Alguns
leitores do meu Blog, após terem conferido os textos que escrevi e publiquei,
escreveram-me solicitando minha opinião a respeito do tema do presente artigo. São
muitas as pesquisas e opiniões a respeito deste tema. Portanto, para delimitar
o tema vamos discorrê-lo a partir de três afirmações: 1) Os homossexuais fazem
parte das minorias excluídas pela sociedade; 2) A Bíblia não pode ser utilizada
para condená-los e 3) A união civil entre pessoas do mesmo sexo não ameaça a
instituição familiar.
É preciso prevenir alguns leitores
piedosos, que comungam cegamente com a moral sexual católica, pois iremos
tratar o assunto a partir da liberdade dos filhos de Deus. Infelizmente, em
algumas questões a moral sexual não respeita esta liberdade, mas define
dogmaticamente e condena sem deixar margem a novas e necessárias
interpretações. Com isto, não estamos afirmando que a moral sexual ensinada
pela Igreja seja destituída de importância, mas ao tratar da questão
homoafetiva, a mesma é rígida, fechada e intolerável. É preciso afirmar de
antemão que não se trata de defesa ou acusação contra homossexuais, mas de
reconhecimento da dignidade humana que se manifesta na diversidade sexual.
Os homossexuais
fazem parte das minorias excluídas pela sociedade
A exclusão de pessoas em nenhum
caso é legítima e, por isso mesmo, não pode ser legitimada. Infelizmente, se
assiste a tantas exclusões que a impressão que se tem é que se tornaram
normais, aceitáveis, legítimas. Pobres, iletrados, abandonados, presidiários,
prostitutas, homossexuais e outros grupos minoritários são excluídos na
sociedade. Esta não tolera o diferente, o novo, aquilo que foge ou ultrapassa
os padrões estabelecidos. Os padrões ditam o jeito de ser e de viver das
pessoas e estas são consideradas normais quando obedecem sem questionamentos o
que foi estabelecido como normal.
Ser pobre, segundo a ideologia
capitalista não é normal. Todos têm que procurar as riquezas. Ser pobre é
sinônimo de vergonha, de inferioridade. A dignidade se encontra na aquisição
das riquezas. Não importa os meios para a aquisição, importa ser rico porque
este é considerado o importante, o reconhecido, o respeitado. Estando
contaminada por essas ideias, muitas pessoas, por meios ilícitos, ficam ricas
da noite para o dia. Tais pessoas não conseguem se libertar porque a corrupção
é viciosa. O maior medo do rico é ficar pobre.
O iletrado é ignorante, pois não tem
conhecimento escolar. A sociedade capitalista não exclui o iletrado rico, pois
este possui dinheiro e quem tem dinheiro não é excluído. Para o iletrado estão
as profissões com pouca remuneração e consideradas inferiores. Por mais que queira
um bom cargo, jamais ocupará profissões reconhecidamente importantes. É verdade
que toda e qualquer profissão tem o seu valor, mas o capitalismo ensina que
todos precisam estudar para, no exercício da profissão, manter o sistema
revigorado.
Os abandonados são inúteis: não
compram nem produzem, são anônimos. Nas grandes cidades se encontram nas praças
e debaixo dos viadutos, juntamente com o lixo e a sujeira. São invisíveis,
ninguém os vê. Quando incomodam são violentados pela polícia, que os expulsa
para lugares pouco frequentados. A regra é não incomodar. Sobrevivem do que
conseguem no lixo e do que pessoas e Igrejas dão do que sobra.
“Os presidiários são criminosos que
merecem morrer”: de modo geral, esta é a opinião das pessoas a respeito deles.
Quem nunca foi a um presídio pensa que o governo os sustenta numa vida
confortável. A realidade mostra que são tratados como animais constantemente
violentados. Quem defende que o encarcerado leva vida fácil não deseja tal
estilo de vida para si! Esquecem que o maior castigo consiste na perda da
liberdade de ir e vir.
As prostitutas são preguiçosas que
não querem trabalhar, sinônimos da perdição, mulheres da vida fácil. Quem
desconhece o cotidiano delas e as causas que levaram a viverem de tal modo as
julga sem conhecimento de causa, utilizando-se de argumentos infundados. Afirmar
que elas vivem somente a procura de prazer sexual é um grave equívoco. Segundo
Jesus, elas precederão os religiosos no Reino de Deus.
