estar com Jesus, porque ele é a Verdade. Fugir da verdade é fugir do próprio Jesus. É verdade que todo ser humano mente alguma vez na vida, mas a mentira a que me refiro não é aquela mentira insignificante, que muitas vezes nos utilizamos para escapar de algo ou para nos desculparmos de alguma coisa. Refiro-me a mentira institucionalizada, aquela mentira alienante que impede o homem de encontrar-se com a liberdade. Há uma mentira global que aliena o homem conduzindo-o à negação de si mesmo e à negação de sua fé. Esta mentira, muitas vezes, trabalha inconscientemente nos indivíduos levando-os à estagnação, porque o convence de que tudo está perdido, o mundo e o homem não têm jeito, que o mal supera todas as forças do bem. Assim convencido, o homem abandona logo a fé, porque sente que a fé não funciona nem resolve nada.

Por outro lado, apesar da força com que esta mentira se apresenta, há uma Verdade que veio ao encontro do homem para reafirmá-lo na sua semelhança com Deus. Quem adere à Verdade, aos poucos, vai se tornando livre e ajudando as pessoas a se libertarem da mentira alienante. Crendo que Jesus é a Verdade, a pessoa que está na verdade e procura manter-se nela, termina por assimilar e incorporar o Cristo em sua vida. O mistério eucarístico é justamente isto, ou seja, ao receber a Eucaristia, presença real da Verdade, a pessoa está incorporada à Verdade, porque esta passou a estar na pessoa e esta na Verdade. E a Verdade vai trabalhando a natureza humana corrompida pelo pecado, conduzindo-a a perfeição.

A verdade santifica a pessoa e a conduz a comunhão com Deus. É na comunhão com Deus que a pessoa se santifica. Esta comunhão exige um compromisso de amor para com o Amor, ou seja, amando a Deus se estar em comunhão com Ele e nesta comunhão, a pessoa se compromete, apesar de seu ser limitado, a doar-se por amor e pelo amor. O risco está justamente aqui. O risco está na doação de si mesmo. Esta doação é simples, não tem nada de fora do comum. Trata-se de viver humanamente o amor de Deus, ou seja, o amor de Deus é vivido no amor humano, porque Deus está no homem e este está em Deus. Esta comunhão da pessoa com a Pessoa Trina leva a pessoa a não conseguir fazer outra coisa a não ser amar, e neste amor não há medo.

Para ilustrar, estive pensando no caso da Ir. Dorothy Stang. Como esta frágil missionária, já idosa, encontrou coragem para dar a sua vida pela vida da floresta amazônica e pela vida do povo de Deus? Ela foi uma mulher que não teve medo da morte nem dos agentes da morte. Sua comunhão com o Deus da vida a fez transcender o medo da morte. E na simplicidade de uma vida de luta, sem fenômenos extraordinários, ela encontrou o sentido de sua vida: a doação da própria vida. Lendo as expressões dos mártires dos primeiros séculos, sinto a ternura, a doçura, a paz de pessoas que se entregando sem reservas, numa total confiança no Amor, derramaram com alegria seu sangue pela causa do Reino de Deus. Trata-se de uma experiência divina vivida por pessoas comuns que mergulharam no mistério divino e viveram em Deus na vida comum, ou seja, assim como o casal de namorados, de tanto se amar não consegue enxergar os defeitos um do outro, os mártires enamorados de Deus não conseguiram sentir o medo que poderia torná-los imóveis diante das injustiças.

Realmente, a fidelidade ao mandato de Cristo, “Ide e evangelizai”, continua sendo o risco possível. O mundo de hoje clama por autênticos missionários que com coragem gritem ao mundo a Palavra que liberta integralmente o homem. Relendo as palavras e os gestos de Dom Hélder Câmara, profeta da justiça e da paz, me vem um forte sentimento de alegria e uma certeza de que nós precisamos, urgentemente, gritar a verdade ao mundo. É preciso uma forte comunhão com o Deus que nos chama a este grito. É Deus e não nós, pois somos medrosos e pusilânimes, que nos encoraja com seu Espírito na árdua missão do anúncio da Verdade. Este anúncio acarreta incômodos, perseguições, incompreensões, calúnias, julgamentos, prisões, martírio. Roguemos a Deus que nos liberte da mentira alienante e nos encoraje na missão profética do Reino, pois somos continuadores da missão assumida por Jesus, o Nazareno.


