sexta-feira, 15 de abril de 2011

Desarmamento, sim; plebiscito novamente, não!


Nossos políticos são “mestres” em politicagem. Um dos maiores oportunistas do momento político atual, José Sarney (PMDB – AP), “sensibilizado” pela tragédia ocorrida na escola pública do bairro Realengo, RJ, resolveu desrespeitar a vontade geral da nação manifestada no plebiscito de 2005, no qual 64% dos brasileiros votaram contra o desarmamento. Esta foi a triste decisão dos brasileiros, que precisa ser considerada. Se o povo quis assim, assim é que deve ser! O que está por trás da decisão popular de 2005 e o que pretende o Presidente do Senado Federal?

O povo sabe que o desarmamento é necessário. Em sua sã consciência toda pessoa é a favor da vida, pois o ser humano quer viver. Agora, o que acontece é o seguinte: O Estado não oferece a necessária e justa segurança pública à população, então o povo recorre às armas para se defender. É difícil entender isto? Então, por que toda essa discussão partidária dentro do Congresso Nacional? Aqui vamos ter que desmascarar o velho mandatário do Estado do Maranhão, que por incrível que pareça é Senador pelo Amapá.

Diante do sentimento de indignação e tristeza que tomou conta dos brasileiros nestes dias, devido à chacina do Realengo, o senador José Sarney resolveu se aproveitar da situação.
Pensou consigo mesmo e teve a seguinte idéia: ‘Vou anunciar a convocação de uma nova consulta popular e induzir os brasileiros a pensar que nós, políticos, estamos preocupados com a segurança pública, pois só assim, eles vão parar de nos criticar com a velha reclamação de que não ligamos para a onda de violência que está tomando conta dos grandes e dos pequenos centros urbanos!’...

Em matéria de desarmamento, o grande problema está em desarmar os fracos e indefesos e deixar os fortes e criminosos armados. Se não há uma política de segurança pública efetiva no Brasil, o desarmamento não é um bom caminho. O problema não é o cidadão ter o porte de arma, que lhe concede uso legal da mesma; mas está no uso ilegal da arma. Quando a polícia perde o controle do uso da arma, o cidadão é livre para usá-la do jeito que bem entender. Os revólveres usados pelo esquizofrênico na escola do Realengo eram ilegais.

Seria muito bom que todo cidadão tomasse consciência de que o uso de arma é um mal. O que leva à aquisição da arma, no caso de boa parte da população, é a insegurança em que se sobrevive nos dias de hoje. Infelizmente, as pessoas pensam que armadas estarão protegidas. Está mais que provado que os considerados “bandidos” não têm medo de cidadão armado. A fabricação e o uso indevido de armas estão acabando com a humanidade. Não se constrói cidadania nem democracia se utilizando da violência através do uso de armamentos. Basta olharmos para o Oriente Médio e constatarmos o poder destrutivo da indústria bélica.

Nos EUA, em 2009, calculava-se um trilhão de dólares somente em orçamento bélico, o maior do planeta. As forças armadas norte-americanas gastam mais que a soma de outros dez maiores orçamentos do mundo, informou o caderno Economia do jornal Estado de Minas, em 25 de janeiro de 2009. Hoje, os EUA estão se convencendo de que não há condições financeiras para manter tamanho investimento em suas forças armadas. Eles também estão percebendo que o mundo não acredita mais na mentira de que se constrói democracia invadindo países ricos em petróleo.

Em suma, o Brasil não precisa de mais um plebiscito a respeito do desarmamento, mas de segurança pública de qualidade. Segurança pública é um dever do Estado e um direito do cidadão. Os brasileiros pagam altíssimos impostos e estes são suficientes para a promoção da segurança pública de qualidade garantida pela Constituição. Não faltam recursos financeiros, falta mesmo é vontade política por parte de políticos acomodados e corruptos que contam com segurança particular custeada pelos impostos que pagamos; políticos despreocupados com a segurança da população.

Infelizmente, enquanto esta situação não se resolve, os mais pobres são sempre as maiores vítimas. No caso da chacina no Realengo, mais uma vez as vítimas foram os pobres; isto porque nas escolas onde estudam os filhos dos ricos a segurança é qualificada, enquanto a maioria das escolas públicas até parecem “casas da mãe Joana”. Já que os filhos dos vereadores, prefeitos, deputados, senadores, presidente e empresários não estudam em escolas defasadas e inseguras, então tudo continua do mesmo jeito e fatos trágicos como este, com o tempo, caem no esquecimento. Este só não atingirá os familiares e amigos das vítimas.

Se o Brasil não se tornar um país de oportunidades para os mais pobres, não há política de segurança pública que consiga conter a violência urbana. Nossas crianças e jovens precisam de educação de qualidade, que os prepare para a vida e para o mundo do trabalho. Uma educação que imprima caráter e maturidade, que prepare a pessoa para saber viver num mundo dilacerado pela competição e pelas diversas formas de sofrimento. Neste sentido, a Escola, a Família, a Religião, a sociedade organizada e o Estado devem trabalhar em conjunto, pois o objetivo deve ser o mesmo: a defesa e a promoção da vida humana.


Tiago de França

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