sexta-feira, 20 de maio de 2011

Venancinho e o abandono da juventude


Desde que cheguei a Campina Verde – MG, ouço falar de um famoso jovem chamado Venancinho. Segundo o que se ouve falar, trata-se de um jovem ladrão, menor de idade, conhecido por todos, que já vitimou muitas pessoas e famílias. Ontem, 18 de maio, Venancinho completou 18 anos. Devido ao excesso de jargões a respeito da personalidade deste jovem, achei por bem redigir uma breve reflexão sobre o estado em que se encontra a juventude brasileira.

Quem é Venancinho?

Há duas respostas para esta pergunta: uma, corresponde à realidade do jovem em si mesmo e a outra, refere-se ao que a sociedade prega a respeito dele. A respeito da realidade do jovem pontuemos algumas informações: negro de família pobre; usuário de drogas desde os onze anos; estudou até à 5ª série em escola pública; preso várias vezes; foi internado uma vez para tratamento, mas se recusou a se recuperar; teve uma infância comum; não sofre de distúrbio mental; nascido e criado na periferia da cidade; conviveu com pai alcoólatra; enturmado com adolescentes e jovens usuários de drogas; incorre facilmente para o latrocínio e à desordem. Esta é a realidade de vida do Venancinho.

De modo geral, o povo campinaverdense rotula-o como um fino ladrão, capaz de desordens sem limites. Digo de modo geral porque sempre existe quem pensa diferente. Que os roubos e outras desordens acontecem disto ninguém duvida, pois são muitas as pessoas vítimas das ações criminosas do mesmo. A presente reflexão não quer inocentá-lo disso. Contra a veracidade de tais fatos não há argumento contrário. Qual é, então, o problema da opinião pública a respeito do Venancinho? Na expressão das pessoas encontramos dois gravíssimos problemas, a saber: a falta de preocupação pelo ser humano e a demonização da pessoa.

O ser humano, mesmo sendo capaz de pensar e neste pensar julgar e discernir a realidade, costuma construir juízos sem levar em consideração as causas que levam aos fatos. No caso do Venancinho, infelizmente, não se pergunta pelas causas que o levaram ao estado em que o mesmo se encontra. Há uma pergunta reveladora e fundamental: Por que ele age dessa maneira e não honestamente? Esta indagação levar-nos-á às causas que explicam as ações maléficas cometidas pelo jovem em questão. Há ainda uma segunda pergunta que nos interessa: Por que as pessoas não se perguntam pelas causas?...

A resposta à segunda pergunta é simples: Porque as pessoas não querem assumir responsabilidade para com o acusado. E, mais que isto: as pessoas, agindo dessa forma, demonstram a ausência de autêntica preocupação pela vida do outro. Lamentavelmente, numa sociedade que prega e vive o individualismo que se traduz nas expressões “salve-se quem puder” e “cada um cuide de sua vida”, o outro deixou de ser motivo de preocupação e cuidado. Desta falta de preocupação e cuidado surge a demonização do outro.

Só há uma intenção na demonização de pessoas e instituições: a eliminação das mesmas. Costuma-se demonizar com o intuito de se ver livre de alguém ou algo que está incomodando, que está causando dor na consciência. A demonização do outro ocorre direta ou indiretamente, portanto, consciente ou inconscientemente. O inconsciente coletivo, formado pela cultura da eliminação do outro, prega e vive a ideologia que gera a morte das pessoas. Por isso, é comum escutarmos as pessoas afirmar: “Só a morte dá um jeito em Venancinho!”

Há um forte sentimento de vingança e morte no inconsciente coletivo. Citemos um exemplo para entendermos melhor: os EUA assassinaram o terrorista Osama bin Landen. Esta morte foi motivo de festa até altas horas da madrugada nos EUA. Será que não há algo errado em festejar o assassinato de uma pessoa? Há quem diga: “Sim, foi justo festejarmos, pois se tratava de um terrorista”.

Barack Obama e tantas outras pessoas disseram: “A morte de Osama bin Laden fez justiça às suas vítimas”. Há justiça na morte do injusto? O Deus da vida e Pai de Jesus responde claramente nas Escrituras: “Por minha vida, oráculo do Senhor Iaweh; certamente não tenho prazer na morte do ímpio; mas antes, na sua conversão, em que ele se converta do seu caminho e viva” (Ez 33, 11). Por que os EUA não prenderam e não condenaram Osama bin Laden à prisão perpétua? Porque a intenção era matá-lo.

O genocídio da juventude no Brasil

O Brasil é um dos países onde há o maior número de jovens assassinados no mundo. No ranking da UNESCO, o terceiro lugar nos pertence. Quem são os jovens assassinados no Brasil? Geralmente, são pobres, negros, analfabetos funcionais e os mal escolarizados, moradores das periferias das grandes e pequenas cidades, e os jovens sem profissão definida. O Estado é desprovido de políticas públicas eficientes para a defesa e a promoção da juventude brasileira. Quando o Estado aparece é para reprimir, prender e executar os jovens.

A Escola e as Igrejas também não sabem lidar com a juventude e, além de não saber, pouco se preocupam e buscar soluções. Na Escola, cada jovem matriculado significa dinheiro do FUNDEB. A verba vem por cabeça. Por isso, expulsá-los, jamais! O vício sistêmico ordena que o estudante, mesmo sem estar preparado deve passar para a série seguinte. Faltar com a educação de qualidade não é crime, crime é perder o estudante; pois perdê-lo é prejuízo financeiro para os cofres públicos dos governos municipais. Nas Igrejas, a juventude não é priorizada e, quando isto acontece, busca-se enquadrar dogmaticamente os jovens sem promovê-los em sua dignidade. Como os jovens não gostam de verdades prontas e impostas, a religião é desprezada por eles.

