sábado, 4 de junho de 2011

Solenidade da Ascensão do Senhor


“Homens da Galiléia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Este Jesus, que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu” (At 1, 11).

Os textos bíblicos da Liturgia da Palavra deste Domingo da Ascensão do Senhor (cf. At 1, 1 – 11; Ef 1, 17 – 23 e Mt 28, 16 – 20) falam da volta de Jesus para junto do Pai. Veremos que não se trata de uma volta propriamente dita, mas da confirmação de sua presença amorosa entre nós: Jesus permanece no meio de nós! Qual o significado da presença de Jesus entre nós? Vamos pensar uma resposta a esta indagação a partir das palavras do próprio Jesus. Esta Solenidade nos convida a revermos o nosso desejo de ir para o céu colocando-nos diante do desafio de sermos operários na construção do Reino de Deus.

A instauração do reino em Israel e a volta iminente de Jesus

“Senhor, é agora que vais restaurar o reino em Israel?” (At 1, 6). Este era o anseio de muitos que conviveram com Jesus: esperavam que ele fosse instaurar o reino em Israel. De fato, antes e após a ressurreição, muita gente pensava que Jesus fosse realizar uma libertação política em Israel, mas esta não era a sua missão. O reino de Jesus era o Reino de Deus. Incansavelmente, precisamos insistir nesta verdade: Jesus foi enviado pelo Pai para inaugurar seu Reino neste mundo. Compreender isto é de fundamental importância para compreender a pessoa e a missão de Jesus.

Por volta dos anos 80, as comunidades estavam cansadas e impacientes. Elas se perguntavam pela vinda de Jesus, pois este tinha prometido que iria voltar. Elas também se perguntavam pelo fim dos tempos. Eis a resposta de Jesus, que a obra lucana fez questão de considerar: “Não vos cabe saber sobre os tempos e os momentos que o Pai determinou com a sua própria autoridade. Mas recebereis o poder do Espírito Santo, que descerá sobre vós para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e na Samaria e até os confins do mundo” (At 1, 8).

Com esta resposta de Jesus aprendemos que a preocupação fundamental não deve ser a volta iminente de Jesus nem o fim dos tempos, estas coisas não devem preocupar o cristão. Este recebe o poder do Espírito Santo para testemunhar Jesus no meio do mundo: dar testemunho de Jesus é a missão do cristão e deve ser a sua preocupação fundamental. Não se pode perder tempo com cálculos nem com expectativas em relação à parusia do Senhor. Quem muito se ocupa com a volta iminente de Jesus termina se esquecendo de preparar a sua volta. Tal preparação acontece na construção do Reino de Deus.

Duas atitudes opostas entre si: Viver olhando para o céu versus evangelizar

“Homens da Galiléia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu?” (At 1, 11). Esta foi a pergunta dos dois homens vestidos de branco aos discípulos de Jesus. Na vida eclesial há uma gravíssima tendência: o cristão e a Igreja ficarem olhando para o céu. Para estar livre desta ociosidade é preciso obedecer ao mandato missionário de Jesus: “... ide e fazei discípulos meus todos os povos...” (Mt 28, 19). Assim, compreendemos que a missão do cristão e da Igreja é evangelizar e, segundo Mateus, evangelizar é fazer com que todos os povos sejam discípulos de Jesus.

O Papa Paulo VI, no n. 18 da Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi (EN), nos fala do significado, para a Igreja, do que é evangelizar: “Evangelizar, para a Igreja, é levar a Boa Nova a todas as parcelas da humanidade, em qualquer meio e latitude, e pelo seu influxo transformá-las a partir de dentro e tornar nova a própria humanidade: ‘Eis que faço novas todas as coisas’" (cf. AP 21, 5; 2 Cor 5, 17; Gl 6, 15).

O mesmo documento pontifício confirma o que acima dissemos a respeito da missão da Igreja: “[...] Evangelizar constitui, de fato, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. Ela existe para evangelizar [...]” (n. 14). Estas palavras do Papa Paulo VI nos mostram, claramente, que a Igreja tem consciência de sua missão no mundo. A Igreja nasce da missão, deve viver para a missão e se realizar na missão. Fora desta não pode existir nem evangelização nem Cristianismo.

Para que a missão evangelizadora seja eficaz no mundo, a Igreja precisa realizar uma autoevangelização: “Evangelizadora como é, a Igreja começa por evangelizar a si mesma. [...] Ela tem necessidade de ouvir sem cessar aquilo que ela deve acreditar, as razões da sua esperança e o mandamento novo do amor” (EN, n. 15). Esta autoevangelização se dá por meio da conversão pastoral e estrutural da Igreja.

Com o Espírito Santo, Jesus permanece conosco para nos recordar da missão a qual somos chamados e nos encorajar para que a mesma possa ser efetivada. Sem a presença de Jesus e a força do Espírito Santo, o cristão e a Igreja não conseguem evangelizar.

Na sua mensagem para o 45º Dia Mundial das Comunicações, a ser celebrado neste Domingo, escreve o Papa Bento XVI: “A verdade do Evangelho não é algo que possa ser objeto de consumo ou de fruição superficial, mas dom que requer uma resposta livre. Mesmo se proclamada no espaço virtual da rede, aquela sempre exige ser encarnada no mundo real e dirigida aos rostos concretos dos irmãos e irmãs com quem partilhamos a vida diária. Por isso permanecem fundamentais as relações humanas diretas na transmissão da fé!”

De fato, evangelizar o mundo e o homem de hoje não é tarefa fácil, pois a globalização das más notícias toma conta do cenário mundial dos meios de comunicação. Isto exige dos cristãos profundas convicções e audácia profética, para, no meio de tanta desgraça e má notícia, anunciar a Boa Notícia que liberta, integralmente, o ser humano. Este anúncio deve ser livre de todo e qualquer proselitismo, pois o Evangelho é mensagem de vida e de liberdade que liberta o mundo e o homem da morte e da mentira.

Neste Domingo se inicia a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (SOUC). A unidade cristã não pressupõe uniformidade, mas unidade no respeito à diversidade das manifestações religiosas da fé. A uniformidade é o oposto da unidade e a impede de acontecer. Unidade cristã não significa o retorno de todos os cristãos ao seio da Igreja Católica: isto é desejo de uniformidade.

Unidade cristã é a vivência do respeito, da tolerância, da solidariedade, do perdão, da concórdia e do amor entre pessoas que procuram seguir o mesmo Cristo e anunciam o mesmo Evangelho. Esta unidade acontece quando os cristãos se abrem à ação do Espírito Santo para serem operários na construção do Reino de Deus, independentemente de denominação religiosa; do contrário, assistiremos sempre a incompreensões e conflitos que jamais cessarão. A falta de unidade entre os cristãos é um grave contratestemunho para o mundo.


Tiago de França

Um comentário:

Fabrício Tesla disse...
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