quinta-feira, 21 de abril de 2011

Tríduo pascal: Eucaristia e serviço, morte e redenção, silêncio e espera


“Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos” (Jo 15, 13).

Os últimos momentos de Cristo Jesus neste mundo, em sua condição humana, são significativos para o cristão e para a Igreja. Eles falam da missão de Jesus, que é a mesma missão que deve ser assumida por todo aquele que se colocar em seu caminho. A meditação dos mistérios da paixão, morte e ressurreição de Jesus mostra que o colocar-se no seu caminho é exigência fundamental para a construção do Reino de Deus. A inauguração deste Reino levou Jesus à morte de cruz e sua fidelidade à vontade do Pai que o enviou ao mundo com esta missão o tornou vitorioso perante a morte.

Quinta-feira: Eucaristia e serviço
“Derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos, enxugando-os com a toalha com que estava cingido” (Jo 13, 5).

Não é possível compreender a Eucaristia sem o serviço fraterno. A Celebração da Ceia do Senhor é Ação de Graças a Deus presente na vida do próximo. Portanto, se não houver serviço do próximo, preferencialmente do próximo pobre e excluído, não há Eucaristia, mas somente rito e símbolos.

A Igreja ensina que a Eucaristia foi instituída na última Ceia do Senhor. Pois bem, o que vem antes e depois desta Ceia? O que vem antes é uma vida totalmente a serviço dos oprimidos. Este serviço se traduziu na atenção, no cuidado e na compreensão do sofrimento dos empobrecidos; assim como no partilhar da vida deles. Jesus, obediente ao Pai, optou pelos últimos deste mundo, tornando-se um deles. Plenamente humano, o Cristo participou da vida do povo explorado de seu tempo.

O que vem depois é a missão deixada por ele. O que vem antes pode ser contemplado, mas não passivamente. A contemplação da vida de Jesus é caminho de aprendizado para a missão. O que vem depois é práxis libertadora; do contrário, o Reino não acontece. Assim sendo, Eucaristia é participação na vida de Jesus de Nazaré. Não de um Jesus inventado segundo nossos interesses e frustrações, mas o Cristo dos evangelhos: pobre e desarmado.

Há pessoas que não comungam, mas comem hóstia e bebem vinho. Eucaristia é comunhão, mas comunhão com quem? Somente com Jesus? De modo algum! A comunhão é com Jesus e com o próximo; melhor dizendo: com Jesus na pessoa do próximo. Quem é este próximo? É o pobre Lázaro jogado à porta do rico passando fome e cheio de feridas. Não é o rico esbanjador de bens e omisso, mas o pobre faminto e cheio de feridas. Eucaristia é comunhão com os pobres famintos de pão e de justiça, e vítimas de todo tipo de sofrimentos.

A Igreja ensina que o sacerdócio ministerial foi instituído na última Ceia do Senhor. Apesar do relato bíblico não deixar margem alguma para este ensinamento, é preciso dizer que todos somos sacerdotes. O sacerdócio ministerial veio muito depois de Cristo. A Igreja reservou aos ministros ordenados a graça da consagração do pão e do vinho. Somente homens ordenados podem presidir a Celebração Eucarística. Acima dessa problemática está a verdade de que a missão do presbítero está intimamente ligada à concepção de Eucaristia acima mencionada; do contrário, o presbítero não passa de um mero funcionário do altar do Senhor.

Sexta-feira: morte e redenção
“Eli, Eli, lamá sabactâni?”, que quer dizer: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mt 27, 46).

Jesus se entregou livremente à morte. Depois dele, a morte passou a ser compreendida de maneira diferente, pois foi o primeiro a ressuscitar dentre os mortos. Jesus venceu a morte. Esta verdade tem um significado importantíssimo na vida cristã e eclesial. O que significa afirmar e crê que Jesus venceu a morte? Vamos pensar três questões fundamentais para a nossa fé e nosso caminhar.

Primeiro, Jesus morreu, verdadeiramente. Há pessoas que não acreditam na morte de Jesus, pois pensam que tudo aquilo não passou de uma encenação. Isto é muito grave e compromete a fé. Crer no ressuscitado é crê no crucificado. Não há ressurreição sem morte. Esta é caminho para a vida plena. Jesus teve que morrer para voltar ao seio glorioso do Pai. Ele não podia fugir desse doloroso caminho, e se o cristão quer ressuscitar, precisa morrer com Cristo.

Segundo, Jesus morreu por causa do Reino de Deus. Há quem ensine que Jesus morreu para perdoar os pecados e para salvar as almas. É verdade que Jesus perdoou os pecados das pessoas, e é verdade também que ele não veio a este mundo para salvar almas. O ser humano não é feito somente de alma. Não somos almas vagantes no meio do mundo! Jesus veio a este mundo para dar testemunho da verdade e esta verdade juntamente com a justiça constroem o Reino de Deus. Aderir a Jesus é viver segundo a verdade e a justiça. Este viver reconstrói o mundo desfigurado pelas injustiças.

Terceiro, Jesus é o legítimo representante dos crucificados de todos os tempos e lugares. O grito de Jesus na cruz é o grito dos oprimidos por libertação. Na cruz, Jesus estava intimamente unido aos empobrecidos, os prediletos de Deus. A crucificação de Jesus é a manifestação da bondade divina em favor do povo sofrido: Deus jamais abandona seus filhos e filhas. A morte de Jesus confirma a opção divina pelos que sofrem todo tipo de desumanidade neste mundo. Jesus, morto na cruz, é exemplo de fidelidade à vontade de Deus até as últimas conseqüências.

Sábado: silêncio e espera
“No lugar onde Jesus foi crucificado, havia um jardim e, no jardim, um túmulo novo, onde ainda ninguém tinha sido sepultado. Por causa da preparação da Páscoa, e como o túmulo estava perto, foi ali que colocaram Jesus” (Jo 19, 41 – 42).

É de se imaginar a desolação e a decepção dos discípulos diante de Jesus crucificado e morto, pois assistiram a realização de diversos sinais de vida, enquanto estavam em missão no meio do povo. De repente, aquele profeta poderoso em palavras e obras se encontra morto na cruz. Penso que os discípulos de Jesus pensavam entre si: Como pode um homem que se afirmou Filho de Deus, curou enfermos, ressuscitou mortos, andou sobre as águas, multiplicou pães e peixes para multidões, enfrentou os poderosos do Templo e do Sinédrio, e agora morrer numa cruz?...

Até a madrugada da ressurreição, o silêncio inquietante se fez presente naquelas pessoas que tiveram a graça de conviver com Jesus. Penso que estavam tomadas pelos sentimentos do desespero e da impotência: E agora, o que fazer? Esta é a pergunta que os desesperados deste mundo fazem diante da manifestação dolorosa dos sinais de morte: é a pergunta dos que não tem alimento, água, moradia, salário, saúde, segurança, paz etc. Mas Deus não vai abandonar seu amado Filho na mansão triste da morte. Esta será vencida pelo Senhor da vida, porém tudo é lento. A ressurreição é processual, é preciso ter paciência e esperar, gemendo em dores de parto, a vitória definitiva.


Tiago de França

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