“E
a Palavra se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14).
Prezado/a
amigo/a e irmão/ã em Cristo,
Graça
e paz!
Anualmente, costumo escrever uma
mensagem de Natal aos amigos e comunidades por onde passei. Esta feliz
Solenidade tem muito a nos ensinar no mundo de hoje. Não podemos permitir que
ela seja esquecida e manipulada pelo consumismo, que leva muitas pessoas a se esquecer
daquele que dá sentido ao Natal: Jesus de Nazaré.
Não faz mal trocar presentes, enfeitar
casas, ruas e praças, juntar a família em torno da mesa para a refeição
festiva. Tudo isto é bom, mas o verdadeiro sentido do Natal está na
celebração do mistério da encarnação do Verbo de Deus. Por isso, vamos
pensar o Natal a partir de três realidades: a do mundo, a da Igreja e a nossa
própria realidade pessoal.
O mundo
O mundo é fruto da ação humana,
portanto, parece com o ser humano que o habita. A realidade mostra que estamos
numa profunda crise de identidade. A fome, a violência e tantos outros males
parecem insolúveis. A indiferença torna as pessoas insensíveis diante das
necessidades do próximo. O mundo parece caminhar sem rumo. Ninguém sabe ao
certo aonde iremos chegar. A crise econômica que assola a Europa gera
insegurança em todo o mundo e os conflitos bélicos no Oriente não cessam.
O Verbo de Deus se fez carne e
habitou este mundo. Jesus esvaziou-se de si mesmo e se fez homem no mundo: foi
plenamente humano. Levou a missão que o Pai lhe confiou até às últimas
consequências. Ele foi fiel, não fugiu do mundo. Ensinou o mandamento do amor
para que seus seguidores pudessem fazer a mesma coisa: não fugir do mundo, mas
transformá-lo, cotidianamente, a partir do amor. O amor é única força capaz de
transformar o mundo, tornando-o habitável para todos.
A Igreja
A situação eclesial é tão confusa
que é difícil defini-la. Há comemorações em torno dos 50 anos da abertura do
Concílio Vaticano II (11/10/62 – 11/10/12), mas tais comemorações são marcadas
pelo retrocesso e pelo saudosismo. Retrocesso por parte dos que trabalham pela
ressurreição da Igreja pré-Vaticano II, de orientação tridentina; saudosismo
por parte de muita gente progressista, que assiste a morte gradativa de
comunidades eclesiais de base e de grandes figuras que se destacaram na luta
pela libertação dos oprimidos.
Apesar das diversas formas de opressões
dentro e fora da Igreja, a palavra libertação é quase impronunciável. Quando falam
de libertação referem-se a um movimento espiritual de libertação dos pecados
meramente pessoais. A hierarquia está preocupada porque parece que os católicos
não pecam mais; consequentemente, não procuram confessar os pecados. Há um
número grandioso de clérigos e religiosos sem causa, que apegados aos atos
litúrgicos pensam estar servindo ao Deus de Jesus. A Igreja precisa fazer uma urgente
releitura do mistério da encarnação de Jesus para reencontrá-lo em Nazaré, onde
está nascendo o verdadeiro Messias.
Colaboração
pessoal
O mundo carece de mulheres e
homens de fé, que não percam a esperança e que atuem em vista de outro mundo
possível. A esperança cristã sustenta o seguidor de Jesus no caminho que conduz
à vida plena. Cada pessoa, a partir daquilo que é e que faz, é chamada a dar
sua parcela de contribuição. Impulsionados pelos valores do evangelho o cristão
é um trabalhador na vinha do Senhor. Na ociosidade não se pode esperar que a
realidade mude para melhor.
O discípulo missionário de Jesus é
um anunciador da palavra de Deus. Esta palavra transforma as estruturas deste
mundo. Esta transformação passa pela conversão das pessoas. Na escuta e no
entendimento do evangelho a pessoa se transforma radicalmente, tornando-se sal
e luz do mundo. Permitir que o mundo padeça nas trevas do erro e da ignorância
pela falta do anúncio do genuíno evangelho de Jesus é um gravíssimo pecado de
omissão.
Sempre se pode fazer alguma coisa.
As pessoas que precisam estão aí, presentes no cotidiano da vida de todos. O
clamor dos empobrecidos se levanta de toda parte. Não enxerga nem escuta quem
não quiser. Não basta ser solidário somente no tempo no qual se celebra o
Natal. A solidariedade deve ser uma experiência permanente, como é o amor de
Deus para com cada ser humano. O desejo de Deus é que na fraternidade todos
possam viver dignamente, pois o culto celebrado por quem pratica a injustiça e a
omissão não é aceito por Deus.
Não há Natal sem participação na
vida do próximo. O Natal acontece na periferia deste mundo, na manjedoura de
Belém, na pequenez de uma pobre criança. Fora deste espírito fraterno só há
aparência. Pode até haver alegria, mas não é a alegria do Natal do Senhor. Eis
a expressão insistente do Senhor: “Procuro
abrigo nos corações, de porta em porta desejo entrar, se alguém me acolhe com
gratidão, faremos juntos a refeição”. Abrir o coração para acolher Jesus
significa acolher a sua mensagem e colocar-se no seu caminho; caminho de
justiça, amor e reconciliação.
A você que acaba de ler esta
mensagem, desejo-lhe um Feliz Natal e um Ano Novo repleto da graça de Deus!
Fraternalmente, em Cristo Jesus,
Tiago de França da Silva
Belo Horizonte – MG, 24 de
dezembro de 2012.
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