domingo, 12 de julho de 2009

A missão e o missionário


Obedientes ao mandato de Jesus somos chamados a sermos missionários. O mandato missionário de Jesus é um convite a todo cristão batizado, pois ninguém está excluído da missão. Qual é a missão? Evangelizar. E o que é evangelizar? É anunciar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus e nosso Irmão. No anúncio do Evangelho somos impelidos a denunciar as injustiças, que são forças contrárias à vontade divina e ao projeto de Deus, o seu Reino.

Na primeira leitura da liturgia deste XV Domingo do Tempo Comum encontramo-nos com o profeta Amós, pastor de gado e agricultor (cf. Amós 7, 14). Deus escolhe os pequenos para confundir os grandes. Deus poderia muito bem escolher os sábios das cortes imperiais, mas optou por escolher homens do campo para o exercício da profecia. “Vai profetizar para Israel, meu povo” (Amós 7, 15). Profetizar sempre foi uma vocação divina arriscada, porque o profeta sempre denuncia as injustiças cometidas contra os pobres. Se não há denúncia não há profecia.

O profeta não fala de si para os outros nem fala daquilo que é dele ou daquilo que pensa ser o correto a ser dito, mas fala daquilo que é de Deus. O profeta transmite ao povo a vontade de Deus. Como se dá esta transmissão? O profeta é o homem da palavra e do gesto, portanto a profecia se dá por meio da palavra e do gesto. O profeta não é somente um homem que fala, mas que pratica o que fala. Esta prática é o gesto. Os profetas são reconhecidos pelas palavras duras e insensíveis. O profeta não fala de flores nem de superficialidades, mas fala da vida dura do povo e com profundidade. A palavra profética adentra as realidades visíveis e invisíveis, ou seja, o profeta ver o aparente e o Espírito de Deus o faz enxergar aquilo que não é aparente, invisível a nossos olhos.

O profeta não é uma extraterrestre, mas um homem simples. O profeta também é pecador, muitas vezes nega-se a profetizar, mas o Espírito torna o homem simples num fiel propagador da Boa Notícia. Esta, por si mesma, já anuncia e denuncia o mal do mundo. O profeta é fiel à Palavra, nada lhe retira nem lhe acrescenta, porque a Palavra por si mesma já diz a vontade de Deus. Transmitir a verdade da Palavra é a missão do profeta, que com coragem liberta o povo da alienação e do mal. Nas atividades cotidianas da vida comum, toda pessoa é chamada a ser profeta. Amós profetizava tangendo o rebanho, não precisou fugir do mundo para profetizar. O abandono do mundo não é coisa de Deus nem atitude de profeta, porque este é chamado a profetizar no meio do mundo e nos lugares mais desumanos do mundo.

São Paulo quando escreve aos efésios na segunda leitura da liturgia de hoje, afirma que nós fomos escolhidos antes da fundação do mundo para sermos santos, que fomos predestinados a sermos filhos adotivos, que somos libertados no sangue de Cristo, que recebemos profusamente a graça de Deus, que Deus nos fez conhecer a sua vontade, que fomos marcados com o selo do Espírito (cf. Ef 1, 3 – 10). Estamos assegurados de que somos escolhidos e temos uma missão a realizar, uma missão que não é nossa, mas de Jesus Cristo. Somos chamados a participarmos da missão de Jesus Cristo. A escolha e o convite são para todos, mas nem todos têm consciência disso.

O texto do Evangelho de hoje é Mc 6, 7 – 13. Jesus envia os discípulos em missão com algumas recomendações. A primeira recomendação é de que não levassem nada para o caminho. Esta recomendação apela para o despojamento do missionário. Um missionário despojado está mais livre para a missão, porque não carrega riquezas consigo, pois estas geram apego e cuidado. Esta recomendação ensina aos pastores da Igreja são chamados a serem homens humildes e simples, despojados na missão. Nos dias de hoje, ser despojado é um grande desafio, pois os bens materiais continuam sendo a meta de muitos, o ter e o poder ditam as relações e delineiam a vida de muitas pessoas e até de muitos de nossos pastores, que centrados na busca do ter, terminam por se esquecer da missão apostólica.

A segunda recomendação é: “Quando entrardes numa casa, ficai ali até vossa partida”. O missionário deve sentir-se acolhido por quem recebê-lo e acolher aquilo que lhe for oferecido. Esta segunda recomendação proíbe exigências, ou seja, o missionário não pode exigir conforto, boa alimentação ou recompensas. A missão se dá na gratuidade. Nesta segunda recomendação encontramos a rejeição aos missionários. Se estes forem rejeitados, se não forem escutados, Jesus recomenda “sacudi a poeira dos pés como testemunho contra eles!”, ou seja, o missionário não vai obrigar as pessoas a acolherem a Palavra de Deus nem estão obrigados a suportar quem os rejeita. Esta segunda recomendação denuncia os pastores da Igreja que exigem “boa vida” à custa do povo, que pautam sua missão no financeiro, usando da Palavra de Deus para ganhar dinheiro.

Jesus confere poder aos discípulos sobre os espíritos impuros. O texto termina dizendo que os discípulos “expulsavam muitos demônios e curavam numerosos doentes, ungindo-os com óleo”. Todo missionário, pela fé em Jesus Cristo, recebe o poder para anunciar a Palavra e para curar os doentes em nome de Deus. O poder não é do missionário, pois este por si mesmo não pode nada, mas auxiliado pelo poder de Deus, pode todas as coisas. São inúmeros os santos e santas da Igreja que curaram, expulsaram demônios, ressuscitaram mortos e que realizaram muitos outros prodígios diante de Deus e dos homens. Foram milagres realizados com discrição, humildade, simplicidade, fé e espírito de santidade.

A Igreja de nossos dias carece de pastores constituídos de profunda espiritualidade cristã, centrados na Palavra de Deus e na confiança plena em Deus. O nosso tempo exige da Igreja pastores santos e sábios, que livres no meio do mundo, realizem as maravilhas de Deus. Isto não é impossível. A história da Igreja mostra muito bem a vida de muitas mulheres e homens, dedicados à vontade divina na caridade fraterna. Também hoje temos grandes homens e mulheres, leigos e ordenados, que são verdadeiros ícones da caridade na Igreja e no mundo. Que o Espírito de Deus abra a nossa inteligência para compreendermos a sabedoria do Evangelho e nos impulsione a vivê-lo santamente.


Tiago de França

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