“Eu
sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão
que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo” (Jo 6, 51).
Se voltarmos o nosso olhar para o
mundo veremos um número infinito de pessoas que padecem diversos males. Muitas são
assistidas em seus sofrimentos, outras são esquecidas e terminam morrendo no
anonimato. Insistindo no sistema capitalista, o homem mata impiedosamente seu
semelhante. A desumanidade anda solta no meio do mundo!... O sistema provoca
frieza em muitas pessoas, levando-as à indiferença. O outro deixa de ser
importante e, aos poucos, vai se tornando objeto na engrenagem que gera lucro e
luxo para poucos.
A experiência de Jesus é a da
manifestação divina no mundo. Em Jesus, Deus quis permanecer no mundo, sendo
alimento, proteção e cuidado na vida dos fracos. Há uma clara opção de Deus
pelos fracos. Toda a história da salvação Deus escolheu o que era fraco para
confundir o que se mostra forte, recorda-nos o apóstolo Paulo em um de seus
escritos. Portanto, quando quem é fraco descobre a presença amorosa de Deus em
sua vida, experimenta grande alegria e a vida cria sentido.
Somente os fracos, despossuídos e
marginalizados, são os que experimentam a verdadeira alegria de ser feliz:
alegria que não vem dos bens materiais, que não vem dos prazeres desordenados
nem das ilusões que os bens e os prazeres produzem no ser humano; mas vem do
próprio Deus. É uma alegria que linguagem nenhuma consegue descrever, pois é
sinônimo da indescritível sensação da liberdade interior. Isto acontece quando
as pessoas humildes e simples abrem seus corações para acolher a palavra do Pai
que enviou seu filho Jesus.
A experiência da acolhida da palavra
de Deus no coração é caminho de liberdade e, consequentemente, de obtenção de
sentido da vida. A palavra de Deus confere liberdade e sentido à vida. Querendo
que o ser humano vivesse dignidade e adquirisse a vida eterna, que já se inicia
neste mundo, o Pai envia seu filho para ser o amigo e o companheiro fiel do ser
humano, para ser apoio, vida e esperança de toda a humanidade, especialmente
dos que mais sofrem. Deus é o bom Pai que quer a vida de seus filhos, criados à
sua imagem e semelhança.
Para compreendermos como estas belas
palavras se traduzem na prática cotidiana, pensemos em dois assuntos bem atuais
à luz do Deus que envia seu Filho como pão
vivo descido do céu e carne dada para
a vida do mundo. O primeiro assunto é o do julgamento do mensalão. Os envolvidos
neste esquema criminoso foram os políticos, eleitos pelo povo para governar o
que é do povo, que se deixaram levar pela ambição
do ter. Eles não ficaram satisfeitos com os altíssimos salários que recebiam
e quiseram mais dinheiro; deixaram-se corromper por causa da sede de dinheiro.
Estes políticos, que certamente se
dizem cristãos, se esqueceram do ensinamento de Jesus, se é que o conheciam! Esqueceram-se
de que o bem comum está em função da vida do povo brasileiro. A Constituição é
clara ao afirmar que os poderes estabelecidos (Judiciário, Executivo e
Legislativo) estão em função do bem comum da nação. Os que exercem cargos
públicos não devem se esquecer de que não são donos do bem público, mas
administradores, gestores e funcionários públicos a serviço do bem da
população, especialmente das populações marginalizadas.
O segundo assunto é o crescimento
incontrolável do neopentacostalismo nas Igrejas Católica e evangélicas. Trata-se
de uma corrente fundamentalista que está tomando conta das Igrejas cristãs,
corrente que anula a possibilidade de diálogo entre as Igrejas (ecumenismo) e
entre as religiões (diálogo inter-religioso). Além do fundamentalismo, na
origem das diversas denominações e seitas que se proliferam há o claro
interesse em ganhar dinheiro através da manipulação da palavra de Deus e da
consciência das pessoas.
Isto significa o ingresso da
religião no mercado dando origem ao mercado religioso, mercado impulsionado
pelos princípios capitalistas: competição, proselitismo, alienação, falsas
promessas, ilusão da riqueza, lucro etc. As duas denominações religiosas que
mais se destacam são a Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo
e a Igreja Mundial do Poder de Deus, do apóstolo Valdemiro Santiago; ambos os
fundadores não passam de mercenários que estão ingressando na lista dos homens
mais ricos do país.
Na Igreja Católica encontramos os
carreiristas e os mercenários. Os primeiros querem ocupar os melhores encargos
da Igreja: são padres que desejam ser monsenhores, cônegos, bispos, arcebispos,
cardeais, entre outros ofícios importantes que há nas Igrejas locais
(Dioceses), nas Congregações Religiosas e na Cúria Romana, no Vaticano.
Os mercenários, que também podem ser
carreiristas, são os que procuram o ministério ordenado somente pensando no
dinheiro, nas vantagens e nas regalias que o mesmo pode oferecer. Desde os
tempos da aliança entre Igreja e Estado, a partir do século IV, os conflitos
pelo poder e pela riqueza sempre comprometeram seriamente a imagem da Igreja e
sua missão no mundo.
Fundamentalistas, neopentecostais,
carreiristas e mercenários são pessoas que não estão preocupadas com a vida do
povo de Deus, que se aproveitam da ingenuidade e da falta de formação e espírito
crítico do povo para escravizá-lo e explorá-lo. Neste caso, a Boa Nova de Jesus
fica abafada e os discursos ideológicos e mentirosos alienam o povo.
Não é preciso ser especialista em
Sagrada Escritura para perceber que tudo isto está em desacordo com o Evangelho
de Jesus, pois o Filho de Deus é o pão que
alimenta e dá vida, que nos salva e dá coragem (V Oração Eucarística). Assim
como Jesus foi enviado para a vida do mundo, todo aquele que deseja segui-lo deve
fazer o mesmo: transformar a própria vida numa boa notícia para que o meio
creia e viva.
Tiago de França
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