quinta-feira, 26 de julho de 2012

A devoção aos santos e o problema do devocionismo


           O tema da devoção aos santos e santas e o problema do devocionismo são questões pertinentes e atuais, que merecem nossa atenção. Trata-se de uma reflexão direcionada para cristãos católicos, principalmente os mais tradicionais. Vamos tratar da temática a partir de algumas afirmações: 1) Os santos e santas não realizam milagres, portanto, não interferem arbitrariamente nas realidades humanas; 2) A devoção aos santos e santas não é uma obrigação; 3) A diferença entre devoção e devocionismo; 4) Devocionismo versus Evangelho; 5) Jesus de Nazaré é o centro da fé cristã, a fonte e o modelo de santidade.

            Os santos e santas não realizam milagres, portanto, não interferem arbitrariamente nas realidades humanas. A catequese tradicional não dar conta de ensinar e convencer os católicos de que os santos, incluindo Maria, a mãe de Jesus, não realizam milagres. Por isso, é comum encontrarmos pessoas afirmando que tal santo é poderoso, tal imagem (retrato, escultura) é milagrosa e tudo o que se pede à Maria se consegue com sua intercessão. Na verdade, é Deus a fonte de todas as bênçãos e graças necessárias ao ser humano para viver dignamente neste mundo.

            Não há santo poderoso, nem imagem milagrosa. Somente Deus é o Criador de todas as coisas e dispensador de todas as bênçãos. Afirmar que os santos são seres espirituais constituídos de poder para resolver os problemas humanos é colocá-los no lugar ou igualá-los a Deus. E este Deus, a quem adoramos e temos como o tudo de nossa vida, não age segundo os interesses e caprichos humanos.

O Deus e Pai de Jesus é o Deus da vida e da liberdade, que acompanha fiel e amorosamente o ser humano no caminho da vida e o conduz à vida plena. Este Deus não se deixa manipular pelos desejos e maquinações humanas. Ele concedeu liberdade ao ser humano, criado à sua imagem e semelhança e respeita esta liberdade concedida, mesmo assistindo ao abuso que o ser humano faz desta liberdade.

            Facilmente assistimos às tentativas de manipulação da vontade divina. Em todas as Igrejas cristãs isto acontece: Deus é invocado e “forçado” a atender certos pedidos. Procura-se subordinar Deus à vontade humana. As pessoas acreditam num Deus todo-poderoso que tem a obrigação de socorrê-las em suas aflições; desconhece-se a vontade divina e a trata com total indiferença.

            A devoção aos santos e santas não é uma obrigação. Muitos devotos e devotas ignoram os católicos que não têm nenhuma devoção. Há pessoas que não sentem falta de devoção alguma para viver a fé cristã. Algumas destas se perguntam se realmente são católicas. Se a devoção à Maria e aos santos constituísse o centro da fé e da espiritualidade cristãs, de fato, os que não possuem devoção alguma estariam em falta com sua fé.

Portanto, afirmar que todos os católicos são obrigados à devoção é um erro grave, pois exclui muitas pessoas que se recusam a tais devoções porque não encontram sentido nas mesmas, ou simplesmente porque compreendem que não necessitam delas. O ideal é que haja unidade entre os que são devotos e os que não o são.

            A diferença entre devoção e devocionismo. De modo geral, as pessoas veneram os santos e santas sem conhecer sua história e sem uma noção clara do que seja santidade. Quando questionada, a maioria responde que o santo e a santa é aquela pessoa que existe em função da intercessão, que está diante de Deus para interceder pelas necessidades materiais e espirituais do povo de Deus. Sem negar o papel da intercessão, os santos não estão em função da mesma; ou seja, a intercessão não expressa fundamentalmente o significado da comunhão dos santos. Afirmar o contrário é um equívoco comumente cometido devido à ausência de uma sólida formação que aprofunde tal realidade.

            O erro chega ao ponto de as pessoas fazerem uma seleção dos santos, ou seja, para cada tipo de problema há um santo: para quem está endividado, perseguido, doente, enfrentando problemas amorosos, para quem deseja se casar, para as causas impossíveis etc. Um exemplo para ilustrar: O Pe. Robson, propagador da devoção ao Divino Pai eterno, em seu programa de TV fala abertamente que as pessoas que fizerem a novena ao Divino Pai eterno terão seus problemas resolvidos... Ele abençoa a água e os devotos e os convida a se associarem à obra da construção do novo Santuário, que custará algumas dezenas de milhões de reais.

            Ao canonizar alguém, a Igreja está reconhecendo a vida virtuosa deste alguém; e a vida virtuosa consiste no seguimento a Jesus de Nazaré. Os santos e santas de Deus foram e são pessoas que se decidem por um seguimento mais radical a Cristo, pessoas que transformaram e transformam suas vidas em serviço, doação, solidariedade para com o próximo por amor a Deus; cristãos que escutaram o chamado divino ao amor exigente e responderam com generosidade e gratuidade. Este amor lança-os para a missão de anunciar ao mundo a Boa Notícia do Reino de Deus.

            A devoção aos santos perde seu sentido quando se desconsidera este aspecto fundamental que fala do significado da santidade. Neste sentido, os santos deixam de ser meros “pedintes” de milagres junto a Deus para serem modelos de seguidores de Jesus de Nazaré, que inspiram outras pessoas a se colocarem no caminho da santidade. O devocionismo só visa milagres e durante toda a história da Igreja também serviu para juntar multidões em romarias a santuários; romarias que arrecadam muito dinheiro que tem pouca ou nenhuma destinação à caridade para com os pobres.

