quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O mercado da fé


Desde que o homem institucionalizou a religião cristã, o mau uso das riquezas e do poder se tornou presente. Nenhuma Igreja pode afirmar que Jesus é o fundador da instituição religiosa, pois Jesus não fundou para si nem para os outros nenhuma instituição. A partir do Evangelho, Jesus aparece como aquele que, obedecendo à vontade de Deus, inaugurou neste mundo o Reino de Deus. Com isto, contou com a ajuda e a companhia de homens e mulheres dispostos a anunciar a Boa Notícia, que era o próprio Cristo. Seguramente, isto pode ser considerada uma verdade que não julga nem exclui ninguém.

As riquezas e o poder fazem parte da vida das instituições religiosas, as Igrejas. Foi sempre o mau uso das riquezas e do poder que corrompeu as relações institucionais religiosas e levou as Igrejas a traírem o projeto original de Jesus, a construção do Reino, ou seja, este foi esquecido para dar lugar às preocupações com as riquezas e com o poder. Em todas as Igrejas cristãs encontramos riquezas e poder. A partir de uma leitura histórica da religião cristã sabemos que a Igreja Católica, a primeira de todas, foi a que mais se destacou no que se refere às riquezas e ao poder. Hoje, as riquezas e o poder na Igreja Católica são menores, mas ainda são muito presentes. A infidelidade da Igreja Católica ao Evangelho de Jesus deve-se à posse das riquezas (bens materiais em excesso) e ao uso indevido do poder.

Estamos assistindo aos noticiários e estes nos informam que o bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus está sendo acusado e processado por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Particularmente, confesso que não fiquei surpreso com a notícia. As atividades comerciais desta Igreja já nos são conhecidas. O absurdo é tão grande, que tal notícia não escandaliza mais a ninguém, pois tal situação torna-se cada vez mais normal. É normal porque este não é só um crime da Igreja do bispo Macedo, mas de muitas Igrejas que estão surgindo. É preciso analisar bem para sabermos até que ponto podemos chamar tais estabelecimentos de Igrejas, para não cometermos injustiças contras as Igrejas tradicionais e conceituadas.

A Justiça acatou as denúncias da Promotoria Pública, resta-nos rezar para que tal crime seja realmente apurado, pois em nosso país, mulheres e homens ricos custam para ser realmente condenados. O patrimônio pessoal do bispo Macedo, segundo a Justiça, é de 2 bilhões de dólares, dificilmente um homem com tal riqueza vai parar atrás das grades! Certo dia, para ter certeza da situação e das denúncias, fui assistir a um culto na Igreja do bispo Macedo. O que vi e ouvi foi um verdadeiro absurdo! Absurdo que certamente podemos chamar de lavagem cerebral, um verdadeiro pecado contra a bondade e à misericórdia de Deus.

O Evangelho de Jesus é claro em ensinar que o despojamento, a simplicidade e a humildade devem fazer parte da vida dos pastores do povo de Deus. É verdade que o mesmo Evangelho vai dizer que “todo operário é digno de seu salário”, mas isto não significa acúmulo de riquezas. Os pastores do povo de Deus são chamados a imitar o Mestre Jesus e este “não tinha onde reclinar a cabeça”. Deixa de ser anúncio da Boa Nova toda evangelização que tem por finalidade arrecadar dinheiro. Jesus não chamou ninguém a isto. O pastor que pautar seu ministério na coleta do Dízimo pode ser chamado de mercenário, porque está visando o enriquecimento pessoal. Não podemos negar que em todas as Igrejas existe este mal.
É verdade que não podemos julgar a fé nem a religiosidade dos outros. Só Deus pode julgar e condenar. O nosso batismo nos confere o dom da profecia e no espírito profético somos chamados a denunciar as injustiças. As injustiças cometidas pelas Igrejas são inúmeras. Jesus criticou a religião de seu tempo e foi julgado e condenado por ela. Jesus expulsou do Templo os ladrões e exploradores do povo. Nós precisamos expulsar das nossas Igrejas os pastores ladrões e exploradores. Quem são eles? Onde estão? Como agem? É preciso retomar o Evangelho de Jesus para descobrirmos os falsos pastores e os falsos profetas de nosso tempo. Eles não são poucos e possuem duas características principais: gostam de lugares públicos, para serem vistos e cumprimentados pelos homens e têm um bom discurso, abusam do uso da palavra para convencer e arrebanhar multidões. Quanto mais gente, maior será a arrecadação do Dízimo e das ofertas, que são coletadas para o templo e para Deus!

Neste mês vocacional, em que a Igreja celebra e reflete sobre todas as vocações, especialmente à dos pastores (vocações específicas), e também neste Ano Sacerdotal proposto pelo Bispo de Roma, somos chamados a pensar na realidade dos pastores de nossa Igreja. Certamente, há mercenários entre eles e não são difíceis de ser encontrados e reconhecidos. Repito uma questão colocada por muitos teólogos há anos: precisamos repensar o modelo de presbítero na Igreja. Nossos jovens não se sentem motivados para abraçar o ministério ordenado. Será problema somente dos jovens, que não querem nada com a vida? Penso que não. E aqueles que já procuram responder à vocação de presbítero nas Casas de Formação, também são convidados a pensar: Por que quero ser padre? O que me motiva a ser padre? O padre está em função de que ou de quem?... Precisamos, quer como rebanho, quer como pastores, nos libertar cada vez mais das riquezas e do poder, pois estes podem nos desviar do caminho de Jesus. Neste mundo material e como seres humanos que somos chamados a ser, somente o necessário à manutenção da vida é que nos basta, pois o supérfluo nos atrapalha e nos torna operários infiéis na vinha do Senhor.

Tiago de França

3 comentários:

Deborah Macêdo disse...

"Nenhuma Igreja pode afirmar que Jesus é o fundador da instituição religiosa"...

Perdão por descordar, mas não é o que disseram todos os Papas da história... gostaria de algum embasamento nesta afirmação.

No mais, indico humildemente a leitura da CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA
LUMEN GENTIUM: http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19641121_lumen-gentium_po.html


desta destaco "E os Apóstolos, pregando por toda a parte o Evangelho (cfr. Mc. 16,20), recebido pelos ouvintes graças à acção do Espírito Santo, reunem a Igreja universal que o Senhor fundou sobre os Apóstolos e levantou sobre o bem-aventurado Pedro seu chefe, sendo Jesus Cristo a suma pedra angular (cfr. Apoc. 21,14; Mt. 16,18; Ef. 2,20) (39)."

Espero ter contribuido.

Tiago de França disse...

O importante é o que o Evangelho diz. A Igreja tem suas contradições teológicas, ideológicas e institucionais. Onde está no Evangelho que Jesus fundou instituição neste mundo?...

Abraços!

gugu disse...

bom ..
simples e "radicalmente"acho que capitalismo é dinheiro
dinheiro é um dos sete pecados capitais
um dos pequenos "demonios' QUE NOS DOMINA
me diga uma religuão q não peça dinheiro
dinheiro nos escravisa(não adianta negar)
jesus não precisava dele
não pregava em belos templos
pregava ao ar livre
não existia a palavra dinheiro
somos escravos dele
para nos alimentar e cuidar da suade de nos e dos nossos entes queridos devemos servir a ele
pense ..
o que jesus acharia disso?
nacemos no pecado e somos obrigados a fazer parte dele
e agora ?
a reposta é tão simples..