terça-feira, 18 de maio de 2010

Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos 2010


Anualmente, o CONIC - Conselho Nacional de Igrejas Cristãs promove a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Trata-se de uma iniciativa pensada, inicialmente, pelo Papa Leão XIII e reforçada por Lewis Thomas Wattson, um anglicano que se tornou católico. A proposta de Lewis foi de fixar a Semana de Oração para o período que vai de 18 de janeiro (festa da cátedra de São Pedro em Roma) a 25 de janeiro (festa da conversão de São Paulo), mas a data foi transferida para os dias que ficam entre a Ascensão do Senhor e Pentecostes, devido à mudança de mentalidade provocada pelo Concílio Vaticano II (1962 – 1965). Geralmente, na Europa ainda se celebra de 18 a 25; aqui no Brasil se preferiu o período anterior à Festa de Pentecostes.

Três organismos importantes que pensam a unidade dos cristãos: o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, o Conselho Mundial de Igrejas Cristãs e o Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos. Juntamente com a Igreja Episcopal Anglicana, Igreja Evangélica de Confissão Luterana, Igreja Presbiteriana Unida e com a Igreja Síria Ortodoxa de Antioquia, a Igreja Católica forma o CONIC. Ela, a Igreja Católica, recusou-se a participar do Conselho Mundial de Igrejas Cristãs. No início, quando se falava de unidade dos cristãos, o que se pensava era no retorno de todos os irmãos separados à Igreja Católica. Como isto se mostrou inconcebível e inaceitável, houve uma reformulação do conceito de unidade, que passou a ser sinônimo de diálogo, respeito e tolerância, valores fundamentais que constroem a unidade cristã. Quem primeiro promoveu e celebrou a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos foi a Igreja Episcopal Anglicana, em 1908, em Graymoor, no vale do rio Hudson, no Estado de Nova York, EUA.

A ausência da Igreja Católica Apostólica Romana na constituição do Conselho Mundial de Igrejas Cristãs é alvo de acirradas críticas em todo o mundo, pois ela prega a unidade dos cristãos, mas recusa-se a estar entre as Igrejas Cristãs. Historicamente, a Igreja Católica tem demonstrado a pretensão de ser a única Igreja de Cristo. Tal pretensão bloqueia o diálogo e a unidade entre as Igrejas. Quando se afirma que a Igreja Católica foi fundada pelo Cristo e que fora dela não existe salvação, automaticamente, peca-se dupla e gravemente contra as demais Igrejas Cristãs: primeiro, afirma-se explicitamente que as demais Igrejas são falsas; segundo, que para os demais cristãos não-católicos serem salvos se faz necessário o retorno ao seio da Igreja. Como dialogar e pensar a unidade com esta mentalidade? A impossibilidade é evidente.

Há três males que precisam ser urgentemente combatidos nas relações entre as Igrejas Cristãs: a falta de diálogo, o desrespeito e a intolerância. Estes constituem o que se passou a denominar fundamentalismo cristão. Os cristãos radicais não se destacam pela prática do Evangelho, que provoca a verdadeira unidade anunciada por Jesus, mas pelos três males mencionados que causam a separação. Cristãos fundamentalistas são os crentes praticantes, católicos e não-católicos, que defendem ferrenhamente os sistemas doutrinais de suas respectivas Igrejas. Trata-se de um conflito incessante que não constrói, nem dignifica, mas somente causa ódio entre pessoas. Há um ódio que busca fundamentação e justificativa em práticas religiosas. Uma situação, evangelicamente, inaceitável.

Atualmente, mais do que em outras épocas, as Igrejas Cristãs tendem a se autoafirmarem na sociedade. Trata-se de um movimento de aglomeração de pessoas que busca chamar a atenção da sociedade não para a prática da Justiça do Reino de Deus, mas para as práticas religiosas e a manutenção do sistema doutrinal. Quando as Igrejas Cristãs realizam grandes eventos costumam se utilizar de alguns recursos que chamam a atenção do público em geral, tais como: grandes palcos em praias, praças ou estádios de futebol; vestes pomposas (este aspecto é mais forte na Igreja Católica), transmissões ao vivo em rádio, Internet e TV; publicação do número dos participantes, convites às autoridades políticas e militares, pedidos de apoio do poder público para a infraestrutura etc. É clara a competição desumana que há entre as Igrejas Cristãs. Tudo se resume a conflitos que visam a hegemonia e o poder.

Comportando-se desta forma, os cristãos perdem cada vez mais o respeito e a confiança da sociedade mundial. Não causa interesse numa pessoa séria ingressar numa Igreja que não professa seriamente a fé cristã, que não tem o Reino de Deus como seu fim, que não tem interesse pelo anúncio da verdade do Evangelho de Jesus. Isto explica o progressivo fenômeno da evasão de fiéis de todas as Igrejas. Cresce cada vez mais a idéia-cultura de que cada um pode professar a sua fé individualmente, sem precisar estar integrado a um credo religioso. Infelizmente, as Igrejas Cristãs, sem exceção, ainda não pararam para pensar esta preocupante questão, pois continuam encarando a situação de forma ingênua e preconceituosa. Em outras palavras, todas as Igrejas repetem a mesma ideologia: que o mundo está contaminado, que o relativismo tomou conta de tudo e de todos, e que as pessoas não querem mais saber de Deus, mas as Igrejas se esquecem de se perguntar pelas motivações que levam as pessoas a desistir da religião.

A Boa Notícia de Jesus deve ser a motivação por excelência para a unidade dos cristãos. É preciso que se renuncie aos interesses religiosos e grupais, a fim de que a pessoa de Jesus ocupe a centralidade da proposta cristã. Neste ano, o lema da Semana é: “Vocês são testemunhas dessas coisas” (Lucas 24, 48). Testemunhar a ressurreição de Jesus por meio da prática do amor fraterno resume a vocação cristã. A desunião oriunda da intolerância é contratestemunho que não pode ser tolerado, pois o chamado de Deus é para a unidade de todos. A autorevelação divina mostra que Deus é amor vivido em comum-unidade, a Comunidade perfeita do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Jesus, obediente e unido ao Pai é o maior exemplo de unidade cristã. É com o próprio Filho de Deus, que ama indistintamente a todos, que as Igrejas aprendem a viverem unidas no amor. Uma vez que desejamos a salvação que vem de Deus aprendamos, pois, a amar-nos uns aos outros vivendo unidos no testemunho da Ressurreição de Jesus.

É preciso recordar, ainda, que não é a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos que vai resolver o problema da desunião. Sem dúvida é uma realização importante na história do Cristianismo, mas a verdadeira unidade se dá no respeito cotidiano às diferenças e à diversidade das manifestações religiosas. As atitudes contam mais do que orações e discursos diplomáticos, pois as primeiras convertem, enquanto as últimas se resumem, muitas vezes, ao plano da superficialidade. Todo discurso religioso que não se converte na prática do amor, da verdade e da justiça não passa de ilusão e diplomacia que não levam a nada. Somente a verdade do Evangelho de Jesus, escutada, refletida e praticada pelos crentes é que os une eficazmente.


Tiago de França

Um comentário:

ivodavid disse...

Nossa, novamente um ótimo artigo que nos levar a pensar...
Que unidade nós buscamos? De fato o corpo de Cristo é um somente... mas porque aqui na terra está tão dividido?

Parabens pelo ótimo trabalho novamente.