Tiago de França

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Incertezas


Se eu soubesse que a vida seria certa
Certamente não seria certa a vida,
Porque a vida é incerta
E incertas são as certezas da vida.

O pavor das incertezas certas
Esvaziam as esperanças certas,
Pois as certas esperanças
Esvaziam as incertezas certas.

Infelizmente é a morte
Que se apresenta como certeza certa,
Pois das incertezas certas
Neste mundo ninguém se extravia.


Tiago de França

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Festa de Nossa Senhora do Carmo


De 07 a 16 de julho do corrente ano ocorre em Colônia Leopoldina – AL, minha terra natal onde me encontro no momento, a Festa de Nossa Senhora do Carmo, padroeira da Comunidade Paroquial. O tema da Festa deste ano é “Nossa Senhora do Carmo, discípula e missionária de Cristo”. O tema está ligado ao Documento de Aparecida. Brevemente, podemos dizer que a devoção à N. Sra. do Carmo iniciou-se com São Simão Stock, nascido em 1165 no castelo de Harford, na Inglaterra, filho de família rica ligada à família imperial inglesa da época. Crescido no seio de uma família muito piedosa, o menino Simão Stock foi consagrado à Virgem Maria antes mesmo de ter nascido. Foi educado no famoso Colégio de Oxford e já aos sete anos de idade foi iniciado nos estudos das Belas Artes, surpreendendo aos professores e sendo admirado por todos pela inteligência que tinha. Teve sérios problemas de relacionamentos com o irmão mais velho, e aos doze anos de idade, devido à inveja doentia do mesmo, o menino Simão Stock saiu de casa e refugiou-se numa floresta, onde viveu em estado penitencial durante 20 anos. No silêncio e na prática da ascese orante na floresta, foi revelado a Simão Stock que ele deveria juntar-se aos monges que viriam do Monte Carmelo, na Palestina, à Inglaterra. Obediente à revelação da Virgem Mãe de Deus, ele juntou-se aos monges carmelitas, estudou Teologia e recebeu as sagradas ordens, tornando-se exímio pregador do Evangelho. Em 1213, Simão Stock recebeu o hábito da Ordem do Carmelo, em Aylesford. Devido à fama de santidade que tinha, foi eleito, em 1226, Vigário-Geral de todas as províncias da Ordem na Europa. E em 1245, depois de ter participado do Capítulo Geral da Ordem na Terra Santa, foi eleito 6° Prior-Geral dos Carmelitas. No dia 16 de julho de 1251, em meio à fervorosas orações, N. Sra. do Carmo lhe apareceu, tendo na mão o hábito da Ordem e lhe disse:

“Recebe, diletíssimo filho, este Escapulário de tua Ordem como sinal distintivo e a marca do privilégio que eu obtive para ti e para todos os filhos do Carmelo; é um sinal de salvação, uma salvaguarda nos perigos, aliança de paz e de uma proteção sempiterna. Quem morrer revestido com ele será preservado do fogo eterno.”

Desde esta data, os Carmelitas divulgam e semeiam em todo o mundo a devoção ao Escapulário da Virgem do Carmelo. Em 1265, depois de ter atingindo extrema idade e verdadeiro odor de santidade, sendo reconhecido por todos, pelos milagres operados em vida, São Simão Stock morreu no dia 16 de maio, mês mariano.

A Igreja tem uma veneração especial pela Virgem Maria, a Mãe do Filho de Deus. Durante a história, a Igreja lhe conferiu títulos e honras especiais por ela ser um modelo de discípula e missionária de Jesus Cristo. Com o seu “sim”, Maria aceitou colaborar com a salvação da humanidade, concedendo o seu ventre como morada do Verbo de Deus. Ela teve a graça de carregar em seu saio a segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Sábia em seu ensinamento, a Igreja não poderia tê-la como uma “mulher qualquer”, como muitos pensam, mas elevou-a a dignidade de Mãe de Deus e Mãe da Igreja. A história das aparições devidamente reconhecidas prova que a Virgem Maria goza de certa aproximação junto a Deus. É verdade que não podemos tê-la como salvadora, pois isto ela não foi, não é nem nunca será. Mas a seu exemplo, de humildade e obediência à vontade divina, o cristão católico é chamado a seguir Jesus, aderir seu projeto por meio de um SIM generoso e decidido, como o de Maria, e se tornar um servo bom e fiel na vinha do Senhor.

