sábado, 29 de agosto de 2009

As leis, as tradições e o Evangelho de Jesus


O texto evangélico deste 22º Domingo Comum é Mc 7, 1 – 8. 14 – 15. 21 – 23. A questão central do texto é discutir a validade das leis e das tradições religiosas. Jesus estava inserido numa realidade em que estas eram rigidamente observadas. Ele encontra no cumprimento rígido das mesmas um gravíssimo problema: não estavam promovendo a dignidade do homem. Não podemos afirmar que Jesus anulou as leis e as tradições judaicas. Ele as ordenou para a vida, pois estavam sendo praticadas sem levar em consideração o ser humano e sua dignidade. Em outras palavras, a lei e a tradição não estão acima da vida, mas em função da vida do homem. É para o bem comum da sociedade civil e eclesial que existem as leis e as tradições. Todas as sociedades têm suas leis e tradições e perante elas encontramos o homem submisso, sem liberdade e dignidade. É verdade que não são todos os homens que são submissos e não são injustas todas as leis e tradições, mas as que são não precisam ser observadas. Nesta falta de observação de leis e tradições injustas é que Jesus não foi compreendido nem aceito entre os judeus, pois foi acusado de transgredir a lei e a tradição.

Atualizar a mensagem de Jesus contida no texto é um desafio que sempre nos incomoda. A palavra de Jesus vem desestabilizar aquilo que aparentemente está correto. Nós temos, na sociedade e na Igreja, muitas leis e tradições e somos chamados, à luz do Evangelho, a fazer uma revisão das mesmas. Analisar e julgar as leis e os costumes civis não é da competência da Igreja. Esta não é a sua missão. Padres e Bispos não são juízes das leis nem dos costumes das nações. Mas, uma vez inseridos no mundo e, muitas vezes vítimas das atrocidades das leis e dos costumes, somos também chamados, enquanto seguidores de Jesus, a denunciar as injustiças cometidas pela lei e pelo costume.

Na sociedade civil encontramos inúmeras leis que acabam com a vida dos mais fracos, pois são sancionadas pelas classes dominantes que não querem ver o bem estar do povo. Os poderes públicos estabelecidos democraticamente, mas que não visam à dignidade das pessoas exploram através da imoralidade política. Ultimamente, estamos assistindo à vergonhosa situação do Senado Federal, composto por um número significativo de parlamentares que não tem compromisso com a ética nem com a coisa pública. São estes mesmos parlamentares que elaboram as leis que regem a nação. É por causa deles que as leis são contraditórias e, às vezes, desumanas, porque muitas visam o bem estar deles próprios, em detrimento da população que os elegeu. Somos expectadores das mazelas praticadas por aqueles que elegemos para nos representar. Diante de tal situação percebemos o quanto faz mal ao homem o jogo obsessivo pelo poder e pelo dinheiro. Por trás de toda confusão, há sempre a ambição pelo poder e pelo dinheiro do povo.

Na sociedade religiosa, encontramos a Igreja. Enquanto instituição, ela tem suas leis e tradições. Enquanto sociedade composta por homens sabe-se que as leis e as tradições da Igreja são frutos da ação humana ao longo da história, pois é na história dos homens que a Igreja caminha e se realiza. Levando em consideração a estrutura da Igreja e sem renunciá-la, certamente não se pode regê-la sem leis. A questão que se apresenta é: Até que ponto necessitamos de leis no processo de Evangelização? Cito um exemplo para fazer o leitor entender a influência da lei na Evangelização. Em Alagoas, há alguns anos, um padre mexicano de uma paróquia do interior foi convidado para conceder a unção dos enfermos e a Eucaristia a um doente. Este estava acamado, prestes a morrer! O padre o confessou e depois perguntou se o mesmo tinha recebido o sacramento do matrimônio. Tendo respondido negativamente, o padre retirou-se e não lhe deu a Eucaristia porque a lei proíbe a Eucaristia à pessoa que não recebeu o matrimônio e se encontra “amigada”. Neste exemplo percebemos que o presbítero achou mais importante obedecer à lei aprendida no curso de Teologia do que ter concedido a Eucaristia a um pobre enfermo. Se Jesus se fizesse presente em nossas vidas somente pela Eucaristia, aquele doente tinha se perdido! Infelizmente, neste caso específico e em tantos outros que ocorrem em nossas comunidades, o homem se torna escravo da lei.

