segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A união civil homoafetiva


           Alguns leitores do meu Blog, após terem conferido os textos que escrevi e publiquei, escreveram-me solicitando minha opinião a respeito do tema do presente artigo. São muitas as pesquisas e opiniões a respeito deste tema. Portanto, para delimitar o tema vamos discorrê-lo a partir de três afirmações: 1) Os homossexuais fazem parte das minorias excluídas pela sociedade; 2) A Bíblia não pode ser utilizada para condená-los e 3) A união civil entre pessoas do mesmo sexo não ameaça a instituição familiar.

            É preciso prevenir alguns leitores piedosos, que comungam cegamente com a moral sexual católica, pois iremos tratar o assunto a partir da liberdade dos filhos de Deus. Infelizmente, em algumas questões a moral sexual não respeita esta liberdade, mas define dogmaticamente e condena sem deixar margem a novas e necessárias interpretações. Com isto, não estamos afirmando que a moral sexual ensinada pela Igreja seja destituída de importância, mas ao tratar da questão homoafetiva, a mesma é rígida, fechada e intolerável. É preciso afirmar de antemão que não se trata de defesa ou acusação contra homossexuais, mas de reconhecimento da dignidade humana que se manifesta na diversidade sexual.

Os homossexuais fazem parte das minorias excluídas pela sociedade

            A exclusão de pessoas em nenhum caso é legítima e, por isso mesmo, não pode ser legitimada. Infelizmente, se assiste a tantas exclusões que a impressão que se tem é que se tornaram normais, aceitáveis, legítimas. Pobres, iletrados, abandonados, presidiários, prostitutas, homossexuais e outros grupos minoritários são excluídos na sociedade. Esta não tolera o diferente, o novo, aquilo que foge ou ultrapassa os padrões estabelecidos. Os padrões ditam o jeito de ser e de viver das pessoas e estas são consideradas normais quando obedecem sem questionamentos o que foi estabelecido como normal.

            Ser pobre, segundo a ideologia capitalista não é normal. Todos têm que procurar as riquezas. Ser pobre é sinônimo de vergonha, de inferioridade. A dignidade se encontra na aquisição das riquezas. Não importa os meios para a aquisição, importa ser rico porque este é considerado o importante, o reconhecido, o respeitado. Estando contaminada por essas ideias, muitas pessoas, por meios ilícitos, ficam ricas da noite para o dia. Tais pessoas não conseguem se libertar porque a corrupção é viciosa. O maior medo do rico é ficar pobre.

            O iletrado é ignorante, pois não tem conhecimento escolar. A sociedade capitalista não exclui o iletrado rico, pois este possui dinheiro e quem tem dinheiro não é excluído. Para o iletrado estão as profissões com pouca remuneração e consideradas inferiores. Por mais que queira um bom cargo, jamais ocupará profissões reconhecidamente importantes. É verdade que toda e qualquer profissão tem o seu valor, mas o capitalismo ensina que todos precisam estudar para, no exercício da profissão, manter o sistema revigorado.

            Os abandonados são inúteis: não compram nem produzem, são anônimos. Nas grandes cidades se encontram nas praças e debaixo dos viadutos, juntamente com o lixo e a sujeira. São invisíveis, ninguém os vê. Quando incomodam são violentados pela polícia, que os expulsa para lugares pouco frequentados. A regra é não incomodar. Sobrevivem do que conseguem no lixo e do que pessoas e Igrejas dão do que sobra.  

            “Os presidiários são criminosos que merecem morrer”: de modo geral, esta é a opinião das pessoas a respeito deles. Quem nunca foi a um presídio pensa que o governo os sustenta numa vida confortável. A realidade mostra que são tratados como animais constantemente violentados. Quem defende que o encarcerado leva vida fácil não deseja tal estilo de vida para si! Esquecem que o maior castigo consiste na perda da liberdade de ir e vir.

            As prostitutas são preguiçosas que não querem trabalhar, sinônimos da perdição, mulheres da vida fácil. Quem desconhece o cotidiano delas e as causas que levaram a viverem de tal modo as julga sem conhecimento de causa, utilizando-se de argumentos infundados. Afirmar que elas vivem somente a procura de prazer sexual é um grave equívoco. Segundo Jesus, elas precederão os religiosos no Reino de Deus.

