O
tema da devoção aos santos e santas e o problema do devocionismo são questões
pertinentes e atuais, que merecem nossa atenção. Trata-se de uma reflexão
direcionada para cristãos católicos, principalmente os mais tradicionais. Vamos
tratar da temática a partir de algumas afirmações: 1) Os santos e santas não
realizam milagres, portanto, não interferem arbitrariamente nas realidades
humanas; 2) A devoção aos santos e santas não é uma obrigação; 3) A diferença
entre devoção e devocionismo; 4) Devocionismo versus Evangelho; 5) Jesus de Nazaré é o centro da fé cristã, a
fonte e o modelo de santidade.
Os
santos e santas não realizam milagres, portanto, não interferem arbitrariamente
nas realidades humanas. A catequese tradicional não dar conta de ensinar e
convencer os católicos de que os santos, incluindo Maria, a mãe de Jesus, não
realizam milagres. Por isso, é comum encontrarmos pessoas afirmando que tal
santo é poderoso, tal imagem (retrato, escultura) é milagrosa e tudo o que se
pede à Maria se consegue com sua intercessão. Na verdade, é Deus a fonte de todas
as bênçãos e graças necessárias ao ser humano para viver dignamente neste
mundo.
Não há santo poderoso, nem imagem
milagrosa. Somente Deus é o Criador de todas as coisas e dispensador de todas
as bênçãos. Afirmar que os santos são seres espirituais constituídos de poder
para resolver os problemas humanos é colocá-los no lugar ou igualá-los a Deus. E
este Deus, a quem adoramos e temos como o tudo de nossa vida, não age segundo
os interesses e caprichos humanos.
O Deus e Pai de Jesus é o Deus da vida e
da liberdade, que acompanha fiel e amorosamente o ser humano no caminho da vida
e o conduz à vida plena. Este Deus não se deixa manipular pelos desejos e
maquinações humanas. Ele concedeu liberdade ao ser humano, criado à sua imagem
e semelhança e respeita esta liberdade concedida, mesmo assistindo ao abuso que
o ser humano faz desta liberdade.
Facilmente assistimos às tentativas
de manipulação da vontade divina. Em todas as Igrejas cristãs isto acontece:
Deus é invocado e “forçado” a atender certos pedidos. Procura-se subordinar
Deus à vontade humana. As pessoas acreditam num Deus todo-poderoso que tem a
obrigação de socorrê-las em suas aflições; desconhece-se a vontade divina e a
trata com total indiferença.
A devoção aos santos e santas não é
uma obrigação.
Muitos devotos e devotas ignoram os católicos que não têm nenhuma devoção. Há
pessoas que não sentem falta de devoção alguma para viver a fé cristã. Algumas destas
se perguntam se realmente são católicas. Se a devoção à Maria e aos santos
constituísse o centro da fé e da espiritualidade cristãs, de fato, os que não possuem
devoção alguma estariam em falta com sua fé.
Portanto, afirmar que todos os católicos
são obrigados à devoção é um erro grave, pois exclui muitas pessoas que se
recusam a tais devoções porque não encontram sentido nas mesmas, ou
simplesmente porque compreendem que não necessitam delas. O ideal é que haja
unidade entre os que são devotos e os que não o são.
A
diferença entre devoção e devocionismo. De modo geral, as pessoas veneram
os santos e santas sem conhecer sua história e sem uma noção clara do que seja
santidade. Quando questionada, a maioria responde que o santo e a santa é
aquela pessoa que existe em função da intercessão, que está diante de Deus para
interceder pelas necessidades materiais e espirituais do povo de Deus. Sem
negar o papel da intercessão, os santos não estão em função da mesma; ou seja,
a intercessão não expressa fundamentalmente o significado da comunhão dos santos. Afirmar o contrário
é um equívoco comumente cometido devido à ausência de uma sólida formação que
aprofunde tal realidade.
O erro chega ao ponto de as pessoas
fazerem uma seleção dos santos, ou seja, para cada tipo de problema há um
santo: para quem está endividado, perseguido, doente, enfrentando problemas
amorosos, para quem deseja se casar, para as causas impossíveis etc. Um exemplo
para ilustrar: O Pe. Robson, propagador da devoção ao Divino Pai eterno, em seu
programa de TV fala abertamente que as pessoas que fizerem a novena ao Divino
Pai eterno terão seus problemas resolvidos... Ele abençoa a água e os devotos e
os convida a se associarem à obra da construção do novo Santuário, que custará
algumas dezenas de milhões de reais.
Ao canonizar alguém, a Igreja está
reconhecendo a vida virtuosa deste alguém; e a vida virtuosa consiste no seguimento a Jesus de Nazaré. Os santos
e santas de Deus foram e são pessoas que se decidem por um seguimento mais
radical a Cristo, pessoas que transformaram e transformam suas vidas em
serviço, doação, solidariedade para com o próximo por amor a Deus; cristãos que
escutaram o chamado divino ao amor exigente e responderam com generosidade e
gratuidade. Este amor lança-os para a missão de anunciar ao mundo a Boa Notícia
do Reino de Deus.
A devoção aos santos perde seu
sentido quando se desconsidera este aspecto fundamental que fala do significado
da santidade. Neste sentido, os santos deixam de ser meros “pedintes” de
milagres junto a Deus para serem modelos de seguidores de Jesus de Nazaré, que
inspiram outras pessoas a se colocarem no caminho da santidade. O devocionismo
só visa milagres e durante toda a história da Igreja também serviu para juntar
multidões em romarias a santuários; romarias que arrecadam muito dinheiro que tem
pouca ou nenhuma destinação à caridade para com os pobres.
