sábado, 18 de junho de 2011

Santíssima Trindade: comunidade de amor e comunhão


“Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo,
mas para que o mundo seja salvo por ele”
(Jo 3, 17).

A Solenidade da Santíssima Trindade nos convida a uma reflexão sobre o mistério central da fé cristã: a revelação divina. Ao longo da história da salvação esta revelação é um mistério que se mostra infinitamente inesgotável. A Trindade é Deus. Esta verdade pode parecer simples, mas a explicação metafísica desta afirmação é complexa. Tal explicação se mostra desnecessária para o momento. Ao longo da história, os teólogos elaboraram teorias a respeito do mistério trinitário, mas tudo não passa de especulação teológica, pois ninguém consegue desvendar o mistério da Trindade.

Deus é Pai

As Escrituras falam, em primeiro lugar, do Pai. Este aparece como o Criador de todas as coisas: do mundo e do homem. Quando este se deixa escravizar pelo seu semelhante, o Senhor se manifesta como o libertador. A partir desta libertação, homens e mulheres começam a ter uma relação íntima e maravilhosa com Deus. Segundo Moisés, o Senhor Deus é misericordioso, clemente, paciente, rico em bondade e fiel (cf. Ex 34, 4b – 6).

Até o envio de Jesus, o Filho de Deus, ao mundo, a história mostra que Deus permaneceu junto ao seu povo. Este quase nunca lhe foi obediente, mas Ele, por meio das lideranças escolhidas guiou, cuidou, deu força, defendeu, corrigiu, esteve junto e criou o seu povo. Portanto, com muita razão Jesus revelou que Deus é Pai e, pela sua paixão, morte e ressurreição, concedeu ao ser humano a graça de também chamá-lo de Pai; não somente chamá-lo, mas tê-lo como Pai.

Deus veio ao mundo no Filho

Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus “deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo aquele que nele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16). Preocupado com a vida e com a liberdade do ser humano por ele criado, Deus desceu do céu à terra para armar sua tenda no mundo e habitar, humanamente, com seu povo. Deus se deu a conhecer encarnando-se no mundo na pessoa de seu Filho unigênito, Jesus de Nazaré.

Com Jesus ficou mais fácil conhecer, entender e servir a Deus. Este, assumindo a condição humana em tudo, exceto no pecado, deixou de ser visto como o Altíssimo, o Todo-poderoso, o Senhor dos Exércitos, o Terrível, o Inatingível. Em Jesus de Nazaré, Deus se tornou plenamente humano, compreensível e próximo do ser humano. Tal proximidade não se deu de forma espiritual, mas carnal e escandalosamente humana.

No Antigo Testamento, o Pai optou pelos oprimidos, os empobrecidos. Não se contradizendo a si mesmo em sua opção, no Novo Testamento nasce, cresce e morre no meio dos empobrecidos. Identificado pela causa da libertação destes, Jesus inaugura o Reino do Pai no meio e a partir dos empobrecidos. Estes são, de verdade, os operários e herdeiros do Reino. O Filho assume a missão dada pelo Pai fielmente até o fim, até a morte de cruz; e, para que este Reino continue sendo construído, o Pai ressuscitou seu Filho para, junto com o Espírito Santo, continuar a obra iniciada.

O Espírito: força do Pai e continuador da obra do Filho

O Espírito enviado pelo Pai é sua força criadora e renovadora. Enviado com a missão de encorajar e fazer com que as pessoas entendam o projeto de Deus e se coloquem a seu serviço, o Espírito realiza tudo isto fazendo, juntamente com os apóstolos de ontem, hoje e sempre, com que todas as nações se tornem discípulas de Jesus. É no seguimento de Jesus que a vida acontece.

O Espírito não dispersa nem desorienta o povo, mas ajuda-o a permanecer no caminho de Jesus, pois é neste caminho que se constrói o Reino do Pai. Conhecendo a natureza humana, marcadamente limitada, o Pai envia sua força que é capaz de criar e renovar o ser humano, o mundo e todas as coisas. Esta força assegura a vitória dos empobrecidos sobre o pecado, a morte e sobre todas as formas de opressão.

Contando com a força divina, o povo de Deus segue sua marcha na história. A Igreja, que se autoafirma sacramento universal de salvação (cf. Lumen Gentium, 48) deve escutar e obedecer ao Espírito Santo e se colocar, afetiva e efetivamente, a serviço da libertação integral do ser humano construindo, assim, o Reino do Pai. E o que o Espírito diz à Igreja é que ela deve permanecer, humilde e fielmente, do lado dos empobrecidos, jamais do lado dos que os empobrece.

A Trindade: comunhão de amor para a vida no mundo

“Deus é amor: aquele que permanece no amor permanece em Deus e Deus permanece nele. Se alguém disser: ‘Amo a Deus’, mas odeia o seu irmão, é um mentiroso: pois quem não ama seu irmão, a quem vê, a Deus, a quem não vê, não poderá amar” (1 Jo 4, 16. 20). Estas palavras do apóstolo João são claras e não exigem explicação. Elas falam sobre quem é Deus e como se deve proceder para amá-lo.

Não se ama a Deus por palavras, juramentos, declarações, discursos ou atos litúrgicos. Tudo isto pode revelar o amor que existe no cotidiano da vida. Dom Hélder Câmara, um dos profetas do Senhor, ensinava que não se ama a Deus por palavras, mas através de atos. O mesmo Deus, que é amor e nos chama ao amor, nos ensina a amar nos amando. Não se aprende a amar através de teorias que apelam para o entendimento, mas através do amor ao próximo.

Assim, podemos concluir nossa reflexão: Tem fé na Trindade quem ama. O amor é a condição necessária para se compreender a Deus. Deus se deixa revelar quando arriscamos viver por amor. Não há outro caminho para se chegar a Deus. Nós precisamos amar a Deus, pois nossa vida depende de seu amor. Não é possível ter vida plena sem o amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Esta é a lei do cristão, capaz de nos libertar para a construção de um mundo novo.


Tiago de França

Um comentário:

ALEXANDRE MAGNO disse...

Tiago gosto muito desta figura, pois esta obra demonstra a pericórese. Ou seja, um sentido de complementariedade das três pessoas em um só DEUS.