quarta-feira, 12 de maio de 2010

Dilma Rousseff, José Serra e Marina Silva


Neste ano, os brasileiros irão às urnas para escolher seu novo Presidente, novos senadores, deputados e governadores. Para ocupar a cadeira da Presidência da República temos três pré-candidaturas que marcam o cenário político atual. Desta vez, temos duas mulheres concorrendo: Dilma Rousseff, que é a candidata do Presidente Luís Inácio Lula da Silva e Marina Silva, ex-petista e candidata do Partido Verde. O candidato do PSDB e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é José Serra. Analisemos os vínculos e vejamos que eles nos dizem muitas coisas.

Comecemos pela candidata Dilma Rousseff. Esta não foi escolhida pelo Partido dos Trabalhadores, mas pelo Presidente Lula. Este encontrou nela uma mulher digna de sua confiança para dar continuidade ao trabalho realizado nos seus dois mandatos. Tecnicamente, por meio de uma economia estável, a candidata, que foi Ministra Chefe da Casa Civil, já deu claras provas do que é capaz. Juntamente com Henrique Meireles e Guido Mantega, Dilma Rousseff salvou o Governo Lula durante a crise financeira que se abateu no mundo. Não restam dúvidas de que o Brasil saiu vitorioso da crise.

A história política da candidata é marcada pela repressão vivida na ditadura militar. Isto mostra que o Presidente está confiando numa militante, que a oposição taxa de guerrilheira. Ela é desprovida do carisma político do Presidente Lula, não somente ela, mas todos os membros do Partido dos Trabalhadores, assim como todos os políticos do atual cenário mundial, pois é sabido de todos que o Presidente Lula é um dos poucos políticos mais carismáticos da história do Brasil e do mundo. Instituições e governos internacionais reconhecem isto por meio de elogios e honras prestadas ao mesmo ao logo de seus oito anos de Governo.

José Serra é o candidato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Homem culto e de vocação política destacou-se como Ministro da Saúde no Governo FHC. Historicamente, também é fruto das lutas contra a ditadura, mas sem muita veemência como os que pertenciam às classes populares. É preciso recordar que as origens de José Serra são muito diferentes da do Presidente Lula, pois o primeiro sempre foi de classe média e formado médico, enquanto o segundo foi um operário que, “pela primeira vez na história deste país” chegou à Presidência da República. Até hoje, tucanos (PSDB) e democratas (DEM), assim como boa parte dos inimigos das lutas de classe não aceitam tal fato histórico. Aquele que foi considerado comunista e que iria acabar com o país, acusado de que não saberia governar, terminar seu Governo com alto percentual de aprovação por parte da nação, apesar dos escândalos de corrupção política.

Assim como Dilma Rousseff, escolhida pelo Presidente Lula, se eleita será uma fiel continuadora da política de governo do operário que se tornou Presidente, a mesma coisa se pode dizer de José Serra, caso seja eleito Presidente. Pode-se dizer com todas as letras: José Serra será, se eleito, um fiel continuador da política de governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Destaquemos dois aspectos de cada governo, a fim de que o leitor reflita sobre ambos os candidatos. São vários os fatores que marcaram os governos FHC e Lula, que alguns analistas políticos meio que partidaristas não gostam de fazer as devidas comparações. Estas são necessárias porque revelam o que cada um fez. Como se pode saber se o país avançou se não se comparar com o passado político e histórico? A história continua e tal continuação decorre do passado. O hoje existe em decorrência do ontem e muitas coisas que são feitas hoje não o foram ontem.

Os dois mandatos do Presidente Fernando Henrique Cardoso podem ser lembrados por duas fortes ações governamentais que marcaram a vida do povo brasileiro: as privatizações e as perseguições aos movimentos sociais. É sabido de todos e ninguém pode se esquecer da maior e mais vergonhosa privatização realizada pelo Governo FHC: a da Vale do Rio doce, empresa estatal vendida a preço de banana à iniciativa privada. O valor negociado não ajudou em nada na economia do país, pois FHC terminou seu governo deixando o país endividado com o Fundo Monetário Internacional. O Governo Lula pagou a dívida e emprestou dinheiro ao mesmo Fundo.

As privatizações estagnaram o Brasil. Tal estagnação se refletiu na falta de crescimento econômico e no aumento da dívida externa. Os pequenos investimentos (negócios) feitos pelos pequenos produtores e pobres não davam certo, pois a economia era praticamente controlada pelas multinacionais, que sempre encontraram as portas do Brasil escancaradas para exploração indevida, principalmente, exploração dos recursos naturais. O dólar controlava o preço das mercadorias e tirava o sono dos pequenos investidores. Hoje, apesar das dificuldades, percebe-se que há uma política de incentivos de toda ordem para o crescimento econômico, e os pequenos produtores também passaram a ser protagonistas da história da economia brasileira. Muitos pobres tiveram a oportunidade de abrir pequenos negócios e de lutar por sua própria dignidade.

As perseguições aos movimentos sociais foi outra página sangrenta da história do país, que depois da ditadura voltou a ser bem escrita pelo Governo FHC. O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra estão aí para mostrar o saldo de vítimas brutalmente assassinadas. É notório que a Justiça, principalmente a Justiça Federal, assistia cegamente a tais crimes. A luta do MST sempre foi perseguida pelos grandes latifundiários, boa parte constituída por políticos e empresários aliados e demonizada pela mídia aliada do Governo.

