domingo, 25 de novembro de 2012

Jesus Cristo: rei do universo


“Tu o dizes: eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz” (Jo 18, 37).

            Jesus foi aclamado rei, mas se recusou a tal aclamação. Os judeus esperavam um messias glorioso e dominador, que fosse reinar e acabar com a opressão no império romano. Jesus frustrou as expectativas das pessoas que esperavam um messias deste tipo: coroado de espinhos, foi morto numa cruz, símbolo da humilhação e da maldição. Não tinha os atributos dos reis mundanos: poder, prestígio e riqueza. Era impotente, mal visto e pobre. Vivia pregando o advento do Reino de Deus, que é plenamente oposto aos reinos deste mundo. Sua mensagem não foi acolhida, a não ser pelos empobrecidos, que viam nele a presença amorosa do Deus da Israel, Deus da vida e da liberdade.

            Os evangelhos falam de um rei humanamente impotente. Nas Igrejas cristãs a imagem do Cristo glorioso é muito bem recebida e propagada. O ser humano gosta das glórias, busca o poder, o prestígio e a riqueza. De modo geral, os cristãos não se identificam com o Cristo pobre e crucificado; desejam um Messias glorioso, constituído de poder e glória, que possa resolver todos os problemas da condição humana. O ser humano destrói a si próprio e a beleza da criação e invoca a realiza de Jesus para que venha reinar e resolver todas as coisas. As Igrejas pecam gravemente ao cultivar este tipo de imagem na cabeça das pessoas.

            Na imagem que fizeram do Cristo rei do universo aparece um Jesus que em nada se diferencia dos reis deste mundo: coroado, revestido com roupas luxuosas e com um cetro na mão. É o Cristo do imaginário de quem o fez, não o que aparece nos evangelhos. O Cristo é rei enquanto princípio e fim de toda a criação, porque por ele todas as coisas foram criadas (cf. Jo 1, 3); mas enquanto humano, Jesus nunca reinou neste mundo. O seu reino é o Reino de Deus, que acontece neste mundo e que na sua volta (parusia) se tornará realidade plena e perfeita.

            Diante de Pilatos, Jesus falou claramente de sua missão: Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. A verdade do Cristo é livre e promotora da salvação universal. É a verdade que fala do verdadeiro significado do ser humano, daquilo que este tem de mais íntimo e, portanto, de mais misterioso. A verdade de Jesus revela quem é o ser humano, é a sua epifania. Em um mundo tomado pela mentira, que gera confusão e oprime as pessoas, Jesus convida para que sejamos testemunhas da verdade; verdade que já está impressa na consciência e no coração de todo gênero humano, que por natureza tende para o bem e para a verdade.

            Quando criaram a festa de Cristo rei do universo pensaram no domínio de Cristo sobre a terra e sobre os poderes que atuam no mundo, identificando tal domínio com a missão da Igreja. Sem rodeios, eis o pensamento que deu origem a esta festa: Jesus é rei do universo e instituiu a Igreja para que governasse todo o mundo. Portanto, todos tem que se submeter ao poder da Igreja, na pessoa do Papa, que é a ponte que liga a terra ao céu.

Este pensamento tem dois equívocos, que são tranquilamente desmentidos pelos evangelhos: primeiro, que Cristo veio para dominar. Este verbo não pode ser posto para Cristo, pois não corresponde ao que ele é. Jesus não foi enviado para dominar, mas para anunciar o Reino de Deus. Segundo, que Cristo instituiu a Igreja para governar o mundo. Jesus nada instituiu neste mundo. Nenhuma instituição pode se remeter a Cristo como seu fundador. A Igreja nasceu para evangelizar (cf. Evangelii Nuntiandi, n. 14) e tal evangelização passa necessária e imprescindivelmente pelo anúncio da Boa Notícia do Reino de Deus. O anúncio do Evangelho dispensa o domínio e entra em profunda contradição com o mesmo. Na verdade, toda forma de dominação do ser humano, inclusive a dominação religiosa, é denunciada pelo evangelho de Jesus. O anúncio em si é denúncia contra toda forma de dominação.

O Reino de Deus anunciado por Jesus acolhe e promove todas as pessoas que são excluídas neste mundo. Este Reino é edificado a partir do amor, da verdade, da liberdade, da justiça, da solidariedade, da partilha, da comunhão, do respeito e de todo valor que promove a dignidade do ser humano. Assim como Jesus, quem quiser fazer parte do seu Reino é chamado a dar testemunho da verdade. Para escutar sua voz é preciso ser da verdade. O discípulo missionário de Jesus é toda pessoa que dar testemunho da verdade e que na escuta atenta de sua palavra se coloca no seu caminho até às últimas consequências. Colocar-se no caminho de Jesus, rei servidor, é permanecer na direção do próximo, na disponibilidade do serviço.

Tiago de França

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