sábado, 7 de maio de 2011

Jesus de Nazaré: Deus que caminha conosco


“Quando se sentou à mesa com eles, tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e lhes distribuía. Nisso os olhos dos discípulos se abriram e eles reconheceram Jesus” (Lc 24, 30 – 31).

Na semana que passou, os EUA encontraram e mataram Osama bin Laden. Os norte-americanos festejaram até durante a madrugada! Chegamos ao ponto de festejarmos a morte de uma pessoa. Esta foi a notícia que marcou a semana. Os membros da organização liderada por Osama estão tomados pelo espírito de vingança e prometem uma resposta sangrenta. Enquanto isto, em outras partes do Oriente Médio, o sangue de milhares de inocentes é derramado. O mundo está em guerra.

Não precisamos anunciar o início da 3ª Guerra Mundial, pois ela já está acontecendo desde 11 de setembro de 2001. A ONU, que não pode nada contra os EUA, não permitiria um anúncio oficial de uma 3ª Guerra Mundial. Seria demais. No Brasil, o Governo tenta controlar a inflação. A Presidente Dilma exige resultados e os ministros têm que trabalhar. Neste Domingo, III da Páscoa, também celebramos o Dia das Mães, com nossos corações partidos por assistirmos o abandono sucessivo de crianças nos quintais, nas ruas e no lixo.

Unidos e sintonizados a todas estas questões e desafios, somos chamados a acolher a companhia de Jesus nos caminhos de Emaús. Quais são hoje, os caminhos de Emaús? Quem são hoje, estes discípulos desenganados e tristes? Com os pés em nossa realidade, reflitamos, pois, Lc 24, 13 – 35. Este trecho do Evangelho segundo Lucas fala da caminhada de dois discípulos de Jesus, de Jerusalém para Emaús.

Os discípulos conversavam sobre Jesus

Diante do Cristo morto na cruz e sepultado, dois dos discípulos deixaram o grupo dos Onze e voltaram para suas casas. Eles perderam a esperança, pois pensavam que Jesus ia libertar Israel. Este pensamento mostra que eles não entenderam a missão de Jesus. Conversavam, mas não entendiam. A conversa e discussão dos discípulos não os levavam ao entendimento. Antes da morte na cruz, Jesus não se cansava de explicar para eles o sentido de sua missão, mas os pensamentos dos discípulos eram outros. Eles pensavam segundo a lógica do mundo.

Na Igreja de nossos dias, priorizam-se tantas coisas que se esquecem de que Jesus é o centro da vida cristã e eclesial. Fala-se muito de coisas, às vezes, inúteis e se esquecem de conversar e discutir a respeito de Jesus e seu projeto. Fala-se de beatificações, nomeações, construções, projetos, processos etc., enquanto que Jesus continua nos evangelhos, esperando ser anunciado ao mundo. Até hoje, Jesus continua sendo incompreendido. Fala-se que Jesus disse isso e fez aquilo, e demoram pra falar, verdadeiramente, do que ele realmente veio fazer neste mundo.

Jesus se aproxima e caminha com eles

Jesus se interessa pela conversa e discussão dos dois discípulos: se aproxima e caminha com eles, mas, ainda, não o reconhecem. O texto fala que estavam como que cegos. A decepção, a tristeza e a angústia cegaram os discípulos. Eles não acreditavam mais em nada: nem na palavra das mulheres, nem na dos discípulos que tinham ido ver o túmulo vazio. Estavam desconcertados e mergulhados numa crise de fé. Após se aproximar e se colocar a caminho com eles, Jesus os indaga e os escuta relatar aquilo que aconteceu.

Assistimos hoje esta mesma experiência nas comunidades cristãs. Estas andam a passos lentos. O número dos que professam a fé em Jesus com plena convicção está cada vez reduzido. As pessoas abandonam facilmente a comunidade devido a pequenos conflitos. A fé delas é tão fraca que não suportam as pequenas provações. Esquecem-se de que tais provações são necessárias para um maior enraizamento e amadurecimento da fé.

O aumento da depressão e de outros problemas de ordem psicológica são sinais evidentes do desespero. Com a boca, as pessoas professam a presença de Jesus: nas celebrações todos respondem fortemente: Ele está no meio de nós! Mas quando aparecem as provações o desespero é desolador. A cegueira e a surdez tomam conta das pessoas e não permitem que elas enxerguem e reconheçam Jesus em suas vidas e na vida da comunidade. Falar da presença de Jesus ainda é motivo de escândalo e confusão. Muita gente prefere permanecer cega, pois parece ser mais cômodo.

