terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Complexo do Alemão: exclusão e violência


Todos os brasileiros assistiram à trágica ação policial no Complexo do Alemão ocorrida nestes dias. Ação trágica porque nela morreram inocentes e os considerados bandidos. Estes foram o alvo por excelência. Pois bem, esta ação violenta da polícia nos revela alguns aspectos que nos oferecem uma reflexão significativa para entendermos a situação. Vamos por parte.

1. O Governo age utilizando-se de represália

A ação repressiva da polícia, alicerçada na ação bruta, não educa nem resolve o problema. Quem estiver pensando que o problema da violência no Complexo do Alemão está resolvido está profundamente enganado. Violência gera violência. Contra esta verdade não existe discussão. Certamente, surgirão outros “bandidos” para substituírem os que morreram e para continuar a ação criminosa naquele sofrido lugar. Não adianta a polícia permanecer até o próximo ano pensando que as milícias irão desistir do crime organizado. A eliminação dos “bandidos” é uma solução paliativa, que provoca, aparentemente, uma falsa paz.

2. As causas da violência no RJ e no Brasil

A violência presente no RJ não está somente no Complexo do Alemão. A violência se faz presente na totalidade das grandes cidades brasileiras, e as pesquisas têm demonstrado que as pequenas cidades e as populações que moram na zona rural também estão sofrendo com a violência. Por que a violência toma conta do país? Esta deve ser a pergunta fundamental. Nós podemos respondê-la de dois modos: um se mostra superficial e outro aborda o mal pela raiz. Há duas respostas. Vejamos.

2.1 – A violência ocorre porque falta segurança pública. Quem defende esta tese reclama do Governo a qualificação e a boa remuneração das polícias, assim como o aumento numérico das mesmas. Não sou contra a nenhuma destas reivindicações, pois são mais que justas e necessárias. A segurança pública é um direito do cidadão e um dever do Estado. Isto é lei. Só que por si mesma, a segurança pública não resolve o problema da violência.

Temos uma população carcerária de quase meio milhão de pessoas. Não sou contra a prisão dos, realmente, infratores; mas isto resolveu o problema da violência? Se a situação se perpetua, se o papel da polícia se restringir a prender infratores, vai chegar um momento em que não teremos onde colocar tanta gente, pois os presídios se tornarão insuficientes. Não nego o fato de que a falta de segurança provoca violência, mas repito: a segurança oferecida pelo Estado, por si mesma, não resolve o problema da violência.

2.2 – A violência ocorre por causa das desigualdades sociais. A falta de uma educação de qualidade, o desemprego, a fome e tantos outros problemas são as verdadeiras causas da violência no RJ e em todo o país. Portanto, a preocupação fundamental de nossos governantes deve se voltar para a resolução de tais problemas. Tal resolução se dá por meio de políticas públicas eficientes, ou seja, que atendam às reais necessidades da população.

Se os governos não procuram erradicar a fome, o desemprego; se não procuram oferecer uma educação de qualidade, então o problema da violência vai continuar. Certamente, quando as pessoas tiverem acesso a uma vida digna, a violência haverá de diminuir em todo o país. Vida digna não significa que todos devem ser ricos, mas ter assegurados os direitos fundamentais, que se traduz na satisfação das necessidades básicas: educação, saúde, saneamento, moradia, alimentação, segurança, lazer etc.

3. Quem sofre com a violência são os empobrecidos

A realidade das grandes cidades revela que os empobrecidos são as maiores vítimas da violência urbana. Os empobrecidos não têm segurança alguma, pois dependem da boa vontade das políticas públicas que devem ser promovidas pelos governantes. No Complexo do Alemão não moram os ricos, logo, estes não são vítimas da terrível ação criminosa das milícias. São os empobrecidos que perdem a vida facilmente em meio aos tiroteios entre polícia e “bandidos” e entre uma facção e outra. Estes mesmos empobrecidos apóiam, plenamente, a ação violenta da polícia porque julgam que tal ação vem trazer a paz. Para quem vive em meio à violência, o fim daqueles que causam medo, opressão e morte é algo justo e necessário.

Se a violência atingisse, cotidiana e significativamente, os filhos da classe média alta deste país, certamente já teria sido diminuída; mas como quem morre, na maioria das vezes, anonimamente, são pessoas sem poder aquisitivo algum, então o sistema quando age, age lentamente. A grande maioria dos envolvidos no mundo do crime organizado é formada por jovens empobrecidos, que não tiveram a chance de ter uma boa educação que os qualificassem para o mundo do trabalho. Jovens desocupados sobrevivendo em áreas de risco se entregam facilmente às drogas e à prostituição.

4. O que fazer? Uma solução aparentemente utópica

O que os governantes deveriam fazer era acabar com as favelas e aglomerados das grandes cidades, pois se mostram lugares indignos para a sobrevivência de seres humanos. A construção de moradias com as condições básicas de sobrevivência é um direito de todos. Neste sentido, o Governo Federal fez alguma coisa, mas tem muito a se fazer. Quando tiveram que deixar a zona rural e as pequenas cidades do interior para morar nas capitais, a maioria dos empobrecidos não teve outra opção senão tentar sobreviver nas favelas; e por residirem nelas se tornaram vítimas do preconceito social, pois muita gente pensa que não há pessoas boas nas favelas, mas somente gente violenta e o que não presta. Juntamente com a moradia digna, a educação gratuita e de qualidade e o emprego formal, certamente, são a solução para a erradicação da marginalização social que existe no país.


Tiago de França

2 comentários:

Guilherme Carvalho disse...

Achei muito bom seu blog, espero podermos trocar ideias, como vc disse nossa missão como cristão é simples, mas temos que ter muita coragem para assumi-la e fazer de fato....abs

Anônimo disse...

Rapaz, você é corajoso e genial!