Os
gestos de duas viúvas chamam a atenção na Liturgia da Palavra deste XXXII
Domingo Comum (cf. 1Rs 17, 10 – 16; Mc 12, 38 – 44): a primeira, é a de
Sarepta, com a qual o profeta Elias se encontra e a segunda, é a que está sendo
observada por Jesus, no templo de Jerusalém. A partir dos textos, vamos
comentar tais gestos e tentar tirar deles alguma iluminação para nossa vida.
Elias é um profeta de Javé. A figura
do profeta é a daquele que anuncia a palavra de Deus e denuncia a idolatria e a
injustiças que oprimem o povo de Israel. Elias é um dos maiores profetas do
povo de Deus. Na ocasião do presente texto, se encontra com uma viúva. Órfãos e
viúvas faziam parte da classe dos deserdados, dos desprotegidos e dos
esquecidos de Israel. O Deus de Elias é o verdadeiro Deus, aquele que escolhe e
ama seu povo cuidando com amor materno os filhos sem vez e sem voz, os que são excluídos.
À viúva Elias pede água e pão. Não é
um pedido para testar a generosidade e a bondade daquela pobre mulher. Elias era
um pobre de Javé. Servindo a Deus vivia pobremente. Por isso, estava na mesma
condição da viúva. Não lhe era superior em nada. Trata-se do encontro de dois
pobres que tem somente a Deus como riqueza de suas vidas. A pobre viúva não
tinha pão, mas um punhado de farinha para preparar um alimento e esperar a morte
chegar. Elias representa a presença provedora de Deus, que não abandona seus
filhos e filhas.
Acolhendo o profeta, a viúva acolheu
a Deus, que não deixou nada faltar. Elias simplesmente se fez presente,
participou da vida daquela mulher, lhe falou da generosidade divina, que faz
brotar a fartura. “Não te preocupes!”,
fala Elias para a viúva. Diante da difícil situação da vida, a confiança na
divina Providência nos ensina que não devemos nos afligir, nos desesperar. A esperança
de que tudo se resolverá com paciência operosa é o que Elias nos faz entender. “A mulher foi e fez como Elias lhe tinha
dito”: houve ação, e nesta Deus não se ausentou. Ir e fazer com a confiança
no Deus que faz com que as coisas boas aconteçam na vida daqueles que nele
confiam.
Em nossos dias há tantos Elias que
estão junto às viúvas e órfãos esquecidos no silêncio e no anonimato de uma
sociedade que não os enxerga. São mulheres e homens que se deixam tocar pela
palavra de Deus que aponta para os excluídos. O profeta Elias está na Igreja
falando incansavelmente do sofrimento dos excluídos. São poucos os que escutam
os profetas. A maioria dos que se consagraram para o cuidado e a evangelização
dos excluídos está ocupada com a burocracia eclesiástica. Enquanto os excluídos
querem água e pão, os consagrados estão preocupados com as rubricas
eclesiásticas, como se estas contribuíssem em alguma coisa para que o Reino de
Deus aconteça.
Antes do episódio da pobre viúva que
deposita duas pequenas moedas no cofre do templo, Jesus alerta a multidão a
respeito dos doutores da lei elencando as qualidades vergonhosas deles: gostam
de andar com roupas vistosas; gostam de ser cumprimentados nas praças públicas;
gostam das primeiras cadeiras nas sinagogas e nos banquetes e devoram as casas
das viúvas, fingindo fazer longas orações. São os defeitos de quem deseja ser
grande, aplaudido e venerado por todos; é o proceder dos opressores, que se
aproveitam dos mais fracos. Jesus, o
profeta por excelência, denuncia a hipocrisia das autoridades religiosas de seu
tempo. Se formos atentos a muitos dos clérigos da Igreja perceberemos que há
neles estas mesmas maneiras de proceder.
Jesus chamou a atenção dos discípulos
para a pobreza e generosidade da viúva que depositou sua esmola no templo. Nas Igrejas
cristãs há uma leitura distorcida deste acontecimento. Muitos se utilizam deste
texto para legitimar o dízimo, afirmando que se deve devolver a Deus aquilo que
ele nos dá e que se deve fazer como a viúva: dar tudo o que possui. Tal leitura
induz as pessoas a fazerem um acordo financeiro com Deus: elas lhe oferecem o
dízimo e outras ofertas esperando receber em troca as bênçãos, os milagres e a
solução para seus problemas materiais. Não foi para ensinar isso que Jesus
chamou a atenção de seus discípulos, mas para denunciar os ricos, que de tanto
possuir davam daquilo que lhes sobrava recusando-se, assim, à verdadeira
partilha fraterna.
Acolher e ser solidário com o
próximo são ações do seguidor de Jesus, mas ações gratuitas, portanto, despojadas
de interesses. O cristão não precisa esperar de Deus recompensa alguma por ser
acolhedor e solidário para com o próximo, pois proceder desta forma já é em si
recompensa. É feliz quem assim procede! É sinal de que compreendeu a mensagem
cristã e está colocando-a em prática. A verdadeira felicidade do cristão está
em servir com generosidade e alegria. Agir com generosidade é colocar-se
integralmente a serviço dos irmãos e irmãs, assim como a viúva: sem reservas.
Tiago de França
2 comentários:
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