segunda-feira, 10 de outubro de 2011
O dia quer nascer
Hélder Câmara, boca de Deus
Disse um dia
Que depois de uma prolongada noite nasce
O dia
Noite:
Escuridão, dúvidas, solidão, deserto, escassez, falta...
Medo, covardia, silêncio omissivo, traição
Estagnação
Há homens ilustres da noite
Amantes daquilo que é noite, não daquilo que parece noite...
Nas caladas planejam...
Planejam silêncios, ameaças, distorções, sutil e maliciosamente
Dia:
Claridade, transparência, grito, abundância, coragem...
Rostos suados, movimento, transformação
Liberdade
Há filhos do dia
Amantes daquilo que é dia, não daquilo que parece dia...
Gritando, clamando, caminhando, arriscando-se, perseguidos em meio aos gemidos...
Livres
E o dia não vem,
Que agonia!
E a noite não passa,
Que calamidade!...
Poucos gostam do dia,
Muitos amam a noite...
E a criação geme em dores de parto
E a criança não nasce!...
E o novo quer respirar
O velho que se impor...
E as pessoas olham, gritam, choram
Estão com fome.
Fome
De justiça, de pão, de paz.
Fome
De amor, de liberdade, de vida.
A vida,
Quer, ousada e sufocadamente,
Viver.
Porque sobreviver é pequeno, é pouco, é nada...
A vida,
Escondida, sufocada, maltratada, perseguida,
Morta,
Viverá. Sempre e permanentemente,
Virá, sobreviverá e, enfim, viverá...
Tiago de França
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