Celebrar Nossa Senhora do Carmo na comunidade paroquial é, antes de qualquer coisa, reconhecer o sim que ela deu a Deus e buscar comprometer-se com aquilo que ela disse nas bodas de Caná da Galiléia: “Fazei o que ele vos disser” (Jo 2, 5). Vivemos num mundo em que as pessoas estão se esquecendo da vontade de Deus. Procuram a todo custo fazer as próprias vontades, em detrimento da de Deus. Conformar a nossa vontade a Deus é um desafio possível que nos garante a felicidade neste e no mundo que há de vir. Conformar nossa vontade a de Deus não significa negar a si mesmo e viver somente para Deus, como pensam os neopentecostais. A negação de si não é sinônimo de cumprimento da vontade de Deus. O compromisso com Jesus é buscar viver conforme Jesus. Como Jesus viveu? Ele não foi um ser anormal, enigmático, mágico, extramundano etc., mas um homem comum, que procurou fazer a vontade de Deus inaugurando o Reino de Deus, pautado na justiça e no amor. Creio que a Virgem Maria ficará muito feliz se nós, seus filhos adotivos em Jesus Cristo, vivermos nossa vida no amor e na justiça. Amor e justiça, eis o remédio que o mundo de hoje precisa. Que a Festa de Nossa Senhora do Carmo anime a fé do povo fiel na luta por libertação e que a cidade de Colônia Leopoldina progrida no amor e na justiça!


Tiago de França

terça-feira, 7 de julho de 2009

Ovelha e pastor


“Vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam cansadas e abatidas como ovelhas que não têm pastor” (Mt 9, 36). Diante da multidão faminta, Jesus tem compaixão das pessoas. O evangelista as compara com as ovelhas que não têm pastor. Uma ovelha sem pastor precisa ser reconduzida ao rebanho, precisa de cuidados e atenção. São ovelhas que precisam ser reunidas à vida comunitária. A ovelha nasceu para o rebanho, para a vivência fraterna com as demais e não para viver sozinha. Por isso, toda ovelha desgarrada e sem pastor deve ser motivo de preocupação. No versículo 37 do mesmo capítulo, Jesus fala que a messe é grande e poucos são os operários e pede para que peçamos ao dono da messe que envie trabalhadores para a messe. Que tipo de ovelhas temos e que tipo de trabalhadores precisamos?...

As ovelhas de nosso tempo andam dispersas, continuam parecendo como ovelhas que não têm pastor. São muitas as pessoas que se recusam a participar da vida de comunidade. É verdade também que nossa vida comunitária, o nosso ser Igreja, também deixa a desejar, mas isto não pode ser usado como pretexto para nos recusarmos à comunidade. Por mais difícil que seja a vida comunitária, ela continua sendo o modelo deixado por Jesus para ser vivido pelos cristãos. Os cristãos precisam cada vez mais aprender a viver em comunidade. Trata-se de um desafio possível. Quando olhamos para o próprio Cristo vemos que ele formou uma comunidade com os doze apóstolos. Em todos os lugares, Jesus procurava viver em comum-unidade com as pessoas, evitando o isolamento. Todos somos diferentes e nas diferenças somos chamados a vivermos unidos no amor de Deus. Não há necessidade de nos tornarmo-nos iguais, até porque não nos é possível. Se soubermos viver com nossas diferenças, tal vivência será um verdadeiro aprendizado para a vivência comunitária. A vida comunitária não é uma negação de si para viver para o outro. Negar-se a si mesmo não é um bom caminho, pois quem se nega a si mesmo não conseguirá aceitar o outro. Eu sou e represento algo e preciso ver que o outro também é e representa algo.

Pensando assim, as ovelhas não são um rebanho de gente subalterna aos pastores. As ovelhas não estão para servir aos pastores. Há pastores que pensam em servir, mas tratam as ovelhas como suas servidoras. A catequese e a doutrina orientam para o serviço, assim como para a participação das ovelhas, que foram sendo denominadas de “os leigos” na missão da Igreja no mundo. A vivência da diaconia é um desafio na vida dos pastores da Igreja. Uma vez que a participação na hierarquia também se trata de participação no poder que rege e administra, não são poucos os que sentem dificuldades em viver a autêntica vocação do sacerdócio ministerial: servir com alegria ao povo de Deus. É inegável a distância que há entre a vida de muitos pastores em relação com a vida das ovelhas. Muitos caem na tentação de esperar as ovelhas no curral, porque é mais fácil e mais cômodo. Durante muito tempo, os pastores esperaram as ovelhas nos currais (templos), mas descobriram recentemente que as ovelhas não se contentam mais em estar nos currais, mas elas querem ver seus pastores no meio delas, onde elas estão, participando da vida delas. Esta participação requer abertura, humildade, despojamento e caridade.