Certamente, a Igreja precisa renunciar às leis contrárias ao Evangelho. Este não pode ser abafado pela lei. Nenhuma lei é maior do que o Evangelho de Jesus. Assim como a Igreja é convidada a denunciar às leis injustas elaboradas pelos homens, também é convidada a revisar e abolir às leis eclesiásticas que não contribuem com a construção do Reino de Deus. Infelizmente, a Igreja tem uma forte tendência a apegar-se às tradições. Há certo saudosismo. Alguns querem ressuscitar a Cristandade! A evolução do pensamento e da cultura não permite à Igreja regredir, pois se ela fizer, ficará sozinha, marginalizada. Se quiser ser escutada, precisa falar a altura do nosso tempo. Muitos não entendem que a Missa presidida de costas para o povo e rezada em latim não corresponde mais ao nosso tempo. Não adianta querer obrigar as pessoas a se adaptarem aos ritos antigos, porque aquilo que é antigo não corresponde ao que é novo. O ontem não é o hoje de nossa história. Esta continua no decurso do tempo e precisamos caminhar. A estaticidade não deve mais fazer parte da Igreja. Se a Igreja continuar ignorando muitas coisas, terminará sendo ignorada pelas pessoas. Isto já é uma realidade, pois, cotidianamente, as pessoas vão se autoafirmando e recusando a presença da religião em suas vidas. Muitas não vêem mais sentido na religião. Por outro lado, ainda há certa efervescência da religiosidade, mas sem prática concreta de amor, somente como satisfação de desejos e exteriorização de frustrações.

O que a lei e a tradição têm a ver com isto? As Igrejas cristãs pregam que quase tudo na vida humana é pecado! Os neopentecostais que o digam! A Igreja Universal do Reino de Deus prega que o mal tem origem no demônio e este é o causador de todos os males. Tudo é responsabilidade do demônio! Em nossa Igreja, a Renovação Carismática Católica tem quase que a obrigação de pregar contra o relativismo. A grande maioria das comunidades de vida que estão surgindo, têm a missão de recordar aos católicos a importância do cumprimento das leis e a fidelidade às tradições. A idéia central da pregação de tais comunidades está centrada no seguinte discurso: “Entrega a tua vida ao Senhor Jesus e Ele tudo fará por ti!” Esta é a exigência. Fazendo isto você estará renunciando ao pecado e aos vícios da sociedade e tem garantida a sua salvação.

Diante de tal pregação, pergunto: Onde fica o Reino de Deus? Simplesmente, não existe. Jesus deixa bem claro no Evangelho deste Domingo, que não são as coisas externas que tornam o homem impuro, mas as que saem de seu interior. Não são as leis nem as tradições que nos salvam ou nos tornam cristãos. É no seguimento de Jesus e na construção do Reino de Deus que somos salvos do poder da morte. Se as leis e tradições não estiverem a serviço do Evangelho e do Reino de Deus, certamente não precisamos observá-las, porque são farisaicas.


Tiago de França

Um comentário:

Unknown disse...

Simplificando tudo, digo que o que falta ao homem é a OBEDIÊNCIA A DEUS, na guarda de suas leis, pois segundo Marcos 10:17 e seguintes vale como a METADE DOS MERECIMENTOS PARA A SALVAÇÃO na eternidade. Deus sempre primou pela OBEDIÊNCIA a ele, desde Adão e Eva e até antes com Lucifer, expulso do Céu.
Pela DESOBEDIÊNCIA Deus varreu da face da Terra 11 das 12 tribos de Israel e só não acabou com a de Judá, porque teriam de se cumprir as Profecias a respeito da Vinda do Messias nascido de Israel. Está Escrito que Deus é bondade, mas também FUROR.

Segundo as Escrituras, a importância que o Senhor Deus atribuiu ao Decálogo foi tão extensa, grandiosa, sublime, marcante, extraordinária que, diferente de seus procedimentos anteriores quando ordenava a seus profetas escreverem suas palavras para a posteridade, desta vez ele fez questão de escrever, pessoalmente, também para a posteridade, nos altos de um monte (Êxodo19:18), num espetáculo indescritível, não nos papiros que se dissolvem, mas com o fogo de seu olhar, com palavras cravadas, fundidas profundamente em rochas sólidas para que nunca se apagassem, todas as suas leis, uma a uma, regulamentos resumidos, mas absolutamente perfeitos e suficientes para nortear o homem em suas ações, concedendo à Humanidade a grande e maravilhosa chance de viver sem problemas, sem tribulações, pois se todos obedecessem a todas as leis do Decálogo, os seres humanos estariam a viver num mundo de sonhos: todos se respeitariam, não haveria criminosos, nem a necessidade de grades, de trancas, de polícia, de exércitos armados e de qualquer tipo de armas e artefatos feitos para conflitos e guerras, o mundo seria muito mais saudável, não haveria pobres muito pobres, como também o Senhor Deus seria muito mais honrado e glorificado e, certamente, a paz sobreviria sobre a Terra inteira. Waldecy Antonio Simões walasi@uol.com.br
www.segundoasescrituras.com.br. nesse site escrevi um completo Tratado sobre as leis de Deus, muito bem elaborado. Página 2, arquivo 119. Confira