domingo, 19 de julho de 2009

Jesus, líder da liberdade e da vida


No texto do Evangelho deste 16º Domingo do Tempo Comum (Mc 6, 30 - 34), Jesus recebe os discípulos, que regressam da missão (evangelho do domingo passado). Os discípulos estavam felizes pelo que tinham feito na missão. Agora, partilham com Jesus os resultados da mesma. Marcos cita dois verbos referentes à missão dos discípulos: “tudo o que tinham feito e ensinado”. Isso significa que a missão se dá no fazer e no ensinar. O missionário é aquele que fala (anuncia e denuncia), mas também age conforme a pregação, devendo assim, haver coerência entre o falar e o agir. O ensinar e o agir constituem o testemunho missionário do cristão e da Igreja. Se o missionário só fala e nada realiza, sua missão está incompleta. Se ele somente faz e nada anuncia, pode cair no assistencialismo.

Vendo o cansaço dos discípulos, Jesus convida-os para um lugar deserto, a fim de descansarem um pouco, pois a multidão era tão grande, que eles não tinham tempo nem para comer. Isso mostra que Jesus e seus discípulos trabalhavam bastante. Eram muitas as pessoas que iam ao encontro de Jesus para serem socorridas por ele. Jesus estava diante de um povo faminto, doente e explorado. As realidades social, econômica, política e religiosa do tempo de Jesus eram de exploração. O povo era explorado pelas autoridades políticas e religiosas. Na vida social e na prática religiosa, o povo era vítima da ambição e incompetência de líderes descomprometidos com o bem comum da sociedade. Políticos e religiosos viviam luxuosamente, à custa do suor dos explorados. O povo corria ao encontro de Jesus porque tinha nele a oportunidade de se libertar das doenças corporais e espirituais. Além disso, Jesus anuncia um novo céu e uma nova terra, onde reinará a justiça e a paz, que fará brotar a vida do povo de Deus. Ele reanima a esperança do povo explorado na luta por libertação.

Indo ao deserto, os discípulos são convidados a descansar. O descanso é uma necessidade humana. O excesso de trabalho faz mal ao homem. Reabastecer-se é necessário para dar continuidade à missão. O convite de Jesus ao descanso denuncia o ativismo religioso dos missionários da Igreja. O ativismo religioso é um mal porque deixa o missionário vazio e superficial no exercício da missão. Quem assume o sagrado ofício do anúncio do Evangelho de Jesus precisa descansar, rezar, silenciar, escutar a voz do Espírito que grita no deserto da vida. Jesus rezava e agia, subia a montanha e descia, ia ao deserto e voltava para o meio do povo. É no deserto orante que o missionário intensifica sua comunhão com o Deus que o enviou em missão. O tempo atual exige do missionário profunda comunhão com Deus, porque senão, o mesmo perder-se-á nas encruzilhadas dos caminhos da missão.

O texto diz que quando Jesus e seus discípulos descem do barco, encontram a multidão de pessoas à espera. O evangelista Marcos faz questão de dizer que Jesus “teve compaixão”, compadeceu-se da multidão, “porque pareciam como ovelhas sem pastor”. O povo maltratado e desprezado estava esquecido. Ninguém ligava para os oprimidos da sociedade, a não ser Jesus. É justamente na atenção, no cuidado e no assumir a condição e a dor dos que sofrem que Jesus se diferencia dos líderes políticos e religiosos de seu tempo; e o povo, quando vai ao seu encontro, sente essa diferença e não desiste de segui-lo porque sabe que em Jesus estava a libertação de seus males. É verdade que não podemos reduzir a missão de Jesus às curas realizadas por ele. Jesus não veio a este mundo somente com a missão de curar os doentes, expulsar os demônios e ressuscitar os mortos, mas veio inaugurar o Reino de Deus no mundo. E neste Reino não há lugar para exploração do povo, mas para a liberdade e vida para todos.

O texto de hoje termina afirmando que Jesus “começou a ensinar muitas coisas”. Que coisas são essas? Qual o ensinamento de Jesus. As palavras e os gestos de Jesus nos mostram qual é seu ensinamento. Em outra ocasião, Jesus ensina que o amor resume toda a Lei e os Profetas, logo, o ensinamento de Jesus é o amor. Amor que gera vida e liberdade para todos. O que o Evangelho deste domingo exige de nós, como cristãos e como Igreja? Antes de apontar caminhos, é preciso estarmos certos de que os oprimidos do tempo de Jesus continuam existindo até hoje. É verdade também que existem entre nós e em todo o mundo, os exploradores do povo de Deus, políticos e religiosos. A partir desta constatação, podemos ir ao Evangelho e descobrirmos nossa missão, que se encerra na missão de Jesus: ir ao encontro dos oprimidos e trabalhar na libertação dos mesmos. Não podemos pensar nem nos colocarmos como os libertadores, pois como disse Paulo Freire: “ninguém liberta ninguém, nós nos libertamos juntos”. É na comum-unidade que a libertação acontece.

A mensagem que nós, cristãos, devemos transmitir ao mundo é a mensagem de Jesus, seu Evangelho. Este é o próprio Cristo. Jesus é a nossa mensagem. No texto de hoje, Jesus exige dos líderes civis: políticos, empresários, organizações, etc. e dos líderes religiosos: os de nossas Igrejas Cristãs e de suas instituições; que trabalhem pela dignidade do povo e promoção humana dos oprimidos. Não podemos esconder a exploração realizada pelos políticos corruptos que temos. A crise do Senado Federal denuncia a todos eles! Também não podemos esconder a exploração religiosa de nossa Igreja, assim como das demais Igrejas, principalmente as que surgem com o intuito de enganar e ganhar dinheiro em nome do Evangelho, utilizando-se do mesmo para alienar e escravizar as pessoas. Assim sendo, a Igreja, apesar de suas incoerências, é chamada a assumir a profecia de Jesus, opondo-se aos opressores do povo. Se isto não acontecer, estaremos traindo o Evangelho de Jesus e o anunciando somente com a boca, com nossas lindas liturgias, que sem profecia se mostram sem vida e sem sentido. A nossa Igreja precisa ser povo e o povo precisa ser Igreja. Que o Espírito do Senhor nos ensine a vivermos na liberdade e para a liberdade.


Tiago de França

Um comentário:

isaias mendes barbosa disse...

beleza, muito bom sua reflexão!