sábado, 11 de agosto de 2012

Jesus e a vida das pessoas


“Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo” (Jo 6, 51).

            Se voltarmos o nosso olhar para o mundo veremos um número infinito de pessoas que padecem diversos males. Muitas são assistidas em seus sofrimentos, outras são esquecidas e terminam morrendo no anonimato. Insistindo no sistema capitalista, o homem mata impiedosamente seu semelhante. A desumanidade anda solta no meio do mundo!... O sistema provoca frieza em muitas pessoas, levando-as à indiferença. O outro deixa de ser importante e, aos poucos, vai se tornando objeto na engrenagem que gera lucro e luxo para poucos.

            A experiência de Jesus é a da manifestação divina no mundo. Em Jesus, Deus quis permanecer no mundo, sendo alimento, proteção e cuidado na vida dos fracos. Há uma clara opção de Deus pelos fracos. Toda a história da salvação Deus escolheu o que era fraco para confundir o que se mostra forte, recorda-nos o apóstolo Paulo em um de seus escritos. Portanto, quando quem é fraco descobre a presença amorosa de Deus em sua vida, experimenta grande alegria e a vida cria sentido.

            Somente os fracos, despossuídos e marginalizados, são os que experimentam a verdadeira alegria de ser feliz: alegria que não vem dos bens materiais, que não vem dos prazeres desordenados nem das ilusões que os bens e os prazeres produzem no ser humano; mas vem do próprio Deus. É uma alegria que linguagem nenhuma consegue descrever, pois é sinônimo da indescritível sensação da liberdade interior. Isto acontece quando as pessoas humildes e simples abrem seus corações para acolher a palavra do Pai que enviou seu filho Jesus.

       A experiência da acolhida da palavra de Deus no coração é caminho de liberdade e, consequentemente, de obtenção de sentido da vida. A palavra de Deus confere liberdade e sentido à vida. Querendo que o ser humano vivesse dignidade e adquirisse a vida eterna, que já se inicia neste mundo, o Pai envia seu filho para ser o amigo e o companheiro fiel do ser humano, para ser apoio, vida e esperança de toda a humanidade, especialmente dos que mais sofrem. Deus é o bom Pai que quer a vida de seus filhos, criados à sua imagem e semelhança.

            Para compreendermos como estas belas palavras se traduzem na prática cotidiana, pensemos em dois assuntos bem atuais à luz do Deus que envia seu Filho como pão vivo descido do céu e carne dada para a vida do mundo. O primeiro assunto é o do julgamento do mensalão. Os envolvidos neste esquema criminoso foram os políticos, eleitos pelo povo para governar o que é do povo, que se deixaram levar pela ambição do ter. Eles não ficaram satisfeitos com os altíssimos salários que recebiam e quiseram mais dinheiro; deixaram-se corromper por causa da sede de dinheiro.

            Estes políticos, que certamente se dizem cristãos, se esqueceram do ensinamento de Jesus, se é que o conheciam! Esqueceram-se de que o bem comum está em função da vida do povo brasileiro. A Constituição é clara ao afirmar que os poderes estabelecidos (Judiciário, Executivo e Legislativo) estão em função do bem comum da nação. Os que exercem cargos públicos não devem se esquecer de que não são donos do bem público, mas administradores, gestores e funcionários públicos a serviço do bem da população, especialmente das populações marginalizadas.

            O segundo assunto é o crescimento incontrolável do neopentacostalismo nas Igrejas Católica e evangélicas. Trata-se de uma corrente fundamentalista que está tomando conta das Igrejas cristãs, corrente que anula a possibilidade de diálogo entre as Igrejas (ecumenismo) e entre as religiões (diálogo inter-religioso). Além do fundamentalismo, na origem das diversas denominações e seitas que se proliferam há o claro interesse em ganhar dinheiro através da manipulação da palavra de Deus e da consciência das pessoas.

            Isto significa o ingresso da religião no mercado dando origem ao mercado religioso, mercado impulsionado pelos princípios capitalistas: competição, proselitismo, alienação, falsas promessas, ilusão da riqueza, lucro etc. As duas denominações religiosas que mais se destacam são a Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo e a Igreja Mundial do Poder de Deus, do apóstolo Valdemiro Santiago; ambos os fundadores não passam de mercenários que estão ingressando na lista dos homens mais ricos do país.

            Na Igreja Católica encontramos os carreiristas e os mercenários. Os primeiros querem ocupar os melhores encargos da Igreja: são padres que desejam ser monsenhores, cônegos, bispos, arcebispos, cardeais, entre outros ofícios importantes que há nas Igrejas locais (Dioceses), nas Congregações Religiosas e na Cúria Romana, no Vaticano.

Os mercenários, que também podem ser carreiristas, são os que procuram o ministério ordenado somente pensando no dinheiro, nas vantagens e nas regalias que o mesmo pode oferecer. Desde os tempos da aliança entre Igreja e Estado, a partir do século IV, os conflitos pelo poder e pela riqueza sempre comprometeram seriamente a imagem da Igreja e sua missão no mundo.

         Fundamentalistas, neopentecostais, carreiristas e mercenários são pessoas que não estão preocupadas com a vida do povo de Deus, que se aproveitam da ingenuidade e da falta de formação e espírito crítico do povo para escravizá-lo e explorá-lo. Neste caso, a Boa Nova de Jesus fica abafada e os discursos ideológicos e mentirosos alienam o povo.

Não é preciso ser especialista em Sagrada Escritura para perceber que tudo isto está em desacordo com o Evangelho de Jesus, pois o Filho de Deus é o pão que alimenta e dá vida, que nos salva e dá coragem (V Oração Eucarística). Assim como Jesus foi enviado para a vida do mundo, todo aquele que deseja segui-lo deve fazer o mesmo: transformar a própria vida numa boa notícia para que o meio creia e viva.

Tiago de França

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