Os homossexuais eram considerados
doentes. Com o avanço dos estudos psicológicos, foram admitidos à categoria dos
que são normais. Não são aceitos porque a religião cristã fez e faz uma leitura
ao pé da letra da narrativa da criação do livro do Gênesis: Deus fez homem e
mulher à sua imagem e semelhança. Segundo esta concepção, só há homem e mulher.
Portanto, homossexuais, bissexuais e transexuais são considerados desviados,
não estão de acordo com o que Deus criou.
A Bíblia não
pode ser utilizada para condená-los
Infelizmente, a Bíblia é utilizada
para julgá-los e condená-los. Quem faz este tipo de uso desconhece a Deus,
porque este não faz acepção de pessoas. Todos são filhos legítimos de Deus,
criados e recriados em seu amor benevolente. Todos são dignos de atenção,
carinho e respeito porque formamos uma só família humana na qual deve existir a
tolerância necessária para que haja relações igualitárias e, consequentemente,
sadias.
A leitura fundamentalista da Bíblia
tem sido um dos piores males praticados no seio das Igrejas cristãs. Quem costuma
praticar este tipo de leitura encontra na Bíblia toda espécie de condenação
contra o próximo, e os homossexuais são vítimas de condenação severa. De modo
geral, as pessoas se esquecem de que toda a Escritura converge para o mistério
da encarnação, morte e ressurreição de Jesus de Nazaré e de que este confirmou
o mandamento do amor como a norma que deve orientar e salvar a vida humana. Na
prática do amor não há espaço para condenação do próximo.
A união civil
entre pessoas do mesmo sexo não ameaça a instituição familiar.
Esta afirmação é verdadeira porque o
amor entre as pessoas não constitui ameaçar a nenhuma forma de moralidade. Assim
como na relação heterossexual, o amor é uma experiência que existe e que
progride cada vez mais. Ninguém tem o direito de causar dano ou desmoralizar o
amor que existe entre casais homossexuais. É verdade que a banalidade e o
desrespeito também podem ocorrer. É um risco constante na experiência humana de
relacionamentos. É algo que acontece em muitos casos, mas ninguém está autorizado
a afirmar que correta e agradável a Deus é a relação heterossexual e que a
homossexual é banal e abominável aos olhos de Deus.
O grande problema da religião cristã
é a leitura que muitos fazem daquilo que denominamos vontade divina. Julgamos as realidades à luz dos padrões
culturalmente estabelecidos e afirmamos que estão ou não de acordo com a
vontade de Deus. A vontade divina continua sendo um mistério para cada ser
humano, mas em Cristo Jesus podemos afirmar que o chamado à santidade no amor é
universal, é um convite a todos, também aos homossexuais. A vontade divina se
realiza no amor. Portanto, toda pessoa que procura viver o mandamento do amor
nas diversas circunstâncias e formas de vida estão respondendo com generosidade
e liberdade ao chamado de Deus.
O amor é um dom a ser vivido na
diversidade, jamais na uniformidade; não é uniforme nem tende à padronização; não
se enquadra em padrões ou esquemas, mas é vivido na liberdade, no respeito, na
gratuidade e na reciprocidade. O amor sempre tende para a realização do ser
humano, para o seu bem e para a plenitude da vida. Por isso, aos olhos de Deus
nenhuma maneira de amar é abominável. Mesmo que não aceitemos, pois tendemos à
exclusão do amor que se manifesta, antes de tudo, na diferença e na liberdade,
foi assim que Jesus ensinou e nos convidou a vivermos no amor.
Tiago de França
3 comentários:
Parabéns pela matéria...
Realmente conscientiza as pessoas que ainda olham essa união com diferença.
O amor é indiferente e os sonhos também
Excelente reflexão Tiago, cada pessoa tem seus valores e defende os seus conceitos, os quais muitas vezes são influenciados pela cultura,ambiente e sociedade,
Entretanto o respeito deve ser primordial entre todos, pois são as diferenças que nos distingue e apenas o amor que nos iguala.
Abraços,
Cláudia Mendes
Belíssima reflexão e belíssimo texto, como todos, Tiago!
Se ouvirmos, de verdade, o que diz Jesus, não teremos qualquer dificuldade em conviver com o amor nas suas mais diversas e variadas formas.
O que impede a convivência é nossa teimosia em fazer coincidir o evangelho como nossos preconceitos.
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