Na Família, o jovem não encontra espaço para viver, pois a maioria das famílias está totalmente desestruturada. Há uma confusão e uma crise nos papéis exercidos na Família. A conseqüência disso é evidente: a rua e os guetos tornam-se os lugares comuns onde os jovens podem ser encontrados. Destituídos de valores humanos, morais, religiosos e éticos, a juventude, de modo geral, fica desnorteada e cai nos porões desumanizadores da humanidade: drogas, prostituição, violência e tantos outros males.

“Irmãos, o que devemos fazer?” (At 2, 37)

Esta foi a pergunta que os judeus fizeram aos apóstolos após a exortação de Pedro a respeito da ressurreição de Jesus de Nazaré. A resposta de Pedro, entre outras palavras, foi: “Convertei-vos...” As instituições do Estado, da Família e das Igrejas precisam de uma séria conversão estrutural, e tal conversão passa pela defesa e promoção da vida humana. A vida do ser humano deve ser priorizada. Políticos, magistrados, promotores e defensores públicos, pais e mães de família, pastores evangélicos, clérigos católicos e demais lideranças religiosas; enfim, todo ser humano deve, em seus pensamentos, palavras e ações defender e promover a vida. Priorizar a vida significa reorientar intenções e atitudes.

Enquanto as mencionadas instituições não aprenderem a trabalhar em parceria, a juventude brasileira continuará abandonada. Soluções emergenciais e, portanto, momentâneas não resolvem. A solução está na mudança da mentalidade e na conversão das estruturas de poder. Os jovens não são maus nem rebeldes por si mesmos, há fortes estruturas e influências que os levam a serem do jeito que são. Ninguém nasce mal nem se torna mal porque quer. Na sua natureza mais íntima, o ser humano detesta e repudia a maldade.

Considerações finais

Para concluir, voltemos ao caso do jovem Venancinho. Este, ao completar 18 anos no dia de ontem, entrou para a lista dos objetos de desejo de morte de muitas pessoas. Percebe-se que a maioria da população espera, ansiosamente, pela notícia da morte do mesmo. Os menos maliciosos esperam que ele responda, enquanto adulto, pelos crimes cometidos. Há outros, ainda, que com terço e marcação de Missas, rezam para que seja eliminado de vez. Todas estas pessoas pensam que a morte do rapaz vai resolver o problema da violência e das drogas em Campina Verde.

A participação na Eucaristia torna-se gesto de plena condenação para as pessoas que demonizam e desejam a morte de quem quer que seja. Por mais criminosa que seja uma pessoa, esta não merece a morte. Todos queremos viver e viver bem. Alegrar-se com a morte do pecador é um pecado grave. Quem professa a fé cristã sabe que Jesus optou pelos desvalidos e mal afamados do seu tempo. Assim sendo, o cristão está desautorizado a julgar e condenar o próximo. O mandamento do amor, fundamental no seguimento de Jesus de Nazaré, pressupõe misericórdia e solidariedade.

A verdadeira atitude do cristão em casos como este deve ser evangélica. Certo dia, escutei de um Padre jesuíta, missionário no nordeste: “Quando não podemos ajudar uma pessoa, não podemos atrapalhar a sua vida. Quando não soubermos nem pudermos reforçar sentimentos positivos, não podemos reforçar o negativo do outro nem lhe levantar falso testemunho”. Cremos que estas palavras valem para todos quantos tomarem conhecimento da situação do Venancinho.

Rogo ao bom Deus que este jovem não venha a ser tragicamente assassinado. Peço também que o socorro lhe venha a tempo. Mas se vier a acontecer a morte prematura deste pobre e odiado rapaz, de quem será a culpa? De acordo com a presente reflexão e com a consciência verdadeiramente livre de toda contaminação ideológica, peço ao leitor que responda no tempo oportuno.


Tiago de França da Silva
Campina Verde – MG, 19 de maio de 2011.

Obs.: Texto escrito para os membros do Curso de Formação Popular de Bíblia, grupo com o qual trabalho semanalmente.

4 comentários:

Anônimo disse...

Vc é um anjo enviado por Deus a nossa cidade,Tiago!
Parabéns pelo artigo humano,profundo e realista.
Td q vc disse aqui é a + pura realidade e muito +.
tenho filhos e netos...me doi d+ pensar o q a MAE dele ta sofrendo.
Ele tbm,pq tenho certeza q como vc falou:NINGUEM GOSTA DE SER MAL,NINGUEM GOSTA DE VERDADE DE FAZER MALDADE.
OBRIGADA PELO (DESABAFO)... Q TAMBÉM É MEU.
DEUS TE ILUMINE SEMPRE.

Anônimo disse...

Na verdade o Venâncinho é um anjo enviado por Deus.
Acho um absurdo o que as pessoas falam dele. Ele é na verdade um exemplo pra sociedade campinaverdense. Só me resta agradecer a esse ser iluminado por todos os serviços prestados a nossa sociedade. OBRIGADO VENANCINHO E CONTINUE FURTADO TODOS NÓS POR MUITOS E MUITOS ANOS.

Anônimo disse...

Aqui quem vós fala é o enviado de deus que vai dar um basta as maldaddes desse ladrão cara de pau. Aqui vai meu recado ao Venancinho eu vou te matar até Dezembro de 2011, você vai morrer.

Anônimo disse...

Quanta hipocrisia, fazem tantos discursos lindos, mas quero ver é vocês ajudarem realmente um maconheiro, ladrão que vitima muitas famílias trabalhadoras, que saem cedo de casa para chegar e ver a casa arrombada por um delinquente que de anjo não tem nada. Levem ele para as suas casas ai me digam como é a realidade.