O
Concílio Vaticano II afirmou que todo cristão é chamado a ser santo. Portanto,
o chamado à santidade é universal. A santidade não é privilégio de poucos, pois
o mesmo Espírito ilumina e santifica a todos. Este Espírito santificador é dom
gratuito de Deus, é ação amorosa de Deus presente no mundo e que conduz o ser
humano à comunhão com Deus. É a força divina que não podendo ser controlada nem
manipulada por ninguém renova todas as coisas. O Espírito é que faz os santos.
Em todas as épocas da história da
Igreja e até os dias de hoje, as pessoas sempre pensaram que o santo é alguém
perfeito, que cumpre fielmente os mandamentos de Deus. Por isso, a santidade
era vista como algo distante, inacessível, somente possível aos religiosos. As biografias
dos santos antigos se revestem de fatos miraculosos que induzem as pessoas a
verem os santos como seres superiores, escolhidos para viverem outro estilo de
vida totalmente diferente da vida do comum dos mortais. Por isso, o santo era
alguém separado do mundo. Apesar disso, sempre houve santos e santas fora deste
modelo tradicional.
Após o Concílio Vaticano II a
compreensão mudou radicalmente. Vamos caracterizar a santidade a partir de três
valores ou realidades fundamentais, sem as quais não pode existir santidade
hoje.
O santo é aquele que se coloca no caminho de
Jesus de Nazaré. Colocar-se a caminho é partir, sair de si mesmo e ir
ao encontro do próximo. No caminho de Jesus há o encontro alegre e fraterno
entre as pessoas. Estas se encontram para seres felizes na comunidade, na
unidade que acontece na diversidade. Neste sentido, o santo é alguém que está
em movimento, que vê a vida a partir da evolução de todas as coisas, que vive
em plena transformação. Portanto, o santo não é encontrado em casa, preservando
sua vida, longe dos perigos da vida. É pessoa do mundo, da vida comum e,
consequentemente, simples, sem chamar a atenção de ninguém.
O santo é aquele que procura ser livre,
deixando-se guiar somente pelo Espírito de Deus. Vivendo normalmente,
encontra-se espiritualmente livre. Não há quem consiga controlá-lo, pois está
sempre além de seu tempo, vivendo o tempo da graça de Deus. O santo põe toda a
sua confiança em Deus. Deus é sua única segurança. Depende única e
exclusivamente da força do Espírito. Este o conduz na e para a liberdade. Somente
quem é conduzido pelo Espírito é verdadeiramente livre. É o Espírito que o auxilia
no cumprimento da vontade de Deus, impedindo que se deixe dominar pelo egoísmo.
O santo
é aquele que procura pautar sua vida no amor e não na observância da lei.
Na sociedade e na Igreja há muitas leis, o santo as cumpre procurando viver o
mandamento do amor a Deus e ao próximo. Não há nenhuma preocupação com as leis,
estas não o aprisionam. Muitas vezes, para cumprir a vontade divina, o santo
entra em conflito com a lei, desobedecendo-a. A exemplo de Jesus, põe a vida
acima da observância da lei. O que importa é amar a Deus e ao próximo e para
isto necessita, às vezes, confrontar-se com leis que contradizem o evangelho de
Jesus, tanto na sociedade quanto na Igreja.
Não são santos somente os que são
canonizados pela Igreja. Para ser santo não é necessário tal reconhecimento. São
incontáveis os santos e santas que existem no mundo, vivendo no anonimato,
principalmente entre os mais pobres, tornando este mundo mais fraterno e
possível para todos. Inspirados e conduzidos pelo Espírito e orientados pela liberdade
e sabedoria do Evangelho são presença amorosa de Deus recriando no amor todas
as coisas. O Espírito não deixa faltar ao mundo e à Igreja os santos e santas
de Deus.
Tiago de França
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