“Bom
pastor, pão de verdade, piedade, ó Jesus piedade, conservai-nos na unidade,
extingui nossa orfandade, transportai-nos para o Pai” (Sequência).
O Pão descido do
céu
Deus enviou Jesus ao mundo com a
missão de inaugurar o Reino. Ele se encarnou de uma vez por todas na
humanidade, tomou forma humana e foi plenamente humano. Jesus amou as pessoas e
as acompanhou em suas aflições, conhecendo-lhes os limites e esforços. Os pecadores
eram seus melhores amigos e amigas. Permanecendo justo e santo, levou a cabo a
missão que o Pai lhe confiou vivendo e morrendo uma vida simples e humilde no
meio dos empobrecidos. Jesus entendeu que esta era a vontade do Pai.
Jesus veio matar a fome dos pobres,
fome de justiça e de paz. Desde que o homem se apoderou dos bens criados, os
pobres passaram a existir. O Deus e Pai de Jesus fez uma aliança na pessoa dos
patriarcas: sair da escravidão e caminhar rumo à liberdade, liberdade que
estava na terra prometida, terra de leite e mel abundantes. Deus sempre esteve
atento à fome do povo. Eis um dos maiores pecados da humanidade: a fome. São milhões
os que passam fome em todo o mundo. Jesus foi enviado para apontar o caminho da
abundância, que acontece na fraternidade. No povo de Deus as pessoas não
deveriam passar fome.
Jesus é o Pão
dos pecadores
A Eucaristia não é o pão dos
santos e dos justos, mas é o pão que nos justifica e santifica. Não há mulher e
homem dignos para recebê-lo. Por isso, é o pão dos pecadores, alimento que
fortalece, revigora, orienta e salva. Jesus gostava de sentar à mesa com gente
considerada pecadora. Portanto, toda e qualquer lei, norma ou orientação que
pretenda afastar as pessoas da mesa eucarística é inválida diante do Evangelho.
Todos recebem a Eucaristia pela misericórdia de Deus. O convite é para todos,
porque a salvação em Jesus é universal.
Deus quer a vida de seu povo e para
viver a pessoa precisa comer, alimentar-se com abundância. A Eucaristia é o
banquete da abundância para todos: para comer basta sentir vontade. A comunhão
e a participação são as exigências da mesa eucarística, ou seja, quem quiser
tomar parte precisa entender e querer viver a comunhão e a participação na
Igreja e no mundo. Quem se recusar terminantemente a viver em comunhão de amor
com o próximo não pode participar do banquete eucarístico, pois tal
participação seria contraditória.
Jesus é o Pão
que alimenta, dá vida, salva e dá coragem
A participação na Eucaristia é participação
na vida do próximo. Este precisa ter vida digna. A pessoa que recebe a
Eucaristia é alguém que vive a solidariedade, que está atento às necessidades
do próximo. A Eucaristia está intimamente ligada à solidariedade para com os
últimos da sociedade. Jesus participou da vida dos últimos da sociedade de seu
tempo. Todo discípulo de Jesus é chamado a fazer a mesma experiência: comungar
na vida dos empobrecidos e desfavorecidos.
Para caminhar é preciso ter força e
coragem, é preciso perseverar até as últimas consequências. O discípulo de
Cristo encontra na Eucaristia força, coragem para perseverar no caminho da
vida. São muitas as forças do anti-Reino que se manifestam violentamente no
mundo. Unida a Jesus, a pessoa segue firme, não se desvia do caminho de Jesus. Em
meio às contradições e tribulações da vida, a pessoa fixa os olhos em Jesus,
alimenta-se de sua palavra e de seu corpo e cumpre a missão a que foi chamada:
esta é a dinâmica do seguimento.
A adoração do
Pão da vida e a missão no mundo
O texto evangélico nos assegura
que Jesus nunca pediu para ser adorado, mas levando em consideração que Jesus é
Deus (consubstancial ao Pai), a Igreja aceitou a prática da adoração a Jesus na
Eucaristia. Recentemente, passou a existir o que muitos chamam de adoração
perpétua ao Santíssimo Sacramento. A doutrina e os milagres eucarísticos nos
levam a crer que Jesus está realmente nas espécies do pão e do vinho. Este é o
pressuposto doutrinal da fé que se professa.
Há uma tendência que precisa ser
corrigida na vida eclesial: a tendência de ver a Eucaristia como lugar de
adoração e não como alimento e lugar de encontro com Cristo que impulsiona para
a missão. Em outras palavras, não basta receber e adorar a Eucaristia, mas alimentar-se
da mesma e partir para a missão. Jesus não quis se dar como alimento para ser
transformado em objeto de adoração, mas para ser força e presença na vida dos
que o seguem. Transformar a Eucaristia em mero objeto de culto é distorcer o
seu real significado.
Não há missão onde as pessoas se
dedicam à adoração perpétua a Jesus sacramentado. A adoração perpétua é
semelhante à experiência dos discípulos de Cristo, que subiram com ele ao monte
para vê-lo transfigurado: eles não queriam mais voltar à planície conflituosa
da existência humana, mas queriam armar três confortáveis tendas para viverem
longe das agitações da vida comum. É também semelhante aos discípulos que
ficaram olhando para o céu, vendo Jesus subir após a ressurreição; foi preciso lembrá-los
de sua missão no mundo.
O mundo precisa de testemunhas da
ressurreição de Cristo, a fim de que a vida se multiplique e permaneça. Estas testemunhas
devem ser pessoas radicalmente eucarísticas, pessoas dedicadas à missão até as
últimas consequências. Somente a pessoa que assume a missão de trabalhar nas
grandes causas do Reino de Deus pode ser considerada uma pessoa que realmente
entende o real sentido do Sacramento da Eucaristia. Amar a Eucaristia é partir
em missão, é ir ao encontro das pessoas, é amá-las incondicionalmente como
Cristo as amou. A Eucaristia é a vida do povo de Deus, é o alimento do pecador,
é a única riqueza e a força dos que seguem Jesus. Que o Espírito de Deus torne
fecunda a nossa participação na Eucaristia.
Tiago de França
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