domingo, 11 de novembro de 2012

As virtudes da acolhida e da generosidade


          Os gestos de duas viúvas chamam a atenção na Liturgia da Palavra deste XXXII Domingo Comum (cf. 1Rs 17, 10 – 16; Mc 12, 38 – 44): a primeira, é a de Sarepta, com a qual o profeta Elias se encontra e a segunda, é a que está sendo observada por Jesus, no templo de Jerusalém. A partir dos textos, vamos comentar tais gestos e tentar tirar deles alguma iluminação para nossa vida.

            Elias é um profeta de Javé. A figura do profeta é a daquele que anuncia a palavra de Deus e denuncia a idolatria e a injustiças que oprimem o povo de Israel. Elias é um dos maiores profetas do povo de Deus. Na ocasião do presente texto, se encontra com uma viúva. Órfãos e viúvas faziam parte da classe dos deserdados, dos desprotegidos e dos esquecidos de Israel. O Deus de Elias é o verdadeiro Deus, aquele que escolhe e ama seu povo cuidando com amor materno os filhos sem vez e sem voz, os que são excluídos.

            À viúva Elias pede água e pão. Não é um pedido para testar a generosidade e a bondade daquela pobre mulher. Elias era um pobre de Javé. Servindo a Deus vivia pobremente. Por isso, estava na mesma condição da viúva. Não lhe era superior em nada. Trata-se do encontro de dois pobres que tem somente a Deus como riqueza de suas vidas. A pobre viúva não tinha pão, mas um punhado de farinha para preparar um alimento e esperar a morte chegar. Elias representa a presença provedora de Deus, que não abandona seus filhos e filhas.

            Acolhendo o profeta, a viúva acolheu a Deus, que não deixou nada faltar. Elias simplesmente se fez presente, participou da vida daquela mulher, lhe falou da generosidade divina, que faz brotar a fartura. “Não te preocupes!”, fala Elias para a viúva. Diante da difícil situação da vida, a confiança na divina Providência nos ensina que não devemos nos afligir, nos desesperar. A esperança de que tudo se resolverá com paciência operosa é o que Elias nos faz entender. “A mulher foi e fez como Elias lhe tinha dito”: houve ação, e nesta Deus não se ausentou. Ir e fazer com a confiança no Deus que faz com que as coisas boas aconteçam na vida daqueles que nele confiam.

            Em nossos dias há tantos Elias que estão junto às viúvas e órfãos esquecidos no silêncio e no anonimato de uma sociedade que não os enxerga. São mulheres e homens que se deixam tocar pela palavra de Deus que aponta para os excluídos. O profeta Elias está na Igreja falando incansavelmente do sofrimento dos excluídos. São poucos os que escutam os profetas. A maioria dos que se consagraram para o cuidado e a evangelização dos excluídos está ocupada com a burocracia eclesiástica. Enquanto os excluídos querem água e pão, os consagrados estão preocupados com as rubricas eclesiásticas, como se estas contribuíssem em alguma coisa para que o Reino de Deus aconteça.

            Antes do episódio da pobre viúva que deposita duas pequenas moedas no cofre do templo, Jesus alerta a multidão a respeito dos doutores da lei elencando as qualidades vergonhosas deles: gostam de andar com roupas vistosas; gostam de ser cumprimentados nas praças públicas; gostam das primeiras cadeiras nas sinagogas e nos banquetes e devoram as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações. São os defeitos de quem deseja ser grande, aplaudido e venerado por todos; é o proceder dos opressores, que se aproveitam dos mais fracos.  Jesus, o profeta por excelência, denuncia a hipocrisia das autoridades religiosas de seu tempo. Se formos atentos a muitos dos clérigos da Igreja perceberemos que há neles estas mesmas maneiras de proceder.

            Jesus chamou a atenção dos discípulos para a pobreza e generosidade da viúva que depositou sua esmola no templo. Nas Igrejas cristãs há uma leitura distorcida deste acontecimento. Muitos se utilizam deste texto para legitimar o dízimo, afirmando que se deve devolver a Deus aquilo que ele nos dá e que se deve fazer como a viúva: dar tudo o que possui. Tal leitura induz as pessoas a fazerem um acordo financeiro com Deus: elas lhe oferecem o dízimo e outras ofertas esperando receber em troca as bênçãos, os milagres e a solução para seus problemas materiais. Não foi para ensinar isso que Jesus chamou a atenção de seus discípulos, mas para denunciar os ricos, que de tanto possuir davam daquilo que lhes sobrava recusando-se, assim, à verdadeira partilha fraterna.

            Acolher e ser solidário com o próximo são ações do seguidor de Jesus, mas ações gratuitas, portanto, despojadas de interesses. O cristão não precisa esperar de Deus recompensa alguma por ser acolhedor e solidário para com o próximo, pois proceder desta forma já é em si recompensa. É feliz quem assim procede! É sinal de que compreendeu a mensagem cristã e está colocando-a em prática. A verdadeira felicidade do cristão está em servir com generosidade e alegria. Agir com generosidade é colocar-se integralmente a serviço dos irmãos e irmãs, assim como a viúva: sem reservas.

Tiago de França

2 comentários:

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