Sendo aberto, o pastor vai descobrindo aos poucos que ele não é mais tido como o dono da verdade, como muitos se consideravam antigamente. Houve um longo período em que a palavra do pastor era como palavra de rei: sem consulta aos súditos e no pleno uso do autoritarismo. Agora o pastor é chamado a partilhar suas idéias e não impô-las. Não se aceitam mais as imposições, estas só geram conflitos na comunidade. Esta postura de abertura do pastor requer muita humildade de sua parte, pois o pastor é preparado na academia filosófica e teológica para o exercício de seu ministério, e poderá não ser humilde o suficiente e pensar ser mais sábio e santo do que as ovelhas. Quando isto ocorre, as posturas autoritárias frustradas e frustrantes tornam-se presentes. E toda postura humilde requer caridade para com o próximo. Quando somos humildes, então somos caridosos, pois quem não falta com a humildade, não falta com a caridade.

Diante disso, a Igreja é chamada a pensar o modelo de pastor que precisa para os tempos atuais. Analisar a formação nos seminários é uma necessidade que se impõe. Qual o perfil de pastor que nossos seminários estão formando para a Igreja?... Como estão sendo formados?... Por outro lado, é preciso também pensar na realidade dos chamados “leigos”. Quem são eles e como estão agindo? Onde estão inseridos e o que estão fazendo?... Antes se falava de recepção passiva de sacramentos (sacramentalização, na Igreja pré-Vaticano II para ser mais exato), agora se fala de comunhão e participação. É preciso rezarmos e nos esforçarmos para que a verdadeira comunhão e participação existam entre nós.


Tiago de França

A alegia do reencontro


Almas que nunca mais se viam,
Rostos radiantes de alegria,
Abraços que falam de sentimentos memoráveis,
Alegria!

Alegria
De rever o passado nas pessoas,
Nas coisas que deixamos para trás,
Nos recantos rememorados,
Reencontro!

Reencontro
De pessoas que se amam,
Que se amam porque se querem bem.
Sentimentos partilhados no amor,
Fraternidade!

Fraternidade
Que faz parte da vida dos que fazem o Caminho
E dos que partilham
A doce presença do divino,
Bondade!


Tiago de França

domingo, 5 de julho de 2009

Partida


Depois de ter chegado
Na Terra do Sol
E partilhado da alegria
Das pessoas boas
E das tristes pessoas
Que aqui encontrei...
Fui Propedêutico, iniciei-me na
Filosofia.
Ensinaram-me a desconfiar
Da desconfiança,
Ensinaram-me com decepções
A ser persistente
Naquilo que se sonha ser...

Eita, Ceará!
Terra de gente
Alegre e disposta a recomeçar,
Povo hospitaleiro
Que acolhe a todos
Sem distinção de cor,
Sexo ou condição social...
Terra da rapadura com feijão,
Do forró e da Praia de Iracema
De José de Alencar
Com seus poemas,
Ceará...

Vou
Marcado pelo sorriso das cabeças-chatas,
Pelos assaltos
Dos meninos possessivos,
Pelo sotaque do “macho” e do “arriégua”...
Marcado
Pela fé do povo de São José,
Pelo artesanato bem trabalhado e diverso,
Pela violência
Dos corpos infantis oferecidos
Nas praias, praças e esquinas,
Ceará...

Vou embora
Triste,
Porque deixo convivências profundamente convividas...
Alegre,
Porque vou ao encontro de novas convivências
Profundamente desconhecidas!...
E poderei dizer
A uma geração não distante
Que tive em minha vida alguns dias
Que vivi
Na terra do humor de Tom e Didi,
Na terra
Dos padres Cícero e Ibiapina,
Do Bispo santo Hélder Câmara,
Do missionário Antônio Conselheiro,
Dos escritores Raquel de Queiroz e José de Alencar
Do jurista Clóvis Beviláqua
E dos times Fortaleza e Ceará...

Saudades,
Ceará!...


Tiago de França

sábado, 4 de julho de 2009

Ter fé na humanidade


"Nunca perca a fé na humanidade, pois ela é como um oceano. Só porque existem algumas gotas de água suja nele, não quer dizer que ele esteja sujo por completo".


