“A
quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6, 68).
O texto evangélico deste XXI Domingo
Comum (cf. Jo 6, 60 – 69) nos fala da atitude fundamental do discípulo em
relação a Jesus: segui-lo na liberdade. De modo geral, as pessoas não querem
seguir livremente a Jesus, não querem fazer amizade com ele. No fundo, o que
desejam é um Senhor, um Deus todo-poderoso que resolva seus problemas. Basta frequentar
as Igrejas para perceber o que as pessoas procuram. Desejam tudo, menos seguir
Jesus de Nazaré.
Quando Jesus reagiu contrariamente aos
desejos insaciáveis das pessoas, quando afirmou a necessidade de permanecerem
com ele no cumprimento da vontade do Pai, muita gente rejeitou sua palavra: Esta palavra é dura. Quem consegue
escutá-la? Um Cristo que frustra as expectativas de quem não o entende nem
aceita aderir a seu projeto não é bem visto nem aceito. A opção de Jesus pelo
Reino era clara e irrenunciável. Ninguém conseguiu desviá-lo de sua missão.
Todos tentaram desviá-lo, até seus próprios discípulos.
Sobre suas próprias palavras, afirma
Jesus: O Espírito é que dá a vida, a
carne não adianta nada. As palavras que vos falei são espírito e vida. A palavra
de Jesus não era qualquer palavra, mas, cumprindo a vontade do Pai e sendo a
Palavra do Pai para a vida do mundo, Jesus concedeu vida às pessoas com sua
palavra. Ele tinha em si a autoridade concedida pelo Pai: a graça de renovar
todas as coisas. O Reino de Deus estava no centro da sua mensagem, portanto,
era a centralidade de sua palavra. No grupo de Doze havia os que não
acreditavam na sua palavra, e Jesus tinha consciência disso.
Diante dos que se recusaram a
continuar seguindo-o, Jesus olha para os que o seguiam mais de perto e lhes pergunta:
Vós também vos quereis ir embora? Esta
indagação revela a liberdade com que Jesus tratava seus discípulos. Eles não eram
obrigados a segui-lo. Jesus sabia da dificuldade que eles tinham em
compreendê-lo, mas não renunciou à firmeza de propósito nem à fidelidade à
missão que o Pai lhe confiou. Ninguém está obrigado a seguir Jesus, mas todo
aquele que quiser se colocar em seu caminho deve atender à exigência fundamental:
aderir ao seu projeto (Reino de Deus). Sem esta adesão não há seguimento, mas
aparência de seguimento, ilusão.
A
quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Esta resposta de
Pedro é a resposta da comunidade dos discípulos missionários de Jesus. O autêntico
cristão sabe que diante da palavra de Jesus tudo neste mundo se torna relativo:
o poder, o prestígio e a riqueza; que são os três males que corrompem o ser
humano. Crer e reconhecer que Cristo é o Santo de Deus significa acolher sua
palavra para que apareçam os frutos na vida cotidiana: frutos de justiça,
bondade, perdão, solidariedade etc. A palavra de Jesus deve está no centro da
vida do missionário, pois somente assim será capaz de transmiti-la ao mundo.
A Igreja tem como missão anunciar ao
mundo a palavra de Cristo. Uma vez feita a experiência da acolhida e da escuta
desta palavra, que é capaz de transformar radicalmente a vida do ser humano,
cada discípulo missionário de Cristo deve anunciá-la incansavelmente. Atualmente,
o ser humano passa por uma crise de sentido (vazio existencial) sem precedentes
na história. Portanto, é urgente que a Igreja renuncie às suas pretensões
meramente humanas para se lançar para as águas mais profundas deste mundo, indo
resgatar a vida desumanizada de tanta gente esquecida e explorada.
Tiago de França