segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Mensagem de Natal


“E a Palavra se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14).

Prezado/a amigo/a e irmão/ã em Cristo,

Graça e paz!

            Anualmente, costumo escrever uma mensagem de Natal aos amigos e comunidades por onde passei. Esta feliz Solenidade tem muito a nos ensinar no mundo de hoje. Não podemos permitir que ela seja esquecida e manipulada pelo consumismo, que leva muitas pessoas a se esquecer daquele que dá sentido ao Natal: Jesus de Nazaré.

Não faz mal trocar presentes, enfeitar casas, ruas e praças, juntar a família em torno da mesa para a refeição festiva. Tudo isto é bom, mas o verdadeiro sentido do Natal está na celebração do mistério da encarnação do Verbo de Deus. Por isso, vamos pensar o Natal a partir de três realidades: a do mundo, a da Igreja e a nossa própria realidade pessoal.

O mundo

            O mundo é fruto da ação humana, portanto, parece com o ser humano que o habita. A realidade mostra que estamos numa profunda crise de identidade. A fome, a violência e tantos outros males parecem insolúveis. A indiferença torna as pessoas insensíveis diante das necessidades do próximo. O mundo parece caminhar sem rumo. Ninguém sabe ao certo aonde iremos chegar. A crise econômica que assola a Europa gera insegurança em todo o mundo e os conflitos bélicos no Oriente não cessam.

            O Verbo de Deus se fez carne e habitou este mundo. Jesus esvaziou-se de si mesmo e se fez homem no mundo: foi plenamente humano. Levou a missão que o Pai lhe confiou até às últimas consequências. Ele foi fiel, não fugiu do mundo. Ensinou o mandamento do amor para que seus seguidores pudessem fazer a mesma coisa: não fugir do mundo, mas transformá-lo, cotidianamente, a partir do amor. O amor é única força capaz de transformar o mundo, tornando-o habitável para todos.

A Igreja

            A situação eclesial é tão confusa que é difícil defini-la. Há comemorações em torno dos 50 anos da abertura do Concílio Vaticano II (11/10/62 – 11/10/12), mas tais comemorações são marcadas pelo retrocesso e pelo saudosismo. Retrocesso por parte dos que trabalham pela ressurreição da Igreja pré-Vaticano II, de orientação tridentina; saudosismo por parte de muita gente progressista, que assiste a morte gradativa de comunidades eclesiais de base e de grandes figuras que se destacaram na luta pela libertação dos oprimidos.

            Apesar das diversas formas de opressões dentro e fora da Igreja, a palavra libertação é quase impronunciável. Quando falam de libertação referem-se a um movimento espiritual de libertação dos pecados meramente pessoais. A hierarquia está preocupada porque parece que os católicos não pecam mais; consequentemente, não procuram confessar os pecados. Há um número grandioso de clérigos e religiosos sem causa, que apegados aos atos litúrgicos pensam estar servindo ao Deus de Jesus. A Igreja precisa fazer uma urgente releitura do mistério da encarnação de Jesus para reencontrá-lo em Nazaré, onde está nascendo o verdadeiro Messias.

Colaboração pessoal

            O mundo carece de mulheres e homens de fé, que não percam a esperança e que atuem em vista de outro mundo possível. A esperança cristã sustenta o seguidor de Jesus no caminho que conduz à vida plena. Cada pessoa, a partir daquilo que é e que faz, é chamada a dar sua parcela de contribuição. Impulsionados pelos valores do evangelho o cristão é um trabalhador na vinha do Senhor. Na ociosidade não se pode esperar que a realidade mude para melhor.

            O discípulo missionário de Jesus é um anunciador da palavra de Deus. Esta palavra transforma as estruturas deste mundo. Esta transformação passa pela conversão das pessoas. Na escuta e no entendimento do evangelho a pessoa se transforma radicalmente, tornando-se sal e luz do mundo. Permitir que o mundo padeça nas trevas do erro e da ignorância pela falta do anúncio do genuíno evangelho de Jesus é um gravíssimo pecado de omissão.

            Sempre se pode fazer alguma coisa. As pessoas que precisam estão aí, presentes no cotidiano da vida de todos. O clamor dos empobrecidos se levanta de toda parte. Não enxerga nem escuta quem não quiser. Não basta ser solidário somente no tempo no qual se celebra o Natal. A solidariedade deve ser uma experiência permanente, como é o amor de Deus para com cada ser humano. O desejo de Deus é que na fraternidade todos possam viver dignamente, pois o culto celebrado por quem pratica a injustiça e a omissão não é aceito por Deus.

            Não há Natal sem participação na vida do próximo. O Natal acontece na periferia deste mundo, na manjedoura de Belém, na pequenez de uma pobre criança. Fora deste espírito fraterno só há aparência. Pode até haver alegria, mas não é a alegria do Natal do Senhor. Eis a expressão insistente do Senhor: “Procuro abrigo nos corações, de porta em porta desejo entrar, se alguém me acolhe com gratidão, faremos juntos a refeição”. Abrir o coração para acolher Jesus significa acolher a sua mensagem e colocar-se no seu caminho; caminho de justiça, amor e reconciliação.

            A você que acaba de ler esta mensagem, desejo-lhe um Feliz Natal e um Ano Novo repleto da graça de Deus!

            Fraternalmente, em Cristo Jesus,

Tiago de França da Silva
Belo Horizonte – MG, 24 de dezembro de 2012.

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