sábado, 2 de outubro de 2010

O Bispo, a candidata Dilma e o aborto


As insistentes declarações de Dom Luiz Gonzaga Bergonzini, Bispo de Guarulhos, SP, me faz pensar em algumas questões que ouso partilhar com o leitor. Não quero condenar a livre atitude do Bispo nem ir contra a posição oficial da Igreja, que condena, veementemente, a prática do aborto. Vivemos numa sociedade onde a livre expressão do pensamento é um direito assegurado por lei, e por isto mesmo, quero opinar sobre a questão.

Minha opinião não vai ter repercussão na mídia, uma vez que não ocupo função importante na Igreja e na sociedade. Trata-se, apenas, de uma partilha entre amigos, a maioria religiosa. Espero que os amigos não julguem que eu esteja falando mal de um Bispo católico. Questionar um Bispo não é pecado nem desrespeito. Uma vez que o mesmo se expôs à opinião pública deve, certamente, está preparado para as devidas reações. Assim, entro na fileira dos opositores da atitude do Bispo. Delimitemos três idéias, a fim de que a opinião seja clara e não dê margem às interpretações de alguns maliciosos de plantão: 1. A questão do aborto; 2. A posição do Bispo e 3. A candidata Dilma.

A questão do aborto é, de fato, uma questão complexa. Não tenho conhecimento científico sobre a mesma e, a não ser que o Bispo seja especialista na área, ele não deve ter, também, conhecimento específico sobre o aborto. Concordo que o aborto seja uma ação perigosa, mas que precisa ser discutida. Quando a Igreja diz NÃO ao aborto, parece que ela fecha a discussão em torno do problema. Não se trata de dizer SIM ou NÃO ao aborto, mas de procurar, no diálogo aberto e respeitoso com quem entende (cientificamente) da problemática uma possível solução. A Igreja fala a partir do Evangelho e a ciência a partir da técnica e do método. Evangelho, técnica e método devem convergir para a defesa e a promoção da vida sem se excluírem, reciprocamente. Além disso, o aborto também é uma questão de saúde pública, que o Governo deve assumir, a fim de que se ofereça o devido socorro às mulheres de nosso país.

Ainda sobre o aborto, é preciso que se discuta a intencionalidade de tal atitude, ou seja, com que intenção uma mulher decide abortar? Em outras palavras, o que leva uma mulher a provocar o aborto? Esta é uma questão que a Igreja NÃO pensa ao dizer não ao aborto. A Igreja condena generalizando o problema sem procurar saber das reações motivações que levam tantas mulheres a tomar tal atitude. Neste sentido, é preciso que não só pensemos na vida do feto (desenvolvido ou não), mas também na vida da mãe, como no caso da criança estuprada que engravida de gêmeos aos nove anos de idade e que não tem a mínima condição de dar à luz.

O filósofo Ortega y Gasset fala-nos uma verdade muito iluminadora neste sentido. Ele afirma que cada pessoa corresponde a um EU e este está estritamente ligado às circunstâncias da vida: “eu e minhas circunstâncias”. Repito: é preciso discutir a questão para chegarmos a um consenso, pois os conflitos sem diálogo entre fé e ciência não resolvem nada. Enquanto estes conflitos se perpetuam, muitas mulheres continuam desassistidas em suas complexas situações.

A posição do Bispo, a meu ver, está mais para a condenação da candidata do que do aborto. Justifico-me. Em tempo de campanha eleitoral quando nos dirigimos diretamente (citando nome e partido) de um (a) candidato (a), condenando ou absolvendo, estamos tomando partido. Eu acreditaria na isenção partidária da opinião do Bispo se ele tivesse se dirigido a todos os candidatos, mas o que fica clara em suas palavras é sua oposição à candidata do PT, Dilma Rousseff. Depois de atacar a candidata é que o Bispo se dirige aos demais políticos que se decidirem pela descriminalização do aborto. Enquanto cidadão, o Bispo se utiliza da condenação eclesiástica ao aborto para expressar sua oposição a uma candidatura. Partindo da idéia de que a Igreja não pode tomar partido, há um equívoco em sua posição.

Para comprovar minha opinião, vejamos a resposta a uma das perguntas que a Folha de São Paulo fez numa entrevista ao citado Bispo no dia 23 de agosto do corrente ano:

Folha – A candidata afirma que não defende a descriminalização do aborto. Mesmo assim, o senhor cita o nome dela no artigo [publicado pelo mesmo no site da CNBB].
Bispo – Ela [Dilma] segue o partido, ela é a candidata. Então eu vou matar a cobra na cabeça. Pessoalmente não tenho nada contra ela. Mas o direito à vida é o maior direito humano. O aborto é atitude covarde e criminosa. Eu não arredo o pé, não.

A expressão “Pessoalmente não tenho nada contra ela” é contraditória à primeira: “Então vou matar a cobra na cabeça”. Que cobra é essa de que fala o Bispo? Seria a candidata, o aborto, a campanha?... Um Bispo não deveria se utilizar de expressões tão ambíguas como estas, pois passa a idéia de que as autoridades eclesiásticas da Igreja estão perdendo, aos poucos, o discernimento da palavra que deve edificar, e não confundir a cabeça das pessoas.

Em seu polêmico artigo, a que se refere a Folha na indagação feita cima, ele diz expressamente: “Recomendamos a todos verdadeiros católicos a que não dêem seu voto à Senhora Dilma Rousseff e demais candidatos que aprovam tais liberações, independentemente do partido a que pertençam”. Tem como acreditar que não existe partidarismo nesta recomendação?!... Uma curiosidade: Por que será que a Folha se interessou em procurar Dom Luiz Gonzaga Bergonzini? A resposta é simples: Porque ela se interessa em toda e qualquer informação e posição que se oponha ao atual Governo e sua respectiva candidata à Presidência. Ninguém precisa ser cientista político para enxergar isso.

A candidata Dilma precisa, caso seja eleita Presidente da República Federativa do Brasil, saber dialogar com a Igreja, com a ciência e com a sociedade esta questão. O Governo Federal deve dar total apoio às pesquisas científicas no sentido de incentivá-las e promovê-las. Uma consulta popular (plebiscito) seria oportuna para este caso, para saber a opinião do povo a respeito, como ocorreu no caso das campanhas pelo desarmamento, pela Ficha Limpa e pelo limite da terra. Trata-se de uma questão que não pode ficar restrita nas mãos de poucos, é uma realidade do povo e este deve participar da discussão.

Amanhã, dia 03 de outubro, é o grande dia! É o dia de exercer o direito e o dever de participar e de decidir o melhor para o Brasil. Cada eleitor é livre para decidir em quem votar. Não podemos nos deixar influenciar pela Igreja, pelo Governo, pelos jornais e revistas. É preciso analisar, estudar o candidato, pois um país mais justo e fraterno, não depende somente da fé que professamos e do nosso esforço, mas também e, sobretudo, dos nossos governantes. Por isso, vote consciente, seja cidadão, participe!


Tiago de França

Um comentário:

Anônimo disse...

Dilma Abortista e Socialista:

http://www.youtube.com/watch?v=TdjN9Lk67Io

Se isso não prova que a Sr. Dilma é abortista, por favor me digam o que é ser!

Dilma Abortista, Novamente!!!

http://www.youtube.com/watch?v=DsetIPCkUtc&NR=1

O problema não foram os crimes cometidos, mas o crime sem o arrependimento, que não é uma conduta cristã!

Crimes da Dilma na ditadura:

http://www.youtube.com/watch?v=qAJKURGDkTU&feature=iv&annotation_id=annotation_35672