sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

A violência e a paz


No dia 1° passado aconteceu em Colônia Leopoldina, Alagoas, após a Missa da Solenidade da Virgem Maria, Mãe de Deus, uma caminhada pela paz. A Paróquia de Nossa Senhora do Carmo, preocupada com a situação violenta da cidade, resolveu promover tal caminhada. O objetivo era chamar a atenção da população para o problema da violência. A participação do povo foi pequena, mas todos estavam entusiasmados e conscientes da necessidade de gritar pela paz nas ruas da pequena cidade. Ao longo da caminhada, o autor da presente reflexão assumiu a responsabilidade de animar e denunciar alguns casos de violência ocorridos ultimamente no município.

Recentemente, tem ocorrido no município alguns crimes contra pessoas, que ora são inocentes, ora estão envolvidas com as drogas. São crimes contra pessoas pobres e oriundas de famílias pobres, que ficam arquivados nos gabinetes dos agentes da Justiça. Tais crimes são facilmente “esquecidos” e tudo “fica por isso mesmo”. Sabemos que a justiça brasileira tem dificuldade de fazer justiça aos pobres e marginalizados e em Colônia Leopoldina não é diferente. Diante da tal situação, aqueles que se envolvem no mundo do crime têm facilidade de cometer as mais bárbaras atrocidades porque sabem que a Justiça não funciona.

Durante a caminhada denunciamos alguns tipos de violência que molestam a vida da população local, a saber:

- violência contra a mulher (homens que espancam suas mulheres);
- violência contra crianças;
- violência contra os embriagados nas ruas;
- violência sexual (pedofilia e prostituição infantil);
- violência contra os idosos;
- violência das armas (assassinatos de todo tipo);
- violência contra a juventude (ocasionada pelo uso das drogas, dentre elas, o álcool).

No desenrolar da caminhada fiz questão de explicar, brevemente, cada tipo de violência, citando os casos sobre os quais obtive informações. Na localidade Vila Nova fomos agredidos a pedradas por pessoas incomodadas com as denúncias, mas ninguém ficou ferido. A participação das pessoas, a reação das que observavam e a realidade da cidade revelam alguns aspectos que merecem ser mencionados, a saber:

- percebe-se um clima de medo na cidade. Há certa cultura do medo. As pessoas enxergam a realidade, mas se negam a corresponder. Quando abordamos as pessoas, logo respondem que nada vêem e nada sabem. Elas revelam certa falta de compromisso com a verdade dos fatos. Elas têm medo da verdade e tal medo revela escravidão e alienação. As pessoas ficam imobilizadas diante da violência porque não têm coragem de denunciar;

- a situação de violência revela que a instituição familiar está totalmente desestruturada. É verdade que não podemos generalizar, pois temos, ainda, muitas famílias que se esforçam e conseguem sobreviver à crise dos autênticos valores familiares. Famílias desestruturadas são altamente prejudiciais à sociedade, pois geram pessoas problemáticas e descomprometidas com a construção de um mundo melhor. Atualmente, a crise familiar põe em risco a construção de relações sociais sadias e a paz mundial, pois as pessoas se recusam a formar verdadeiras famílias e se conformam em viver meramente juntas, partilhando espaço e pouco ou nenhum compromisso com o amor;

- o desemprego acentuado é outro fator que interfere negativamente na vida da população, principalmente na vida da juventude. Jovens que vivem na ociosidade são um risco para a sociedade, pois a permissividade se faz presente na vida daqueles que nada fazem. Tal permissividade se revela nos atos ou ações que diminuem ou agridem a dignidade dos jovens. A Escola, as Igrejas, a Família e o Poder Público têm a obrigação de ajudar os jovens a descobrirem sua dignidade e construírem o futuro. Sem tal compromisso torna-se impossível a transformação da atual situação, que se apresenta de maneira grave e absurda;

- outro fator que se revela é a falta de políticas públicas para a juventude. Percebe-se que a cidade vive estagnada na mesmice e na rotina que não constrói nem provoca o verdadeiro desenvolvimento humano. A realidade da cidade não apresenta novidades e são justamente as novidades e as novas experiências de construção da personalidade que ajudam os jovens a se desenvolverem como sujeitos da própria história. Há certo pessimismo cada vez crescente que paralisa os jovens e os impede de lutar por um futuro melhor.

Os comentários revelam que a caminhada mexeu com a consciência de alguns. É uma pena que as autoridades dos poderes legislativo, executivo e judiciário não estavam presentes. Penso que tais autoridades precisam escutar mais a realidade a partir daquilo que está acontecendo. O distanciamento e a falta de diálogo entre a sociedade civil e os citados poderes estabelecidos impossibilitam a construção de uma sociedade verdadeiramente democrática e participativa.

Infelizmente, esta é uma realidade nacional, pois a condução do país se dá sem a devida escuta e participação da população, ou seja, o povo não participa das decisões dos poderes legitimamente estabelecidos e isto tem se mostrado bastante prejudicial. É verdade que de uns tempos para cá o Governo tem aberto vários canais de interatividade entre governo e sociedade, mas a legítima participação ainda é negada pelo jogo de interesses de pessoas e de grupos políticos e organizações descomprometidas com o bem comum.

Espero que a caminhada pela paz tenha despertado a população para a necessidade da vivência da justiça para a construção da paz. Confio na palavra da Eclesiastes que diz: “Para tudo tem o seu tempo debaixo do sol”, assim sendo, “irá chegar um novo dia, um novo céu, uma nova terra, um novo mar. E neste dia, os oprimidos, numa só voz a liberdade irão cantar”. Que o Espírito de Deus nos faça construtores da justiça e da paz a partir da realidade em que vivemos.


Tiago de França

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