segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A conversão de São Paulo, nossa conversão e a Congregação da Missão


Queridos irmãos e irmãs do MCC – Fortaleza,

Tendo em vista o dia em que a Igreja celebra a conversão do Apóstolo Paulo, resolvo vos dirigir brevemente algumas palavras. Vocês sempre fazem parte de minhas orações e de meus cuidados espirituais. Ultimamente, tenho me preocupado com a vossa atual situação, que a meu ver, é muito privilegiada.

A exemplo de São Paulo, não quero vos dirigir um discurso, nem um artigo científico sobre este grande Apóstolo da Igreja, mas escrever-lhe uma palavra inspirada no testemunho daquele que de perseguidor tornou-se discípulo e missionário do Caminho. É uma carta fraterna. Uma palavra amiga para amigos.

Irmãos e irmãs, Saulo de Tarso encontrou-se com Jesus. Trata-se de um encontro que mudou plenamente sua vida. A partir deste encontro, Saulo torna-se Paulo, missionário dos gentios. Encontrou-se com Jesus no caminho de Damasco. Poderia ser numa igreja, durante uma oração fervorosa; poderia ser um encontro de Jesus com um servo justo e fiel à lei; mas o pensar e o momento divinos são diferentes dos nossos.

Jesus escolheu um perseguidor ferrenho, um sujeito formado na lei dos homens e obediente às ordens imperiais. Jesus escolheu e chamou um funcionário do sistema opressor. Como entender isso, irmãos e irmãs? Como fazer uma leitura fiel deste santo momento e desta santa escolha. O que seria do Cristianismo se não fosse a espiritualidade missionária e o ardor apostólico de Paulo de Tarso?...

Enumeremos, humildemente, com o devido cuidado para não trairmos a Palavra e a revelação divinas, algumas lições desta famosa e histórica conversão. Primeiro, é preciso aceitar que não há pessoa perfeita. Nós exigimos que as pessoas sejam perfeitas. Isto não é um mal, antes, demonstra que estamos preocupados com a nossa conversão, que queremos que a vida e as coisas da vida sejam perfeitas, assim como as pessoas que vivem a vida.

Tenho repetido, sem medo de ser feliz, que não somos perfeitos. Isto parece não ser novidade para ninguém, mas precisamos assimilar melhor o verdadeiro sentido desta verdade. A nossa condição humana nos faz aprender com a vida o sentido do chamado de Deus, ou seja, nós entendemos o chamado divino a partir de nossa condição de seres humanos. Apesar de todo esforço, de toda luta e de toda busca incessante da perfeição, a nossa condição permanece.

Segundo, a fé que professamos em Jesus não nos livra de nossa condição. Por isso, quem quiser seguir Jesus pensando que vai se tornar perfeito neste mundo engana-se profundamente. Os santos e santas da Igreja sempre se reconheceram mais próximos de Deus quando mais reconheceram suas próprias limitações. Quando Jesus chamou os Doze e também São Paulo, que foi Apóstolo sem fazer parte do grupo dos Doze, ele conhecia muito bem aqueles aos quais estava chamando.

As mulheres e homens da Igreja de hoje precisam contemplar e meditar esta desafiadora verdade: Jesus chama os pecadores. Penso de imediato, diante das inúmeras falhas da Igreja que se revelam nos inúmeros pecados de seus pastores: “Deus, de fato, chama os pecadores”. É verdade que muitos de nossos pecados podem e devem ser evitados e/ou corrigidos, mas na falta de correção e conversão também se revela a nossa condição.

Terceiro, saber viver a condição humana no seguimento de Jesus é o grande ensinamento do Apóstolo Paulo. Ele viveu a missão de Jesus de forma humanamente bela e sublime tornando-se um dos maiores exemplos de cristão. Paulo nos ensina que para seguir Jesus não podemos, de maneira alguma, renunciar a nossa condição humana, afinal de contas, isto nos é impossível. Digo isto para aqueles iludidos, que vivem a ensinar para si e para os outros a necessidade de se fugir de si e do mundo como exigência do seguimento de Jesus. Paulo ensina-nos que isto é ilusão e alienação. Infelizmente, tem muita gente se iludindo na vida e perdendo tempo com renúncias fúteis e antievangélicas.

A Igreja deve aprender a ser itinerante como Paulo. A itinerância constitui a espiritualidade missionária. É impossível ser missionário a partir do gabinete. Este está para os executivos, para os administradores, para os doutores e magistrados. O lugar de Paulo era o lugar de Jesus: na beira do caminho e no meio dos pobres. O exercício do poder e a aquisição de prestígio não se dão nos lugares de Paulo e de Jesus, pois se tratam dos últimos lugares da sociedade. A pergunta que surge nos desafia: Quem neste mundo deseja ocupar estes últimos lugares?...

No dia 25 de janeiro de 1625, São Vicente de Paulo (França, 1581 – 1660) pregou o primeiro sermão da Missão e no dia 17 de abril do mesmo ano fundou a Congregação da Missão. Quando resolveu fundar tal instituição o santo pensou na triste situação dos pobres de seu tempo e dos tempos vindouros. Evangelizare pauperibus misit me, este é o versículo do texto evangélico de Lucas que o inspirou. São Vicente de Paulo dizia que o santo ofício do Filho de Deus neste mundo foi a evangelização dos pobres. A missão dos Padres da Missão é a mesma missão de Jesus Cristo, ou seja, na evangelização dos pobres somos chamados a participar da missão de Jesus Cristo. Aqui está a centralidade do carisma da Congregação da Missão.

Os Lazaristas, como são conhecidos os Padres e Irmãos da Congregação da Missão, sabem muito bem que os pobres estão no centro de nosso carisma. Com isto não negamos que o Cristo é o centro da vida e da espiritualidade cristãs, mas cremos que Jesus se faz presente na vida dos pobres. Por isso, sem os pobres não há missão, nem seguimento de Jesus. São Vicente de Paulo disse: “Os pobres são nossos mestres e senhores”. O que isto quer dizer? Quer dizer que aprendemos a seguir Jesus com e a partir dos pobres. Compreendemos a missão de Jesus a partir dos pobres. Eles nos mostram Jesus e nos evangelizam.

Irmãos e irmãs, para finalizar esta minha reflexão, rogo ao Deus da vida que nos ensine a lidar com a nossa condição humana, a fim de que possamos nos acolher e nos perdoar mutuamente como pecadores e seguidores de Jesus. Nunca se esqueçam da verdade que nos salva: a caridade. Somente esta é que verdadeiramente nos salva.

Com meu afetuoso abraço e votos de saúde em paz em Cristo Jesus,


Tiago de França

Obs.: Reflexão enviada ao MCC - Movimento de Cursilho da Cristandade de Fortaleza, CE.

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