domingo, 2 de maio de 2010

O amor e o seguimento de Jesus


“Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13, 34 – 35).

Eis um sério convite de Jesus a todas as pessoas que desejam segui-lo. Como se pode constatar, o seguimento de Jesus é exigente. Para segui-lo é preciso abraçar seu novo mandamento: o amor. Logo, fora do amor não existe seguimento. Outro fator interessante que Jesus deixa transparecer é que não se trata de amar de qualquer jeito, mas como ele amou. Ele é o modelo por excelência da prática do amor. Tendo em vista a condição humana, sabe-se que não é possível imitar a prática amorosa de Jesus, pois ele é Deus.

A singularidade do ser humano revela que todos são chamados a amar, mas cada um a seu modo e de acordo com as circunstâncias da vida. Ninguém é chamado a imitar o amor, pois o que importa é amar. O amor é original quando se revela de infinitas formas. Em outras palavras, o convite é para amar nas diferenças e a partir das diferenças, numa luta constante contra a indiferença, que é um obstáculo ao amor. A indiferença também é sinal de que não existe amor nas relações.

A indiferença é um dos piores males da vida social. É um mal que começa na vida interna das famílias. A sociedade é um reflexo das relações internas vivenciadas pelas famílias. A frieza, que é a falta de solidariedade entre os membros de muitas famílias, tem formado uma sociedade onde até as pessoas se tornam seres descartáveis. A fome, a violência e tantas outras mazelas sociais são oriundas da indiferença. O outro deixou de ser importante. O espírito de competição busca sempre eliminar o outro. Vive-se na sociedade onde só há lugar para os que são capazes. Estes vivem bem, os demais buscam sobreviver.

O ensinamento de Jesus vai na contramão das indiferenças que excluem e marginalizam as pessoas. Todo o Evangelho revela a preocupação de Jesus com a dignidade do gênero humano e com a de toda a criação. Com o ensinamento do amor Jesus refaz todas as coisas (cf. Ap 21, 5) levando-as ao encontro com o outro. É no encontro com o outro que a integridade do ser humano é refeita e/ou restituída. Por isso, o amor leva-nos ao encontro do outro, que não é um desconhecido, mas nosso irmão. No Evangelho de Jesus todos somos irmãos e no Irmão maior aprendemos que é o amor que nos irmana na fraternidade.

O ódio e a vingança fazem parte da vida daqueles que ainda não tiveram a coragem de assumir no cotidiano da vida o novo ensinamento. Quem assume o amor como lei que rege a conduta pessoal está impedido de ceder ao ódio e à vingança. Naturalmente e na liberdade de filhos de Deus, todo aquele que ama não se deixa dominar pelo ódio, nem pela vingança. Estes são sinais de morte que matam centenas de pessoas todos os dias em todo o mundo. As guerras no Oriente Médio e a violência dos grandes centros urbanos são exemplos disso. É verdade que há outras causas, mas é inegável que o ódio e a vingança fazem parte dos sentimentos dos sanguinários. Para estes, a vida não tem valor, nem significado.

O cristão é identificado através do amor: Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros. Jesus se utiliza do verbo conhecer. O discípulo conhece a Deus pelo amor e é conhecido pelo amor. O amor com o qual Jesus amou a todos, principalmente os pecadores excluídos do seu tempo, é um amor incondicional. O que ele pede em troca é simplesmente o amor. Não há política de interesses na prática amorosa do divino Mestre. O amor nos torna íntimos de Deus e das pessoas. Estas quando são amadas só podem nos retribuir amor, pois este verdadeiramente liberta. Trata-se de uma liberdade para o amor, pois somente quem ama torna-se integralmente livre.

Na Igreja, é necessário que se faça uma séria revisão da prática amorosa entre os que professam a fé. Os membros da hierarquia precisam se perguntar se amam de verdade a missão que receberam. Há três males que ofuscam o amor na missão dos membros da hierarquia da Igreja, males que ameaçam gravemente sua missão, a saber: o poder, o prestígio e a riqueza. Todo aquele que se deixa dominar por tais males cai no pecado do abandono da missão, pois os mesmos são incompatíveis com o seguimento de Jesus de Nazaré.

Os pecados cometidos pela hierarquia eclesiástica são oriundos do poder, do prestígio e da riqueza, que desviam todo e qualquer cristão do caminho de Jesus. No caminho do divino Mestre não se encontram poder, prestígio, nem riqueza. Quem procurar tais vantagens no caminho de Jesus sairá frustrado, pois a palavra de ordem de tal caminho é o amor que se traduz no serviço fraterno. Este é o fundamento da missão. Não se pode falar de missão sem que se cultive cotidianamente a espiritualidade do serviço. Seguindo o exemplo de Jesus é preciso servir na humildade e na simplicidade. Através do serviço ao próximo demonstramos que amamos a Deus. Não que sejam necessárias demonstrações e/ou exibicionismos, pois o amor fala de si e por si mesmo.

Estamos no Ano Sacerdotal, período de orações e de reflexões em torno da vocação presbiteral. O presbítero na Igreja é chamado a ser um trabalhador a serviço dos mais excluídos da sociedade. A sua vocação é servir a comunidade. As últimas notícias têm demonstrado que muitos não entenderam a sua missão ou se recusaram a assumi-la, aproveitando-se do ministério junto ao povo para satisfazerem seus prazeres carnais cometendo o hediondo crime da pedofilia. É hora da Igreja, ao acolher os que se candidatam às sagradas ordens para o serviço do Povo de Deus, ser criteriosa e prudente. A carência de vocações não pode ser justificativa para se admitir qualquer pessoa ao ministério ordenado e o critério maior deve ser o serviço vivido na verdade (caritas in veritate) e na liberdade que libertam. Os presbíteros que cometeram o crime de pedofilia se desviaram da caridade na verdade.

É o Espírito Santo que cultiva em nós a graça de viver no amor e para o amor. Abrir-se a este Espírito é uma necessidade vital na missão. Ele nos faz viver relações amorosas com as pessoas, lugar de encontro com o Deus da vida e da liberdade. O amor nos revela Deus e o Espírito nos ensina e nos ajuda a amar a partir de nossa humanidade. Trata-se de uma vivência dinâmica, original, alegre, humilde, simples e criadora. A experiência do amor nos realiza e nos leva a experimentarmos a verdadeira felicidade. Esta fora do amor não existe. No amor está a nossa plena liberdade e, consequentemente, a nossa eterna e verdadeira felicidade.


Tiago de França

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