sábado, 6 de agosto de 2011

Ir ao encontro de Jesus de Nazaré


“Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!” (Mt 14, 27)

Quem quiser seguir Jesus deve se colocar no seu caminho e perseverar. Não há outra alternativa. Fala-se muito em seguimento, mas são poucos os que têm a coragem de procurar e se colocar no caminho onde se encontra Jesus de Nazaré. Perguntar-se pelo caminho já significa deslocar-se rumo ao mesmo.

Há pessoas que pensam que o caminho de Jesus de Nazaré se encontra no interior da Igreja, ou seja, na participação no culto e nos sacramentos. Estes são necessários, mas por si mesmos não são o caminho. Eles podem nos colocar no caminho ou não, isto depende da nossa maneira de participar deles.

Há outros, ainda, que desacreditam da religião e procuram fazer seu próprio caminho: inventam um estilo de vida e um deus para si. Vivem conforme seu pensamento e as verdades elaboradas pelo mesmo. Estas pessoas se decidiram pelo isolamento esquecendo-se de que o seguimento é comunitário.

Um terceiro tipo pode ser visto nas pessoas que, espiritualmente, vivem à margem de tudo, sem a mínima preocupação com a dimensão espiritual da vida humana. Elas vivem totalmente voltadas para o mundo, buscam somente a realização pessoal por meio do maior número possível de satisfações, porque acreditam que tudo termina com a morte. Jesus e seu Evangelho não são matéria de interesse algum.

A formação religiosa que foi se dando ao longo dos séculos, principalmente a partir dos tempos de Cristandade, levou as pessoas a identificar a fé com a pertença à religião: fora da religião não existe fé nem salvação. Estando na religião, sendo membro da Igreja eram extremamente necessárias as práticas religiosas. Esqueceram-se de que o seguimento de Cristo ultrapassa as práticas religiosas e não depende necessariamente delas.

Afinal de contas, onde está o caminho de Jesus de Nazaré? A partir de Mt 14, 22 – 33 podemos afirmar, categoricamente, que o caminho não está na lei, nos códigos ou prescrições, na obediência à hierarquia ou no interior da própria Igreja. Para chegar até Jesus, o apóstolo Pedro teve que sair da segurança da barca. Os que permaneceram na barca não correram o risco de afundar, pois estavam em segurança.

Jesus não vivia na barca nem no templo, mas à margem, na beira do caminho e sobre as águas agitadas do mar da vida, num conflito permanente com os exploradores do povo de Deus. A grande tentação de todos os tempos é a busca pelas seguranças que a vida pode oferecer. Isto explica o porquê da Igreja não querer rever suas estruturas, pois estas oferecem segurança a todo aquele que dela depender. Fala-se contra as estruturas e contra a pastoral de manutenção, mas não se tem coragem de renunciá-las.

A experiência do êxodo é ardorosa e quase que impossível de ser vivida no mundo e na Igreja atuais. Toda saída implica insegurança, medo, expectativa, angústia, renúncia, coragem, ousadia e despojamento. Estas palavras não despertam interesse no homem hodierno. As pessoas querem ser felizes cultivando facilidades, comodidades, vantagens; gastam suas energias buscando seus próprios interesses.

No caminho de Jesus não existe nada disso, pois está alicerçado na fraternidade, gratuidade, liberdade, amor, partilha, solidariedade, comunhão, dentre outros valores evangélicos. Fora do caminho de Jesus não existe autêntica adesão à fé cristã, mas medo e dúvida. Colocar-se no caminho de Jesus é o único caminho de libertação do medo e da dúvida.

No caminho de Jesus não há segurança alguma, a não ser ele mesmo. Jesus é a única segurança e riqueza de seu discípulo. O caminho é estreito, pedregoso, perigoso e arriscado. O testemunho dos mártires nos ensina que se trata de um caminho onde a doação da própria vida é a exigência fundamental. Quem não quiser doar a própria vida na construção do Reino de Deus não deve se colocar no caminho de Jesus.

Doar a própria vida é entregar, totalmente, a própria vida nas mãos de Deus na certeza de que este mesmo Deus agirá no mundo por meio desta vida plenamente entregue. Por isso, a vida entregue a favor da construção do Reino é prova segura da ação amorosa de Deus no mundo. Não adianta ficar na segurança da barca e esperar de braços cruzados a ação libertadora de Deus. Deus se torna como que impotente na vida de quem se acomoda e se refugia nas seguranças deste mundo.

Em meio ao medo e à dúvida, que são comuns a todo ser humano, o cristão precisa ir ao encontro de Cristo e, mesmo que afundando nas tempestades da vida, precisa acreditar que jamais será abandonado por aquele que disse: “Vem!” O mesmo se pode dizer à Igreja. Esta precisa ousar renunciar sua pretensão de hegemonia e grandeza, para se tornar, afetiva e efetivamente, uma pobre servidora da humanidade.

Concluamos com uma prece ao Deus bendito, que enviando Jesus nos anima na caminhada da luta incansável pela liberdade e pela vida:

Pai,
Tu conheces o interior de cada um de nós,
Conheces nossos medos e nossas dúvidas.
Sabes também de nossas capacidades, virtudes e limitações.

Numa noite de mar bravio
Teu filho fez um convite a teu servo Pedro:
“Vem!”
Creio que continuas a nos fazer o mesmo convite.

Pai,
Pela força do teu Espírito, rogo-te desesperadamente:
Desinstala-me interiormente
E lança-me no meio do mundo!

Meus irmãos e teus filhos, meu Deus,
Estão no mundo que criaste com amor e zelo.
Dá-me, ó Pai, a tua mão e segura-me.
Não me largues nem permitas que eu saia do caminho de teu Filho:
Caminho da justiça e da solidariedade,
No mundo.

Amém!


Tiago de França

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