quinta-feira, 30 de julho de 2009

O reino dos céus



“O reino dos céus é ainda como uma rede lançada ao mar e que apanha peixes de todo tipo. Quando está cheia, os pescadores puxam a rede para a praia, sentam-se e recolhem os peixes bons em cestos e jogam fora os que não prestam” (Mt 13, 47 – 48). Utilizando-se de mais uma parábola, Jesus ensina a respeito do reino dos céus. Desta vez, a rede lançada ao mar é mais uma tentativa de Jesus em fazer as pessoas compreenderem a necessidade do reino dos céus. Vindo a este mundo para inaugurar o reino dos céus, Jesus leva as pessoas a entenderem este reino e a buscá-lo.

No caminho de Jesus temos vários tipos de pessoas. Todas são diferentes. Ninguém é igual a ninguém. Todas seguem o mesmo Cristo na vivência diária de suas diferenças. Aí está o desafio da rede que “apanha peixes de todo tipo”. No reino dos céus, ensinado por Jesus, não há um só tipo de pessoa, mas vários tipos. A diversidade faz parte do reino dos céus. Quando a vivência da diversidade torna-se impossível, aquilo que é diferente torna-se indiferente. A indiferença entre as pessoas, entre os cristãos, infelizmente é uma realidade. Nós, cristãos, dentro da própria Igreja, às vezes, nos referimos aos outros com desprezo, simplesmente porque os outros pensam e são diferentes de nós. Aí mora nossa visão reduzida de Igreja e de ser humano. Na Igreja e fora dela são inúmeras as pessoas que não conseguem enxergar um palmo além do próprio nariz ou umbigo. Enquanto este número for significativo, não teremos unidade e paz entre nós.

A rotulação de pessoas é um mal humano e eclesial. Sempre caímos na tentação de rotularmos as pessoas, pois pensamos que umas são boas e outras são más. Particularmente, não creio que há pessoas boas, nem más. Creio que há pessoas que podem fazer o bem e o mal. Ninguém está isento da bondade, pois somos imagem e semelhança da Bondade por excelência; assim como não estamos isentos da maldade, pois somos corrompidos pelo pecado desde Adão e Eva. Somente Deus é por natureza bom, nem Jesus quis ser visto e chamado de bom, apesar de sua igualdade para com Deus. Quando pensamos e vemos as pessoas segundo o olhar de Jesus, dificilmente caímos na rotulação. Na verdade, rotular as pessoas é como que uma tendência natural do ser humano ou quase isto. Uma vez que não conhecemos bem a pessoa, julgamo-la na primeira impressão ou segundo sua aparência.

A vida comunitária, como um dos maiores desafios da Igreja de todos os tempos e lugares, sempre foi ameaçada pela indiferença. Quem é indiferente costuma ser também egoísta, uma vez que a vida do outro não me interessa, então procuro viver a minha, isoladamente. A sociedade pós-moderna estimula intensamente a vivência da indiferença por meio do egoísmo e do individualismo. Como resolver o problema da vida comunitária na Igreja? A solução não apresenta receita e nem é fácil, mas não é impossível. Sendo o homem um ser infinitamente complexo e que evolui ao longo do tempo, jamais teremos comunidade perfeita, porque não somos perfeitos. Podemos ter comunidades possíveis, mas perfeitas, nunca! Assim sendo, sabendo que não podemos excluir aquelas pessoas que são tidas como “pessoas más” em nosso mundo, na Igreja e na sociedade, somos chamados a convivermos com elas, suportando-as no amor gratuito de Deus (cf. Ef 4, 2). O Apóstolo, para facilitar o desafio, indica-nos a humildade, a mansidão, a paciência e o amor como valores fundamentais na vivência comunitária.


A humildade é uma das maiores virtudes que o ser humano pode cultivar e viver. A pessoa humilde procura viver o que ela é. Ela não procura ser outra coisa senão viver sua própria personalidade. Por isso, seguramente, a pessoa humilde também é autêntica. Ela encontra dificuldade para viver em meio à prepotência, ao orgulho e à vaidade, porque a humildade é contrária a tudo isso. A humildade é algo tão simples que não podemos envaidecermo-nos ao falar dela. Multiplicar conceitos a respeito dela seria ir contra ao que ela é em si mesma. Na vida comunitária, a pessoa humilde vive a autenticidade e contribui na construção de uma comunidade mais humilde, onde a harmonia se faz presente.

A mansidão tempera o comportamento da pessoa. Ela torna-se terna, atenciosa, prestativa. Mansidão não pode ser sinônimo de ingenuidade, mas de tranqüilidade. Uma pessoa mansa é uma pessoa tranqüila, que age com tranqüilidade. Diante das agitações e alvoroços, dos aperreios e depressões do cotidiano, a mansidão torna a pessoa serena no seu pensar, falar e agir. Numa sociedade que valoriza o discurso, a mansidão confere prudência à pessoa, levando-a a falar oportunamente, no tempo, à pessoa e no lugar certo. A mansidão cultiva a paz de espírito na pessoa e esta termina por contagiar aquelas que se encontram por perto. É algo sublime conviver com uma pessoa mansa!

A paciência ensina-nos a esperar. E esperar é algo quase que impossível a muitas pessoas. Saber esperar o tempo certo para a efetivação das circunstâncias da vida é uma virtude de poucos. A humildade, a mansidão e a paciência são valores interligados. A pessoa precisa ser iniciada nestes valores. Pessoas pacientes são mais sociáveis e pacíficas, pois elas sabem que o momento há de chegar e não se estressam facilmente. Santa Teresinha do Menino Jesus ensinava que a “paciência tudo alcança”. O Espírito de Deus nos torna pacientes e a dura realidade da vida exige-nos paciência.

Finalmente, aparece o amor. Este é o maior valor. É o próprio Deus por excelência. Quem ama está unido a Deus, vive por ele e nele. Na vida comunitária, a doçura e a ternura são frutos do amor, pois externam o amor. Este torna a vida mais leve e mais saudável, humaniza aquele que se encontra desumanizado e nos faz participantes da vida divina. Amar é participar da intimidade e da natureza mesma de Deus. Roguemos, pois ao Amor, que cultive em nós o amor e nos conceda um coração de carne, para que sensibilizados pelo Evangelho possamos agir correta e santamente, conforme a vontade divina que está inscrita em nossos corações. Isto é o reino dos céus!


Tiago de França

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