Outro grande mal do devocionismo é o
deslocamento da pessoa de Jesus de Nazaré do centro da fé cristã. Em outras
palavras, acentua-se demais Maria e os santos em detrimento de Jesus de Nazaré.
Eis a desculpa de um padre quando questionado a este respeito: “O povo sabe que Jesus é o centro de nossa
fé, por isso, não é preciso está falando não. O povo gosta mesmo é de Nossa
Senhora e sabe que ela conduz a Jesus”. No devocionismo, Maria e os santos
possuem poderes em si mesmos para ajudar as pessoas a resolverem seus
problemas.
Devocionismo
versus Evangelho. Para quem
deseja milagres, o Evangelho de Jesus tem pouca ou nenhuma importância. Isto acontece
porque no centro do Evangelho está Jesus e não os santos. Nos grandes
santuários a pregação do Evangelho tem pouco espaço, pois, às vezes, excede-se
no acento aos santos. O maximalismo é
característica do devocionismo, marcado pelos excessos.
Exemplos de expressões exageradas que
violam a verdadeira devoção: “Tudo por
Jesus, nada sem Maria! Só se chega a Jesus por meio de Maria! Quem ama Jesus
tem que amar Maria! Maria é a medianeira de todas as graças! Depois de Jesus,
Maria é a santa mais poderosa! Jesus concede tudo o que sua Mãe pede! Há o
Reino de Jesus e o de Maria!” Estas e tantas outras expressões são ditas
sem problema algum pela maioria dos católicos. Evangelicamente, todas são
contrárias à genuína fé cristã.
Jesus
de Nazaré é o centro da fé cristã, a fonte e o modelo de santidade. Jesus convida
a seus discípulos a serem santos e santas no amor de Deus para a vida do mundo.
O chamado é para todos, indistintamente. O mundo atual carece de pessoas que
testemunhem a ressurreição de Cristo Jesus. A Igreja precisa mais de cristãos
que se arrisquem em seguir Jesus do que daqueles que pautam sua fé em práticas
religiosas devocionais. Testemunhar Jesus está muito além das devoções e demais
práticas religiosas.
Ele está no núcleo da fé e isso precisa
ser recuperado no cotidiano da vida da Igreja. Recuperar o núcleo da fé cristã
significa colocar o Reino de Deus no centro da pregação e da vida eclesial. É muito
fácil ser devoto ou devota de um santo ou santa, participar de romarias,
cumprir com promessas feitas aos santos; o difícil é assumir o seguimento de
Jesus de Nazaré até às últimas consequências... E é justamente isso que o
momento eclesial exige e necessita.
Tiago de França
3 comentários:
HOJE SOU CATEQUISTA DE AULATOS, ESTAVA PESQUISANDO A QUESTÀO DA DEVOÇÃO E DO DEVOCIONISMO E EONCONTREI ESTE SEU ARTIGO, CUJO ENTENDIMENTO TENHO O MSMO. ACHO QUE A MAIORIA DE NÓS CATÓLICOS, CONFUNDE A FÉ CRISTÃ COM O DEVOCIONISMO AOS SANTOS E A MARIA, SEMPRE PEDINDO MILAGRES. MS É A PRÓPRIA IGREJA QUE ESTIMUL ESTA INHA DE PENSAMENTO QUANDO DIZ QUE PARA A BEATIFICAÇÃO DE UMA PESSOA, JÁ FALECIDA, É NECESSÁRIO A REALIZAÇÃO DE MILAGRES. OUTRA COISA, MUITOS PADRES DIZEM QUE SE STA FOR UMA FORMA DE SE CHEGAR A DEUS, ENTÃO DEVE DEIXAR QUE AS PESSOAS PRATIQUEM O DEVOCIONISMO. A PROPRIA IGREJA ESTIMULA E CHAMA O POVO PARA AS FESTAS DOS SANTOS, COM PROCISSÕES, MISSAS E NOVENAS AOS SANTOS, COMO SANTO ANTONIO, SÃO BENEDITO E OUTROS.PORTANTO É DIFICIL FALAR NESSE ASSUNTO NA CATEQUESE E COMO FAZER?
é estranho, porque será que Jesus não mandou uma bíblia pronta, será porque que Jesus tinha de escolher os 12, os 72, os 500. Para que?? Não bastava só ele?? e para que Ele disse: Tudo que ligares na terra será ligado no céu e tudo que desligares...Porque tantos morreram pelo seu nome, porque tanto amor a Deus a ponto de dar a vida por Ele e Pelos Irmãos (...CREIO NO ESPIRITO SANTO, NA SANTA IGREJA CATÓLICA, NA COMUNHÃO DOS SANTOS, NA REMISSÃO DOS PECADOS, NA RESSURREIÇÃO DA CARNE, NA VIDA ETERNA, AMEM) Santo nenhum faz milagre, o milagre é do Cristo, Santo nenhum sofre, a dor é do Cristo e soma-se ao calvário, a diferença é que os Santos foram escolhidos por Deus e são ungidos de Deus. Mérito que nós não temos por falta de fé, de amor, e até mesmo de coragem, pois, somos covardes e não queremos ser martirizados. Resta-nos então reverenciar àqueles quem excedem o que nos tão pouco temos, fé.
Esta é minha opinião pessoal.
Paz e Bem
Só se esqueceu disso:
Ou qual dentre vós é o homem que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou se lhe pedir peixe, lhe entregará uma cobra? Assim, se vós, sendo maus, sabeis dar bons presentes aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai que está nos céus dará o que é bom aos que lhe pedirem!
O santos estão na glória de Deus, pode interceder por nós! Esse seu texto soa um tanto quanto protestante, talvez sejam as influências do modernismo no catolicismo.
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