segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Ágape: o livro do padre Marcelo Rossi


Quando de passagem por uma livraria do aeroporto de Confins, em Belo Horizonte – MG, visivelmente, vi o livro Ágape, do padre Marcelo Rossi. O que me chamou a atenção foi o grande número de exemplares com um cartaz chamativo. Antes disso, li na revista Veja que tal livro se tornou um dos mais vendidos desde o seu lançamento. Algumas pessoas me pediram uma opinião sobre o citado livro. Pensemos sobre alguns aspectos.

O livro do padre Marcelo Rossi insere-se na lista dos livros de autoajuda, ou seja, não é uma obra teológica nem filosófica. O livro foi escrito tendo em vista os sentimentos dos leitores. O mercado editorial está marcado pelos livros de autoajuda. Estes são os que mais vendem, e por que vendem tanto? Porque estamos na era da depressão. A angústia, a ansiedade, a frustração e outros sentimentos que geram a depressão sempre existiram, mas nos últimos tempos tem aumentado o índice de pessoas com sintomas depressivos e com problemas sentimentais de toda ordem. Um especialista em psicologia sabe explicar, tecnicamente, a origem e a cura de tais sentimentos depressivos.

Estas situações levam as pessoas a procurarem ajuda. Esta pode ser encontrada, também, nos livros. Os autores, preocupados em ganhar dinheiro, escrevem para este público. As pessoas compram tais livros para se sentirem melhor, para aumentarem sua autoestima. Assim sendo, os livros de autoajuda estão direcionados para aquelas pessoas frustradas, desiludidas, angustiadas e ansiosas. Estas pessoas nunca se libertam destes livros, pois eles não as curam. Os autores escrevem de um jeito que gera dependência nos leitores. Estes sempre esperam o próximo livro do autor, para continuarem se “tratando”. São livros que exploram os sentimentos das pessoas, que se aproveitam das suas tristezas e doenças psicológicas.

O livro do citado padre não tem outra finalidade senão explorar os sentimentos das pessoas. O título é muito sedutor: Ágape, palavra grega que significa amor. De modo geral, os títulos dos livros de autoajuda costumam ser sugestivos, despertam a curiosidade. Esta entrelaçada com sentimentos de desespero leva à aquisição material de tudo aquilo que se propõe como cura. O livro do padre Marcelo Rossi não se utiliza de contos de fada nem de estórias, mas de interpretações superficiais e subjetivas do Evangelho de Jesus de Nazaré. O livro não é fruto da psicologia nem da teologia, mas do subjetivismo de um jovem padre da renovação carismática católica.

A capa do livro revela um pecado muito comum nos dias de hoje: a egolatria. A foto do padre é maior do que o nome do livro! Apesar de ser um padre diocesano, o mesmo aparece vestido num hábito religioso parecido com o dos franciscanos. De modo geral, os chamados “padres carismáticos” gostam de se destacarem a si mesmos nos livros, CDs e DVDs que lançam no mercado.

E por serem padres, costumam aparecer com gestos piedosos e com “cara de santo”, como diz o povo. Querem transmitir o espírito de santidade por meio da estética pessoal: cruz, hábito, cíngulo (cordão usado para prender hábito ou túnica na altura da cintura), casula (paramento usado por cima da túnica), mãos postas, olhar para o infinito, orando de joelhos, mãos para o céu etc. Estes gestos levam as pessoas a enxergarem o sagrado na pessoa do padre.

A maioria dos católicos não está preocupada com o seguimento de Jesus nem, conseqüentemente, com o Reino de Deus. Este é o motivo que explica o sucesso de livros como o Ágape. Trata-se de um livro que não fala nem conduz ao seguimento de Jesus. Se não fala do seguimento a Jesus, também não tem compromisso com o Reino de Deus, conseqüência do seguimento. Neste sentido, o livro não diz, absolutamente, nada.

