sábado, 5 de novembro de 2011

Vocação à santidade


“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mt 5, 3).

Neste Domingo, a Igreja celebra a Solenidade de Todos os Santos. Muito se tem falado a respeito do significado da santidade. Na história da Igreja encontramos inúmeros santos e santas. Há os que foram canonizados e há os que até hoje continuam no anonimato. Vamos falar de algumas características que falam do significado da santidade. Antes, precisamos fazer três considerações que nos ajudam a compreender os santos.

Primeira consideração: todo santo vive numa época e num contexto específico. Não há santo fora do mundo. Portanto, está situado num contexto histórico, marcado por aquilo que é próprio do mundo. Ninguém é alheio ao tempo e ao espaço. O santo é alguém que vive, simples e humildemente, no mundo. Humano, não pode ser visto como alguém que foi agraciado com o privilégio da santidade. Esta não é privilégio de alguns, mas vocação universal, chamado para todos.

Segunda consideração: todo santo é um ser humano. A verdadeira santidade consiste em ser verdadeiramente humano. Assim, não se pode esperar que o santo tenha alguns poderes sobrenaturais que o transforme num semideus e/ou num ser especial. Os santos não têm poder para nada, pois somente Deus é o Todo-poderoso. Não se pode querer ser santo esperando que Deus confira poderes especiais para ajudar outras pessoas.

Terceira consideração: nenhum santo pode ser colocado acima ou no lugar devido somente a Deus; do contrário, comete-se o pecado da idolatria. Os santos não são auxiliares de Deus, não são representantes de Deus, não são dispensadores das graças divinas. Jesus de Nazaré, o Santo de Deus, nos ensinou a irmos diretamente a Deus, sem medo e com alegria filial. Recebemos de Deus um presente de amor, que consiste na graça de sermos chamados filhos de Deus (cf. 1 Jo 3, 1). Um filho não precisa de intermediários para viver em comunhão com o Pai.

Explicitadas as considerações, discorramos sobre três características fundamentais da vocação à santidade.

A santidade acontece no seguimento de Jesus de Nazaré. A santidade consiste em se colocar no caminho de Jesus de Nazaré: caminho estreito e pedregoso. Este caminho passa pela cruz e esta são as realidades sofridas deste mundo. A cruz simboliza os crucificados da história. Por isso, o santo é alguém que vive unido aos crucificados deste mundo através da misericórdia, da fome e da sede de justiça. Misericórdia e justiça: práticas permanentes dos que se arriscam permanecer no caminho de Jesus. Fora deste caminho não há santidade nem salvação.

A santidade acontece na pobreza. Ser pobre é ter acesso às condições necessárias a uma vida digna. Segundo Jesus de Nazaré, isto nos basta. Portanto, toda pessoa que acumula, que se apega, que vive em função das riquezas não entrará no Reino de Deus. O pecado destas pessoas consiste na insensibilidade, na falta de compaixão para com aqueles que não têm o mínimo para sobreviver. Quem for escravo das riquezas deve procurar nelas a sua salvação, jamais no Deus e Pai de Jesus de Nazaré, que é o Deus da solidariedade e da partilha. Neste sentido, o santo é alguém despojado, que se contenta somente com o necessário para viver; é alguém livre do apego às riquezas.

A santidade acontece no amor e na liberdade. O testemunho de Jesus de Nazaré descrito no seu Evangelho é um testemunho de amor. Amar a Deus e ao próximo é a lei que deve reger a vida de quem deseja seguir Jesus e ser santo. O amor é o único meio para humanizar e salvar o ser humano: fora do amor não há realização nem verdadeira felicidade. Porém, é preciso ter cuidado para não confundir amor com apego. Toda pessoa que estiver vivendo a aventura do amor deve se perguntar: o que estou vivendo é amor ou apego?...

O amor conduz à liberdade e o apego à escravidão. Quem ama quer ver o outro livre e quem se apega, apodera-se do outro. Quem ama, mesmo não “tendo” o outro próximo a si, sente-se feliz, porque sabe que o amor ultrapassa o tempo e o espaço; quem se apega depende necessariamente da presença, do querer, do gosto, da vontade e de tudo aquilo que o outro é. No apego, a morte do outro é a minha própria morte. Somente no amor há caminho de liberdade e de libertação: no amor os seres humanos conseguem ser livres e, conseqüentemente, felizes. O santo é alguém que ama na liberdade e para a liberdade.


Tiago de França

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