É sabido de todos que tais conflitos não cessaram, mas diminuíram e muito com a posse do Presidente Lula, que deu maior abertura, mesmo sem ter feito a Reforma Agrária. A participação do povo brasileiro nas decisões políticas do país no Governo FHC foi quase que inexistente. O povo não era consultado para nada. Em matéria de Justiça, ricos e criminosos de colarinho branco não iam parar na cadeia. Depois do Presidente Lula isso, aos poucos, começou a acontecer. Hoje, as intervenções por parte do Executivo nas ações judiciais e processuais são menores.

São dois os aspectos que marcam o Governo Lula na história política do país: o crescimento da economia, juntamente com o poder de compra do salário mínimo e os Programas Sociais. É inegável que o alto índice de aprovação do Governo Lula está ligado à economia. Economicamente, apesar da necessidade constante de crescimento sustentável, o Brasil está bem. Destaca-se o aspecto econômico porque o aspecto político do Governo como um todo deixa a desejar, dado os inúmeros casos de corrupção ocorridos durante o Governo Lula. Apesar disto, a pessoa do Presidente saiu como que ilesa da questão, dado seu jogo político e sua maneira própria de lidar com situações deste tipo. Apesar dos apelos da oposição, o Governo não se deixou vencer e deu continuidade ao projeto político iniciado em 2003.

Mesmo sabendo que a maioria dos políticos criminosos não respondeu juridicamente pelo envolvimento na corrupção é necessário que o brasileiro continue acreditando na verdade de que somente pela política é que se pode decidir o futuro de um país que optou pelo regime democrático como regime de governo. A política é imprescindível para a consolidação democrática de um país. Enquanto cidadão, o homem pode isentar-se da política. A autêntica atividade política é necessária para o verdadeiro desenvolvimento do país. Participar é preciso. Apesar das lacunas, o atual Governo tem dado pequenas oportunidades de participação democrática do povo nas decisões governamentais.

Os Programas Sociais do Governo Federal não resolveram, não resolvem e não resolverão o grave problema da desigualdade social historicamente presente no Brasil. A desigualdade social é uma dívida histórica. As desigualdades não se iniciaram no Governo FHC, nem no de Lula, mas nas origens do país. Desde que os povos indígenas foram mortos e expulsos de suas terras, ou seja, a partir da formação do povo brasileiro até os dias atuais constatam-se as desigualdades. Os Programas Sociais do atual Governo pode ser visto como paliativo para situações emergenciais. Na análise e aplicação destes Programas encontramos muitos aspectos positivos, desde o incentivo à distribuição de renda até o aumento do poder de compra da população pobre do país. O pecado que tais Programas revelam é a ausência das três grandes e emergentes reformas que o Governo Lula não fez: Reformas Política, Agrária e Previdenciária.

Marina Silva, ex-petista e de uma belíssima história de vida é um dos poucos exemplos de honestidade política deste país. Aos poucos, a honestidade está sendo abandonada pelos políticos que compõem o cenário atual. Combatida pelos interesses pessoais e corporativistas, a honestidade está se tornando privilégio na vida de poucos. O projeto político de Marina Silva é parecido com o do PT. Politicamente, ela é filha do PT. Pode-se dizer que era uma das filhas mais íntegras do Partido dos Trabalhadores. Decepcionada com as contradições intrapartidárias e governamentais, ela resolveu sair do PT e se candidatar pelo Partido Verde, que é outro importante partido político por aquilo que defende na sua essência ideológica.

Historicamente, também filha das lutas sociais e oriunda da pobreza, assumiu com dignidade e competência a função de Ministra do Meio Ambiente no Governo Lula. O corporativismo não permitiu que a mesma continuasse no cargo. Mulher simples, inteligente, articuladora e com capacidade clara de diálogo, agora se candidata à Presidência da República. Trata-se de uma candidatura sem grandes alianças políticas, que se apresenta à nação de maneira clara e objetiva, tendo como prioridade a defesa e a promoção louvável do meio ambiente.

Pode-se concluir que o povo brasileiro conta com três importantes nomes na disputa presidencial. Três grandes histórias e projetos distintos de governo, que precisam ser vistos e revistos por todos aqueles que ainda acreditam na política como ferramenta de transformação social. Não se pode desesperar, o Brasil tem jeito e estamos no caminho certo. Apesar de todas as limitações políticas de nossos governantes, as forças da regressão parecem aprisionadas e são claros os sinais de avanços. É preciso considerar que, segundo os especialistas sérios e comprometidos com as causas populares, a mídia é contra o Presidente Lula. Quem tem espírito e senso crítico percebe a maneira como a mídia fala do Governo. Diferentemente do tempo do Governo FHC, que era bem elogiado e noticiado pela mídia. Só para citar dois exemplos: Rede Globo e Folha de São Paulo, que perseguem explicitamente o Governo Lula desde quando o operário resolveu querer ser Presidente. E sem o apoio da grande mídia, o ex-metalúrgico, para a surpresa e ódio de muitos, tornou-se Presidente do Brasil. Aqui tenho que concordar com o famoso jargão de Lula: até então “isto nunca tinha ocorrido na história deste país”.

Tiago de França

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