O livro é mais um dos meios utilizados pelo padre Marcelo Rossi para ganhar muito dinheiro. Quando alguém pergunta para ele sobre o destino do dinheiro adquirido com a venda, ele responde: “Todo o dinheiro adquirido com a venda deste livro será destinado à construção do Santuário, em Santo Amaro, SP”. Na Igreja do Brasil, de uns tempos para cá, a construção de santuários tem se tornado uma grande fonte de renda! E o curioso é que a construção de tais santuários dura anos e, às vezes, décadas. Algumas construções se tornam eternas!

O que me chama a atenção é que não existe censura eclesiástica para livros como este. De fato, é compreensível a ausência de censura. O livro não fere a doutrina da Igreja nem a expõe. A censura eclesiástica existe para os livros dos chamados “teólogos da libertação”, que ousam repensar a Igreja e o seguimento de Jesus de Nazaré. Os livros destes teólogos não têm como destinatários pessoas frustradas nem deprimidas, mas mulheres e homens que desejam seguir Jesus de Nazaré e construir o Reino de Deus. Não são livros vazios nem sentimentalistas, mas de conteúdo profundo que refletem a verdadeira fé que nos coloca no caminho de Jesus de Nazaré.

Concluo com a indicação de mais um livro censurado pelo Vaticano. Trata-se da obra Outro cristianismo é possível – a fé em linguagem moderna, escrito pelo jesuíta Roger Lenaers, editado pela livraria Paulus. É muito bom ler os livros censurados pelo Vaticano, pois costumam estar entre os melhores.


Tiago de França

2 comentários:

Teólogo da Libertação disse...
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Anônimo disse...

"Senhor, Deus do Amor, ensina-me a amar.
Mesmo que meus olhos se fechem,
Ensina-me amar...
Eu quero amar, Senhor.
Primeiro a Vós e depois aos meus irmãos.
Quero amar a mim mesmo, sem egoísmos, mas como templo do Vosso Santo Espírito."
...
"Onde houver ódio, que eu leve o amor.
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão..."
...
"Quem ama nunca faz o mal, e é para o bem que nós nascemos!"

Tiago, sabe quem proferiu estas palavras, Jesus...
Padre Marcelo somente as propagou como assim fizeram seus discípulos, instrumentos do amor de Deus.
Evangelizar não pode ser caracterizado, futilmente, com cunho financeiro, o mundo está carente de amor ÁGAPE, no livro "substancial e vazio" há palavras de fé e orações, tais quais estão ausentes hodiernamente, logo isto levar a crê que todo judíce que se conduz a religiosidade é visto com interesse financeiro.
Compreendo sua visão. Amor gratuito é raridade no mundo atual, portanto incomoda vê-lo em forma de um religioso que apenas quer proferir a palavra de DEUS.
Auto-ajuda? Pode ser, o mundo está mesmo carente de amor incondicional. Deus não só é ajuda como a salvação. E o livro nada mais é que orações divinas, passagens bíblicas. O povo esquece o hino, imagine a oração! Quantos param para orar, se não somente na aflição, logo, concluo, se podem parar para lê e através da leitura, estrem mais próximos de JESUS, que seja feita a vontade de DEUS. Ninguém compra obrigado, e caso não queira ou não possa comprar poderá baixá-lo, ganhá-lo como aconteceu comigo. Todavia o intuito do materialismo assim se dissipou...
E para o seu conhecimento, nem todos que procuram pelo livro encontram-se deprimidos, desiludidos ou frustrados, mas apenas quer iluminar-se, regozijar-se, alimentar-se, aprender mais sobre o amor, a vida, os seguimentos de Jesus Cristo.
A melhor oração é aquela que fazemos sozinhos em nosso templo. Como disse Jesus.
Quem tem amor, tem paz.
Quem tem paz, tem JESUS.
E onde tem JESUS, nada falta!

Que a PAZ esteja convosco!!!