Jesus os adverte e lhes fala das Escrituras

“Como sois sem inteligência e lentos para crer em tudo o que os profetas falaram! Será que o Cristo não devia sofrer tudo isso para entrar na sua glória?” Após esta advertência, Jesus lhes fala de todas as passagens da Escrituras que falavam de sua pessoa e missão. Aqui os discípulos começam a reagir. Mais adiante eles vão dizer que, ao ter escutado Jesus falar das Escrituras, seus corações ardiam.

Não são poucas as pessoas que se deixam tocar pelas palavras das Escrituras Sagradas, muitas chegam a derramar lágrimas durante a meditação bíblica; outras ainda, afirmam receber revelações particulares a respeito do conteúdo da Bíblia, mas não passam disso. Quando o coração se rejubila ao escutar a Palavra de Deus é sinal de que a pessoa se envolveu com a leitura e meditação da mesma. Isto é bom, mas não é tudo. Até aqui os discípulos não conseguiram reconhecer Jesus.

A Igreja precisa ler e entender mais a literatura profética contida nas Escrituras Sagradas, pois ela fala de Jesus. Após a experiência de Jesus, os profetas continuaram e continuam escrevendo, mas escutá-los e entendê-los é algo difícil de acontecer. Os profetas costumam ser evitados. Jesus menciona as profecias porque sabe da força que elas possuem. A Igreja precisa escutar com humildade o que os profetas falam de Jesus e de sua missão, a fim de que possamos ter uma Igreja verdadeiramente profética e, conseqüentemente, pascal.

Jesus partiu o pão e foi reconhecido

Quando Jesus “fez de conta que ia mais adiante”, recebeu dos discípulos o convite: “Fica conosco, pois já é tarde e a noite vem chegando!” Atendendo ao convite, “entrou para ficar com eles”: é a hora da janta. No partir do pão, “os olhos dos discípulos se abriram e eles reconheceram Jesus”. Então, ele desaparece da frente deles.

Constata-se que Jesus queria ser reconhecido, ou seja, queria que eles acreditassem que ele tinha ressuscitado e que estava vivo no meio deles. Imediatamente, mesmo à noite, eles retornaram para Jerusalém, para junto da Comunidade dos Onze, onde puderam contar “o que tinha acontecido no caminho e como tinham reconhecido Jesus ao partir o pão”. Os outros discípulos também confirmaram a ressurreição e lhes contaram a aparição a Simão. Agora, sim, tendo encontrado e reconhecido Jesus, a comunidade dos discípulos é confirmada na fé e na esperança.

A Eucaristia é partilha do pão na comunidade. Podemos afirmar também que a Eucaristia gera e confirma a comunidade. A celebração da Eucaristia deve levar as pessoas ao reconhecimento de Jesus, ou seja, a participação no Corpo e Sangue de Cristo deve abrir seus olhos e corações para que possam reconhecer Jesus. Não adianta receber a Eucaristia sem reconhecer Jesus. Então, o que significa reconhecer Jesus?

Para reconhecer Jesus a pessoa precisa permanecer na comum-unidade, pois fora desta pode até haver conhecimento teórico de Cristo, mas jamais verdadeira comunhão com ele. Mesmo os que estão fora do Cristianismo, mas que acreditam em Jesus e em seu projeto, estão, de certa forma, inseridos em alguma realidade onde viva a comum-unidade: são os cristãos anônimos, reconhecidos pelo teólogo Karl Rahner no Concílio Vaticano II.

Para que exista a comm-unidade, as pessoas precisam se reconhecer, mutuamente; e tal reconhecimento passa, necessariamente, pela solidariedade. Dom Hélder Câmara conceituava solidariedade como amor de atos, não de palavras. Partilhar o pão é mais que participar da Eucaristia, é ser solidário com os que precisam de nossos gestos e palavras. Não adianta querer reconhecer Jesus somente na Eucaristia, enquanto pão e vinho no altar; é preciso reconhecê-lo no rosto do outro, nosso irmão. Precisamos aprender com Jesus no caminho para Emaús: a nos aproximar das pessoas, caminharmos com elas, escutá-las, permanecermos e partirmos o pão com elas.

A Igreja-hierárquica ou “Igreja-poder” precisa aprender com Jesus a fazer o mesmo, ou seja, aproximar-se cada vez mais dos pobres, caminhar com eles, escutá-los, permanecer com eles e partir com eles o pão da Palavra, da Eucaristia, da justiça e da solidariedade. A Igreja deve aprender com os pobres a ser a Igreja pensada por Jesus: humilde e serva da humanidade. Reanimar os desanimados, despertar a esperança nos desesperados, escutar o clamor dos oprimidos por justiça, assumir a esperança dos pobres constituem a missão da Igreja no mundo.


Tiago de França

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