“Levanta-te,
acende as luzes, Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória
do Senhor”
(Is 60, 1).
Epifania quer dizer manifestação. A Festa
da Manifestação do Senhor é a festa do reconhecimento da universalidade da
salvação. Não há um povo, um grupo, uma religião, uma pessoa a quem se destina
com exclusividade a salvação oferecida por Deus em Jesus de Nazaré. Os cristãos
precisam meditar este mistério. É mistério de amor, de doação, de redenção do gênero
humano e de toda a criação. É o Deus Uno e Trino que vem ao encontro do ser humano
para divinizá-lo, para chamá-lo à plenitude da vida.
O texto evangélico escolhido para a
celebração litúrgica desta grande festa (cf. Mt 2, 1 – 12) traz algumas
informações que merecem destaque. Não é um texto de caráter propriamente
histórico, mas profundamente teológico. Olhando para o povo da antiga Aliança,
o autor sagrado quer falar do significado e do lugar do Messias na história da
salvação. O Messias prometido, enviado pelo Pai, realmente veio não somente
para cumprir as promessas realizadas na antiga Aliança, mas para salvar toda a
humanidade. Jesus é o Messias da humanidade, o esperado para reconfigurar a
história humana e resignificar a caminhada do povo de Deus.
Tendo
nascido Jesus na cidade de Belém, na Judéia, no tempo do rei Herodes. A geografia
da época coloca Belém como um lugar sem muita importância, a periferia da
Judéia. Jesus nasceu em um lugar sem importância política e econômica, onde
nascem e vivem os últimos. Esta escolha não é sem importância, mas revela a
predileção divina por aquilo que é pequeno, insignificante, frágil. Isso legitima
a escolha divina de um povo pequeno e fraco, carente de proteção e cuidado. Jesus
nasceu no seio do povo de Deus.
Frequentando as igrejas urbanas fico
escandalizado. Como desfiguram o pobre Jesus! É tudo muito grande, sofisticado,
excessivamente fino e destinado aos ricos. Católicos e evangélicos investem na
construção dos santuários, no estilo do Templo de Jerusalém. Não restam dúvidas
de que são necessários muitos profetas para descer o chicote e expulsar os vendilhões,
os exploradores do povo! É preciso fazer saber que Jesus nasceu em Belém (é
unânime entre os exegetas a ideia de que Jesus nasceu mesmo em Nazaré e não em
Belém, mas isso não muda o foco de nossa reflexão) e que a grandeza e o luxo
dos templos sagrados desfiguram-no, escandalosamente.
O lugar de nascimento fala da
identidade da pessoa. O fato de Jesus ter nascido e vivido entre os pequenos é
um dado incontestável nos evangelhos. Ninguém pode mudar isso, por mais que incomode
a consciência dos ricos que frequentam as igrejas. Os ricos admiram a pobreza
de Jesus e a predileção divina pelos humildes e pobres, mas não aceitam de modo
algum esta preciosa revelação. Há muitas reflexões até de teólogos que tentam
amenizar a situação dos ricos em relação aos pobres, mas perdem o seu tempo. No
exercício de sua missão, o Messias foi claro ao reafirmar e cumprir a profecia
de Isaías, declarando a todos que foi enviado para evangelizar os pobres (cf.
Lc 4, 18).
Os reis magos seguiram a indicação
de uma estrela que os levou até o Messias recém-nascido. Estes magos não eram
judeus, não pertenciam ao povo de Deus, desconheciam o Deus dos judeus; mesmo
assim colocaram-se a caminho e foram ao
encontro do Messias. Aqui aparece a dinâmica do caminho e do interesse pelo
caminhar. O interesse dos magos era adorar o Messias. Depois que cumpriram sua
missão voltaram para sua terra natal. Eles deixaram-se guiar pela estrela.
Há um caminho que leva seguramente
ao Messias e uma orientação fundamental: o caminho é o dos pobres e a
orientação fundamental é o evangelho de Jesus de Nazaré. O caminho dos pobres é
cheio de aperreios, difícil de trilhar. Caminho de humilhações, perseguições e
de lutas; de poucas vitórias e de muitas derrotas. Os pobres sofrem, mas não
perdem a esperança. Portanto, é o caminho da verdadeira esperança. Os ricos e
os que se identificam com as riquezas tem pavor do caminho dos pobres. Na vida
da Igreja, mulheres e homens como Dom Helder Câmara, Madre Teresa de Calcutá,
Dom Oscar Romero, Ir. Doroth Stang e tantas outras pessoas ousaram se colocar
no caminho dos pobres e se encontraram verdadeiramente com o Messias.
Estas pessoas se deixaram conduzir
por uma estrela de valor fundamental: o evangelho de Jesus de Nazaré. Sem o
evangelho não se chega ao Messias. A ausência do evangelho causa total
desorientação e confusão. Nenhum sistema doutrinal nem devocional consegue
substituir o evangelho. Este possui uma força transformadora capaz de mudar
radicalmente a vida dos que o escutam e praticam. O evangelho é perigoso. Somente
os que desejam realmente ser livres é que podem compreendê-lo e praticá-lo,
pois é caminho que conduz à liberdade.
Ao saber que o Messias tinha nascido
em Belém, o rei Herodes ficou perturbado,
assim como toda a cidade de Jerusalém. Herodes logo se sentiu ameaçado e
reuniu os amigos próximos (mestres da lei e sumos sacerdotes) para ter
informações a respeito do lugar do nascimento do Messias. Como liam as
Escrituras, as autoridades religiosas logo entenderam que se tratava do Messias
que deveria nascer em Belém, na Judéia. Utilizando-se de todos os meios,
Herodes procura eliminar Jesus. A notícia do nascimento do Messias deixou muita
gente perturbada, principalmente os poderosos, que viviam a custa dos pobres. Os
reis magos foram até Jesus, as autoridades religiosas não ousaram fazer o
mesmo.
O discípulo missionário de Jesus
precisa ter coragem para enfrentar o poder herodiano que impera no mundo. Este poder
se manifesta por meio de forças que atrasam, corrompem, alienam, iludem,
confundem, dispersam e desorientam o ser humano: são as forças do anti-Reino. Estas
forças trabalham na direção da destruição dos indefesos e frágeis; elas não
toleram a pequenez, mas se manifestam na arrogância dos grandes deste mundo. O Messias
está aí, junto a nossas portas, nas ruas e praças, olhando o movimento do
mundo, despertando a esperança no coração das mulheres e homens de boa vontade.
Esta é sua maneira misteriosa e ao mesmo tempo escandalosa de se manifestar. Bendito
seja Deus por nos ter enviado Jesus!
Tiago de França
Um comentário:
Thiago, pertenço ao grupo Kairós-Nós Também Somos Igreja. Poderiamos trocar textos, se quiser. Um abraço, Rolando
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