sábado, 23 de janeiro de 2010

Evangelizar os pobres


Jesus veio ao mundo para evangelizar os pobres. Eis a chave central de leitura do texto evangélico deste 3º Domingo do Tempo Comum (Lc 1, 1 – 4; 4, 14 – 21). Aqueles que se opõem à opção preferencial pelos pobres feita em Medellín (1968), certamente não concordam com a verdade de que Jesus veio evangelizar os pobres, apesar de não ser uma idéia ou descoberta de Bispos da Igreja, mas plena constatação e verdade evangélicas. Qual o sentido da opção preferencial pelos pobres? Optar significa escolher. Optar pelos pobres é escolhê-los. Na multidão de gente que habita o mundo, a opção da Igreja deve ser pelos pobres. Mas por que optar pelos pobres? Porque esta também foi a opção de Jesus. Por isso, é preciso que se opte pelos pobres a exemplo de Jesus, ou seja, optar como Jesus optou.

Optar a exemplo de Jesus, eis o desafio. Trata-se de imitar Jesus de Nazaré? Não. Ninguém consegue viver como Jesus. Ele era, é e sempre será Deus. Quem como Deus?! Ninguém. A missão cristã não é imitar Jesus, mas segui-lo. Imitar é muito diferente de seguir. Quem quer imitar é porque quer ser igual e isto seria muito pretensioso. No seguimento de Jesus aprendemos com ele a viver a opção que ele fez. Não se aprende a viver a opção pelos pobres nas cadeiras das universidades, mas na escuta atenta do Evangelho de Jesus. Aquele que nos chama é quem nos ensina a segui-lo. Ele nos confere todas as condições e aptidões possíveis para segui-lo. Fala-se, descartando o Evangelho, de imitação de Cristo, mas o próprio Cristo não nos chamou a isto. A nossa missão é de continuadores, de discípulos e missionários de Jesus. A missão de segui-lo na opção pelos pobres consiste na exigência radical da mensagem evangélica. Quem crer no Evangelho, palavra e vida de Jesus, não pode ser excluído, nem fugir de tal exigência.

A partir de uma leitura atenta e orante do texto evangélico veremos que foi muito difícil para Jesus viver, humanamente, a opção pelos pobres. O custo por tal opção foi sua própria vida, ou seja, foi crucificado por causa da opção pelos pobres. Assim sendo, tal opção compromete a vida de quem a faz. Trata-se de um compromisso que leva à morte. A vida de Jesus e dos mártires posteriores à sua morte falam bem deste risco mortal. Recentemente, aqui no Brasil, temos a Dra. Zilda Arns, que é um exemplo claro disso. Ela poderia morrer bem idosa, tranquilamente em sua casa, atendendo aos seus ricos pacientes em um ótimo consultório, ganhando muito dinheiro e honrarias, mas resolveu optar pelos pobres. Ela morreu por causa de tal opção, morreu em missão em um dos países mais pobres do mundo. Isto é seguimento de Jesus. Seguimento que se dá na vida cotidiana, sem complicações teóricas.

Recentemente, aproveitando o tempo das férias, resolvi fazer uma visita ao túmulo e à residência onde morou Dom Hélder Câmara (1909 – 1999). Confesso ao leitor que fiquei profundamente emocionado diante da humildade e da simplicidade deste Bispo, pois o vi na sua residência. Não o vi em pessoa, mas na simplicidade de sua casa. No momento em que adentrei na sala onde ele recebia os pobres me veio o seguinte pensamento: “Meu Deus, como pode um Bispo ter morado num lugar desses?!” A casa de Dom Hélder revela a sua opção de vida. Ali compreendi que antes de fazer parte do estado clerical na Igreja precisamos fazer parte da pobreza de Jesus. Não é uma pobreza que é sinônimo de miséria e abandono, mas de uma pobreza material que é sinal de humildade, despojamento e simplicidade de vida.

Na medida em que ia fotografando o ambiente me vinha também outro pensamento: “Meu Deus, este homem não precisa ‘fazer’ milagres para ser elevado à categoria dos santos nos altares da Igreja”. A santidade de Dom Hélder Câmara vivida na opção preferencial pelos pobres foi um milagre de Deus. A virtude heróica por excelência da vida deste grande homem está no fato de ter alcançado o terceiro grau da Ordem e ter vivido pobremente entre os pobres. A história da Igreja demonstra muito bem que isto foi extraordinário. Dom Hélder Câmara não teve a graça de viver o derramamento de sangue por amor a Jesus Cristo, mas a sua vida foi uma constante doação na construção do Reino de Deus.

A força do Espírito Santo que levou Jesus à Nazaré, para o meio dos seus, é o mesmo Espírito que impulsionou Zilda Arns e Hélder Câmara no seguimento de Jesus. Este Espírito nos faz adentrar no mistério divino da redenção da humanidade e nos faz co-redentores com Jesus. A nossa participação na redenção cristã é algo que transcende a nossa condição, mas que se dá em nossa condição humana. Não se trata de saída de si como negação do ser, mas de um encontro de si que se dá no encontro com o outro. Zilda e Hélder encontraram o sentido de suas vidas no Cristo que está nos pobres. Isto significa que toda pessoa que aceitar o desafio e assumir a mensagem evangélica na vida terá que viver este constante espírito de doação, pois fora desta não há seguimento de Jesus e, conseqüentemente, não há missão. A força do Espírito que impeliu Jesus à doação da própria vida nos liberta da covardia e do medo que nos prendem, nos escravizam e nos alienam.

Estamos no Ano Sacerdotal, proclamado pelo Papa Bento XVI no dia 19 de junho de 2009, por ocasião do 150º aniversário do nascimento de São João Maria Vianney, o santo CURA D’ARS. O que a opção preferencial pelos pobres fala para o clero da Igreja? A resposta é desafiadora. Certamente, em outra oportunidade, escreverei a respeito, mas posso, brevemente, afirmar que muitos Bispos e Padres fizeram e ainda fazem tal opção. Negar isto é ir contra a verdade. O ministério presbiteral não impede viver a opção preferencial pelos pobres. Tal ministério confere ao homem (pois a mulher não pode ser ordenada) certo poder e prestígio. Se o homem se deixar levar pelo poder e pelo prestígio, a partir do Evangelho podemos dizer que tal ministro não se encontra no seguimento de Jesus, porque não optou pelos pobres. A opção preferencial pelos pobres obriga o padre e o bispo a se despojarem do poder e do prestígio. Jesus se manteve longe do poder, pois, humanamente não tinha poder para nada. Jesus ficou famoso por causa de sua opção pelos pobres, pois tal opção até hoje causa admiração e respeito. Quem não admira e respeita seguidores de Jesus como Hélder Câmara e Zilda Arns?... Entraram para a história por causa da caridade cristã.

Que o Espírito nos torne dóceis às necessidades de nossos irmãos e irmãs que sofrem e nos faça missionários de Jesus na humildade, na simplicidade e no despojamento, pois estes valores constituem o seguidor de Jesus na opção preferencial pelos pobres.


Tiago de França

Um comentário:

Anônimo disse...

Discordo plenamente, pois Evangelizar os pobres significa deixar de ser pobres, pois pobreza não é Criação de Deus, e sim falta de Deus! Deus é infinitamente Rico, e Ama seus filhos e quer vê-los bem providos de tudo !!