domingo, 1 de maio de 2011

Testemunhar a ressurreição de Jesus


“A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo 20, 21).

Neste II Domingo da Páscoa somos chamados a meditar a respeito da atitude de Tomé, discípulo de Jesus, que só acreditou no ressuscitado quando o viu (cf. Jo 20, 19 – 31). Com São Pedro compreendemos que acreditar e amar Jesus são a fonte de nossa alegria, e é também a nossa salvação (1 Pd 1, 3 – 9). A alegria é uma experiência pascal, porque na alegria não há desespero, mas viva esperança. E Lucas, nos Atos dos Apóstolos, nos ensina que a comunidade que acredita no ressuscitado deve viver a fraternidade, pois fora desta não há testemunho de ressurreição. Em outras palavras, testemunha-se a ressurreição na escuta da Palavra de Deus, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações.

O medo, a paz e o envio

O medo é uma experiência humana da qual ninguém escapa. Nós temos medo de muitas coisas e o medo da morte parece ser o mais ameaçador. Os discípulos de Jesus tinham muito medo das autoridades dos judeus, pois estas os perseguiam por causa de Jesus. Por isso que o texto de hoje se inicia informando que estavam fechadas as portas do lugar onde eles estavam. Sem a presença de Jesus, que lhes dava segurança, os discípulos só contavam com o medo. Este os paralisava e os impedia de acreditar na ressurreição. Infelizmente, os discípulos tinham medo até de Jesus!

Por causa deste medo inerente à condição humana, Jesus, que também sentiu medo da morte no monte das Oliveiras, percebeu a necessidade de aparecer aos seus discípulos e realizar diante deles vários sinais, a fim de que acreditassem na sua ressurreição. No texto de hoje, aparece três vezes a saudação: “A paz esteja convosco”. Jesus sabia que seus discípulos estavam com medo e tomados por uma angústia estarrecedora, pois sua morte na cruz os deixou desorientados. Basta imaginar um grupo de pessoas seguindo aquele que se autoproclamou Filho de Deus e, de repente, este se encontra aparentemente derrotado numa cruz. De fato, a situação pós-morte do Mestre é desconcertante.

Jesus deseja-lhes a paz e sopra sobre eles o Espírito Santo, conferindo-lhe a graça de perdoar os pecados. Com este sinal Jesus não está instituindo o sacramento da reconciliação que existe na Igreja. O que temos como sacramento, teologicamente elaborado, é posterior à experiência de Jesus. Com o sopro do Espírito Santo, Jesus quer que seus discípulos dêem testemunho de sua ressurreição no mundo e quer também que esta missão seja exercida com a mesma autoridade com que ele se valeu. Com a força do Espírito Santo, os discípulos foram enviados para pregar a Boa Nova que forma a comunidade cristã.

Tomé e a experiência da visão do ressuscitado

Tomé não acreditou no testemunho das mulheres nem de seus coirmãos no discipulado que viram, antes dele, Jesus ressuscitado. Este o adverte: “Não sejas incrédulo, mas fiel”. Jesus exige a fé madura e consciente de Tomé e de toda pessoa que deseja segui-lo. A fé pressupõe fidelidade, ou seja, quem crê deve procurar ser fiel. Digo deve procurar porque nossa condição humana não nos permite sermos plenamente fiéis a Jesus. Por isso, nossa fidelidade é sempre imperfeita, vítima das provações e pecados que cometemos.

A experiência de descrença de Tomé é a experiência vivida por muitas pessoas que têm dificuldades para acreditar em Jesus. Elas querem ver sinais que provem que Jesus está vivo e presente na vida da comunidade. Na Igreja, há cristãos que desejam ver Jesus tal como ele é, como se isto fosse necessário na construção do Reino de Deus. Estes cristãos se esquecem que Jesus está presente na vida sofrida do povo de Deus, padecendo e ressuscitando na história.

Na verdade, todo cristão tem um pouco da incredulidade de Tomé, mas o que não pode acontecer é que tal incredulidade oriente a nossa vida. Para sermos testemunhas da ressurreição de Jesus precisamos depositar a nossa confiança em Jesus, ter fé nele e nos colocarmos em seu caminho. A nossa fidelidade ao caminho de Jesus nos torna testemunhas de sua ressurreição. É do testemunho que brota a comunidade e é nesta que se vive a fraternidade. Nós testemunhamos Jesus na comunidade e a existência desta é sinal de que estamos no caminho de Jesus.

O profeta José Comblin não se cansava de ensinar que “seguir Jesus não é render-lhe culto. Seguir Jesus é se colocar em seu caminho e perseverar”. Pois bem, ser testemunha da ressurreição de Jesus é segui-lo, portanto, é se colocar em seu caminho e perseverar. Crer no ressuscitado é colaborar na ressurreição dos pobres crucificados. Estes são vítimas de diversas injustiças, que precisam ser denunciadas.

No Cristianismo, infelizmente, temos mais pessoas que prestam culto a Jesus do que autênticos seguidores. A explicação disso deve-se à exigência fundamental do seguimento de Cristo: a entrega da própria vida. Neste mundo seduzido pelo poder, pelo prestígio e pela riqueza, poucos são os que estão dispostos a entregar a própria vida na construção do Reino de Deus inaugurado por Jesus de Nazaré. Neste sentido, é mais fácil e mais cômodo cultuar Jesus do que segui-lo.

O texto evangélico deste Domingo termina com as seguintes palavras: “Jesus realizou muitos outros sinais diante dos discípulos, que não estão escritos neste livro. Mas estes foram escritos para que acrediteis que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome”. Jesus ressuscitou para termos vida nele. Deus ressuscitou Jesus dentre os mortos porque quer que a vida prevaleça sobre a morte. Assim, a celebração da Páscoa de Cristo é a celebração da vida, e celebrar a vida significa assumir, afetiva e efetivamente, a defesa e a promoção da vida do todo ser humano explorado e, portanto, sofredor.

A Igreja vive a experiência da Páscoa de Jesus quando trabalha a serviço da ressurreição dos empobrecidos, pois estes carregam unidos a Jesus, a pesada cruz das injustiças que lhes são cometidas. A Igreja é chamada a ser um sinal de ressurreição no mundo, jamais uma cruz nas costas do povo de Deus. E neste 1º de Maio, Dia do Trabalhador e celebração da memória de São José, operário; não podemos deixar de reconhecer o valor do trabalho na vida do ser humano e de denunciarmos a falta do mesmo na vida de tanta gente, falta que gera fome, violência e tantos outros males oriundos da privação das mínimas condições de vida digna.


Tiago de França

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