domingo, 22 de novembro de 2009

Cristo, rei do universo?


“Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade.
Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz”
(Jo 18, 37).

O ano litúrgico na Igreja termina com a Solenidade de Cristo rei do Universo. Esta solenidade foi instituída pelo Papa Pio XI no ano de 1925. Esta Solenidade se parece muito com o Papa que a criou, pois foi Pio XI que assinou junto ao fascista Mussolini o Tratado de Latrão, que criou o Estado do Vaticano, em 1929. Pio XI se tornou o primeiro Chefe do Estado do Vaticano. Ele era um Papa muito preocupado com os interesses políticos da Igreja e tinha uma visão política da pessoa de Jesus, ou seja, segundo ele, Jesus deveria reinar sobre todos os reinos deste mundo e sendo o Papa o Pontífice e Soberano, detentor do poder espiritual, que supera todos os poderes temporais deste mundo. Em outras palavras, com tal Solenidade o Papa pretendia dizer ao mundo que todos deveriam escutar a Igreja, pois ela foi fundada pelo Rei do Universo. Por isso que a pretensão “fora da Igreja não há salvação” se disseminou facilmente no seio da Igreja com o documento Christus dominus, decreto publicado no pontificado de Paulo VI. Esta é uma visão breve do sentido histórico da Solenidade.

O novo dicionário Aurélio apresenta as seguintes informações sobre a palavra rei: 1. Soberano que rege ou governa um Estado monárquico; 2. Em certos casos, título do marido da rainha; 3. Indivíduo que se distingue entre outros; 4. Aquele que detém poder absoluto. Jesus não se encaixa em nenhum destes significados. A história do reinado de Herodes e dos reis romanos retrata algumas características dos reis: opressores, mentirosos, assassinos etc. Na categoria de opressor se encontra o explorador, o tirano, o manipulador etc. Tudo isto se resume num sistema em que o povo não é livre e plenamente explorado. Quem se opor à vontade do rei é perseguido e assassinado. Todos os membros do reino são súditos do rei. Ele é o senhor. E com o desenrolar da história o rei é coroado pelo Papa em nome de Deus. Diante destas informações, perguntamos: Jesus foi mesmo rei? Estamos certos de que Jesus não tinha nenhuma das características do perfil de rei acima mencionadas.

Jesus não nasceu na corte imperial, mas numa manjedoura de Belém, terra de Judá. O rei é um homem rico e dominador, Jesus nasceu pobre, viveu pobre e morreu pobre, não tinha poder sobre ninguém. Jesus era livre em relação a todos e todos eram livres em relação a Jesus. A autoridade imperial era lembrada constantemente e temida por todos, Jesus não tinha, humanamente falando, autoridade nenhuma. Não podia nada. Jesus nunca se autoproclamou rei dos judeus, nem se impôs como Deus. Alguns pensavam que ele iria reinar neste mundo, tomando o poder de Herodes, mas sua entrega na cruz disse e mostrou o oposto. Jesus foi respeitado pela Boa Notícia que pregou e pelos milagres que fez. Os judeus não o aceitaram como o Messias prometido, nem como Salvador. Não aceitaram Jesus como Filho de Deus, é o que João diz no prólogo de seu evangelho (cf. Jo 1, 11). Nestas condições, pode-se afirmar que Jesus era rei?

Creio profundamente que Jesus até hoje continua sem ser compreendido. Colocaram na cabeça de Jesus uma coroa de ouro, sendo que a sua verdadeira coroa foi de espinhos. Certo dia, entrei na sacristia da Basílica Menor de Nossa Senhora das Dores, em Juazeiro do Norte – CE, e vi uma imagem do Cristo rei. Confesso que fiquei escandalizado e pensei imediatamente: “Meu Deus, tiraram as insígnias de Herodes e colocaram em Jesus”. Uma verdadeira deformação da pessoa de Jesus. Precisamos alimentar em nós o Cristo da manjedoura e da cruz. Como diz o teólogo jesuíta Jon Sobrino: “O Ressuscitado é o crucificado”. A partir do que Jesus fez, entenderam que ele queria ser o rei dos judeus e o acusaram disso. Na crucificação, acima de sua cabeça está escrito: “Jesus Nazareno, rei dos judeus”. Os doutores da lei e fariseus, diante do Sinédrio acusaram Jesus de ameaçar o poder de Herodes. De fato, a postura política de Jesus ameaçou qualquer poder opressor, pois ele denunciou as injustiças contra os pobres, mas a acusação tinha o tom de dominação, ou seja, eles acusaram Jesus de querer tomar o poder de Herodes.

É verdade que Jesus fala do Reino de Deus. De fato, ele o inaugurou, mas Jesus ainda não reinou neste mundo. Como poderia Jesus está reinando neste mundo se o mundo está desse jeito, repleto de males? Cremos na construção do Reino de Deus e na volta definitiva de Jesus. Aí, sim, ele reinará, pois haverá novo céu e nova terra, onde a justiça e o amor prevalecerão. Os homens reinam e governam tendo em vista seus interesses particulares. Jesus reinará na justiça, na verdade e no amor (cf. Is 11, 1 – 9). Ele diz a Pilatos o que veio fazer neste mundo: “dar testemunho da verdade”. Enquanto eles estavam preocupados com o poder, Jesus pensava na verdade. Em outro trecho do mesmo evangelista está escrito: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8, 32). É a verdade que precisa reinar, pois libertos da mentira e da confusão construímos um mundo melhor. A realidade de nosso mundo mostra que a mentira e a falsidade fazem parte das relações entre os homens, enquanto seguidores de Jesus somos chamados a viver na verdade. Não há seguimento de Jesus fora da verdade, pois esta identifica o autêntico cristão.


Tiago de França

Um comentário:

Anônimo disse...

Na minha opinião seu pensamento esta errado. Ele é o Rei do Universo,e nasceu e viveu desta forma para mostrar sua HUMILDADE. Seu reino da paz ensina a verdade, como você disse,ele não possui objetos para demonstrar sua riqueza, mas sim poder espiritual. Ele veio sim ao mundo,pois se ele não tivesse vindo estaríamos queimando no fogo do inferno hoje. Os sofrimentos e dores que o homem passa é causado pelo próprio homem em tormento do mal,ou muitas vezes sao aprovações necessárias em nossa vida.