terça-feira, 4 de agosto de 2009

Partilhar o pão



O texto do Evangelho proposto pela liturgia do 18º Domingo Comum (Jo 6, 24 – 35), domingo passado, fala da partilha do pão. Jesus se coloca como o Pão da Vida descido do céu. É o próprio Jesus que se torna alimento na caminhada de fé. Nas espécies do pão e do vinho, quis Jesus se fazer presente na vida da comunidade. Como compreender Jesus presente no pão e no vinho? O que a Eucaristia significa para o seguidor de Jesus?

A mesa é o lugar do encontro e da partilha. Quando estamos em torno da mesa, não só nos alimentamos, mas também participamos da vida das pessoas que se fazem presente. Quando somos convidados para almoçar ou jantar na casa de alguém, é porque este alguém deseja a nossa presença em sua mesa e em sua vida, portanto partilhar o pão é partilhar da vida da pessoa. O mesmo se dá em nossa participação na Eucaristia. Quando vamos ao encontro das espécies sagradas, estamos querendo participar da vida Daquele que vamos receber, ou seja, participamos da vida de Jesus na vida de nosso semelhante e na vida do mundo, quando comungamos a Eucaristia.

Eucaristia é comum-união. Ao recebê-la estamos nos comprometendo em vivermos em comum, partilhando do que temos e do que somos. A unidade também se torna meta daqueles que comungam. É para fortalecermos a nossa união que comungamos, pois Jesus nos faz irmãos em seu precioso Corpo e Sangue. Esta maneira de pensar denuncia a participação mecânica no sacramento eucarístico. E esta mecanicidade é um mal que afeta a vida da Igreja. Os que não querem participar da vida de Jesus, descomprometendo-se com seu projeto, mas que insistem em comungá-lo na Eucaristia terminam por colaborar no fortalecimento de uma Igreja descomprometida com a realidade e longe do convívio social.

Quando mais intensificarmos no mais íntimo de nossa consciência e do nosso ser, o verdadeiro sentido da Eucaristia na vida cristã e eclesial, mais colaboramos na construção do Reino de Deus, pois tal sentido denuncia o individualismo e a fome no mundo atual. Tomados pelo consumismo exacerbado e pelo individualismo doentio somos cada vez mais impelidos a não partilharmos daquilo que temos e somos. O encontro com a Palavra e com os gestos de Jesus desperta-nos para a partilha. O Cristianismo é a religião do pão. Na mesa, no momento da refeição, Jesus é reconhecido na comunidade.

A Igreja de nossos dias precisa pensar nesta realidade, pois enquanto celebramos a Eucaristia, enquanto milhões de pessoas comungam em nossas liturgias em todo o mundo, neste mesmo mundo padecem milhões de pessoas de fome todos os dias. O faminto está na África e em nossa rua. O que podemos fazer? De quem é a culpa? Qual é a solução? Certamente sabemos que a nossa responsabilidade na fome que tira a vida de muitos é significativa, façamos, pois, alguma coisa. Precisamos apelar para a consciência mágica e ingênua de muitos cristãos que só aceitam encontrar Jesus na Eucaristia, zelado pela patena, pelo cálice, e pelas âmbulas de prata e ouro, mas que se recusam a encontrá-lo na partilha com o maltrapilho que padece de fome. Peçamos perdão a Deus pela nossa acomodação diante de tal sofrimento e agradeçamos pelos gestos concretos que já se manifestam em nossas comunidades.

Tiago de França

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