            Os homossexuais eram considerados doentes. Com o avanço dos estudos psicológicos, foram admitidos à categoria dos que são normais. Não são aceitos porque a religião cristã fez e faz uma leitura ao pé da letra da narrativa da criação do livro do Gênesis: Deus fez homem e mulher à sua imagem e semelhança. Segundo esta concepção, só há homem e mulher. Portanto, homossexuais, bissexuais e transexuais são considerados desviados, não estão de acordo com o que Deus criou.

A Bíblia não pode ser utilizada para condená-los

            Infelizmente, a Bíblia é utilizada para julgá-los e condená-los. Quem faz este tipo de uso desconhece a Deus, porque este não faz acepção de pessoas. Todos são filhos legítimos de Deus, criados e recriados em seu amor benevolente. Todos são dignos de atenção, carinho e respeito porque formamos uma só família humana na qual deve existir a tolerância necessária para que haja relações igualitárias e, consequentemente, sadias.

            A leitura fundamentalista da Bíblia tem sido um dos piores males praticados no seio das Igrejas cristãs. Quem costuma praticar este tipo de leitura encontra na Bíblia toda espécie de condenação contra o próximo, e os homossexuais são vítimas de condenação severa. De modo geral, as pessoas se esquecem de que toda a Escritura converge para o mistério da encarnação, morte e ressurreição de Jesus de Nazaré e de que este confirmou o mandamento do amor como a norma que deve orientar e salvar a vida humana. Na prática do amor não há espaço para condenação do próximo.

A união civil entre pessoas do mesmo sexo não ameaça a instituição familiar.

            Esta afirmação é verdadeira porque o amor entre as pessoas não constitui ameaçar a nenhuma forma de moralidade. Assim como na relação heterossexual, o amor é uma experiência que existe e que progride cada vez mais. Ninguém tem o direito de causar dano ou desmoralizar o amor que existe entre casais homossexuais. É verdade que a banalidade e o desrespeito também podem ocorrer. É um risco constante na experiência humana de relacionamentos. É algo que acontece em muitos casos, mas ninguém está autorizado a afirmar que correta e agradável a Deus é a relação heterossexual e que a homossexual é banal e abominável aos olhos de Deus.

            O grande problema da religião cristã é a leitura que muitos fazem daquilo que denominamos vontade divina. Julgamos as realidades à luz dos padrões culturalmente estabelecidos e afirmamos que estão ou não de acordo com a vontade de Deus. A vontade divina continua sendo um mistério para cada ser humano, mas em Cristo Jesus podemos afirmar que o chamado à santidade no amor é universal, é um convite a todos, também aos homossexuais. A vontade divina se realiza no amor. Portanto, toda pessoa que procura viver o mandamento do amor nas diversas circunstâncias e formas de vida estão respondendo com generosidade e liberdade ao chamado de Deus.

            O amor é um dom a ser vivido na diversidade, jamais na uniformidade; não é uniforme nem tende à padronização; não se enquadra em padrões ou esquemas, mas é vivido na liberdade, no respeito, na gratuidade e na reciprocidade. O amor sempre tende para a realização do ser humano, para o seu bem e para a plenitude da vida. Por isso, aos olhos de Deus nenhuma maneira de amar é abominável. Mesmo que não aceitemos, pois tendemos à exclusão do amor que se manifesta, antes de tudo, na diferença e na liberdade, foi assim que Jesus ensinou e nos convidou a vivermos no amor.

Tiago de França

3 comentários:

3P Produções Especiais disse...

Parabéns pela matéria...

Realmente conscientiza as pessoas que ainda olham essa união com diferença.

O amor é indiferente e os sonhos também

Anônimo disse...

Excelente reflexão Tiago, cada pessoa tem seus valores e defende os seus conceitos, os quais muitas vezes são influenciados pela cultura,ambiente e sociedade,
Entretanto o respeito deve ser primordial entre todos, pois são as diferenças que nos distingue e apenas o amor que nos iguala.

Abraços,
Cláudia Mendes

Marco Antonio Osório da Costa disse...

Belíssima reflexão e belíssimo texto, como todos, Tiago!
Se ouvirmos, de verdade, o que diz Jesus, não teremos qualquer dificuldade em conviver com o amor nas suas mais diversas e variadas formas.
O que impede a convivência é nossa teimosia em fazer coincidir o evangelho como nossos preconceitos.