quarta-feira, 5 de maio de 2010

Mandantes e assassinos, julgados e condenados


“A justiça tarda, mas não falta”, eis um ditado popular verdadeiro. Quando o povo fala este ditado fica claro que a morosidade da justiça tem contribuído para o adiamento constante da consolidação democrática do país, ou seja, não teremos autêntica democracia sem a presença eficaz da justiça social. Esta deve permanecer presente como ferramenta necessária na construção de uma sociedade de iguais. A luta constante de muitos membros da Igreja é para que a justiça de fato funcione e que todos, principalmente os pobres, que são os mais injustiçados, tenham seus direitos respeitados.

A missionária norte-americana Ir. Dorothy Stang, assassinada a tiros no dia 12 de fevereiro de 2005 em Anapu, PA é um dos modelos de martírio da Igreja atual. O dom do martírio é concedido por Deus às mulheres e homens que se deixam conduzir pelo Espírito Santo. O mártir não morre à toa. Não se pode atribuir a graça do martírio a qualquer assassinato que acontece na sociedade. O mártir é a pessoa que se encontrando no seguimento de Jesus de Nazaré e guiado por seu Espírito entrega a sua vida pela causa do Reino de Deus. Eis o conceito clássico e autêntico de martírio. Desta forma, fica claro que não existe martírio fora do seguimento de Jesus, nem sem a devida referência ao Reino de Deus. A Ir. Dorothy Stang morreu pela justiça do Reino de Deus.

No início da madrugada deste sábado, 1º de maio, Regivaldo Pereira Galvão, “o Taradão”, um dos mandantes do crime, foi condenado a 30 anos de prisão pela Justiça do Estado do Pará. Antes deste, outros quatro também foram condenados, a saber: Rayfran das Neves Sales, condenado a 28 anos, por executar a Irmã; Clodoaldo Calos Batista, condenado a 17 anos, por participar do assassinato; Amair Feijoli da Cunha, condenado a 18 anos, por intermediar a contratação do executor; Vitalmiro Bastos de Moura, “o Bida”, condenado a 30 anos, um dos mandantes do crime. O crime teria sido encomendado a um valor de 50 mil reais.

Estes cinco criminosos tentaram calar a voz da Igreja na Amazônia. A Ir. Dorothy não agia em seu próprio nome, mas em nome de Deus e em comunhão com a Igreja. Hoje, sua missão é assumida por um Bispo profeta, Dom Erwin Krautler, missionário austríaco na Prelazia do Xingu, e por tantas mulheres e homens que trabalham na construção do Reino de Deus, perseguidos e mortos, clandestinamente. A fé cristã é dinâmica e o sangue dos mártires fecunda a vida da Igreja e do mundo. Todo assassino perde seu tempo pensando que matando um (a) missionário (a) de Jesus a missão profética acabará. O Espírito de Deus tem despertado profetas e profetisas na hora e nas circunstâncias certas da história.

A justiça paraense não pode aceitar recurso algum para redução de pena, anulação de julgamento, habeas corpus etc. em favor de tais criminosos. Eles precisam responder pelo que fizeram. São uma ameaça ao convívio social, precisam ser mantidos presos, pois tudo o que ameaça a segurança pública e a vida da Amazônia precisa estar no estado constante de vigilância. A Justiça sabe da necessidade de um olhar prudente e permanente para a situação da floresta amazônica. Políticas de segurança pública são urgentes para a proteção da floresta e dos povos indígenas que lá residem. A Amazônia é patrimônio da nação brasileira e da saúde do planeta e precisa ser protegida urgentemente. Não se pode mais tolerar o desmatamento, a poluição e a grilagem de terras que ocorrem desordenadamente.

O martírio da Irmã Dorothy Stang interpela a Igreja e a todos os cristãos a se empenharem cada vez mais na luta pela justiça do Reino de Deus. O Reino acontece quando os seguidores de Jesus buscam viver o amor e a justiça. O testemunho da Ir. Dorothy é de amor e de justiça. As Igrejas cristãs precisam renunciar ao prestígio e as riquezas para se dedicarem cada vez mais à prática da justiça. Uma Igreja inserida na luta pela libertação dos oprimidos é uma Igreja de mártires, pois os poderosos deste mundo não toleram os profetas e profetisas do Reino. Somente a profecia, vivida na verdade e no amor, constrói verdadeiramente a Igreja e uma sociedade justa e fraterna.

Tiago de França

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