Outro grande mal do devocionismo é o deslocamento da pessoa de Jesus de Nazaré do centro da fé cristã. Em outras palavras, acentua-se demais Maria e os santos em detrimento de Jesus de Nazaré. Eis a desculpa de um padre quando questionado a este respeito: “O povo sabe que Jesus é o centro de nossa fé, por isso, não é preciso está falando não. O povo gosta mesmo é de Nossa Senhora e sabe que ela conduz a Jesus”. No devocionismo, Maria e os santos possuem poderes em si mesmos para ajudar as pessoas a resolverem seus problemas.

Devocionismo versus Evangelho. Para quem deseja milagres, o Evangelho de Jesus tem pouca ou nenhuma importância. Isto acontece porque no centro do Evangelho está Jesus e não os santos. Nos grandes santuários a pregação do Evangelho tem pouco espaço, pois, às vezes, excede-se no acento aos santos. O maximalismo é característica do devocionismo, marcado pelos excessos.

Exemplos de expressões exageradas que violam a verdadeira devoção: “Tudo por Jesus, nada sem Maria! Só se chega a Jesus por meio de Maria! Quem ama Jesus tem que amar Maria! Maria é a medianeira de todas as graças! Depois de Jesus, Maria é a santa mais poderosa! Jesus concede tudo o que sua Mãe pede! Há o Reino de Jesus e o de Maria!” Estas e tantas outras expressões são ditas sem problema algum pela maioria dos católicos. Evangelicamente, todas são contrárias à genuína fé cristã.

Jesus de Nazaré é o centro da fé cristã, a fonte e o modelo de santidade. Jesus convida a seus discípulos a serem santos e santas no amor de Deus para a vida do mundo. O chamado é para todos, indistintamente. O mundo atual carece de pessoas que testemunhem a ressurreição de Cristo Jesus. A Igreja precisa mais de cristãos que se arrisquem em seguir Jesus do que daqueles que pautam sua fé em práticas religiosas devocionais. Testemunhar Jesus está muito além das devoções e demais práticas religiosas.

Ele está no núcleo da fé e isso precisa ser recuperado no cotidiano da vida da Igreja. Recuperar o núcleo da fé cristã significa colocar o Reino de Deus no centro da pregação e da vida eclesial. É muito fácil ser devoto ou devota de um santo ou santa, participar de romarias, cumprir com promessas feitas aos santos; o difícil é assumir o seguimento de Jesus de Nazaré até às últimas consequências... E é justamente isso que o momento eclesial exige e necessita.

Tiago de França

3 comentários:

Therezinha Bezerra disse...

HOJE SOU CATEQUISTA DE AULATOS, ESTAVA PESQUISANDO A QUESTÀO DA DEVOÇÃO E DO DEVOCIONISMO E EONCONTREI ESTE SEU ARTIGO, CUJO ENTENDIMENTO TENHO O MSMO. ACHO QUE A MAIORIA DE NÓS CATÓLICOS, CONFUNDE A FÉ CRISTÃ COM O DEVOCIONISMO AOS SANTOS E A MARIA, SEMPRE PEDINDO MILAGRES. MS É A PRÓPRIA IGREJA QUE ESTIMUL ESTA INHA DE PENSAMENTO QUANDO DIZ QUE PARA A BEATIFICAÇÃO DE UMA PESSOA, JÁ FALECIDA, É NECESSÁRIO A REALIZAÇÃO DE MILAGRES. OUTRA COISA, MUITOS PADRES DIZEM QUE SE STA FOR UMA FORMA DE SE CHEGAR A DEUS, ENTÃO DEVE DEIXAR QUE AS PESSOAS PRATIQUEM O DEVOCIONISMO. A PROPRIA IGREJA ESTIMULA E CHAMA O POVO PARA AS FESTAS DOS SANTOS, COM PROCISSÕES, MISSAS E NOVENAS AOS SANTOS, COMO SANTO ANTONIO, SÃO BENEDITO E OUTROS.PORTANTO É DIFICIL FALAR NESSE ASSUNTO NA CATEQUESE E COMO FAZER?

eliton disse...

é estranho, porque será que Jesus não mandou uma bíblia pronta, será porque que Jesus tinha de escolher os 12, os 72, os 500. Para que?? Não bastava só ele?? e para que Ele disse: Tudo que ligares na terra será ligado no céu e tudo que desligares...Porque tantos morreram pelo seu nome, porque tanto amor a Deus a ponto de dar a vida por Ele e Pelos Irmãos (...CREIO NO ESPIRITO SANTO, NA SANTA IGREJA CATÓLICA, NA COMUNHÃO DOS SANTOS, NA REMISSÃO DOS PECADOS, NA RESSURREIÇÃO DA CARNE, NA VIDA ETERNA, AMEM) Santo nenhum faz milagre, o milagre é do Cristo, Santo nenhum sofre, a dor é do Cristo e soma-se ao calvário, a diferença é que os Santos foram escolhidos por Deus e são ungidos de Deus. Mérito que nós não temos por falta de fé, de amor, e até mesmo de coragem, pois, somos covardes e não queremos ser martirizados. Resta-nos então reverenciar àqueles quem excedem o que nos tão pouco temos, fé.
Esta é minha opinião pessoal.
Paz e Bem

Anônimo disse...

Só se esqueceu disso:
Ou qual dentre vós é o homem que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou se lhe pedir peixe, lhe entregará uma cobra? Assim, se vós, sendo maus, sabeis dar bons presentes aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai que está nos céus dará o que é bom aos que lhe pedirem!

O santos estão na glória de Deus, pode interceder por nós! Esse seu texto soa um tanto quanto protestante, talvez sejam as influências do modernismo no catolicismo.