terça-feira, 31 de julho de 2012

O significado do amor à Igreja

           O amor à Igreja é um dos temas relevantes que merece nossa atenção. Para falar sobre esta questão é preciso responder a seguinte pergunta: De que Igreja estamos falando? Quando este tema aparece é comum as pessoas confundirem amor à Igreja com amor à hierarquia. São dois amores diferentes.

O Concílio Vaticano II ousou afirmar que a Igreja é Povo de Deus. Cresce cada vez mais o número dos que não aceitam este valioso conceito; conceito que fala de uma realidade nova, coisa do Espírito do Senhor. Vamos, então, falar alguma coisa sobre o amor à Igreja e o amor à hierarquia. O leitor procure se encontrar e aceitar o convite de se fazer Igreja Povo de Deus, Assembléia dos chamados à edificação do Reino de Deus.

            Os que constituem a hierarquia da Igreja são denominados Pastores do povo de Deus: diáconos, presbíteros e epíscopos. Por decisão da própria Igreja, sem nenhuma legitimação evangélica e histórica, as mulheres não podem fazer parte da hierarquia; portanto, não exercem o ministério ordenado. Este é um tema para outra reflexão.

Ao falar do corpo hierárquico não podemos deixar de denunciar esta injustiça. Ai da Igreja se não fosse a presença e a disponibilidade generosa das mulheres! Se elas pudessem exercer o ministério ordenado, certamente, a Igreja seria mais humana, mais terna e sensível às grandes causas do Reino de Deus.

            Os Pastores são chamados a serem servidores do povo de Deus, homens de Deus, entregues à oração e ao serviço. É deste modo que devem procurar responder ao chamado de Deus à santidade, que consiste amar as pessoas e dar suas vidas pela vida delas. Sem sombra de dúvidas estes homens são dignos de respeito e veneração.

O amor aos que procuram servir verdadeiramente a Deus e aos irmãos se traduz na participação em seu ministério de serviço. Portanto, juntos, ministros ordenados e ministros leigos, todos iguais aos olhos de Deus, são chamados à promoção e defesa da vida humana. Este, a meu ver, seria o verdadeiro amor que se deve ter aos Pastores.

            Além deste amor autêntico há um falso amor. Este é reconhecido pela submissão que muitos leigos têm em relação aos Pastores, especialmente aos padres, aos bispos e ao Papa. O Evangelho de Jesus denuncia toda forma de submissão e/ou subserviência. Submeter-se à vontade do outro, por mais santo que seja este outro, não é atitude evangélica.

Os discípulos de Jesus não eram seus empregados, mas amigos (cf. Jo 15, 15). Quem se submete cegamente à hierarquia é porque entende que a Igreja é a hierarquia. Comumente, quem assim procede não aceita a verdade de que os Pastores também estão sujeitos ao erro e que, de fato, pecam do mesmo modo como os demais membros da Igreja.

            O verdadeiro amor não conduz à submissão. Ama-se na liberdade e para a liberdade. Quem ama não ver o outro nem como superior, nem como inferior. O amor conduz à igualdade, à fraternidade e nos ensina que somos, em Cristo Jesus, irmãos uns dos outros. Os filhos de Deus são todos irmãos.

O padre, o bispo e o papa são irmãos na fé, filhos de Deus em igual dignidade em relação aos demais filhos de Deus e irmãos de Jesus. Por fazer parte do corpo hierárquico ninguém goza de privilégios diante de Deus. No Reino de Deus não existe hierarquia. Quando enviado a este mundo para realizar sua missão, Jesus não participou de nenhum corpo hierárquico e corrigiu seus discípulos quando queriam ser senhores ao invés de servidores da comunidade (cf. Mc 10, 43).

Muitos católicos praticam um excesso de veneração em relação aos hierarcas da Igreja, e isto acontece porque há uma idealização da figura do padre, do bispo e do Papa; tal idealização chega ao absurdo da cegueira em relação à realidade. Estes católicos, vítimas do mal da idealização de pessoas, se escandalizam facilmente diante dos contratestemunhos cometidos por membros da hierarquia. Além disso, compõem o número da maioria que deixa a Igreja e procura outras denominações religiosas pensando que nestas não vão encontrar escândalos.

Os que se posicionam de forma crítica em relação à Igreja costumam ser acusados de não terem amor à Igreja. Os que não aceitam as análises dos críticos acham que é pecado criticar a Igreja. Trata-se de um amor destituído de crítica. Os que condenam os críticos certamente não se dão bem com Jesus de Nazaré, que criticou a religião de seu tempo. Jesus não concordava com certas práticas religiosas e com algumas leis do Judaísmo e procurou corrigi-las.

Entre os estudiosos se encontram os teólogos da libertação, que no interior da Igreja nunca foram vistos com bons olhos; são acusados de não terem amor à Igreja, simplesmente porque não aceitam as diversas contradições nas quais está mergulhada a hierarquia. Os teólogos da libertação anunciam o Evangelho de Jesus que é o Evangelho da vida e da liberdade. Portanto, acreditam e lutam por uma Igreja essencialmente missionária, que se empenhe na defesa e promoção da vida e da liberdade dos seres humanos.

Fechar os olhos diante dos pecados da Igreja e se recusar a aceitar a Igreja Povo de Deus é ir contra as orientações essenciais do Evangelho de Jesus. O desejo de Jesus é o mesmo de seu Pai: que o povo de Deus viva com dignidade na fé, na esperança e no amor. Libertando-se do mal da condenação, a Igreja deve ser instrumento de libertação do gênero humano: esta é sua missão fundamental.

Criticar a Igreja quando ela se desvia de sua missão não consiste em pecado algum, mas é gesto de amor e serviço. A crítica lúcida e coerente, pautada na verdade e na liberdade, não visa à destruição da Igreja, mas quer ser um alerta à mesma, a fim de que possa se colocar a serviço do Reino de Deus, pois é para isto que Deus a chama, insistentemente. As críticas dos críticos da Igreja merecem uma leitura atenta e sem preconceitos, pois em muitas delas há muita profecia, voz do Espírito do Senhor que aponta para o verdadeiro caminho.

Tiago de França

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