Mahatma Gandhi

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Ver e crer


Há pessoas que veem para crer
Há outras,
Que creem para ver...
O que há entre o crer e o ver?...

Acreditar em Jesus
É sentir-se desafiado por ele
E mergulhar
Nas águas profundas da existência...

Acreditar em Jesus
É crer no poder do amor
Vivenciar a experiência do viver
É viver!...

E viver
É sentir-se enamorado pela vida
Dando-lhe a todo o momento
Gosto, vida e sentido
É possível!...

É possível tudo
À pessoa que crer no amor
Quem crer em Jesus,
Filho do Amor,
Crer no amor, porque o amor é vida...

Ver,
Crer,
Viver,
Amar:
Eis uma aventura possível para sermos felizes!...


Tiago de França

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Tempestade - esperança


Senhor, por todo lado a tempestade se levanta
São ondas altas, fortes e poderosas
Parecem um dique se rachando
E as águas derrubando a vida da gente.

E o orgulho do mar quebrando a nossa cara:
Parece incrível a força do mal
Quando se aposta para demolir, derrubar, esmigalhar
A semente, a flor, a casa, o ideal, o sonho, a esperança.

Nós gritamos, Senhor, dentro da tempestade
Falamos alto a nossa dor, a decepção do destino cortado
E pareceu inútil o nosso clamor
Abafado pelo comodismo dos oportunistas,
Pela prudência dos “inteligentes”
Pela omissão dos covardes.

Você estava dormindo, descansado, no colo de seu Pai.
Mas a tua Palavra se levantou, como na criação,
Como na Páscoa da Ressurreição
E falou alto ao vento, ao mar, à tempestade
E uma leve brisa suave e mansa
Transformou a vida do povo na esperança:
Foi silêncio, tranqüilidade, alegria, bonança.

As ondas do mar se quebraram na praia
E o barco da vida foi cortando as águas
Chegando logo ao porto seguro
Do teu coração feito espaço.
De uma nova criação – liberta
Onde a semente, a flor, a casa, o ideal, o sonho
Voltou a ser utopia, a ser esperança.


Poema do amigo Pe. Vicente Zambello, missionário Fidei donum, da Diocese de Veneza, Itália, em 25/ 06/ 2000, de seu livro Acolhendo a vida – confissões e poemas de um missionário, Ed. Idéia, João Pessoa, 2001, p. 75.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

O tempo passa


Estive pensando no tempo e descobri que o tempo passa. Que novidade há nisso?!... Penso que nenhuma. Mas se a gente parar para pensar direitinho, o tempo da vida é curto demais. Aqui deve ter alguma novidade! O tempo da vida. Qual o tempo da vida? A vida tem tempo?... Tem gente que vive sem ligar para o tempo, mas também tem gente que liga demais para o tempo e se esquece da vida. Viver sem ligar para o tempo pode ser arriscado. Mas por quê? Porque viver é um negócio complicado. Tem uma coisa na vida chamada ilusão que acaba com a gente. Acaba porque parece que a ilusão não deixa ninguém viver, apesar de que, às vezes, viver por um momento a ilusão faz bem. E faz bem porque, às vezes, a realidade é ruim e a gente precisa estar iludido por um tempo para suportar a ruindade da vida! No que se refere à ilusão, é preciso o iludido prestar atenção ao tempo, uma vez que a vida biologicamente é finita. Aí vem o dilema da morte, realidade difícil de aceitar... Deve ser difícil e até intrigante morrer iludido! Morrer pensando que algo ou alguém é, mas na verdade não é. Algo ou alguém é ou não é, mas não pode ser e não ser ao mesmo tempo, já ensinava o filósofo. Por um lado, é até bom não saber que certas coisas são, pois dependendo do que se trata, o sofrimento torna-se leve. Mas é preciso considerar que há realidades que precisam ser conhecidas e admitidas, para que a ilusão não prevaleça. E neste dilema, de tempo, vida, ilusão, morte, ser e não ser, o tempo está passando e a vida está aí, impondo-se, sendo consciente ou inconscientemente vivida!... Mas ainda ouso perguntar duas coisas, a você que se ocupou em ler estas linhas embaraçosas de uma mente que se ocupou por um momento em pensar no tempo da vida e na vida do tempo: O que estás fazendo no tempo de tua vida? Tens tido tempo para viver?! Pense enquanto é tempo, pois pensar exige tempo!...


Tiago de França