sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Feições da Igreja latino-americana


“Que feições deveria assumir a Igreja de Cristo em nosso continente, para expressar adequadamente a fé cristã, fazendo-a produzir frutos de vida abundante para os povos latino-americanos?” Foi com esta indagação que o Bispo de Jales, SP, Dom Demétrio Valentini concluiu seu artigo intitulado “América Latina: Quo Vades”?, publicado ontem na ADITAL. A questão é importante e se mostra complexa, tendo em vista as realidades históricas da Igreja e da América Latina.

Particularmente, acredito muito na Igreja proclamada pelo Concílio Vaticano II e pela Conferência de Aparecida. É verdade que as conclusões de Aparecida atualizam os princípios do Vaticano II, por meio de um fiel espírito de continuidade. Assim sendo, o problema que se nos apresenta é a vivência do Vaticano II e das conclusões de Aparecida. Alguns Bispos e padres, após o Vaticano II, buscaram por em prática algumas resoluções. Um exemplo de Bispo foi Dom Hélder Pessoa Câmara, em Recife e Olinda, PE. Um exemplo de padre foi Pe. Josimo Tavares, em Imperatriz, MA. Estes homens incorporaram um jeito novo de ser Igreja. O primeiro não foi compreendido pela Cúria Vaticana e o segundo foi martirizado em nome de Jesus e pela causa de seu Reino.

Fazer uma revisão da caminhada e ter a coragem de assumir o novo jeito de ser Igreja vivido pelas Comunidades de Base sob a orientação do Vaticano II e de Aparecida, certamente, é fazer a Igreja avançar e muito em seu processo de conversão. A revisão feita em Aparecida foi suficiente. A Igreja sabe muito da realidade. O Papa a chamou de “perita em humanidades”. Pois bem, se o diagnóstico está feito, resta-se procurar sanar as “doenças” detectadas. Para sanar as “doenças eclesiásticas”, a Igreja precisa mudar de mentalidade. Infelizmente, ainda reina uma mentalidade arcaica, pensa-se ainda em viver a cristandade, já morta e sepultada.

Fazer uma releitura do Evangelho e do Cristo nele expresso, também é algo importantíssimo. O neopentecostalismo católico e protestante fabrica um Cristo que nada tem a ver com o verdadeiro Filho de Deus, Homem de Nazaré. Como bem ensina Jon Sobrino, precisamos ler Jesus a partir das vítimas da sociedade, pois o “Ressuscitado é o Crucificado”. Esta fidelidade e identidade com o verdadeiro Cristo levam a Igreja a estar onde Jesus se encontra nos dias de hoje. Só assim, seremos mais práticos e menos ritualistas. Jesus inaugurou o Reino e este está sendo esquecido no discurso religioso e na prática eclesial. Sem levar em consideração a existência do Reino de Deus na história, Jesus perde o sentido de sua existência, pois ele veio a este mundo em função do Reino de Deus e não para fazer milagres e mudar a vida das pessoas, como muitos pensam.

A formação de um clero missionário é urgentemente necessária. Na avaliação feita sobre o Documento de Aparecida, o teólogo J. Comblin disse que o Seminário e as Faculdades de Filosofia e Teologia não formam discípulos e missionários, mas professores. Se fecharmos os Seminários e as Faculdades é radicalismo, então, pelo menos, providenciemos uma Filosofia e uma Teologia que forme para a vida e para a vivência da espiritualidade missionária tão pregada atualmente na Igreja, do contrário, continuaremos nos iludindo, pensando que estamos evangelizando com nossas posturas de mestres e sábios do mistério divino.


Tiago de França

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