quinta-feira, 7 de junho de 2012

Eucaristia: alimento dos que caminham


“Bom pastor, pão de verdade, piedade, ó Jesus piedade, conservai-nos na unidade, extingui nossa orfandade, transportai-nos para o Pai” (Sequência).

O Pão descido do céu

            Deus enviou Jesus ao mundo com a missão de inaugurar o Reino. Ele se encarnou de uma vez por todas na humanidade, tomou forma humana e foi plenamente humano. Jesus amou as pessoas e as acompanhou em suas aflições, conhecendo-lhes os limites e esforços. Os pecadores eram seus melhores amigos e amigas. Permanecendo justo e santo, levou a cabo a missão que o Pai lhe confiou vivendo e morrendo uma vida simples e humilde no meio dos empobrecidos. Jesus entendeu que esta era a vontade do Pai.

            Jesus veio matar a fome dos pobres, fome de justiça e de paz. Desde que o homem se apoderou dos bens criados, os pobres passaram a existir. O Deus e Pai de Jesus fez uma aliança na pessoa dos patriarcas: sair da escravidão e caminhar rumo à liberdade, liberdade que estava na terra prometida, terra de leite e mel abundantes. Deus sempre esteve atento à fome do povo. Eis um dos maiores pecados da humanidade: a fome. São milhões os que passam fome em todo o mundo. Jesus foi enviado para apontar o caminho da abundância, que acontece na fraternidade. No povo de Deus as pessoas não deveriam passar fome.

Jesus é o Pão dos pecadores

            A Eucaristia não é o pão dos santos e dos justos, mas é o pão que nos justifica e santifica. Não há mulher e homem dignos para recebê-lo. Por isso, é o pão dos pecadores, alimento que fortalece, revigora, orienta e salva. Jesus gostava de sentar à mesa com gente considerada pecadora. Portanto, toda e qualquer lei, norma ou orientação que pretenda afastar as pessoas da mesa eucarística é inválida diante do Evangelho. Todos recebem a Eucaristia pela misericórdia de Deus. O convite é para todos, porque a salvação em Jesus é universal.

            Deus quer a vida de seu povo e para viver a pessoa precisa comer, alimentar-se com abundância. A Eucaristia é o banquete da abundância para todos: para comer basta sentir vontade. A comunhão e a participação são as exigências da mesa eucarística, ou seja, quem quiser tomar parte precisa entender e querer viver a comunhão e a participação na Igreja e no mundo. Quem se recusar terminantemente a viver em comunhão de amor com o próximo não pode participar do banquete eucarístico, pois tal participação seria contraditória.

Jesus é o Pão que alimenta, dá vida, salva e dá coragem

            A participação na Eucaristia é participação na vida do próximo. Este precisa ter vida digna. A pessoa que recebe a Eucaristia é alguém que vive a solidariedade, que está atento às necessidades do próximo. A Eucaristia está intimamente ligada à solidariedade para com os últimos da sociedade. Jesus participou da vida dos últimos da sociedade de seu tempo. Todo discípulo de Jesus é chamado a fazer a mesma experiência: comungar na vida dos empobrecidos e desfavorecidos.

            Para caminhar é preciso ter força e coragem, é preciso perseverar até as últimas consequências. O discípulo de Cristo encontra na Eucaristia força, coragem para perseverar no caminho da vida. São muitas as forças do anti-Reino que se manifestam violentamente no mundo. Unida a Jesus, a pessoa segue firme, não se desvia do caminho de Jesus. Em meio às contradições e tribulações da vida, a pessoa fixa os olhos em Jesus, alimenta-se de sua palavra e de seu corpo e cumpre a missão a que foi chamada: esta é a dinâmica do seguimento.

A adoração do Pão da vida e a missão no mundo

            O texto evangélico nos assegura que Jesus nunca pediu para ser adorado, mas levando em consideração que Jesus é Deus (consubstancial ao Pai), a Igreja aceitou a prática da adoração a Jesus na Eucaristia. Recentemente, passou a existir o que muitos chamam de adoração perpétua ao Santíssimo Sacramento. A doutrina e os milagres eucarísticos nos levam a crer que Jesus está realmente nas espécies do pão e do vinho. Este é o pressuposto doutrinal da fé que se professa.

            Há uma tendência que precisa ser corrigida na vida eclesial: a tendência de ver a Eucaristia como lugar de adoração e não como alimento e lugar de encontro com Cristo que impulsiona para a missão. Em outras palavras, não basta receber e adorar a Eucaristia, mas alimentar-se da mesma e partir para a missão. Jesus não quis se dar como alimento para ser transformado em objeto de adoração, mas para ser força e presença na vida dos que o seguem. Transformar a Eucaristia em mero objeto de culto é distorcer o seu real significado.

            Não há missão onde as pessoas se dedicam à adoração perpétua a Jesus sacramentado. A adoração perpétua é semelhante à experiência dos discípulos de Cristo, que subiram com ele ao monte para vê-lo transfigurado: eles não queriam mais voltar à planície conflituosa da existência humana, mas queriam armar três confortáveis tendas para viverem longe das agitações da vida comum. É também semelhante aos discípulos que ficaram olhando para o céu, vendo Jesus subir após a ressurreição; foi preciso lembrá-los de sua missão no mundo.

            O mundo precisa de testemunhas da ressurreição de Cristo, a fim de que a vida se multiplique e permaneça. Estas testemunhas devem ser pessoas radicalmente eucarísticas, pessoas dedicadas à missão até as últimas consequências. Somente a pessoa que assume a missão de trabalhar nas grandes causas do Reino de Deus pode ser considerada uma pessoa que realmente entende o real sentido do Sacramento da Eucaristia. Amar a Eucaristia é partir em missão, é ir ao encontro das pessoas, é amá-las incondicionalmente como Cristo as amou. A Eucaristia é a vida do povo de Deus, é o alimento do pecador, é a única riqueza e a força dos que seguem Jesus. Que o Espírito de Deus torne fecunda a nossa participação na Eucaristia.

Tiago de França

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